segunda-feira, março 07, 2011

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Seguro e carnaval
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
O Estado de S.Paulo - 07/03/11

O número de acidentes nas estradas brasileiras no início do ano provavelmente se repetirá no carnaval. A razão é a explosão da venda de carros devido aos financiamentos


Carnaval é época de riso, alegria, festa, dança, bebida e liberação geral. O Brasil só começa a funcionar depois do carnaval. É verdade, o País só acelera da semana que vem em diante. Hoje e amanhã ainda é a vida fora da vida. Todas as possibilidades estão abertas. Que cada um pegue o seu momento para ser muito feliz.

Tudo isso é verdade, mas toda história tem dois lados e o outro lado da nossa não é tão bonito quanto as escolas desfilando ou uma moça linda num minúsculo biquíni. Pelo contrário, o outro lado da nossa história fala de imprudências, correr riscos, fazer o que não se sabe, testar os limites. Ou seja, fala de acidentes, mortes, invalidez, luto e tristeza como contracheque para a alegria, que deveria dar o mote, mas acaba num hospital ou numa delegacia de polícia.

As seguradoras não gostam do carnaval. Quer dizer, do carnaval elas gostam, mas do que acontece como dano colateral, não. Carnaval é sinônimo de aumento da sinistralidade. No carnaval as seguradoras pagam mais indenizações do que na média do ano. Ainda que o negócio da seguradora tenha como finalidade pagar indenizações, todas as vezes que a curva escapa da média a operação fica mais cara. E ninguém gosta de pagar mais, exceto se for para depois pagar menos, o que não é o caso dos sinistros que acontecem neste feriado.

O começo do ano foi um bom exemplo do que muito provavelmente se repetirá quando as estatísticas forem publicadas. No começo do ano houve um aumento generalizado do número de acidentes com mortes e feridos graves nas estradas brasileiras.

Por conta deles, as seguradoras tiveram de arcar com um número maior de indenizações nas carteiras de seguros de automóveis, responsabilidade civil, vida, acidentes pessoais e planos de saúde privados.

Milhões de reais foram pagos aos proprietários dos veículos envolvidos e às vítimas ou a seus beneficiários, o que é bom no sentido de mostrar que o setor cumpre sua função social, mas é ruim no sentido de mostrar o grau de imprudência dos motoristas e o custo absurdo desta irresponsabilidade.

A principal causa do aumento dos acidentes nas estradas tem explicação simples: a explosão da venda de veículos novos, graças aos longos prazos de financiamento. Com mais gente comprando carros, mais motoristas despreparados estão nas ruas e estradas, o que, naturalmente, leva ao aumento dos acidentes.

Já os demais ramos de seguros sofrem por conta de antigas mazelas que cobram um alto preço da sociedade, muito mais em função da perda ou da invalidez de entes queridos do que do dinheiro gasto pela Previdência Social, pelo SUS e pelas seguradoras.

Brigas, assassinatos por motivos fúteis e violência gratuita dividem espaço com acidentes pessoais decorrentes do desconhecimento dos princípios básicos para a prática de esportes radicais, do aumento da exposição a riscos, do consumo de álcool e da irresponsabilidade natural que o feriado de carnaval traz embutido.

O impacto nos seguros de acidentes pessoais, vida e planos de saúde privados não é capaz de desequilibrar a solidez das seguradoras, mas faz diferença na boca do caixa.

Para efeitos de cobrança dos prêmios, constituição das reservas técnicas e exposição aos riscos, os seguros são diferidos em doze meses. Mas os sinistros não acontecem da mesma forma. Dada a aleatoriedade dos riscos, pode acontecer ou não uma concentração maior deles num espaço pequeno de tempo. É isso o que ocorre nos dias de carnaval.

A consequência deste fenômeno é um maior desembolso sem que aconteça o correspondente aumento do faturamento. E o aumento das despesas não é apenas em função das indenizações, mas do aumento das rotinas envolvidas nos processos de regulação e liquidação de sinistros. Ou seja, o acúmulo de sinistros em pequenos espaços de tempo, em função dos custos administrativos e das indenizações devidas, pode fazer o caixa da companhia de seguros ficar delicadamente baixo, chegando a comprometer sua capacidade de honrar todos os compromissos nos prazos normais.

É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS E COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO

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