domingo, fevereiro 27, 2011

ELIO GASPARI

Odebrecht x Gradin, a briga começou mal
ELIO GASPARI

O GLOBO - 27/02/11

O maior litígio empresarial do país teve um tropeço, mas promete fortes e ricas emoções


NO DIA 7 de dezembro do ano passado, instalou-se na Justiça da Bahia o maior litígio empresarial em curso no país. De um lado, a família Odebrecht, controladora de um dos dez maiores grupos brasileiros, com ramificações na construção, na petroquímica e na produção de etanol.
Do outro, a família Gradin, sua sócia minoritária, com 21% de participação. Na origem dessa sociedade, estiveram dois empresários, o patriarca Norberto Odebrecht, que fundou o grupo nos anos 40, dando-lhe corpo e alma; e Vitor Gradin, que se juntou a ele em 1974.
O que era uma afinidade de dois senhores nascidos na primeira metade do século 20, tornou-se uma disputa entre seus descendentes, empresários do 21.
Marcelo Odebrecht, o neto de Norberto que hoje dirige o grupo, decidiu reorganizá-lo e, num remanejamento de ações, os Gradin, que cuidavam das áreas de petroquímica, óleo e gás, foram afastados da empresa. Além disso, o valor dos 21% que eles tinham na sociedade virou uma questão de opinião.
Segundo Odebrecht, valem R$ 1,5 bilhão. Segundo os Gradin, o dobro. Briga de cachorros grandes.
Como a sociedade previa que, em caso de conflitos, se recorresse à arbitragem (cláusula 11.8 do acordo de acionistas), os Gradin contestaram a legalidade do remanejamento do grupo. Jogo jogado.
Seriam nomeados os árbitros, eles examinariam os papéis e apresentariam suas conclusões. Encrencas desse tipo resolvem-se geralmente em seis meses. Sem arbitragem, no ritmo da Justiça, é coisa para dez anos.
No dia 14 de dezembro, a juíza Maria de Lourdes de Oliveira de Araújo decidiu iniciar os procedimentos para a instauração da arbitragem. Três semanas depois, a Odebrecht pediu que a decisão fosse revogada. A juíza não só a manteve, como mandou suspender as transações que derivavam do remanejamento do grupo.
A Odebrecht recorreu ao Tribunal de Justiça e pediu o cancelamento da audiência que instauraria o processo de arbitragem.
Oito dias depois, o desembargador José Olegário Monção Caldas suspendeu as decisões da juíza. Mostrou que o contrato de acionistas falava em "mediação ou arbitragem" e não se podia decidir por uma sem tentar a outra.
Parecia jogo jogado, mas os Gradin pediram a suspeição do desembargador, sustentando que ele prejulgara o mérito e, ao apontar para a necessidade de mediação, orientara uma das partes a seguir um caminho que nem sequer pedira. (Se um cardápio oferece batatas fritas ou brócolis, o freguês pode pedir as fritas sem provar a verdura.)
No dia 16 de fevereiro, o desembargador considerou "gratuita ofensa" a "temerária arguição" e, surpreedentemente, "por motivo de foro íntimo", abandonou a relatoria do processo.
Aí o jogo embaralhou-se. Um litígio desse tamanho, que começa com uma juíza abrindo um procedimento arbitral, pode esbarrar num desembargador que suspende a decisão. Não é natural que, uma semana depois de decidir um caso e dois dias depois de ver levantada a sua suspeição, um magistrado deixe o processo com uma explicação de cinco palavras.
Sabe-se lá quem tem razão, se os Odebrecht ou os Gradin, e é para decidir coisas assim que existe o Judiciário. Duas coisas são certas, o acordo de acionistas prevê a arbitragem e esse mecanismo contribui para a celeridade de uma solução.
Tanto os Gradin como os Odebrecht são signatários de milhares de contratos. Eles e todos os seus parceiros pelo mundo afora têm mais medo da insegurança provocada pela lentidão do rito judiciário do que da própria injustiça.
Até a hora em que o desembargador decidiu reverter a decisão da juíza, todos os lances ocorridos no Judiciário baiano foram claros e rápidos. Dele só vieram respostas. Pode-se gostar delas ou não.
Quando Monção Caldas declarou-se impedido, surgiram perguntas e, com elas, emoções. A desembargadora que deveria substituí-lo achou apropriado seguir o ritual, passando o caso à colega Cynthia Maria Pina Resende. Ela decidirá se o processo de arbitragem começa ou para.

BULA

Pelo andar da carruagem, as chances de haver uma reforma política ampla estão abaixo de 50%, o que não chega a ser uma má notícia. Felizmente, a possibilidade de o PT aprovar o voto de lista é menor a cada dia. Para quem pretende acompanhar a discussão dessa reforma:
Toda e qualquer proposta para instituir o voto distrital no seu sentido puro, criando centenas de distritos eleitorais, é apenas uma modalidade de desconversa. Quem fala nisso precisa responder à seguinte pergunta: quem, e como, vai demarcar os distritos?

TIO GARY
Agora que tudo é encanto e sedução à espera do casamento de Kate Middleton com o príncipe William, o conto de fadas ganhará um animado personagem: é Gary Goldsmith, tio da moça.
Ele tinha uma empresa de informática, vendeu-a por US$ 400 milhões e, aos 42 anos, vive a vida em Ibiza, na Espanha.
A maneira como a vive será uma fonte de encrencas para a Casa de Windsor. Saído de dois casamentos, batizou sua propriedade de "A Casa do Bang Bang".
Quando William perguntou-lhe se a ideia havia sido dele, Gary disse que preferiria chamá-la de "Can Aveline" (Uma aproximação de "Can Have a Line", ou "posso cheirar uma carreira" de pó.) Ou ainda, "Cumalot" ("Gozemuito"). Gary orgulha-se de já ter pagado US$ 1.000 por uma noite a uma moça e tem um plantel de brasileiras.
Mais informações sobre tio Gary, em "William and Kate", do jornalista Christopher Andersen. O e-book sai por US$ 12,99.

RECORDAR É VIVER

Sapeando o acervo da Folha de S.Paulo, o repórter Mário Magalhães achou a seguinte notícia na primeira página da edição de 2 de janeiro de 1968: "Trem ligará Rio-S. Paulo em duas horas".
Era um projeto japonês. Nessa época, a doutora Dilma mal completara 20 anos.

FILOSOFIA PRIMEIRA
Está chegando às livrarias "Lições de Filosofia Primeira", do professor José Arthur Giannotti.
É uma obra erudita, severa, lição mesmo, daquelas que pedem ao leitor que vá devagar, buscando a compreensão de cada parágrafo, obrigado a acompanhar os raciocínios do autor.
Vai da Grécia antiga ao século 20, chegando ao que Giannotti considera o grande dilema da filosofia contemporânea. Para um lado foi Martin Heidegger e para outro, Ludwig Wittgenstein.
Giannotti narra, não polemiza nem julga. Até onde lhe foi possível, batalhou para tornar o discurso acessível. Explicando a teoria da figuração do "Tractatus logico-philosicus" de Wittgenstein, recorreu ao mapa das estações de metrô de São Paulo. Em outros casos, para manter o nível de seu texto, obriga o leitor a ir ao dicionário.
Psitacismo, por exemplo, é o efeito retórico repetitivo dos papagaios.
Giannotti é um intelectual de brava militância política. Seu texto filosófico vai por outra banda, a da reflexão em torno do pensamento, sem preocupação com as divisões do presente.
Enfim um livro de filosofia no qual Karl Marx é um coadjuvante, com duas rápidas aparições.
A leitura de "Lições" dá um trabalho danado, mas Giannotti informa: "Deu mais trabalho escrever".

RECORDAR É VIVER

Sapeando o acervo da Folha de S.Paulo, o repórter Mário Magalhães achou a seguinte notícia na primeira página da edição de 2 de janeiro de 1968:
"Trem ligará Rio-S. Paulo em duas horas".
Era um projeto japonês. Nessa época, a doutora Dilma mal completara 20 anos.

FILOSOFIA PRIMEIRA
Está chegando às livrarias "Lições de Filosofia Primeira", do professor José Arthur Giannotti.
É uma obra erudita, severa, lição mesmo, daquelas que pedem ao leitor que vá devagar, buscando a compreensão de cada parágrafo, obrigado a acompanhar os raciocínios do autor.
Vai da Grécia antiga ao século 20, chegando ao que Giannotti considera o grande dilema da filosofia contemporânea. Para um lado foi Martin Heidegger e para outro, Ludwig Wittgenstein.
Giannotti narra, não polemiza nem julga. Até onde lhe foi possível, batalhou para tornar o discurso acessível. Explicando a teoria da figuração do "Tractatus logico-philosicus" de Wittgenstein, recorreu ao mapa das estações de metrô de São Paulo. Em outros casos, para manter o nível de seu texto, obriga o leitor a ir ao dicionário.
Psitacismo, por exemplo, é o efeito retórico repetitivo dos papagaios.
Giannotti é um intelectual de brava militância política. Seu texto filosófico vai por outra banda, a da reflexão em torno do pensamento, sem preocupação com as divisões do presente.
Enfim um livro de filosofia no qual Karl Marx é um coadjuvante, com duas rápidas aparições.
A leitura de "Lições" dá um trabalho danado, mas Giannotti informa: "Deu mais trabalho escrever".

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