sexta-feira, janeiro 28, 2011

ANGELA BITTENCOURT

Ata segue "script", mas inflação é perturbadora

Angela Bittencourt
VALOR ECONÔMICO - 28/01/11


O Banco Central (BC) viu um cenário pior para a inflação há uma semana e o Comitê de Política Monetária (Copom) retomou o ciclo de alta do juro básico. De lá para cá, o cenário só se agravou. Mas a ata do Copom, divulgada ontem, não atualiza o calendário e flagra o que foi considerado pelo colegiado do BC para tomar sua decisão sobre juro na data de cada reunião. A ata, que sugere a otimista possibilidade de a inflação desacelerar, foi neutra a respeito do futuro. Com tudo no "script", o documento não provocou a revisão nas projeções do mercado quanto à manutenção do aperto monetário em ritmo de 0,50 ponto percentual em março. E a curva de juros traçada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) reafirmou essa tendência.

O mercado está atento, porém, aos sinais persistentes de pressão inflacionária que hoje devem receber um reforço. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga, nesta manhã, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de janeiro. E é esperada uma aceleração que deve confirmar a trajetória dos demais indicadores de preço divulgados nos últimos dias. Todos aceleraram. Todos superaram as expectativas.

BC renova aposta em medidas prudenciais e no ajuste fiscal

Pela ordem de apresentação dos índices pelos institutos de pesquisa, o IPC-S galgou 1,18% na terceira semana de janeiro; o IPCA-15 também de janeiro avançou 0,75%; e o IPC-Fipe subiu 1,03% na terceira leitura do mês. Olhando adiante, o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima reavaliou suas projeções para a inflação oficial (IPCA) de janeiro e fevereiro e, nos dois casos, a perspectiva é de variações no patamar de 0,80%. Essas projeções são utilizadas para o cálculo de taxas de retorno das Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B) - títulos federais indexados ao IPCA.

O mercado e o BC estão alinhados num ponto: ambos sabem que as pressões inflacionárias são maiores no primeiro trimestre. Quanto à eficácia das medidas prudenciais, o mercado ainda revela dúvida. O BC não.

O BC reforça que as medidas macroprudenciais, tomadas no início de dezembro, têm papel complementar à alta do juro. E sua eficácia para conter a demanda foi confirmada nos dados de crédito divulgados pelo mesmo BC na quinta-feira. Sob qualquer leitura, os dados mostraram que as concessões caíram e os juros subiram. Essas informações jogaram por terra o questionamento da eficácia das medidas.

Se mais medidas macroprudenciais virão, o mercado não sabe e a ata não esclareceu. Primeiro, porque não é fórum para esse tipo de avaliação ainda que técnica. Segundo, porque os bancos centrais não anunciam decisões, mas tomam decisões que, inclusive, tendem a ser valorizadas pela variável "surpresa". Mas é fato que as medidas prudenciais não têm efeito simultâneo nas instituições e, portanto, não foram necessariamente esgotados.

Em dezembro foram lançadas duas medidas: aumento de recolhimento compulsório bancário e do requerimento de capital para operações de crédito à pessoa física com prazo acima de 24 meses. O compulsório bancário segue um cronograma rotineiro de recolhimentos ao BC, com as instituições formando dois grupos que devem fazer os recolhimentos em datas diferentes. Esses grupos (A e B) são constituídos por bancos de portes equivalentes para que os recolhimentos de moeda sejam balanceados. Quanto à ampliação do requerimento de capital, o cumprimento da regra estabelecida pelo BC leva em conta fatores que tendem a atingir os bancos em momentos e em graus diferentes. Por exemplo, a formação das carteiras de cada um que deve se adequar à regra e também o porte das instituições. Portanto, os efeitos das medidas, tomadas há praticamente dois meses, ainda poderão ser potencializados.

A política fiscal e sua contribuição para a política monetária está nesse contexto de impactos que estão por vir. O BC conta com a política fiscal para frear a demanda neste ano. Mas o mercado ainda tem dúvidas sobre o resultado, até porque essa variável não depende só do empenho do BC, mas do Ministério da Fazenda.

Quanto à inflação, é fato que a ata reafirma a preocupação com o cenário mais deteriorado sinalizada no Relatório de Inflação de dezembro. Mas é fato também que a ata insiste no curto prazo. Assinala a sazonalidade da inflação, lembra da concentração atípica de reajustes de preços administrados em início de ano e vê como "ainda ambígua" a influência do cenário internacional sobre a inflação doméstica.

Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com prazos mais longos voltaram a subir ontem. Antes do ajuste de preços no pregão da BM&F, o DI janeiro de 2013 era cotado a 12,89%; o DI janeiro de 2014, a 12,85%; e o DI janeiro de 2015, a 12,78% ao ano. O dólar subiu 0,47%, a R$ 1,679 para venda. A inversão da tendência de baixa resultou de duas intervenções do BC no mercado à vista e à "compra" de aproximadamente US$ 500 milhões no mercado futuro - resultado da venda de contratos de swap reverso.

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