domingo, janeiro 09, 2011

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Lupa nas empresas
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/01/11

Eles investigam companhias a serem compradas, fazem auditorias legais apuradas e dizem que na negociação de um bom contrato, que ajude o cliente no futuro, também está a chave do sucesso. Sócios dos escritórios que mais se destacaram em fusões e aquisições em 2010 afirmam já sentir a efervescência do mercado nestes primeiros, outrora calmos, dias de janeiro.

FLEXIBILIDADE

Ao completar dez anos, o escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch lidera o ranking de fusões e aquisições no Brasil, em 2010, da Thomson Reuters. O escritório participou de operações que somaram US$ 28,6 bilhões.
O escritório sempre se preocupou em ser "ágil no atendimento aos clientes e flexível na cobrança de honorários", diz o sócio-fundador Luiz Souza. O que inclui postergar recebimentos, limitar valores aos orçamentos, tentar combinar o pagamento de acordo com os fluxos de liquidez da operação.
"Mandar fatura em momentos sem fluxo pode causar constrangimento."
O advogado destaca o interesse crescente de investidores da China, do Japão e do Oriente Médio. Entre os setores interessantes para 2011, estão os de óleo e gás -"seja pelo volume, seja pela complexidade de regras"-, energia elétrica e consumo, diz.

QUANTIDADE

"O que importa para um escritório é a quantidade de operações de que participa, não o valor", afirma Henry Sztutman, do Pinheiro Neto.
"Não ganhamos comissão, como bancos de investimento", diz o sócio do primeiro colocado em número de fusões e aquisições no ranking da Thomson Reuters.
"Nisso temos a maior prática e o ranking reflete essa posição, de 49 operações anunciadas e 44 fechadas." O escritório tem mais de cem pessoas na área.
A expectativa para 2011 continua positiva. "Antes a pressa era para fechar operações até o final do ano. Mas a pressa continuou em janeiro e há grande interesse, especialmente por parte de fundos de "private equities"."

MAIORES

O Machado Meyer participou das maiores operações do ano passado: Dresdner Bank, Vivo, Repsol e TAM.
Como outros advogados, o sócio Flavio Meyer também sentiu que o ano começa muito bem e que não dá para citar apenas um segmento como o mais promissor.
"Mas dá para falar de muita atividade relacionada ao aumento da renda, como em varejo, saúde e infraestrutura", diz. "Não basta uma ótima "due dilligence" [auditoria]. É preciso negociar bem acordos de acionistas, indenizações, tudo o que vai impactar o futuro do cliente."

GLOBAL

O gigante Skadden, que costuma estar no topo de rankings globais de fusões e aquisições, saltou da 15ª posição para a segunda na lista brasileira, em 2010. A primeira operação no país pelo escritório foi em 1990, a da Colgate e da Kolynos, lembra o sócio Richard Aldrich.
"O Brasil é o investimento mais interessante no mundo", diz, de Nova York, o sócio Paul Schnell.
"O país é mais confortável para o investidor estrangeiro do que os outros do Bric, porque tem estabilidade política, econômica, de regras regulatórias e bancos sólidos. E isso, não só nos EUA e na Europa, mas também na Ásia."

SEM FÔLEGO

O escritório Mattos Filho afirma que fez 53 operações em valor aproximado de R$ 20 bilhões, em vez das 34 relacionadas pelo ranking.
"Além dessas, há outras que não são públicas e que não constam da lista", afirma o sócio João Ricardo de Azevedo Ribeiro. Para ele, 2011 poderá ser ainda melhor.
"Temos mais de 80 operações em andamento. Não tivemos aquela sensação de fôlego, comum em janeiro. Todo dia entra caso novo e de "private equities" que não conhecíamos." A perspectiva de mais IPOs também vai incrementar as aquisições, diz.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

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