sábado, janeiro 22, 2011

CLÓVIS ROSSI

Como fica o Brasil diante do G2?

CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/01/11

Perante a consolidação informal do bloco, país deve reavaliar as relações com os EUA e a China

ESTRASBURGO - A recém encerrada visita aos Estados Unidos de Hu Jintao, o presidente chinês, serve, claramente, para consolidar o G2, esse micro-clube das duas únicas nações indispensáveis para criar e/ ou resolver problemas globais, na economia e na política.
Mas entendamos: o G2 não tem parentesco com o antigo G7, o clube das sete principais economias do mundo. O G7 era um grupo razoavelmente homogêneo: países ricos, democráticos, de economia de mercado e com um inimigo a vencer, o comunismo.
Se não se coordenassem, corriam o risco de dar munição ao inimigo.
Já o G2 reúne um país grande, rico, democrático e de economia de mercado e outro, que é grande mas não é rico. Trata-se, é verdade, da segunda maior economia do mundo, agora que acaba de desbancar o Japão, mas sua renda per capita (que é uma medida mais adequada de riqueza) é só a 93ª no planeta.
Além disso, a China não é democrática e sua "economia social de mercado" tem uma dose de intervencionismo estatal sem paralelo.
Por fim, já não há mais inimigos a derrubar. Por isso, o presidente Barack Obama batizou o relacionamento China/EUA como "concorrência amistosa". Logo, concorrentes mas não inimigos.
Se há um G2 informal, mas tão relevante, qual seria o melhor papel para o Brasil?
Por enquanto, tem uma parceria estratégica com os Estados Unidos, o que é um rótulo pomposo mas de pouco significado prático, enquanto não se traduzir na derrubada de barreiras norte-americanas à produção brasileira.
Estaria, pois, na hora de rediscutir não a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), porque hibernou durante tanto tempo que apodreceu, mas o chamado acordo 4+1 (Mercosul/Estados Unidos).
A economia brasileira já está suficientemente madura para que um acordo do gênero não significasse a "anexação" do Brasil pelos Estados Unidos, como chegou a dizer o então vice-chanceler Samuel Pinheiro Guimarães.
Quanto à China, em vez de acreditar em institucionalizar o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil deveria adotar a mesma fórmula de Obama: "concorrência amistosa".
Sim, porque o que há agora não é amistoso. Basta ler o que escreveram faz pouco três especialistas da Fiesp em comércio exterior, Fabrizio Sardelli Panzini, Paula Cristina Corrêa Bolonha e Wellington de Lima Freire:
"A competição entre Brasil e China foi amplamente desfavorável para a economia brasileira, que sofreu perda líquida em todos os mercados analisados [Estados Unidos, União Europeia e Argentina]. Em uma década [2000/ 2009], a perda alcançou US$ 18,2 bilhões, distribuída entre EUA (US$ 9,3 bilhões); UE (US$ 7,3 bilhões) e Argentina (US$ 1,6 bilhão)."
O estudo mostra que, também no mercado interno, "a competição entre Brasil e China resultou em uma perda líquida de US$ 15,2 bilhões para os produtores nacionais". É evidente que, nesse ritmo, o Brasil corre o risco de "anexação" não pelo velho "império" mas por um parceiro insuspeito até faz pouco.

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