quinta-feira, dezembro 30, 2010

IGOR GIELOW

Personalização trai o pior a cultura da era lulista

IGOR GIELOW

Folha de S. Paulo - 30/12/2010


Com a enxurrada previsível de boas avaliações dos vários aspectos positivos dos anos Lula, é sempre reconfortante ver o próprio governo nos lembrar das estruturas que permeiam seu legado menos palpável: o caldo de cultura política do lulismo.
A homenagem explícita a governantes na ativa é naturalmente uma nota de rodapé, entre tantas práticas coronelistas mais danosas que foram aperfeiçoadas nos oito anos de governo petista. Mas política é também simbolismo, e poucas coisas são tão antirrepublicanas quanto a personalização do poder.
Como no episódio em que um parque em Recife homenageou a mãe do presidente-retirante, a cortesania dá as cartas. Os áulicos de plantão estão sempre prontos a emular por aqui versões tropicalizadas das práticas do famoso ditador turcomeno Saparmurat Niyazov -que deu o nome da mãe a um mês do ano.
A homenagem da Petrobras ao presidente é despropositada. O argumento básico é que Lula esteve à frente do processo de transformação da empresa em potência global. Descontados os exageros, é lícito dizer que o petista fez o que pôde para elevar o status de sua principal estatal, mas isso não justifica rasgar os bons princípios da administração pública.
A marotice do gesto trai o pior da cultura lulista, que preconiza a "esperteza", liquefazendo parâmetros morais sob os auspícios de um chiste. É aquela coisa: tudo começa nos detalhes. Depois, basta dizer que isso é prática corrente. Lembre-se do mensalão, que Lula agora diz com um sorriso ser uma farsa a ser desmontada em suas largas horas vagas.
Nesse contexto, até a ignorância taxonômica do presidente ao dizer que seu homônimo animal é um crustáceo parece fazer parte de um teatro maior.
Se Lula merece ser objeto de estátuas, ou se dará nome a campos petrolíferos, é com a história. Não cabe a seu governo adiantar o expediente

EUGÊNIO BUCCI

''Democratização'' ou mero desvio?
Eugênio Bucci 
O Estado de S.Paulo - 30/12/10

A manchete da Folha de S.Paulo de terça-feira passada jogou luz sobre uma das mais soturnas caixas-pretas da administração federal: o uso de verbas públicas em campanhas publicitárias. Planalto pulveriza sua propaganda em 8.094 veículos, informou a chamada no alto da primeira página. A reportagem, assinada por Fernando Rodrigues, conta que de 2003 até hoje houve um aumento de 1.522% no número de órgãos de imprensa que recebem recursos federais como receita publicitária. Eram 499 em 2003 e somam hoje 8.094. Mas - atenção - não houve um crescimento significativo do gasto total. Os dois governos Lula investiram, em média, R$ 2,3 bilhões por ano em publicidade (aí incluídos os custos de produção das campanhas, mais as verbas de patrocínios destinadas a projetos esportivos e culturais), valor que não se distancia substancialmente do que foi empregado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. A diferença entre eles foi o que a reportagem da Folha chama de pulverização.

No linguajar de apoiadores do governo atual, a palavra mais adequada não seria pulverização, mas "democratização". Ontem, em discurso no complexo industrial e portuário de Suape, em Pernambuco, o próprio presidente Lula foi ainda mais retumbante. Vangloriou-se de ter resolvido "socializar" o dinheiro de publicidade. A tese do discurso do presidente e de seus apoiadores é primária: dar recursos públicos a muitos soa mais "democrático" do que dá-los a poucos. Verdade? Não necessariamente. Demagogia? Sem dúvida. Primeiro, porque o grosso do dinheiro foi para os veículos dominantes - como sempre, o principal foi para os de sempre. Depois, porque o atual governo usou alguns trocados não para tornar a sua comunicação mais eficiente, mas para fazer média com os jornais e as emissoras de menor porte.

Antes de entender - e desmontar - as justificativas do discurso oficial de "democratização", lembremos que, sobre esse assunto, os governos se sucedem sem detalhar valores. Publicidade oficial, como já foi dito, é caixa-preta. O contribuinte não sabe quanto cada veículo recebeu dos cofres públicos e sabe menos ainda sobre os resultados dessas campanhas, pulverizadas ou não Os bilhões de reais despejados em propaganda rendem popularidade para quem governa, mas até hoje não se tem uma única prova de que realizem algo de bom para o interesse público - que, por definição, deveria ser apartidário. Se esses dados fossem divulgados, ficaria explícito que a verba de publicidade oficial vem sendo administrada, no Brasil, mais para melhorar a imagem de políticos (e massagear o ego e o caixa dos empresários de comunicação) e menos, muito menos, para atender ao interesse público.

Nesse quadro, falar em "democratização" é quase um deboche. O gasto do Planalto em propaganda é uma enormidade: R$ 2,3 bilhões correspondem a quase um terço do que a Rede Globo faturou com publicidade ao longo de 2009. Na escala de grandeza do nosso mercado publicitário, é uma fortuna. O Estado brasileiro é um Estado anunciante: somadas, as campanhas dos governos federal, estaduais e municipais alcançam cifras escandalosas e vêm estatizando uma fatia expressiva do mercado.

Além de deboche, a palavra "democratização" é um biombo novo para encobrir um vício velho: o uso de dinheiro público para amaciar a imprensa privada. Essa prática já deveria ter sido varrida pela cultura democrática, mas está aí, intacta, e cresce a cada ano. Não deveria ser assim. Quando compra espaço publicitário, o agente público deveria orientar-se pelo dever de buscar o melhor serviço pelo menor preço. Deveria buscar o veículo que lhe dá acesso à audiência pretendida nas melhores condições. Ponto. Quanto a isso, a compra de espaço publicitário pelo Estado não é diferente da compra de aparelhos de ar-condicionado, de computadores ou de vacinas. Há agentes públicos que se vangloriam de distribuir a verba publicitária de acordo com a participação dos veículos no mercado, dando a esse critério um peso aparentemente absoluto. É claro que se devem levar em conta as audiências gerais de cada veículo quando se concebe uma campanha governamental, mas esse não é nem deve ser o fator decisivo. Se fosse, o Estado deveria comprar vacinas não pela qualidade, mas pela participação de cada laboratório no mercado. Compraria um pouquinho de cada laboratório. O mesmo deveria ser feito com a compra de aparelhos de ar-condicionado e de computadores. Enfim, se esse for o critério determinante, teremos de dizer adeus ao princípio - democrático - das licitações.

O argumento mais grave e mais falacioso, no entanto, é outro. Há burocratas que posam de justiceiros e garantem que "pulverizando" as verbas fortalecem os veículos "alternativos" contra a "mídia conservadora". Parece incrível, mas é o que dizem. Ora, se o governo quer estimular a diversidade da imprensa, que crie linhas de fomento, com financiamentos que possam ser - aí, sim, democraticamente - disputados pelos interessados, mediante regras públicas e transparentes. Usar dinheiro de publicidade para fortalecer os "alternativos" não consta das diretrizes legais para a publicidade oficial. Esse argumento, portanto, não tem sustentação legal. Se o gestor público que favorece jornaizinhos de parentes age mal, aquele que dá uma força aos sites dos correligionários age mal do mesmo modo. Nos dois casos, o servidor extrapola o seu poder discricionário. E, mais do que isso, deixa claro que, para ele, não importa se a mensagem oficial será recebida e compreendida pelo público esperado; seu negócio é fazer média com os veículos.

Concentrada nos grandes ou "democratizada" nos pequenos, a publicidade oficial tem sido a moeda dos governos para relações promíscuas com a imprensa. Até quando?

Em todo caso, feliz 2011.

JORNALISTA, É PROFESSOR DA ECA-USP E DA ESPM 

ALON FEUERWERKER

As melancias e os solavancos
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 30/12/10

O noticiário anda pontilhado de informações e boatos sobre uma eventual instabilidade na base governista, especialmente na Câmara dos Deputados. As razões dos aliados do PT são especialmente duas: perda de substância na máquina e previsões de aperto orçamentário. 
Aguarda-se agora a distribuição dos espaços nos escalões inferiores, preciosos para efeito de execução orçamentária e programática. Os otimistas dizem que no fim tudo se acomodará, mas os nem tanto anteveem um surto protecionista: cada subgrupo já contemplado fechará na sua área o caminho para os demais. E coitado de quem sobrar na chuva. 
Já no governo o cenário é visto com naturalidade e certo otimismo cauteloso. Se estar espremido numa administração amplamente dominada pelo PT é desconfortável, pior ainda para o aliado seria de repente enxergar-se empurrado à oposição. 
Assim, imagina o governo, uma hora a turma se ajeita dentro do barco para a viagem, sem compaixão pelos que ficaram a ver navios. 
O então deputado Pedro Corrêa (hoje ex) tinha um discurso pronto quando lhe perguntavam se por causa de insatisfações parte da base poderia caminhar para a oposição. "Óculos escuros à noite, sapato branco e oposição são três coisas que ficam bem nos outros." É a síntese da política brasileira desde sempre. 
Corrêa era presidente do PP e foi vitimado na crise de 2005, mas seu pensamento anda mais vivo que nunca. Basta recordar a manifestação dos governadores do PSDB dias atrás, com o anfitrião alagoano Teotônio Vilela Filho à frente " e explicitamente. 
Pode haver variações no enredo? Sim, desde que preenchidos certos requisitos. É preciso em primeiro lugar uma oposição disposta a atravessar o deserto para criar dificuldades ao governo. É necessário também um núcleo parlamentar de dissidência, com expectativa de poder futuro " expectativa que pode inclusive ser realizada com a adesão ao poder presente. 
Sim, a política tem dessas coisas. Quem ainda lembra que um dos senadores mais ferrenhamente oposicionistas entre 2003 e 2006 era o então representante do PMDB do Rio Sérgio Cabral? 
E quem ainda lembra que o então núcleo oposicionista do PMDB da Câmara dos Deputados, Michel Temer e Geddel Vieira Lima à frente, teve papel decisivo na vitória de Severino Cavalcanti em 2005? 
Arrumar confusão para o governo na medida certa, sem fechar as portas para futuras composições, eis uma arte da vida parlamentar. O problema é quando se erra na medida. E não há receitas 100% garantidas. 
O sujeito pode se enganar acreditando que sempre haverá uma brecha para se aproximar do poder. Costuma ser um engano quase tão perigoso quanto imaginar que o governo é devedor por serviços prestados. 
Fora alguns grupos e personalidades de destaque, o Congresso Nacional foi algo escanteado na composição ministerial de largada de Dilma Rousseff. O núcleo da futura administração confia que eventuais insatisfações serão resolvidas do segundo escalão para baixo e por meio da execução orçamentária. 
É habitual um freio nos gastos em começo de caminhada, então o governo acredita que terá pelo menos seis meses de fôlego. Nos quais suas excelências do outro lado da Praça dos Três Poderes, pela teoria, esforçar-se-ão para mostrar utilidade e serviço na nova era. 
"As melancias vão se acomodando na carroceria do caminhão conforme os solavancos da estrada", resume um articulador político do Palácio do Planalto no Congresso Nacional. 
Já na turma que se movimenta para provocar uma disputa nesta eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, a expectativa é diferente. Segundo eles, não se trata de um novo governo, mas da continuação de um estilo.
"Os deputados já sabem o que podem ou não esperar de um governo completamente dominado pelo PT, promessas de um maravilhoso futuro novo vão cair em ouvidos treinados", resume o parlamentar. 
Façam suas apostas. 

ILIMAR FRANCO

O PT avança 
Ilimar Franco 

O Globo - 30/12/2010

Os petistas estão se apoderando dos cargos de segundo escalão. A vítima principal é o PMDB. O aliado já rodou na Eletrobras e na Secretaria de Atenção à Saúde e está a caminho de ficar de mãos abanando nos Correios e na Funasa. Irritada, a cúpula do PMDB quer conter o apetite petista e reivindica uma reunião de emergência com o futuro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Uma candidatura fazendo água?

O Bloco de Esquerda vai para as eleições da presidência da Câmara sem uma posição unificada. O PDT e o PSB tendem a apoiar a candidatura do petista Marco Maia (RS), em vez de ficar com a candidatura avulsa do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A maioria do PSDB e do DEM tende a ficar também com o petista, pois vai prevalecer a proporcionalidade dos partidos, e não dos blocos parlamentares, evitando que a oposição perca uma comissão permanente. Os aliados de Rebelo estão fazendo as contas para avaliar se os insatisfeitos com a montagem do governo têm votos suficientes para sustentar sua candidatura.

Tempo de casa
O futuro secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, comandou por 878 dias a Secretaria de Política Econômica. Só ficou menos tempo que José Roberto Mendonça de Barros, que ocupou o cargo, no governo FH, por 1.183 dias.

Novo líder
Nos primeiros dias de 2011, o deputado ACM Neto (DEM-BA) anuncia sua candidatura a líder da bancada na Câmara. O partido, que elegeu 43 deputados, perdeu a prerrogativa de pedir verificação de quorum nas sessões da Câmara.

A estratégia do PSB
A filiação do ministro José Temporão ao PSB, para disputar a Prefeitura do Rio, articulada pelo vicepresidente do partido, Roberto Amaral, faz parte da estratégia nacional dos socialistas. A prioridade é a reeleição dos prefeitos de Belo Horizonte, Curitiba, João Pessoa e Boa Vista, e ter candidatura própria nas grandes capitais, exceto em Porto Alegre, onde dará apoio à candidatura de Manuela D’Ávila (PCdoB).

Sombras do passado
Tensão entre os tucanos. Quando visitou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) ouviu uma advertência: “Muito cuidado com o (José) Serra. Ele é capaz de tudo.” A recomendação foi ouvida por uma dezena de deputados tucanos que acompanhavam Aécio. Sarney não esquece o caso Lunus, que detonou a candidatura da filha, a governadora Roseana Sarney (MA), à Presidência da República, nas eleições de 2002.

EX-PREFEITO de Niterói, o petista Godofredo Pinto vai ser o secretário-executivo da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos).

O MINISTRO Pedro Novais (Turismo) decidiu manter Mário Moysés na presidência da Embratur.

TÁBUA DE SALVAÇÃO. Derrotado em sua campanha à reeleição, o senador Efraim Morais (DEM-PB), acusado de contratar funcionárias fantasmas para seu gabinete, assumirá a Secretaria de Infraetrutura da Paraíba no governo de Ricardo Coutinho (PSB).

MÍRIAM LEITÃO

A farra final 
Miriam Leitão 

O Globo - 30/12/2010

O ano fiscal foi um desastre. Quando há um forte crescimento, como em 2010, a receita aumenta e fica mais fácil atingir as metas de economia de recursos para continuar a trajetória de queda da dívida e do déficit. O governo fez manobras fiscais, investiu menos do que podia e, mesmo assim, não cumpriu a meta. Até 2009, a receita da União cresceu 132% no governo Lula.

É preciso até um certo esforço para, num ano em que as receitas aumentaram 28%, não cumprir a meta de superávit primário. Mas foi o que aconteceu em 2010, como mostrou a reportagem de Martha Beck em O GLOBO de ontem. O desastre das contas públicas no ano fica ainda mais claro com a notícia da jornalista Regina Alvarez, também na edição de ontem, de que o governo só executou 26% do total dos investimentos previstos. O orçamento permitia investir R$ 69,5 bilhões, mas apenas R$ 18,4 bilhões foram concluídos e pagos até o dia 25. O número sobe a R$ 40,7 bilhões com os pagamentos feitos em 2010 de despesas de anos anteriores, os restos a pagar.

Foi o ano em que o governo arrecadou demais, gastou demais, investiu menos do que podia, fez truques fiscais para inchar os cálculos de superávit primário, não chegou na meta e terminou 2010 com déficit nominal.

O desempenho fiscal do governo mostra que a conversa da equipe do Ministério da Fazenda de que em 2009 estava se fazendo “política contracíclica” era conversa fiada. Essa política consiste em aumentar os gastos em momentos de baixo crescimento para compensar a retração do consumo e dos investimentos privados, e fazer o oposto quando a situação se inverte: reduzir gastos quando o país cresce. Fizeram apenas a primeira parte da política. É assim que se formam as bolhas. Isso o Brasil sempre soube fazer e, por isso, o país tem dois a três anos de alta do PIB seguidos de novas quedas. E é exatamente dessa síndrome que o país está precisando se livrar.

O Ministério da Fazenda deveria ser o órgão que avisa os outros ministérios a hora de conter os gastos. Pois foi ele mesmo que, com truques contábeis e declarações inábeis, convocou a turma da gastança para a farra de 2010. A Eletrobras foi retirada da conta do superávit primário e aí a meta caiu de 3,3% do PIB para 3,1%. A operação de capitalização da Petrobras transformou títulos de dívida em receita primária. E assim se fez um espetacular superávit primário em setembro. Apesar disso, o Ministério da Fazenda terá de descontar da conta o que foi investido no PAC para atingir o superávit primário. O resultado tem dependido cada vez mais de receitas extraordinárias, o que torna o desempenho mais frágil, já que é um dinheiro com o qual não se pode contar.

O ano de 2010 foi apenas o mais evidente de uma administração desastrosa das contas públicas no segundo mandato de Lula. Seja qual for a forma de se fazer a conta, o resultado é sempre o mesmo: o governo gasta muito, gasta mal e aumentou de forma espantosa as despesas correntes.

O economista Raul Velloso acha que se pode dividir o governo Lula, na área fiscal, em três fases. A primeira na “crise da transição”, quando o governo, influenciado fortemente pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci, respondeu acima das expectativas. Naquela época, os juros eram altos e as previsões de crescimento, baixas. A tendência era de dívida/PIB subindo. O governo “dobrou a aposta”, diz Raul, elevou o superávit primário e ainda enfrentou o desgaste da aprovação da reforma da Previdência.

A segunda fase, intermediária, vai até a crise de 2008, quando as bases dessa primeira fase são lentamente abandonadas. O governo foi beneficiado pelo crescimento mundial, pelo fluxo de capitais para o Brasil, pela reconquista da confiança na política econômica. Isso permitiu a redução forte dos juros, diminuindo as despesas financeiras. O PIB de anos anteriores foi recalculado e isso ajudou a reduzir a dívida/ PIB. O PIB ficou maior, e a dívida, relativamente menor. A reforma da Previdência nunca foi regulamentada. Além disso, o governo enviou ao Congresso um projeto de lei que estabelecia um teto para o gasto de pessoal da União: ele só poderia crescer o equivalente ao IPCA mais 1,5%. Subiria acima da inflação, mas de forma contida. Segundo Raul, esse projeto continua vagando no Congresso, jamais aprovado, jamais respeitado.

A partir da crise de 2008, o governo entrou na terceira fase: a da “licença para gastar”.

— Não só as administrações públicas, mas também o BNDES, passaram a gastar bem mais que antes. E pior, houve um forte crescimento do gasto corrente rígido que, uma vez posto, é difícil tirar de volta. Os superávits primários caíram e introduziu- se a contabilidade criativa, que retirou credibilidade dos indicadores fiscais — explicou Raul.

Dessa história, que começa virtuosa e termina errada, o pior momento aconteceu em 2010, quando tudo jogava a favor de um ajuste e houve o aumento ainda maior das despesas. De acordo com o economista, mesmo sem contar 2010, o gasto corrente aumentou 140,6% entre o fim de 2002 e o fim de 2009. Os gastos de pessoal cresceram 113,8%. A Receita não financeira líquida total da União cresceu 131,7% entre 2002 e 2009. Apesar disso, o governo teve déficit nominal todos os anos.

O projeto de Antonio Palocci era buscar o déficit zero num plano fiscal plurianual. A então ministra Dilma Rousseff considerou “rudimentar” essa que foi a melhor ideia que surgiu na área fiscal no governo Lula. Agora, só resta andar em busca do tempo perdido.

CELSO MING

Reserva de mercado 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 30/12/2010

Em seu discurso de posse e em entrevista concedida à repórter do Estado Raquel Landim, o novo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, apresenta avanços no pensamento da liderança industrial. Em compensação, em outros capítulos, resvala para a proposta retrógrada e inaceitável da reserva de mercado.

Quando reivindica, por exemplo, um melhor desempenho da defesa comercial, é um empresário moderno, com visão de interesse nacional. Quando afirma que a desindustrialização não existe e que mais apropriado é afirmar que há perda de competitividade por parte de alguns setores, como o de componentes, eletrônicos e eletrodomésticos, Andrade mostra-se antenado com o mundo real.

No entanto, quando pede a proibição de investimentos em atividades industriais voltadas para o mercado interno, está chafurdando no protecionismo, que é condenável não só porque puxa para o atraso, mas também porque é irracional e impraticável.

Vejam o argumento de Andrade: "Quando o investimento (estrangeiro) é voltado para a infraestrutura, como saneamento, rodovias, energia, é benéfico porque traz competitividade para a indústria brasileira e para as exportações. Se o capital estrangeiro chega apenas para explorar o mercado interno, vai competir com a empresa brasileira e tirar mercado. Os investidores desenvolveram tecnologia fora do País e possuem técnicos e engenheiros bem formados. Logo, a competição com a indústria brasileira é desigual."

Essa é a defesa da reserva de mercado dos tempos do governo militar, que atrasou o desenvolvimento do País por mais de uma década e já afundou inúmeros setores da indústria, sendo o mais exemplar deles o da informática.

As ideias do presidente da CNI implicam criar dois mundos estanques: o da indústria nacional e o da estrangeira. E isso contraria a Constituição. Lá está escrito (art. 171) que deve ser considerada "empresa brasileira a constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País". Ou seja, a empresa brasileira pode ser inteiramente controlada por capitais estrangeiros, situação que Andrade parece não admitir.

Em segundo lugar, ele parece preferir que o capital estrangeiro produza lá fora (com a mesma tecnologia de ponta que ele considera hostil) e exporte para o mercado interno do Brasil do que venha para cá, incorpore tecnologia e crie empregos.

Tudo bem, então, para a nova direção da CNI, que a indústria de capital estrangeiro já radicada no Brasil possa importar tecnologia e a que não estiver não possa? Além disso, como criar uma proteção só para a indústria e também não impedir que empresas estrangeiras de serviços ou do setor financeiro (cuja produção não é exportável) disputem o mercado interno com as que já estão aqui?

A empresa brasileira, qualquer que seja a nacionalidade do capital controlador, se isso ainda faz sentido numa economia globalizada, tem de estar em condições de competir tanto aqui como no exterior. E isso se faz expondo-a à modernidade e não, como sugere Andrade, a metendo dentro de uma bolha.

Além disso, se quer reciprocidade, como também imagina, os investimentos estrangeiros devem ter aqui dentro o mesmo tratamento que os investimentos de empresas brasileiras têm nos países ricos.


CONFIRA

Impressão errada
Quem olha para a dívida bruta pode ficar com a impressão errada. Ainda que um pouco mais baixa, a dívida bruta do governo geral continua muito alta, acima de 58% do PIB.

Dívida mais cara
Quando o Banco Central (BC) compra dólares para as reservas, emite títulos. Essas emissões não aparecem na dívida líquida porque, no outro prato da balança, há os créditos em dólares. O problema é que o BC paga pela dívida interna juros de quase 11% ao ano, enquanto as reservas não rendem mais do que 3%.

JANIO DE FREITAS

Os melhores que não são
Janio de Freitas
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/12/10

Presenças duvidosas e comprometedoras mancham o novo ministério, até quando não precisavam 


A REGRA GERAL na designação de ministros, em conjunto ou nos casos isolados, indica que os políticos profissionais são os menos convenientes para setores de grandes recursos e relevância programática.
Raros são os casos dos que não sobrepõem interesses pessoais (mesmo que só com o objetivo de sua projeção) e de correntes políticas aos da eficácia do ministério e até do governo.
A regra é a transformação de meios de política de governo em instrumento político-partidário.
Com a consequência costumeira das torrentes de nomeações impróprias e, por aí, de abertura do serviço público a variadas formas de corrupção.
Apesar disso, os sistemas político e de governo estão moldados para tornar-se, tanto quanto possível, uma coisa só, com o máximo de infiltração de políticos e seus agentes na administração pública e, como contrapartida, com o domínio das decisões parlamentares pelo governante. O sistema se opõe aos não políticos profissionais, por mais habilitados que sejam, e ao governante que os pretenda em altos cargos. Por deformações que não são da política, mas de outros vícios também tradicionais, a própria sociedade é levada a admitir e reproduzir, como opinião pública e como eleitorado, a utilização extra dos instrumentos de governo pelos políticos. São estes, por exemplo, se ministros ou ocupantes de altos cargos, os que obtêm mais presença nos meios de comunicação, assim alcançando a projeção que é seu objetivo principal.
Os dedicados apenas à sua função, prontos a expor-se só quando fatos de governo o justifiquem, ficam relegados e sofrem os efeitos dessa distorção de critérios.
Ao caso já citado aqui de José Gomes Temporão no Ministério da Saúde, junta-se o exemplo de Fernando Haddad, com eficiente e modernizadora presença na Educação, e do ainda mais silencioso Miguel Jorge, com sua contribuição na abertura de mercados externos, como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Não há candidato à Presidência, a governo estadual ou a prefeitura que não prometa "governar com os melhores". Dilma Rousseff não abandonou a tradição. E é certo que impôs boas escolhas, a começar de quase todos os que manteve do governo Lula. Mas as presenças comprometedoras e as duvidosas mancham demais o novo ministério, até quando não precisavam fazê-lo tanto.
A indicação de Pedro Novais pela bancada do PMDB já era um despropósito, explicável pela voracidade do "baixo clero" pelas benesses a usurpar do Ministério do Turismo.
Depois de alcançado pela conta do motel pago com "verba indenizatória" da Câmara, a presença de Novais no governo soa a ultraje.
Ideli Salvatti está em caso semelhante, com o duplo faturamento contra o dinheiro público. E assim outros quatro ou cinco.
Todos a justificarem a providência que não veio: "limpe a sua ficha, se puder fazê-lo, fora do governo". Nada pode justificar a complacência que mantém tais indicados por interesses políticos.
Por que o prefeito de Sobral como ministro de Portos, o que esperar de Mário Negromonte como ministro de Cidades, e o denunciado Afonso Florence no Desenvolvimento Agrário, e as voltas de Edison Lobão e Alfredo Nascimento? Quanto a Moreira Franco, ministro a pedido de Michel Temer, mas posto em último caso nos Assuntos Estratégicos, foi levada em consideração a frase recém-lembrada de Fernando Henrique: "Esse não pode ficar perto de cofre". Mas a falta de cofre nos AE não limpa fichas.
E, se habilitações duvidosas enfraquecem o ministério, fichas sujas sujam o governo.

VINICIUS TORRES FREIRE

 Memórias de uma eleição chinfrim
Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/12/10

No balanço do ano, fica a triste memória da disputa mais burra e odienta desde a volta da democracia 


NÃO FAZ dois meses que Dilma Rousseff foi eleita, mas parece que a campanha eleitoral ocorreu num ano remoto, já tão apagado quanto a Copa do Mundo de 2010 (sim, a Copa vencida pela Espanha ocorreu neste ano). A eleição mesma parece, por sua vez, tão imemorável quanto a seleção de Dunga, um breve e irrelevante sonho ruim para quem gosta de futebol. Mas essa é outra história.
O leitor, que é perspicaz, teria alguma lembrança da triste campanha eleitoral para presidente? Sem recorrer aos arquivos, o jornalista faz ele mesmo o exercício de memória.
Houve a fofoca baixa sobre o aborto. Houve Erenice Guerra e seu Estado de bem-estar familiar. Houve algo que chamaram de "onda verde", a breve ascensão de Marina Silva (PV).
Houve a história da bolinha de papel, ou algum objeto inescrutável, atirada na cabeça de José Serra (PSDB). Houve muito ódio e tentativas de invalidar o adversário, de parte a parte, mas é difícil recordar até o teor dos insultos.
Houve algo mais? Não muito mais, dizem os arquivos. O PT de Dilma apresentou um programa de governo que a então candidata viria a renegar, substituindo-o por um "13 pontos" que não diz nada. Serra nem isso fez.
Desprezou completamente o eleitorado que lhe fazia perguntas programáticas.
Houve listas enormes de promessas municipais, paroquiais. Entre as demagogias maiores, houve a de Serra, de estourar o valor do salário mínimo. Por falar em equívoco, Serra, aliás, lançou-se candidato com a "defesa do emprego", que não estava indefeso, pois chegou a uma baixa histórica neste final de ano. No mais, o tucano parecia candidato a secretário municipal da Saúde. Dilma, por sua vez, no início da campanha, falou em baixar impostos e "em ampla reforma tributária", algo impossível de fazer diante dos gastos estourados do governo.
Mas é ocioso ficar lembrando mais desconversas dessa que foi a campanha eleitoral mais vazia, burra, mesquinha, odienta e personalista desde que o país voltou à democracia.
O que importa aqui é lembrar a alta intensidade do conflito eleitoral e a escassez de teor político, social e intelectual da campanha. Agitamo-nos como loucos por nada -nem mesmo ocorreu o debate plebiscitário pregado no início do ano pelo PT.
Os adversários principais se acusavam de pecados terminais: do desejo de destruição da democracia, do bem-estar social, da ordem etc., mas tudo isso era disparate exagerado e repulsivamente oportunista. No que diz respeito à substância, na campanha, não apareceram ideias novas. Partidos ou grupos políticos novos. Lideranças políticas novas.
O que sobrou disso? O pessoal do PSDB posava de último bastião de defesa da democracia contra a iminente ameaça do totalitarismo dos hunos petistas. Logo depois da eleição, deu algumas entrevistas sobre "refundação" do partido e foi viajar. Marina Silva e seu personalismo simpático, mas personalismo, desapareceu igualmente, pelo menos por ora, e nem chegou a montar um partido. Até agora, parece apenas uma hóspede do PV. Depois de amanhã, Dilma Rousseff e seu PT tomam posse, mas ainda não conhecemos o seu programa de governo.
O balanço do ano político-partidário é o balanço da eleição. O saldo, pois, é degradação e esvaziamento ainda maior da substância do debate político.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Sob encomenda 
 Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 30/12/2010 

O desenho do segundo escalão do governo Dilma Rousseff deixa ainda mais arisco o PMDB, insatisfeito com o espaço que amealhou no ministério e na iminência de perder postos em estatais.
Quem conhece os meandros do Congresso avalia que o primeiro "troco" a ser dado no governo viria já na votação da MP que estabelecerá o salário mínimo em 2011. Tanto a presidente eleita quanto Lula trabalham pelo piso de R$ 540. Com as recorrentes queixas de aliados, há quem aposte ser uma meta quase impossível Dilma reunir maioria para preservar o patamar desejado pelo Planalto.

Matemática Do deputado federal Paulinho da Força (PDT-SP), que em nota já anunciou emenda ao texto do governo propondo mínimo de R$ 580: "Eu cheguei a dizer para o Lula que, se ele negociasse, sairia mais barato. Como ele não quis, há duas alternativas: ou os R$ 540 dele ou os R$ 580 meus".

Estreia... O primeiro dia de trabalho de Dilma será domingo. Isso porque o Itamaraty agendou várias conversas bilaterais com representantes de países que vêm a Brasília para a posse.

...global A lista inclui os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) Evo Morales (Bolívia) e José Mujica (Uruguai), além dos primeiros-ministros da Coreia do Sul, Jamaica e Senegal.

Luz amarela Também no dia 2, os deputados do PT vão se reunir para reavaliar a estratégia da candidatura de Marco Maia (PT-RS) à presidência da Câmara. Apesar do anúncio formal de apoio do PSDB e do DEM, governistas acreditam que a oposição ainda pode mudar de rumo.

Companheiro O currículo de metalúrgico e defensor da causa sindical garantirá o apoio do PDT a Maia. O partido pede ao petista que, se eleito, estenda a regra da proporcionalidade, que leva em conta o tamanho das bancadas, para a distribuição das relatorias e definição da pauta de votações.

Patrícios Um grupo de jornalistas búlgaros que virá cobrir a posse de Dilma no sábado foi barrado no posto da imigração em Madri. O Itamaraty foi acionado para o desembaraço.

Uniforme Ninguém entendeu o motivo de Lula e a comitiva que o acompanhou ontem ao Ceará trajarem jaleco da Petrobras e luvas no lançamento de pedra fundamental de uma refinaria.

Dois em um A ida de Paulo Barbosa para a Secretaria de Desenvolvimento Social cumpre duplo papel para Geraldo Alckmin: pacifica a bancada tucana, que cobrava mais espaço no governo, e acolhe pedido do meio sindical de emplacar o suplente Ramalho da Construção Civil na Assembleia.

#fui Ao inaugurar ontem a Escola de Teatro, Alberto Goldman pediu aplausos no último ato oficial do mandato. "É minha última. Então merece, não? A gente é aplaudido quando é a primeira e quando é a última."

Eliminatória Em disputa acirrada com São Paulo e Brasília pela abertura da Copa-2014, Antonio Anastasia delegou a Sérgio Barroso secretaria voltada às obras para a competição em Minas.

Flashback Com Dorothéa Werneck na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Anastasia reedita "dobradinha" de 1995-96, quando integravam o ministério de FHC: ela na Indústria e Comércio e ele na secretaria-executiva do Trabalho.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"A publicidade é a única forma de permitir aos cidadãos que acompanhem os processos. O segredo deve ser a exceção, e não a regra."
DO MINISTRO DO STF, MARCO AURÉLIO DE MELLO, sobre a decisão da Corte de mencionar nos autos apenas as iniciais das autoridades processadas, mesmo nos casos em que não é decretado o segredo judicial.

contraponto

Interrogação diplomática

Chama a atenção, nos telegramas obtidos pelo WikiLeaks, o número de vezes em que os americanos duvidaram do que lhes disse José Dirceu.
Um embaixador que certa vez ouviu o petista defender um tratado comercial entre Brasil e EUA achou que era tudo jogo de cena. Outro funcionário duvidou que Dirceu estivesse mesmo disposto a se recolher após sua cassação, como indicou numa conversa em 2005.
-Não conseguimos acreditar que este camaleão brilhante e impiedoso esteja disposto a sair de cena tão discretamente- relatou o diplomata a Washington.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Privilegiada, Telefônica lidera em reclamações 
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 30/12/2010

A Telefônica fechará 2010 como a empresa responsável pelo maior número de reclamações em São Paulo.
Até o final do mês de novembro, o Procon-SP realizou 6.677 atendimentos a clientes da companhia. O motivo mais frequente é cobrança indevida.
O número é menos de um terço que o registrado pela Telefônica nos últimos 11 meses de 2009: 21.335. Ainda assim, está muito à frente da segunda colocada, a Eletropaulo, que recebeu 3.776 reclamações neste ano.
Para diminuir a quantidade de reclamações, a Telefônica conta com balcões de atendimento exclusivos para seus clientes nos postos do Poupatempo de Itaquera, Santo Amaro e Sé.
A Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo diz que "a demanda dos usuários é um dos principais pontos a serem avaliados para que uma empresa possa se instalar no Poupatempo".
A Eletropaulo estuda a possibilidade de abrir postos semelhantes na cidade. A Net vê a iniciativa com bons olhos, pois gostaria de atender seus clientes antes deles chegaram ao Procon.
"Esse serviço serve como filtro e reduz muito os casos de reclamações", afirma o vice-presidente de operações da Net, Daniel Barros.
Já a Telefônica minimiza a liderança no número de atendimentos na cidade em 2010 e a influência desses balcões especiais para a melhoria de seus serviços.
"Estamos comemorando nosso melhor índice de Procon. Comparações que não levam em conta a base de clientes desfavorecem a Telefônica", diz Raphael Duailibi, diretor-executivo de atenção ao cliente da empresa.

Eliana Cardoso, economista e professora da FGV

"Parte dos dólares impressos nos EUA com a política de "afrouxamento quantitativo" do Fed fluem para os países emergentes e contribuem para a alta das commodities. Ao mesmo tempo, há uma explosão do crédito no Brasil e o otimismo em relação ao país. Acabamos de misturar o coquetel que leva à euforia irracional? Ainda não. Por enquanto, temos sinais de aquecimento econômico: inflação em alta, disparada das importações e os mais baixos níveis de desemprego", diz Eliana Cardoso, economista e professora da FGV, sobre eventos que vão chamar a atenção em 2011.
"Os riscos? Uma desaceleração brusca no exterior (por causa da política monetária mais apertada na China) e um aumento da aversão ao risco nos mercados de capitais (por causa da crise europeia).
Outros desequilíbrios: a piora fiscal e a continuada expansão de empréstimos do BNDES (que cresceram 31% até novembro) preocupam porque o crescimento com base em crédito subsidiado não é sustentável.
A prolongada sobrevalorização do real ocorre na ausência de ganhos de produtividade. Com esses riscos, é de se esperar que o governo venha a adotar políticas monetária e fiscal para esfriar a economia. Ele terá de conter gastos e expectativas eufóricas."

Mais ferrovias e navegação geram economia, diz estudo

O Brasil poderia reduzir em R$ 800 bilhões o gasto com fretes, se conseguisse alcançar uma nova matriz de transporte com menor participação rodoviária.
Se nos próximos 25 anos a representação do setor rodoviário, que hoje é de mais de 70%, caísse para pouco menos de 40%, outros ganhos seriam obtidos, de acordo com estudo da Academia Nacional de Engenharia.
"O país continua hoje fazendo com caminhão a ligação entre uma carga do RS ao NE. Com 8 km de costa, poderia ter um transporte fluvial mais atuante", diz Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sinicon (sindicato da construção pesada).
Outros R$ 600 bilhões seriam economizados com energia, além de R$ 130 bilhões com manutenção rodoviária, de acordo com o estudo de Paulo Vivácqua, vice-presidente da academia, responsável pelos números.
A conclusão do estudo aponta que o Brasil perde anualmente cerca de 1% de crescimento possível do PIB com a atual matriz predominantemente rodoviária.
"A matriz do Brasil é equivocada. Deveria usar a matriz que a Vale adota: a distância curta, da mina até o pátio, é feita por caminhão, depois segue de trem até o porto, onde passa ao navio", diz Reis.
Com uma nova divisão da matriz, que teria mais ferrovias (21%) e navegação (33%), o país evitaria a emissão de 800 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, segundo a pesquisa.

DEITADO NO VERDE
O boom imobiliário e as exigências legais ambientais impulsionam o mercado brasileiro de mudas de espécies nativas da mata atlântica.
Com o aumento da demanda, a Biovert, que produz mudas para reflorestamento, recuperação de áreas degradadas e arborização urbana, vai investir na expansão da sua capacidade de produção.
"A demanda está crescendo por causa das compensações ambientais. As construtoras têm de investir em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas para compensar o impacto de suas obras", diz o engenheiro florestal Marcelo de Carvalho, sócio da Biovert.
Em 2011, a empresa vai destinar R$ 2,5 milhões para o aumento da área de produção e para a modernização dos equipamentos da fazenda, como aquisição de novas câmaras frias.
"Hoje produzimos 3 milhões de mudas por ano e queremos chegar a 10 milhões até 2014", diz.

Indústria... A Hyva do Brasil, fabricante de cilindros hidráulicos e guindastes, exportará parte da produção para a China em 2011, já que a subsidiária no país asiático não atende toda a demanda.

...de peso No ano que vem, a empresa também abrirá filial na cidade de São Paulo, para agilizar a entrega de produtos na região Sudeste. O faturamento da Hyva do Brasil foi de R$ 137 milhões em 2010.

Novo software A brasileira CPA apresentará em janeiro, nos EUA, seu novo produto, denominado Control Tower. O software, desenvolvido desde 2006, permite que seus clientes controlem todo o processo de produção e auxilia na gestão empresarial.

Em negociação
O Grupo Fitta, de franquias de agências de câmbio, e a MasterCard devem anunciar parceria no primeiro semestre de 2011. Com o negócio, serão abertas mais 40 unidades da empresa, que hoje possui 52 franquias e seis lojas próprias.

Tempero mineiro
Depois de lançar empreendimentos em Minas, Goiás e Espírito Santo, a Masb, formada pela fusão da Metro, Alicerce e Santa Bárbara, chega a São Paulo. Em parceria com a PDG Realty, o grupo lança um edifício residencial no Butantã.

ANCELMO GÓIS

Troca de cadeira 
Ancelmo Góis 

O Globo - 30/12/2010

Ricardo Henriques vai presidir, a convite de Eduardo Paes com apoio de Sérgio Cabral , o Instituto Pereira Passos, no Rio. O economista saiu da Secretaria de Assistência Social para acomodar um deputado do PT.

Sujeito esperto
Alain Juppé, ministro da Defesa é quem representará a França na posse de Dilma. Mas essa turma, como se diz em Frei Paulo, não prega prego sem estopa. Tem este contrato dos aviões Rafale...

Dilma e a dengue
Dilma pediu a Alexandre Padilha, o novo ministro da Saúde, atenção à dengue, para evitar problemas logo na largada.

Ana e os livros
Ontem, a nova ministra da Cultura, Ana de Holanda, reuniuse com gente da área de livros.

Aliás...
Um problema dela, e dos outros ministros novos, é abrir vaga no segundo escalão. Ninguém quer largar o osso.

Fala sério
Tem gente no governo federal que parece brincar de Tiradentes com o pescoço alheio. O dinheiro que o Exército pediu para a operação no Alemão está ameaçado de corte.

Contagem regressiva
Faltam 48 horas para Lula ingressar no clube dos ex-presidentes. Vivos serão cinco: Lula, FH, Itamar, Collor e Sarney. Dá para fundar um time de futsal.

Imperador no Fla
Adriano, o Imperador, garantiu a amigos, nesta última visita ao Rio, que acertou com a presidente do Roma, Rosella Sensi, sua volta para o Flamengo, em julho do ano que vem. A conferir.

Salve Jorge!
Surgiu na internet o site jorgedacapadocia. com.br, que vende produtos destinados a financiar um memorial a São Jorge na Turquia, em 2011. Por trás, está a empresária Malga Di Paula, mulher de Chico Anysio.

Moça Bonita
Eduardo Paes publicou ontem, no DO, o edital para a ampliação do campo do Bangu, orçada em R$ 36 milhões. O estádio de Moça Bonita vai receber a disputa de rúgbi nas Olimpíadas, inicialmente prevista para São Januário.

Conta da luz
Rosinha mal reassumiu a Prefeitura de Campos e já recebeu da Ampla uma conta de luz atrasada de R$ 1,89 milhão.

Calma, gente
Cresce nas praias do Rio a revolta dos banhistas com a velocidade de alguns quadriciclos dirigidos por guardas municipais que patrulham as areias. Domingo, uma dupla se divertia desviando à toda de redes e barracas, na altura da Garcia D’Ávila, em Ipanema.

Rio na moda
Com a política de segurança no Rio na moda, quatro novos governadores tentaram desfalcar a equipe de José Beltrame. Os alvos foram os delegados federais Roberto Sá e Roberto Alzir, responsáveis pelo planejamento das UPPs e do Plano de Metas da polícia fluminense.

O Rio é o Rio...
Apesar dos salários e do status de secretário, os dois agradeceram, mas decidiram ficar.

Guerra dos Roses
Como no filme de 1989, estrelado por Michael Douglas, um casal de milionários do Rio está se estapeando na Justiça numa separação litigiosa. Motivo da briga: uma fortuna avaliada em R$ 100 milhões.

VERISSIMO

A volta do MH
VERISSIMO
O GLOBO - 30/12/10


O Marciano Hipotético tem vindo seguidamente ao Brasil e sempre sai perplexo com o que vê e ouve por aqui. Na sua última visita o Lula acabava de ser eleito pela primeira vez, mas ainda não tinha sido empossado. As perspectivas não eram boas.Empresários preparavam-se para fugir em massa do país se suas piores conjeturas sobre o PT no poder se confirmassem. Banqueiros tremiam, temendo estatização sem indenização. Donas de casa escondiam a prataria. Anunciavam-se anos de privação e sacrifício sob o socialismo iminente.
Oito anos depois o MH volta e, para começar, não encontra vaga para estacionar a sua nave. A movimentação de Natal nas ruas e nas lojas é tamanha que o deixa transtornado. Onde está? Certamente não na Grande Cuba preconizada oito anos antes.
MH entrevista pessoas na rua com seu português de novela, aprendido nas ondas da TV, e descobre que a maioria está contente, está empregada, teve dinheiro ou crédito para as compras e julga que as coisas vão melhorar 
ainda mais.
– Quer dizer que, qui, il socialismo ha funzionato? – pergunta MH, com sotaque do Tony Ramos.
– O sociaque?
A perplexidade de MH aumenta. O Lula foi deposto, será isso? O PT não conseguiu implantar seu programa, a reação venceu e o Lula foi corrido do governo. Que nada, lhe informam. Lula ficou oito anos e ainda escolheu sua sucessora. Sucessora?! Sim, uma mulher. Dilma, ex-ativista política, ideologicamente mais à esquerda do que Lula e que, todos esperam, só completará o seu trabalho de consolidação do capitalismo no Brasil. A esta altura MH decidiu que precisava de um drink. Entrou num bar e pediu “Amoníaco. Duplo!”.
Sempre impressionou muito ao MH a quantidade de siglas de esquerda na política brasileira. Em nenhum outro lugar do mundo há tantas graduações de “esquerda” para se escolher, e tantas já 
chegaram a ser governo, com ou sem coligações, sem que isto afetasse muito o conservadorismo dominante. MH pretende desenvolver uma tese, na viagem de volta ao seu planeta. A esquerda 
brasileira é estilhaçada desse jeito de tanto bater na cidadela do poder real sem conseguir penetrá-la. É uma tese complexa, mas a viagem é longa. 

CLÁUDIO HUMBERTO

“Só um doido é que poderia querer voltar”
PRESIDENTE LULA, MENCIONANDO OS ÍNDICES DE APROVAÇÃO QUE “DEUS NÃO DARÁ OUTRA VEZ”

INDICADO À ELETROBRAS FIGUROU EM GRAMPO DA PF 
Citado como provável presidente da estatal Eletrobras, o engenheiro Flavio Decat teve seu nome envolvido, em 2009, em investigação da Polícia Federal. Numa gravação, o empresário Fernando Sarney pede ao pai, senador José Sarney, para acomodar na Eletrobras o amigo Decat, que foi presidente da Eletronuclear. Três meses depois ele virou diretor de Distribuição da estatal, onde permaneceu até abril deste ano.

CHAMADO 
No telefonema ao pai, Fernando Sarney lembrou “daquele amigo lá do Rio” que esperava um “chamado”. Sarney marcou reunião no Senado.

ATAQUE 
Fernando Sarney também contou ao pai, em outro telefonema, que iria “atacar” apadrinhados, para liberar verbas a entidades ligadas à família.

TROCA RUIM 
Haverá reação: Flávio Decat substituiria na Eletrobras a José Antonio Muniz, um dos executivos mais admirados e íntegros do setor elétrico.

CARAS E CARETAS 
O WikiLeaks vazou a preocupação dos EUA com o tráfico de drogas no Brasil. Vai piorar: saiu um monte de droga, entrarão outras, em 2011. 

PMDB NÃO ABRE MÃO DE NOVAIS NO TURISMO 
Responsável pela indicação do deputado Pedro Novais (MA) para o cargo de ministro do Turismo, a cúpula do PMDB não abre mão da escolha, mesmo depois da revelação de que ele usou dinheiro público para pagar despesas de motel. Para o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), “o caso está encerrado”, depois que Novais se explicou, verificou que houve “um engano” e devolveu o dinheiro. 

‘DESPRESTÍGIO’ 
O PMDB avalia que o “desconvite” a Pedro Novais representaria grave desprestígio ao partido. Pelo visto, motel com dinheiro público, não.

HABEMUS BOQUINHA 
Ainda resta uma esperança para os que ficaram de fora do futuro governo Dilma: a criação do ministério da Eucaristia. Oremos. 

ANFÍBIO 
Para a Petrobras, “Lula” é um “ser do mar” e o campo de Tupi não o homenageia. O presidente, na verdade, é um “ser da água”. 

AQUÁRIO DAS VAIDADES 
Merece o troféu Puxa-saco de veludo – um hit das donas de casa – o aspone da Petrobras que nomeou “Lula” um campo de pré-sal. A futura ministra Ideli “Robalo” Salvatti (Pesca) quer um todinho para ela. 

EXPO-FRACASSO 
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) se acha. Ele vai hoje a Santos, onde nasceu, doar seu “acervo pessoal” para uma “exposição permanente” no Outeiro de Santa Catarina. Os inúmeros fracassos da política externa do governo Lula, que ele pilotou, não estão na coleção.

MALA FRANCESA 
Paparicado no Brasil para vender seus caças Rafale que ninguém quer, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, fez forfait na posse de Dilma. Mandou o ministro Alain Juppé (Defesa) para forçar a barra, de novo. 

O FAMOSO QUEM? 
O governador do DF, Rogério Rosso, retornou ontem – vôo 3704, 9h48 – de outra de suas viagens semanais secretas a São Paulo. Durante o percurso, foi acintosamente ignorado pelos passageiros. Ele merece. 

SALVEM AS BALEIAS 
A Justiça Federal autorizou a exploração de petróleo na costa de Abrolhos (BA), santuário de baleias festejado em todo o mundo. O Greenpeace e outras entidades ambientalistas não deram um pio. 

VOCÊ JÁ SABIA 
A Globonews noticiou o que nossos leitores já sabiam: Lula não extraditou o terrorista Cesare Battisti com medo de “represálias” contra ele na Itália. Mentira. Lá, o bandido ficaria sob a proteção do cárcere.

E O INSS, Ó... 
Aposentados, já sem motivos para rir, devem poupar os (poucos) dentes: só em uma década e meia haverá dentaduras e próteses para os 7 milhões de idosos desdentados, informa o Ministério da Saúde.

O BRASIL EMAGRECE 
O grupo Vigilantes do Peso do Brasil ajudou o País a emagrecer 330 mil quilos em 2010, de janeiro a novembro. Só em Brasília foram 10,5 toneladas de gordura a menos – ou 19,6% a mais do que em 2009. 

PENSANDO BEM...
...só o xeique de Agadir teve onze caminhões de mudança. 

PODER SEM PUDOR
TESPÍRITO NATALINO 
Às vésperas do Natal de 1991, como sempre, os senadores votavam em esforço concentrado uma pequena redução nos próprios salários, rolagem de dívida dos Estados, incentivo fiscal para usineiros e a “renda mínima” de Eduardo Suplicy. O maranhense Epitácio Cafeteira pediu a palavra:
– Baixou o espírito natalino no Senado: vamos votar a redução do nosso próprio salário, rolar a dívida de quem não paga, conceder incentivo a quem é inadimplente e dar dinheiro a quem não trabalha...

QUINTA NOS JORNAIS

Globo: Inflação do aluguel é de 11%, mas no Rio preços dobram

Folha: Petrobras anuncia reserva recorde e a batiza de Lula

Estadão: BNDES libera R$ 6,1 bi para Angra 3

JB: Brasileiro vai gastar R$ 12 bi no exterior

Correio: Viagem mais longa e difícil para Goiânia

Valor: Dilma define superávit maior e corte no Orçamento de 2011

Zero Hora: Detran vai tirar carteira de quem exceder em 50% limite de velocidade