segunda-feira, fevereiro 14, 2011

GUSTAVO CERBASI

Celebrações mais econômicas
GUSTAVO CERBASI
Folha de S. Paulo - 14/02/2011

Para atender a expectativa dos lojistas, usamos mal o dinheiro em datas que não passam de simbolismo

EM MUITOS PAÍSES, principalmente os de cultura anglo-saxã, hoje é Dia de São Valentim, ou Dia dos Namorados.
Como aqui, muitos lá fora fazem dessa data o momento de demonstrar seu amor de maneira incondicional, pagando um jantar no melhor restaurante ou comprando o mais magnífico buquê de flores com bombons refinados -mesmo que isso arruine as contas do apaixonado por vários meses.
Outros, mais céticos ou com menos verba, apenas veem esse dia como uma jogada comercial para elevar preços e trazer às lojas consumidores mais preocupados com o efeito da compra do que com a justiça dos preços.
De fato, esse é o propósito de datas como Dia da Criança, Dia das Mães e Dia dos Namorados.
No Brasil, segundo a Wikipedia, a tradição de são Valentim foi criada através de uma campanha da Associação Comercial de São Paulo e levada para o dia 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio.
Nesse período, o comércio e os serviços emolduram suas vitrines com corações e faturam alto com a paixão alheia. Os apaixonados, por sua vez, desembolsam o que jamais pagariam se não existisse um motivo forte como a obrigação do simbolismo da data.
Como consequência, os recursos que poderiam comprar dois ou três buquês de rosas ao longo do ano são gastos de uma só vez para atender à celebração.
É esse raciocínio que me leva a escrever sobre o tema em uma data que não é, de fato, o nosso Dia dos Namorados. Gastar bem é uma questão de planejamento.
No afã de atender a expectativas dos lojistas, usamos mal nosso dinheiro em celebrações que não passam de simbolismo. Em vez de comprar um buquê de três dúzias de rosas no Dia dos Namorados, não seria mais interessante para o relacionamento -e para o bolso- comprar meia dúzia de rosas todos os meses, exceto em junho?
Comprando fora do pico, fugimos da alta dos preços e driblamos parte da inflação no nosso orçamento. O mesmo vale para o bacalhau da Páscoa, as nozes do Natal e o vinho do Dia dos Pais.
Nos tempos das vacas magras, eu comemorava o Dia dos Namorados sempre um dia depois, para aproveitar os descontos das queimas de estoque. Atualmente, gosto de comemorar o Dia dos Namorados hoje, Dia de São Valentim. Em 12 de junho, vejo um filme romântico e como pipocas em casa, sob o edredom, só para não ficar de fora do clima.
No Dia da Criança, procuro celebrar com as crianças de maneira intensa e aproveitar os presentes comprados com grande antecedência. No Dia das Mães, uma experiência em família, como um passeio diferente, vale mais do que um lenço de seda que mamãe usaria apenas por obrigação. Essas estratégias simplificadoras ajudam a gastar menos, o que nos permite gastar mais vezes.
Está aí a grande vantagem.
Não quero levantar uma bandeira contra as estratégias do comércio, que são necessárias diante da incapacidade do brasileiro de lidar bem com suas finanças.
A típica família que vive endividada gasta muito com bancos e pouco com compras, o que obriga os lojistas a criar iscas para compras concentradas. São elas que salvam o ano de quem vende.
Porém, com um pouco de planejamento e estratégia de consumo, poderíamos consumir com mais frequência e diminuir a sazonalidade do comércio. Em outras palavras, comprar menos, mas todos os meses, em vez de comprar muito poucas vezes por ano. A sazonalidade é cara para qualquer empresa, exige contratações temporárias e espaços superdimensionados para estoques. Esse custo vai para os preços que pagamos. Por outro lado, clientes fiéis e frequentes são mais bem atendidos e conseguem melhores condições de negociação, compram mais por menos.
Minha sugestão: aproveite a deixa da data e as ideias que se multiplicam hoje na internet e nos jornais para planejar seu próximo Dia dos Namorados, que pode ser mesmo em 12 de junho.
Evitando a correria e antecipando as boas compras, a celebração poderá ser muito mais intensa.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar Sua Vida Financeira" (Campus).

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