segunda-feira, janeiro 10, 2011

GEORGE VIDOR

Risco indesejável
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 10/01/11

Ao restringir a atuação dos bancos no mercado de câmbio, dando um bom prazo para que todos se adaptem, as autoridades monetárias estão se precavendo contra a possibilidade de algum problema no mercado financeiro lá fora surpreender negativamente a economia brasileira e prejudicar a trajetória de crescimento mais moderado que será desenhada daqui para a frente.

Historicamente o câmbio sempre foi o calcanhar de Aquiles da economia brasileira. Todas as crises mais agudas do país tiveram origem em desequilíbrios nas contas externas. Por não ter uma moeda conversível, o Brasil depende de financiamentos externos para honrar compromissos no exterior. O que avaliza esses financiamentos é o desempenho das exportações, e nesse sentido o superávit da balança comercial continuará sendo necessário ainda por muitos anos. Se o real se valorizar excessivamente, esse fundamento fica comprometido, mesmo que depois o câmbio flutuante venha a estabelecer novo equilíbrio mais adiante.

Com reservas de quase US$300 bilhões efetivamente disponíveis e mais de US$200 bilhões de exportações anuais, o Brasil não enfrenta hoje qualquer dificuldade para se financiar lá fora. A oferta está até demais, pois os juros que vigoram atualmente no mercado financeiro internacional estão muito abaixo dos que prevalecem por aqui. Isso influenciou, por exemplo, o endividamento externo de curto prazo no ano passado, que praticamente dobrou (chegando a US$60 bilhões).

Embora não tenha se configurado ainda uma situação de elevado risco cambial, pela facilidade existente para captação de dólares, euros, libras e ienes, poderíamos caminhar nessa direção se não fossem criadas restrições para o endividamento a partir de um determinado limite. O BC preferiu prevenir, para não ter que remediar. E por tabela ajudou a evitar que o real continuasse se valorizando indesejavelmente.

Quando a hidrelétrica de Simplício entrar em operação, provavelmente no fim deste ano, o leito natural do Rio Paraíba do Sul terá a vazão de água reduzida em um trecho acidentado de 17 quilômetros. É que, com a barragem de Anta, a montante, um bom volume de água será desviado por um canal adutor até passar pelas turbinas de Simplício e, a partir daí, o rio seguirá seu curso normal.

No trecho de vazão reduzida, Furnas terá de fazer várias calhas, e nesses pontos poderão ser construídas pelo menos sete pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). As obras terão de se concentrar nos meses de pouca chuva, pois as águas que passarão pelo vertedouro da barragem de Anta no verão seguirão pelo leito natural do Paraíba do Sul (não há vertedouro na barragem de Simplício).

Além da montagem dos equipamentos, as obras de Simplício agora estão mais voltadas para o novo leito da ferrovia, para a mudança de um trecho da rodovia federal que cruza a região e a edificação de estações de tratamento de esgoto no município fluminense de Sapucaia. Mas o número de trabalhadores nos canteiros já vem se reduzindo.

Já na usina nuclear Angra 3, a obra agora prossegue com a elevação das paredes laterais dos prédios do reator e da turbina. No caso do primeiro prédio, a etapa atual é chegar à altura de 3,60 metros; no segundo, 5,50 metros. No fim deste ano, a nova usina já ficará bem visível para os que passarem pela estrada (Rio-Santos) que liga Angra a Parati.

Mesmo que o Congresso aprove o projeto que possibilita a regularização de capitais que se refugiaram no exterior em tempos passados, o efeito prático dessa iniciativa será pequeno, diz o consultor Luiz Perlingeiro (ex-Citibank, ex-Unibanco), que hoje se dedica a orientar famílias e empresas brasileiras que mantêm patrimônio lá fora. Na opinião de Perlingeiro, a maioria das pessoas ou famílias abastadas que têm patrimônio no exterior remeteu divisas usando os trâmites legais, pois de outro modo enfrentariam sérios problemas para negociá-lo ou transferi-lo a herdeiros no futuro.

Sobraram então aqueles que não usaram as vias legais ou não estão interessados que o fisco brasileiro tome conhecimento desse patrimônio. Até porque, se quiserem usufruir de oportunidades no mercado financeiro brasileiro, podem recorrer a fundos de investimento do exterior que usualmente transacionam com papéis do país, e não precisarão ser identificados (continuarão anônimos para o fisco brasileiro).

Perlingeiro é associado à Westchester, companhia com sede em Boca Raton (Flórida) cujos clientes originalmente eram brasileiros com imóveis, ações e outros bens nos Estados Unidos e outros países. A prestação de serviços se sofisticou de tal maneira que eles chegam a administrar "mesadas" de filhos de brasileiros que estudam ou passaram a morar nos EUA.

Recebi várias mensagens de oficiais da marinha mercante que põem em dúvida a necessidade de contratação de estrangeiros para tripular novas embarcações de apoio a plataformas de petróleo que operam no litoral brasileiro. Embora reconheçam que não há sobra de pessoal do setor, a previsão de déficit feita anos atrás não se concretizou até agora. O presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindma), Severino Almeida, nega que tenha concordado com a contratação de marítimos estrangeiros para tripular novas embarcações no Brasil, pois se baseia em estudo encomendado a dois professores de estatística da Universidade do Estado do Rio de Janeiro para afirmar que não existe o "apagão" de mão de obra. As duas escolas da Marinha estão hoje formando cinco vezes mais oficiais do que há dez anos. "Em nenhuma categoria houve acréscimo de mão de obra com tal magnitude", diz.

As opiniões de armadores e tripulantes são opostas sobre essa questão. A agência reguladora do setor deveria então ficar bem atenta para evitar que surjam problemas sérios nessa área.

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