sexta-feira, janeiro 21, 2011

CELSO MING

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CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/01/11

Do primeiro Copom ninguém esquece, nem Dilma nem Tombini.

Tampouco o esquecerá o ministro Mantega. Não disse ele que será preciso controlar as despesas públicas para abrir espaço para a queda dos juros?

Se os juros subiram em vez de cair (e se subiram tudo o que subiram), é porque o Banco Central ainda não encontrou o espaço a ser aberto pela política fiscal. Por enquanto, só aconteceram promessas de austeridade.

Os inconformados de sempre estão ainda mais inconformados. Entra governo, sai governo, queixam-se, e o Banco Central continua fazendo o jogo dos rendeiros e dos banqueiros, reforçando a condição de campeão mundial dos juros altos.

Mas se o Brasil é campeão dos juros é também porque é campeão da inflação. Maneira de dizer, porque há juros mais altos (em menor número de casos) e inflação mais alta do que a do Brasil (em maior número).

Outro grupo de descontentes argumenta que o presente surto de inflação é comandado pelo mercado internacional e tem como foco a alta das commodities. Querem, a partir daí, concluir que aperto na oferta interna de dinheiro (alta dos juros) não conserta estrago que vem de fora. Mas, se a alta das commodities fosse mesmo causa relevante, a inflação global seria muito maior do que é. Nos Estados Unidos e na média da área do euro, a inflação é de 1,6% ao ano; na Inglaterra, de 1,9%; na Coreia do Sul, de 3,0%; e no México, de 4,1%. (No Brasil foi para 5,9% e tende a subir.)

A inflação brasileira tem várias causas, mas, no momento, apenas uma é a principal: o tamanho das despesas públicas, que cria renda e turbina o consumo em ritmo superior ao da reposição de mercadorias e serviços. E a esticada de preços dos alimentos e das matérias-primas também tem de ser atacada, pelo menos em seus efeitos secundários.

O comunicado divulgado após a reunião do Copom deixou claro que este foi o início de um processo de ajuste. Ou seja, pode-se esperar por reforço da dose nos próximos meses. O tamanho final da operação depende das proporções do choque de austeridade que o governo estiver disposto a colocar em prática e do desempenho de causas coadjuvantes.

O comunicado diz que o ataque à inflação vai contar com os efeitos das ações macroprudenciais. Não ficou claro se o Copom se referiu às decisões já tomadas pelo Banco Central (aumento do compulsório dos bancos e restrições ao crédito) ou se pretende ampliá-las. É dúvida para ser dirimida com a leitura da ata da reunião do Copom a ser editada na próxima quinta-feira.

A alta dos juros, que não vai parar por aí, não ajuda na obtenção de outro objetivo do governo, que é o de conter a valorização do real (queda do dólar). As próprias empresas brasileiras recorrerão ainda mais ao endividamento externo, bem mais barato do que o interno, para suprir-se de recursos para investimento e capital de giro. Ou seja, não se trata de entrada de capitais especulativos. Neste início de ano, as empresas brasileiras contrataram US$ 2,7 bilhões por meio da colocação de títulos. Só a Petrobrás vai puxar de fora outros US$ 6 bilhões. São dólares entrando em profusão, cuja conversão para reais tende a achatar o câmbio, tirar competitividade da indústria, etc.

O avanço chinês

A surpresa não foi o forte crescimento da China, num ano (2010) em que o mundo rico ficou prostrado pela crise. A surpresa foi o crescimento maior do que o esperado. Afora a surpresa, uma preocupação, que derrubou as bolsas nos pregões de quinta-feira: a inflação da China também ficou mais alta, em 3,3%. O pressuposto é o de que o governo de Pequim seja obrigado a conter o avanço do PIB de 2011 e reduzir o volume de negócios com o resto do mundo.

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