quinta-feira, janeiro 20, 2011

ALON FEUERWERKER

Nem sempre é bom
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 20/01/11


Serra está sem mandato, será um líder da oposição extraparlamentar. E Aécio vai ser uma referência da oposição no Senado e no Congresso. Natural que ambos procurem ocupar espaço batendo no governo
Coisa normal na pós-derrota, a oposição gasta parte do tempo rosnando ou brigando internamente. Normal porque políticos lutam pelo poder. Se estão no governo, brigam por cargos e posições no governo. Se estão na oposição, brigam por posições e cargos na oposição. 
Na teoria, e à primeira vista, é ótimo para o governo haver duas correntes em formação no PSDB, uma supostamente mais disposta ao diálogo e outra menos. Ou supostamente menos. 
Mas talvez não seja tão bom assim. Na ditadura, por exemplo, a divisão do oposicionista MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em autênticos e moderados em nada ajudou o situacionismo quando chegou a hora. As duas correntes juntaram-se para derrubar o regime. 
E ambas vitaminadas. Uma pela mobilização das ruas e pela aura de autenticidade, a outra pela capacidade de composição, de aliar-se a setores da base do governo, de representar a possibilidade de uma transição sem rupturas sérias. 
No fim das contas, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves entenderam-se, e deu no que deu. 
Há pelo menos um detalhe a diferenciar o cenário da oposição com Dilma Rousseff do cenário vivido pelo antecessor. Fora um curto período no comecinho do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, tanto Aécio Neves quanto José Serra estiveram sempre e simultaneamente em posições importantes de governo durante os oito anos, o que restringiu a mobilidade e o ímpeto oposicionista de ambos. 
Governador não faz oposição a Brasília. Só faz quando o govermo federal está caindo de podre, o que não é o caso, nem leva jeito de vir a ser. 
Agora a coisa muda um pouco de figura. Serra está sem mandato, será um líder da oposição extraparlamentar. E Aécio vai ser uma referência da oposição no Senado e no Congresso Nacional. Natural portanto que ambos procurem ocupar espaço batendo no governo. Cada um a seu modo, mas batendo. 
Até porque a vaga aberta para a disputa em 2014 é a da oposição. Se tudo estiver pelo menos razoavelmente bem, Dilma irá pleitear mais quatro anos. Se não, o PT sempre poderá recorrer a Lula. Então, quem pensa em construir um caminho alternativo terá de fazê-lo contra Dilma, e não a favor. E desta vez sem os constrangimentos causados por estar governando um estado. 
Por fora corre Geraldo Alckmin, que se movimenta pesadamente neste começo de novo mandato paulista para neutralizar o efeito fadiga de material. Em 2014, os tucanos completam duas décadas de continuidade política e administrativa em São Paulo. Não é bolinho. 

AfãEra completamente desnecessário, pelo ângulo político, o Ministério do Trabalho ajeitar os números do emprego formal no ano passado para atingir a meta de 2,5 milhões de vagas líquidas. 
Os números teriam sido bons de qualquer jeito, com 2,1 milhões de postos de trabalho. E tem outro problema, este técnico. Um valor das estatísticas é a possibilidade de fazer comparações. No afã de agradar sabe-se lá a quem, restou prejudicada a série histórica. 
Uma sugestão: que o ministério passe a divulgar duas séries, pela metodologia tradicional e pela alterada, para não enfraquecer a utilidade dos números. 
Mas no efeito de propaganda a coisa ficou bem, ainda que a manobra tenha atraído atenção para a heterodoxia na manipulação desse tipo de dado pelo ministério. 
Em 2009, segundo as mesmas fontes, o Brasil criou um milhão de empregos líquidos. Nada de mais, a não ser por um detalhe: naquele ano a economia recuou, teve crescimento negativo, segundo os dados finais do IBGE. 
Ano passado, pela metodologia tradicional, o Brasil criou pouco mais de 2 milhões de empregos, numa economia crescendo para além de 7%. 
Eis um desafio intelectual de vulto: alguém explicar por que no Brasil crescimento e criação de empregos são variáveis quase independentes. Como pode um país em recessão criar quase metade dos empregos que cria quando cresce a 7% 
Haja inelasticidade, para usar um termo dos economistas. Os números do Ministério do Trabalho talvez estejam a merecer uma lupa. 

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