quarta-feira, fevereiro 02, 2011

BARBARA HELIODORA

Brincando com Shakespeare
Barbara Heliodora
O GLOBO - 02/02/11


Adaptação de "Romeu e Julieta" dirigida por João Fonseca é um espetáculo mais do que gratificante



Aproveitando a tradição inglesa (e um pouco também americana) de se montar bom teatro no colégio, Joe Calarco fez uma brilhante adaptação de "Romeu e Julieta" para quatro jovens atores, que foi fluentemente traduzida por Geraldo Carneiro. É difícil saber se, como Shakespeare na "Megera domada", o autor esqueceu de criar um final que concluísse o início passado na escola, ou se a precipitação no aplauso impede os atores de completar o espetáculo. Mas Calarco corta muito bem o texto, deixando o básico para ser contada a história dos amantes de Verona, e tornando o texto mais acessível a atores jovens, e a única ressalva é fazer, como muitos outros, a cena do balcão em um só plano. O texto é tratado com carinho pelo tradutor, e os quatro atores apresentam quatro colegiais que sabem do que estão falando. Se eles brincam um pouco com Shakespeare, este haveria de gostar de os ver tendo intimidade com sua peça.

Encenação despojada e concisa

A encenação, em cartaz até o fim da semana na Arena do Espaço Sesc, em Copacabana, é despojada e concisa. O cenário de Nello Marrese, um círculo de madeira com áreas projetadas em quatro pontos, mesas e cadeiras escolares, é atraente e adequado, e ótimos são os figurinos de Ruy Cortez, ao mesmo tempo uniforme e material para marcar os diferentes personagens. A trilha de André Aquino e João Bittencourt é muito boa, e o movimento de Rafaela Amado leva em conta tanto a história quanto a juventude dos intérpretes. A direção de João Fonseca é firme e imaginativa, pois acerta muito bem o duplo alvo de servir à peça original em si e à condição de improviso de jovens apresentado na peça de Calarco.

O nível de interpretação do quarteto de atores é bom como conjunto e como trabalho individual: Felipe Lima é o que atua menos, mas se sai bem no que faz. João Gabriel Vasconcellos (Romeu) e Rodrigo Pandolfo (Julieta) estão muito bem tanto nos protagonistas da tragédia como nos outros pequenos papeis que desempenham, e Pablo Sanábio mostra excepcional firmeza de ator tanto como Frei Loureço quanto como a Ama de Julieta, afora outras pequenas intervenções; juntos, formam um elenco de categoria acima do que costuma ser a média em nossos palcos.

"R & J de Shakespeare - Juventude interrompida" é um espetáculo mais do que gratificante, principalmente porque mostra que o riso crítico pode estar presente e chegar ao público com efeito bem mais agradável do que a usual queda para a chanchada; diretor e jovem elenco sabem o que estão fazendo, e o fazem muito bem.

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