segunda-feira, janeiro 24, 2011

IGOR GIELOW

 O Brasil e os árabes
Igor Gielow
Folha de S. Paulo - 24/01/2011

BRASÍLIA - O mundo árabe está em polvorosa com a rápida e relativamente indolor queda do regime na Tunísia. Apressados já veem até o fim iminente das autocracias.
Menos, menos. Primeiro, porque os processos são diferentes. O Egito enfrenta uma sucessão complicada, o resto do Norte da África corre riscos tunisianos, o Líbano está a se desintegrar como sempre. Nem vale citar o imbróglio Israel-Palestina, no qual o Brasil tem lado definido contra Tel Aviv, ou o inexpugnável mamute saudita.
Segundo, não interessa ao Ocidente que as ditaduras ditas benignas que apoia sejam levadas de roldão. Já pensou se a massa resolve colocar no lugar dos "sinhôs" algo parecido com o Hamas em Gaza? Isso sem contar extremismos inspirados pela Al Qaeda. Um pepino.
E o Brasil com isso? O Itamaraty terá oportunidade de colocar em prática um instrumento dos triunfais anos de conquista mundial de Lula, o fórum América do Sul-países árabes, e testar a declarada nova prioridade aos direitos humanos.
O campo de provas será a reunião do fórum em fevereiro, no Peru. Desde sua criação, em 2005, estamos no zero a zero. O Brasil adulou várias ditaduras em busca de votos para seus pleitos, mas não ganhou nada. Até passou o constrangimento de apoiar um egípcio incendiário de livros para a Unesco no lugar de um brasileiro íntegro.
Do ponto de vista dos mascates, há um sucesso relativo. O país saiu de um superavit de US$ 308 milhões com os 22 países da Liga Árabe, em 2002, para US$ 5,6 bilhões, em 2010. Só que o fluxo comercial árabe-brasileiro significa apenas 4,8% do nosso total.
País com mais de 12 milhões de descendentes árabes, o Brasil tem uma chance de ouro de buscar influenciar algo além de sua esfera natural de atuação. A melhor opção de ação certamente repousa em algum lugar entre os ditadores de plantão e a rua -e seus riscos.

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