segunda-feira, dezembro 20, 2010

GUILHERME FIUZA

Apertem os cintos, a presidenta sumiu

Guilherme Fiuza
REVISTA ÉPOCA

 
A presidente eleita, Dilma Rousseff, é um sucesso no Twitter. Ficou em segundo lugar no ranking dos mais citados na febril rede de mensagens telegráficas em 2010. Perdeu apenas para o cantor adolescente Justin Bieber, que aliás se parece muito com Dilma. Os dois são pastéis de vento da cultura de massas e suas cabeças foram feitas pelos melhores cabeleireiros da modernidade brega. Não se sabe exatamente por que a primeira presidenta brasileira foi superada pelo ídolo canadense. Talvez ele tenha um plano de governo.

Aos 16 anos, Justin Bieber já tem até um filme sobre sua vida. É um exemplo e tanto para Dilma. Está provado que não é preciso viver para entrar na história. A presidenta está seguindo rigorosamente esta linha: não fez nada para se eleger, e depois de eleita prosseguiu, coerentemente, não fazendo nada. Em time que está ganhando não se mexe.

Agora a vice-campeã do Twitter tem tudo para virar filme também. Não importa se ela já fez tanto na vida quanto o adolescente Bieber. Isso o roteirista resolve. Qualquer problema, é só providenciar uns enxertos com pedaços da biografia de Norma Benguell, usando o mesmo expediente da campanha eleitoral. A transfusão de identidade, que fez Dilma aparecer no lugar da atriz numa passeata em 1968, foi um sucesso. Se ainda faltar material para o longa-metragem, ainda é possível encher linguiça com as peripécias de Erenice, alter ego da presidenta – tão prematuramente ceifada da vida pública só porque exercia seu instinto maternal na máquina administrativa. Puro preconceito contra a mulher.

Justin Bieber pode ser o rei do Twitter, mas não tem tudo. Não tem, por exemplo, um Edison Lobão no ministério. O velho novo ministro de Minas e Energia, aquele que no apagão convocou uma coletiva para ler um bilhete dizendo que ia ficar tudo bem, é quase uma força da natureza. Seria difícil supor de onde vem sua inexorável sobrevivência no poder sem um olhar profundo para o Estado do Maranhão, que o fez senador. Ali mora o mistério do Brasil moderno.

Ali mora José Sarney (fora um ou outro pernoite no Amapá, para um alô a seus eleitores). Lobão é só um dos ministros de Sarney no governo revolucionário da primeira presidenta. Justin Bieber precisaria nascer de novo em São Luís, no Maranhão, para entender o que é um reinado de verdade. Influenciar pencas de adolescentes pelo mundo não é nada. Difícil é influenciar pencas de contratações de parentes e amigos no Senado, ser apanhado com a boca na botija e continuar dando as cartas na República. Sarney é um milagre da dupla Lula-Dilma, um dos filmes mais incríveis que Hollywood não fez. O resto é água com açúcar.

Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio, a inflação recorde de novembro e o ajuste fiscal Nunca antes na história deste país se viu um presidente eleito sumir de cena de forma tão resoluta. Dilma não tem nada a dizer ao povo. Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio de Janeiro. Dilma não comenta a inflação recorde de novembro. Dilma não fala sobre o ajuste fiscal que o velho novo ministro Mantega anunciou e o padrinho Lula desmentiu. Dilma não dá um pio sobre a crise da partilha do pré-sal, nem do pós-sal. Mas Dilma fala no Twitter:

“Amigos, muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/ estar aqui c/ vocês. Vamos conversar mais em 2011”.

Imaginemos como prosseguirá essa conversa em 2011, aproveitando as duas palavras mais importantes da mensagem: logo eu, que não saio da sombra do meu inventor; logo eu, que só penso na cota do PMDB, na cota do PT e na cota do Sarney; logo eu, que articulo para presidente da Câmara um lunático que quer derrotar o capitalismo; logo eu, que rezo todos os dias para que a política econômica de Fernando Henrique não me abandone, e eu possa continuar surfando no folclore do oprimido. A musa do Twitter promete. Te cuida, Justin Bieber.

MÔNICA BERGAMO

Devagar e sempre 
Mônica Bergamo 
Folha de S.Paulo - 20/12/2010

O governo Dilma Rousseff (PT) não vai interditar eventuais debates sobre a liberação de alguns tipos de drogas como forma de combater a violência -ideia defendida, entre outros, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador Sérgio Cabral, do Rio. Deve, porém, se mover com cautela no assunto. "É uma questão polêmica que exige ampla discussão. Até porque qualquer mudança da legislação a respeito exige ampla concordância da sociedade", afirmou à coluna José Eduardo Martins Cardozo, futuro ministro da Justiça.

GUERRA SANTA
De acordo com outros assessores de Dilma, ela é "avançada" em relação a este e a outros temas. Mas sabe que, caso se transformem em "guerras santas", como ocorreu com o aborto, acabam interditados por muitos anos.

CORPO E ALMA
O psicanalista Jorge Forbes está dando consultoria ao Santos. Por três meses, ele tentará chegar a um diagnóstico sobre os trabalhos que podem ser realizados com uma equipe de jogadores de futebol (como Neymar e Ganso) que se vêem frente às alegrias e aos problemas inerentes ao sucesso.

DE VOLTA
Depois de finalizar o livro que está escrevendo em que contará suas experiências administrativas nos 40 anos em que trabalhou com Silvio Santos, o ex-presidente do grupo, Luiz Sandoval, 66, pretende voltar ao mercado. Sua ideia é prestar consultoria e dar palestras.

QUAL É A SUA?
E um grupo de afiliadas do SBT pretende se reunir com a cúpula da emissora para esclarecer quais são os planos de Silvio Santos. Elas querem saber se o apresentador pretende vender a rede e por que preço. Em caso de negativa, querem saber se há planos de investimento em programação. A emissora disputa hoje o terceiro lugar de audiência e tem perdido algumas de suas atrações, o que preocupa seus parceiros.

PLAYBOYS SE DERRETEM POR MANO BROWN

São 2h22 de sexta-feira quando Mano Brown surge no palco do clube Royal, no centro. Puxa uma fila de rappers, como Ice Blue e Helião, para uma apresentação na casa noturna do empresário Marcus Buaiz, reduto de jovens de classe média alta. Antes de tocar, ocupou uma sala VIP com champanhe Veuve Clicquot à disposição.

"Hoje eu sou ladrão / Artigo 157 / As cachorra me ama / Os playboy se derrete", canta o rapper. Jovens de camisa social, que pagaram R$ 200 de entrada, e moças com vestido justo e champanhe na mão, cantam junto. "O cara manda bem. O chato é que eu sou playboy e ele fala mal de playboy", diz um rapaz enquanto fotografa com o iPhone. Dentinho, do Corinthians, de tênis branco e sobrancelhas aparadas, dança. Carlinhos Silva, ex-"A Fazenda", diz que ouve as letras e "vem um filme na minha cabeça". Ele chegou a morar na rua antes da fama. O cantor Di Ferrero, do NX Zero, diz que achou ""da hora" vê-los em "clubs". É errado achar que todo mundo que tem dinheiro é ruim."

Brown discursa. "Nos EUA, o presidente é negro, num país onde brancos e negros não podiam usar o mesmo banheiro. Em SP, os nordestinos construíram a cidade e são tratados que nem cachorros. Mas o presidente é nordestino. E tá indo pro terceiro mandato, porque agora é Lula de novo." À exceção de gritos de "Vai, Corinthians!", a plateia não reage.

Mais algumas músicas e Brown manda o último recado: "Quando o Marlon Brando ganhou o Oscar, ele mandou uma índia no lugar dele para protestar contra a situação dos índios. Tiveram que segurar o John Wayne pra não bater nela. E o John Wayne é um herói para eles. Para mim, o Bope não é herói. Os heróis estão presos."

FESTA DO PANETONE
O apresentador do "Fantástico" Zeca Camargo comemorou 20 anos de sua tradicional festa de Natal "Panetone com Champanhe", em que celebra o fim do ano ao lado de seus amigos. Ele reuniu em sua casa, no Jardim Europa, as ex-colegas de MTV Marina Person, Astrid Fontenelle e a atriz Tuna Dwek, entre outros convidados.

BEM BRASILEIRA
Condenada a quatro anos de prisão, convertida em prestação de serviços comunitários, por fraudes na importação de artigos de luxo, a empresária Tania Bulhões enviou carta a 5.000 clientes informando que seu processo "chegou ao fim". Afirmando que "o caso" era "extremamente pontual", ela diz que reconhece os erros e que cumprirá a pena com "responsabilidade". E diz que suas empresas estão "cheias de energia" para seguir na construção de "uma marca naturalmente sofisticada, simplesmente brasileira".

BARROCO
A Pinacoteca do Estado prepara uma grande exposição de Caravaggio. Os trabalhos do pintor italiano devem desembarcar por aqui no segundo semestre de 2011.

VOLTA À REALIDADE
Os jornalistas José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão lançam hoje o livro "Realidade Re-vista" (ed. Realejo), sobre a revista "Realidade", que marcou época nos dez anos em que circulou, de 1966 a 1976. A obra traz reproduções de matérias e textos com os bastidores das reportagens. A sessão de autógrafos começa às 19h, no bar Posto 6 (rua Aspicuelta, 646), na Vila Madalena.

NOVO NA TELA
Para comemorar a estreia de "Desprogramado", do canal Multishow, a apresentadora da atração, Luisa Micheletti, recebeu convidados como os produtores Fred Avellar, Marcos Credie e a apresentadora Anita Paschkes no Kitsch Club.

CURTO-CIRCUITO

A peça "Ensina-me a Viver", com Glória Menezes, iniciará temporada popular no Teatro das Artes, no shopping Eldorado, no dia 7 de janeiro. Classificação etária: 12 anos.

O Itaú Cultural encerra na quinta a mostra "O Egito sob o Olhar de Napoleão". Na sexta, o espaço fecha para reforma e só reabre em fevereiro.

Claudio Lottenberg foi reeleito para o quarto mandato seguido na presidência do hospital Albert Einstein.

A Casé Filmes faz festa hoje na Melt, no Rio, para comemorar a bilheteria do filme "Muita Calma nessa Hora". 18 anos.

AUGUSTO NUNES

FHC foi o acorde dissonante na ópera do absurdo que Lula recomeçou

AUGUSTO NUNES
REVISTA VEJA ON-LINE
De volta ao Brasil de sempre, resignaram-se há oito anos as paredes do gabinete presidencial depois de uma ligeira contemplação do novo inquilino. Desde 1960, quando Juscelino Kubitschek inaugurou o Palácio do Planalto, a grande sala no terceiro andar já abrigou napoleões de hospício, generais de exército da salvação, perfeitas cavalgaduras, messias de gafieira, gatunos patológicos, vigaristas provincianos e outros exotismos da fauna brasileira. Por que não um Luiz Inácio Lula da Silva?
Quem conhece a saga republicana sabe que a ascensão ao poder de um ex-operário metalúrgico só restabeleceu a rotina da anormalidade que vigora, com curtíssimos intervalos, desde o inquilinato de Jânio Quadros. Na galeria dos retratos dos presidentes, Lula está à vontade ao lado dos vizinhos de parede. Sente-se em casa. A discurseira delirante e ininterrupta está em perfeita afinação com a ópera do absurdo. O acorde dissonante é Fernando Henrique Cardoso. Um confirma a regra. O outro é a exceção.
O migrante nordestino que chegou à Presidência sem escalas em bancos escolares tem tudo a ver com o país dos 14 milhões de analfabetos, dos 50 milhões que não compreendem o que acabaram de ler nem conseguem somar dois mais dois, da imensidão de miseráveis embrutecidos pela ignorância endêmica e condenados a uma vida não vivida. Esse mundo é indulgente com intuitivos que falam sem parar sobre assuntos que ignoram. E é hostil a homens que pensam e agem com sensatez. É um mundo que tem pouco a ver com um sociólogo nascido no Rio que tinha escrito muitos livros quando se instalou no Planalto.
O Brasil de Lula tem a cara primitiva de sempre. O Brasil  de FHC provou que a erradicação do atraso não é impossível. Pareceu até civilizado no primeiro dia de 2003, quando se completou um processo sucessório exemplarmente democrático. Durante a campanha eleitoral, o presidente fez o contrário do que faria o sucessor. Embora apoiasse José Serra, não mobilizou a máquina administrativa em favor do candidato, não abandonou o emprego para animar palanques e consultou os principais concorrentes antes de tomar decisões cujos efeitos ultrapassariam os limites do mandato prestes a terminar.
NEM RUTH CARDOSO FOI POUPADAConsumada a vitória do adversário, FHC pilotou o período de transição e ajudou a conter a fuga de investidores inquietos com a folha corrida do PT. O Brasil de janeiro de 2003 tinha poucas semelhanças com o que Itamar Franco encontrou depois do despejo de Fernando Collor. Em 1994, o ministro da Fazenda de Itamar comandou a montagem do Plano Real. Nos oito anos seguintes, fez o suficiente para entregar a Lula um Brasil alforriado da inflação e da irresponsabilidade fiscal, modernizado pela privatização de mamutes estatais deficitários e livre de tentações autoritárias.
“Aqui você deixa um amigo”, disse o sucessor com a faixa presidencial já enfeitando o peito. Foi a primeira das mentiras, vigarices, trapaças e traições que alvejariam, nos oito anos seguintes, a assombração que está para o SuperLula como a kriptonita para o Super-Homem. Criminosamente solidário com José Sarney, a quem chamava de ladrão, obscenamente amável com Fernando Collor, a quem chamava de corrupto, o ressentido incurável, incapaz de absorver as duas derrotas no primeiro turno, guardou o estoque inteiro de truculências e patifarias para tentar destruir um antigo aliado, um adversário leal e um homem honrado.
Lula nunca pronuncia o nome nem as iniciais do antecessor. Delega as agressões frontais a grandes e pequenos canalhas, que explicitam o que o chefe insinua. Há sempre os sarneys, dirceus, jucás, berzoinis, collors, dutras, renans, mercadantes, tarsos, gilbertinhos, dilmas e erenices prontos para a execução do trabalho sujo que não poupou sequer Ruth Cardoso, vítima do papelório infame forjado em 2008 na fábrica de dossiês da Casa Civil. A cada avanço dos farsantes correspondeu uma rendição sem luta do PSDB, do PPS e do DEM. FHC não é atacado pelos defeitos que tem ou pelos erros que cometeu, mas pelas qualidades que exibe e pelas façanhas que protagonizou.
Ele merecia adversários menos boçais e aliados mais corajosos. Há algo de muito errado com a oposição oficial quando um grande presidente, para ressuscitar verdades reiteradamente assassinadas desde 2003, tem de defender sozinho um patrimônio político-administrativo que deveria ser festejado pelos partidos que o apoiaram. Há algo de muito estranho com um PSDB que não ouve o que diz seu presidente de honra. Nem lê o que escreve, como atesta a releitura de dois artigos publicados no Estadão.
O PONTO FORA DA CURVA
Em outubro de 2008, FHC avisou que a democracia brasileira estava ameaçada pelo “autoritarismo popular” do chefe de governo, que poderia descambar numa espécie de subperonismo amparado nas centrais sindicais, em movimentos ditos sociais e nas massas robotizadas.  “Para onde vamos?”, perguntava o título do primeiro artigo. A Argentina de Juan Domingo Perón foi para os braços de Isabelita e acabou no colo dos militares. O Brasil de Lula foi para Dilma Rousseff. É cedo para saber  onde acabará.
Em fevereiro, com 968 palavras, FHC enterrou no jazigo das malandragens eleitoreiras a fantasia costurada durante sete anos. “Para ganhar sua guerra imaginária, o presidente distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação, nega o que de bom foi feito e apossa-se de tudo que dele herdou como se dele sempre tivesse sido”, resumiu. Depois de ensinar que o Brasil existia antes de Lula e existirá depois dele, recomendou que se apanhasse a luva atirada pelo sucessor: “Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer”.
Em vez de seguir o conselho e sugerir a Lula que topasse um debate com Fernando Henrique, José Serra reincidiu no crime praticado em 2002 — com agravantes. Além de esconder o líder que aumentou a distância entre o país e a era das cavernas, apareceu no horário eleitoral ao lado de Lula, convertido num Zé decidido a prosseguir a obra do Silva. Aloysio Nunes Ferreira fez o contrário. Tinha 3% das intenções de voto quando transformou FHC em principal avalista da candidatura. Elegeu-se senador com a maior votação da História. Saudado por sorrisos, cumprimentos e aplausos quando caminha nas ruas de São Paulo, FHC nunca foi hostilizado em público. Depois da vaia no Maracanã, Lula não voltou a dar as caras fora do circuito das plateias amestradas.
Desde o dia da eleição, FHC tem exortado o PSDB a transformar-se num partido de verdade, com um programa que adapte à realidade brasileira a essência da social-democracia, combata sem hesitações a corrupção institucionalizada e, sobretudo, aprenda que o papel da oposição é opor-se, como ele próprio tem feito há oito anos. “Por enquanto, o único partido que temos é o PT”, repetiu há dias. “Sem uma linha política clara a seguir, o PSDB continuará a agir segundo as circunstâncias e a perder tempo com questões pontuais”. Pode perder de vez também o respeito e a confiança do eleitorado oposicionista, adverte a reação provocada pela Carta de Maceió. O teor vergonhoso do documento comprova que os governadores tucanos não captaram o recado do patriarca.
Na trajetória desenhada pelos presidentes da República, FHC é o ponto fora da curva. Pode ser esse o seu destino, sugere a paisagem deste fim de 2010. Assegurada a vaga na História, poupado da obsessão pelo poder, ainda assim não recusa o combate, não faz acordos, não capitula. Em respeito à própria biografia, e por entender que a nação merece algo melhor, continua a apontar a nudez do pequeno monarca. Oito anos mais velho, ficou oito anos mais novo: nenhum líder político é tão parecido com a oposição real, rejuvenescida e revigorada neste outubro por 44 milhões de votos, quanto Fernando Henrique Cardoso.

DENISE ROTHENBURG

Mitos, madames e barracos

Denise Rothenburg
Correio Braziliense - 20/12/2010
 
O processo de escolha do gaúcho Marco Maia candidato a presidente da Câmara é um exemplo claro de que o PT não perdeu o ar de “barraqueiro”
No momento em que todos começam a fazer as contas do governo Lula, seus acertos e erros, é preciso colocar alguns pingos nos is. É fato incontestável que Lula conseguiu, em oito anos, virar um mito. Isso ninguém vai tirar dele. E no imaginário popular, mito não tem dor de barriga, mau hálito ou coisa que o valha. Por mais que os numeros em algumas áreas deixem a desejar, a população de um modo geral e, registre-se, até mesmo seus adversários políticos vão tratar do governo como uma era de avanços sociais. Ninguém atribuirá os fracassos ao mito.
Mas, vejamos os partidos políticos. Eles também merecem um balanção de final de ano. O PMDB soube, nesse período, conquistar seu espaço a ponto de chegar em 2011 com a Vice-presidência da República. Há muito tempo, não chegava tão longe. A última vez foi há 25 anos, em aliança com Tancredo Neves, que nem chegou a assumir o governo. E, ainda assim, José Sarney, guindado ao comando do pais, aguentou os peemedebistas fazendo oposição à sua gestão.
O PMDB quis tanto e se deu tão bem que, agora, ficou amarrado. Ao conquistar a vaga de vice de Dilma na pessoa de seu presidente, Michel Temer, está obrigado a deixar de lado aquela história de “se não me der o que eu quero vou para a oposição” — postura que acompanhou os peemedebistas no governo Fernando Henrique Cardoso e prosseguiu no governo Lula.
E o PT? O partido sai desse governo com uma imagem desgastada. A estrela daqueles que em 1989 cantavam sem medo de ser feliz e costuravam suas bandeiras com trapos vermelhos em casa mudou até de cor, quando houve a troca das ruas e galpões por amplos e suntuosos salões. Os jeans surrados deram lugar a Ricardos Almeidas e Armanis da vida. Já em 2002, na campanha, a transformação era nítida. A estrela, em vez de vermelha ou branca, era dourada e vinha numa linda caixinha vermelha. Ocorre que, com a conquista do poder, logo vieram os escândalos pelos quais alguns sucumbiram. De José Dirceu a Erenice Guerra, que não tinha uma militância partidária.
Barraco
Uma característica, entretanto, o PT parece não ter perdido. A de discutir na frente de todos seus problemas e divisões internas. O partido, guardadas as devidas proporções, age como aquela mulher que, ao acompanhar o marido numa festa, faz um escândalo quando vê alguma jovem se aproximando dele. E, antes que ele possa dizer que se trata de uma antiga colega de escola, a esposa já está discutindo com o indivíduo na frente da moça. Foi assim com a nomeação dos ministros de Dilma. O ciumento PT armou logo um “barraco”. O processo de escolha do gaúcho Marco Maia candidato a presidente da Câmara é um exemplo claro de que o PT não perdeu o ar de “barraqueiro”, como aquele casal que briga em público e expõe seus problemas matrimoniais.
Outro partido da base que agora chega às portas natalinas sem esse espírito de confraternização é o PSB. Ali, o crescimento da legenda ao longo do governo Lula desaguou num “quase barraco” entre Ciro Gomes e o presidente do partido, Eduardo Campos. Por enquanto, eles ainda não partiram para uma briga na frente dos outros. Estão no meio termo entre o barraqueiro PT — que diz “brigo sim e daí?” — e o PSDB.
Por falar em PSDB...
Bem, chegamos à oposição. Os tucanos podem ser comparados àquele casal que faz tudo para não expor suas diferenças publicamente. A madame tucana, quando não gosta do comportamento do marido, ou desconfia dele, não perde a fleuma na frente de estranhos, muito menos da moça objeto da discórdia. Deixa para brigar no carro, dando voltas pela cidade, ou no telefone que sabe não estar grampeado porque o número é novinho em folha. O casal de mineiros e paulistas do PSDB — ou só de paulistas, uma vê que ali também convivem diferentes alas — passou esses oito anos em crise, mas se manteve sorridente nos palanques, nos restaurantes, nos encontros e reuniões partidárias.
Só divergiram em público quanto ao comportamento que deveriam ter em relação a Lula e ao PT — se uma oposição mais aguerrida ou “seletiva”. Mas, quem for analisar como desfilou o PSDB nesses oito anos verá que não deu muito trabalho a Lula. Afinal até eles acham que Lula virou mesmo um mito.
E agora, daqui a 11 dias, depois de posar com sua barba branca de quase Papai Noel, passará a faixa a Dilma, que não se sabe se terá a mesma sorte do antecessor. Os otimistas, entretanto, dizem que Dilma pode ter a sorte de ver o PT dedicado às suas brigas barulhentas e públicas e as alas do PSDB quebrando o pau dentro do carro. E, sabe como é, enquanto uns brigam outros governam e podem até virar mitos, como aconteceu com Lula. Isso, o tempo dirá. Feliz Natal a todos.

DENIS LERRER ROSENFIELD

Cuidados do corpo e da alma

 Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo - 20/12/2010
 
A propósito de meu último artigo, Liberdade e doença, recebi várias manifestações insistindo na importância da liberdade de escolha, da responsabilização individual e contra a usurpação dos direitos individuais em nome do politicamente correto. A lista do politicamente correto é longa, sendo conduzida tanto pelo governo federal quanto por governos estaduais, não havendo aqui nenhum monopólio partidário.
O Brasil tem vivido nos últimos anos uma invasão do politicamente correto. Tal invasão vem acompanhada de uma série de medidas legais, sejam leis propriamente ditas, sejam atos administrativos, como decretos, resoluções, portarias e instruções normativas, que coíbem, cada vez mais, a liberdade de escolha. O politicamente correto apresenta-se, então, como se fosse, moralmente falando, uma forma do bem que estaria enfrentando o mal, no caso, o mau comportamento. Tivemos, assim, medidas contra o álcool e o fumo apresentadas como se fossem a expressão mesma da virtude.
Sua ampliação já é cogitada para vários alimentos considerados daninhos ao organismo, como certas formas de gordura, podendo atingir desde chocolates e doces em geral até sorvetes, passando por carnes.
Também já tivemos resoluções que dispõem como indivíduos podem comprar medicamentos que não necessitam de receituário médico: só atrás do balcão, mediante atendentes, e não na frente, segundo o critério de escolha de cada um. Mais recentemente, tivemos medidas que obrigam o uso de um novo tipo de receituário médico para a compra de antibióticos ou, na esfera profissional, o registro impresso do ponto eletrônico para empresas, como se patrões e empregados não fossem suficientemente responsáveis e maiores de idade para estabelecerem entre si, livremente, acordos de trabalho. Até a ideia de uma lei visando a disciplinar a relação entre pais e filhos, a chamada lei da palmada, exibe essa invasão estatal na esfera propriamente familiar. Um leitor me alertou ainda sobre o uso doravante obrigatório de tomadas brasileiras, como se tomadas de outros países não pudessem ser escolhidas livremente por seus usuários.
Observe-se que o Estado passa a se ocupar das mais diferentes esferas da vida individual, familiar e empresarial, determinando, segundo ele, o que é melhor para cada um, como se tivesse o saber da "virtude" em sua cruzada contra o "vício", ou do bom uso de determinados instrumentos em detrimento de outros. Começa a imiscuir-se, literalmente, em tudo. Trata-se do dito cuidado do corpo, sob a forma da "saúde", da "boa" educação em lugar da "má", da "boa" relação trabalhista em lugar da "má", da "boa" família em lugar da "má", e até mesmo da "boa" tomada em lugar da "má". Não convém observar essas medidas apenas individualmente, porque perdemos, assim, a visão do conjunto.
Individualmente, alguns poderiam até estar inclinados a aceitar uma ou outra dessas medidas, mas o problema não reside aí, porque o seu significado só nasce de sua visão enquanto políticas públicas feitas com o intuito de restringir as liberdades individuais.
Note-se que se trata de políticas públicas que visam a cuidar do corpo dos cidadãos, das relações entre empregadores e empregados e mesmo do uso de certos equipamentos. É a relação da pessoa consigo mesma, com os outros, em geral, e do tipo profissional. Acontece que esse cuidado com o corpo individual começa a passar para o corpo coletivo, o das relações interpessoais e profissionais, alcançando, inclusive, a alma dos indivíduos. Estes passam a ser ensinados como se devem comportar, como obedecer, como abandonar o senso crítico e como se desresponsabilizar.
O processo passa, então, para as mentalidades propriamente ditas, para a "alma", cujo controle se faz, hoje, pela formação e pelo domínio da opinião pública. A omissão individual começa a ser compensada por medidas coletivas que, cada uma individualmente, se tornam progressivamente aceitáveis, adotando a forma de um conjunto que cerceia os direitos individuais. Logo, não é estranho a esse processo que medidas sejam igualmente tomadas com o propósito de cercear a liberdade de imprensa e o uso da publicidade. Consoante com essa visão, iniciativas são propostas de controle de conteúdo da mídia, visando a coibir e multar notícias e ideias que incitem os "maus" comportamentos. Evidentemente, a dita nova legislação se colocaria do lado do "bom" comportamento, do "bom" cuidado da alma e do corpo, contra os que se colocam na posição contrária. O controle dos meios de comunicação é um meio de controle das mentalidades, da formação da opinião pública e da "alma".
No linguajar de Locke, no século 17, "nenhum homem pode ser forçado a ser rico ou saudável contra a sua vontade". Não é essa, nem deveria ser, a função da lei e do Estado. Os homens devem ser entregues à sua própria consciência, o que significa dizer à sua própria liberdade, à sua capacidade racional de discernimento. Nenhuma instância se pode colocar nessa posição, salvo se seu objetivo for aniquilar o livre-arbítrio. Os cidadãos, para terem seus direitos assegurados, devem atentar para essas formas de controle, que, sob o manto do politicamente correto, ameaçam esses mesmos direitos. O excesso de regulamentação é somente uma de suas faces. A outra é o surgimento de formas de autoritarismo que nascem no seio de Estados ditos democráticos, com a peculiaridade de se dizerem "democráticas".
O politicamente correto é uma expressão dessa face autocrática que se mascara moralmente, com o intuito de que o cidadão aceite tal imposição como se fosse, de certa maneira, "sua". A "moralidade" assumida pelo Estado procura criar entre os cidadãos a imagem - e a mensagem - de que essas proibições são saudáveis, são boas em si.
A democracia corre o perigo de ser minada por um "autoritarismo democrático".

RENATA LO PRETE

Pró-renovação 
Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 20/12/2010


A associação nacional que reúne os procuradores de contas enviou ofício ao presidente Lula para se manifestar contra a possível recondução de Lucas Furtado ao cargo de procurador-geral do Ministério Público no Tribunal de Contas da União. Seu quinto mandato encerrou-se em 4 de novembro. A entidade sustenta que tão longa permanência num cargo de natureza transitória "viola o princípio republicano". Furtado tem bom relacionamento com Dilma Rousseff.

O ofício não revela, mas a associação apoia o nome do subprocurador-geral Paulo Soares Bugarin, há mais de 15 anos na carreira e filho do ex-ministro do TCU Bento José Bugarin, aposentado em 2001.

Autoral
Candidato do PT à presidência da Câmara, o gaúcho Marco Maia toca a música que seu eleitorado quer ouvir. Ele promete dar prioridade à votação de projetos de iniciativa dos deputados. Hoje, projetos do Executivo e do Judiciário dominam a pauta do Congresso.


É comigoJoão Almeida (BA) diz que é ele, e não Duarte Nogueira (SP), próximo líder da bancada do PSDB, quem negocia com Marco Maia uma vaga na Mesa Diretora e o controle de duas comissões. O tucano foi procurado por Aldo Rebelo (PC do B-SP), mas, por ora, rejeita candidaturas avulsas à presidência da Câmara.

Então táA corrente Democracia Socialista, do PT, pode ter dado um tiro no pé ao bombardear a candidatura do petista Cândido Vaccarezza (SP) na Câmara para expressar insatisfação com a perspectiva de perder o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A equipe de transição agora se diz "descompromissada" com a corrente.

Lição de casaEmbora tenha defendido tese de doutorado sexta-feira, não há registro da produção acadêmica de Aloizio Mercadante na Plataforma Lattes, referência no meio universitário. O futuro ministro da Ciência e Tecnologia prometeu providenciar um currículo hoje.

Desceu...Geraldo Alckmin (PSDB) não digeriu bem a reação de Paulo Renato Souza, que, ao perceber que seria substituído, deixou a Secretaria da Educação com um discurso na linha "depois de mim, o dilúvio". O governador eleito de São Paulo considera a troca perfeitamente natural.

...quadradoAos mais próximos Alckmin demonstrou irritação com o episódio. Sustenta que tem procurado ditar o ritmo da transição de modo a evitar atritos entre seus aliados históricos e o grupo mais próximo de José Serra. É nesse capítulo que se inscreve a possível indicação do governador Alberto Goldman para uma secretaria.

BancadaA fatia dos deputados federais no primeiro escalão do governo paulista será fechada nesta semana. Três deputados estão na expectativa da definição: Édson Aparecido, Júlio Semeghini e José Aníbal. A tendência é que apenas um seja chamado. Há duas pastas na roda: Gestão Pública e Gestão Metropolitana.

CofreO teto estabelecido para emendas parlamentares é um dos obstáculos para a votação do Orçamento paulista de 2011. Os deputados querem R$ 3 milhões para as emendas individuais, contra os R$ 2 milhões atuais.

Como assim?Inconformados com o limite de R$ 2 milhões, deputados lembram que os vereadores da capital paulista conseguiram do prefeito Gilberto Kassab (DEM) um teto de R$ 3 milhões neste ano. O Orçamento do Estado é cerca de cinco vezes maior que o da Prefeitura de São Paulo.

Tiroteio
"Dilma que se cuide. Ela ainda nem assumiu o cargo e o Gilberto Carvalho já discute abertamente o governo que vai sucedê-la."

Contraponto

Soletrando 
Na sexta-feira passada, quando anunciava em entrevista coletiva três integrantes de seu futuro secretariado, Geraldo Alckmin se atrapalhou com o nome, de origem holandesa, do escolhido para a Educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald. O governador eleito foi socorrido pelo próprio reitor da Unesp.

Um tucano que assistia ao evento comentou:

-O Geraldo teve uma ótima ideia! Imagine só como vai ser difícil para o pessoal do sindicato dos professores gritar um nome como esse num protesto!

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Lula é o nosso Mao; FHC, o nosso Deng

Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S. Paulo - 20/12/2010
 
 Quando um governante tem ampla aprovação popular, decorre daí que está fazendo a coisa certa? Depende do que se entende pela coisa certa, é claro, mas a relação não é direta. É possível que um líder tenha prestígio enquanto faz uma administração absolutamente desastrosa, e isso vale tanto para os eleitos quanto para os ditadores.
O exemplo mais evidente é o de Mao. Até hoje a China reverencia o "grande líder", que, entretanto, conduziu o País a grandes desastres: fome matando milhões, economia arrasada, assassinatos em massa, torturas. Já a potência econômica de hoje foi fundada por Deng Xiao Ping, aliás, ele próprio prisioneiro durante a revolução cultural maoista. Mas é a imagem de Mao que se vê por toda parte.
Agitação e propaganda são boa parte da explicação. Governantes bem-sucedidos na admiração popular têm isso em comum, a capacidade de falar diretamente às pessoas e vender gato por lebre. Criam slogans simples e de imediata compreensão, lançam um plano atrás do outro, não importa se o primeiro foi simplesmente abandonado. Tudo apoiado pelos instrumentos da propaganda.
Nas ditaduras é mais fácil. Como disse Lula no lançamento de seu balanço, no mundo todo os jornais não falam bem do governo, exceto na China e em Cuba. Verdade. O problema é que Lula fez esse comentário em tom de reclamação, como se, na democracia, com imprensa livre, tivesse que gastar muita energia e dinheiro (pagando publicidade na mídia) para passar a sua verdade.
Mas o fato é que Lula foi muito bem nesse quesito. Passou seu governo inteiro no palanque, anunciando planos e mais planos, metas e mais metas, inaugurando várias vezes a mesma obra. Uma parte da imprensa simplesmente aderiu ou foi obrigada a isso pelo volume das verbas oficiais de publicidade. A imprensa livre e independente, apesar das reclamações do presidente, sempre cobriu essas atividades, o que ampliou os palanques.
A Ferrovia Transnordestina é um caso exemplar: foi lançada e "inaugurada" cinco vezes, sempre apresentada pelo presidente como sua obra especial. Prometida para este final de ano, tem menos de 100 km prontos, para um projeto de quase 3 mil. Nada disso impediu que a obra aparecesse como resultado de sucesso na prestação de contas de Lula, aquela registrada em cartório. Claro que o texto não diz que a obra está pronta, mas, sim, em execução, que foi viabilizada "pela primeira vez", sem nenhuma referência aos atrasos e problemas que ainda enfrenta.
Ou seja, não é prestação de contas, mas pura propaganda. Lula não perde a oportunidade de alardear sua elevada popularidade, suas virtudes de operário-presidente. Sua turma também. É o maior presidente de todos os tempos, disse uma vez Dilma Rousseff. E, quando criticado por esses excessos, Lula joga na cara dos críticos: o País nunca cresceu tanto, a renda aumentou, a pobreza diminuiu e o mundo respeita o Brasil. Por que ele não pode se vangloriar desses feitos?
Eis a quase-verdade (ou, claro, quase-mentira). É verdade que o País está de novo num bom momento. Mas não é verdadeira a conclusão que Lula tira disso: que isso tudo só está acontecendo porque ele é o presidente.
Basta olhar em volta. Os países emergentes em geral descreveram trajetória igual à brasileira: estabilidade macroeconômica construída nos anos 90 e, especialmente no período 2003/08, os benefícios de uma onda de prosperidade mundial que elevou espetacularmente os preços de nossos produtos de exportação, trazendo abundância de dólares. Na crise do final de 2008/09, o mesmo desempenho: dois ou três meses de recessão, seguidos de forte recuperação, situação atual.
No conjunto, todos os emergentes cresceram forte, acumularam reservas internacionais e têm hoje o mesmo problema da moeda local valorizada (exceto a China, que mantém sua moeda desvalorizada, um caso à parte). Mas reparem: nos anos dourados, 2003/08, o País cresceu menos que os emergentes em geral e menos que a média latino-americana.
Todos reduziram a pobreza e em todos se formaram novas classes médias. E grande parte dos países tem programas sociais tipo Bolsa-Família. O Chile Solidário, por exemplo, para ficar na América Latina.
Mas por que o Brasil se tornou tão festejado no mundo? Ora, porque o Brasil, estável, é um enorme país, de amplas oportunidades econômicas. Isso já aconteceu antes na história deste país.
Isso é o lulismo: estabilidade macroeconômica ortodoxa, uma onda mundial favorável, um setor privado (agronegócio e mineração) capaz de atender à demanda global e dinheiro público para gastar com as diversas clientelas, dos mais pobres até as grandes empreiteiras. Um bom momento inflado pelo presidente no palanque.
O problema é que esse tipo de propaganda esconde os problemas. No que o Brasil é diferente dos demais emergentes importantes? É pelo pior: o País continua consumindo mais do que produz, investe menos que a média emergente (sim, com PAC e tudo, continua investindo menos de 20% do PIB), cobra impostos demais de suas empresas e pessoas, tem ainda a taxa de juros mais alta do mundo, um gasto público exagerado e ineficiente, uma bomba-relógio na Previdência.
O governo Lula simplesmente empurrou esses problemas para a frente. Vão cobrar um preço quando o mundo parar de ajudar. Aí surgirá uma nova interpretação da era Lula, assim como da era FHC, um período de reformas que se mostram duradouras.
Lula, claro, não é igual a Mao. Longe, muito longe disso. Há um oceano entre um ditador e um presidente eleito e reeleito. Mas o que têm em comum é a enorme capacidade de formar a opinião pública. Mao, transformando desastre em avanço heroico. Lula, herdando um bom momento, para multiplicá-lo e assumir pessoalmente todos os méritos.
E o presidente Fernando Henrique Cardoso certamente é o nosso Deng.
JORNALISTA

RICARDO NOBLAT

Fortes emoções
RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 20/12/10

Na escalação do Ministério da presidente Dilma Rousseff, somente dois atores têm razões de fato para comemorar até agora: Lula, como seria previsível, e a direção do Partido Popular (PP). Lula segue emplacando ministros nas posições-chave do futuro governo. O PP conseguiu o ministério que queria e para alojar nele quem Dilma não queria.

Ministros nomeados por Lula: Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria da Presidência), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Comunicação), Míriam Belchior (Planejamento), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Haddad (Educação), Carlos Lupi (Trabalho) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Lula verá com alegria a transferência de Alexandre Padilha do Ministério de Relações Institucionais para o Ministério da Saúde. Como viu a manutenção no Ministério do Meio Ambiente de Izabella Teixeira e a volta ao Ministério dos Transportes do Senador Alfredo Nascimento.
O suplente de Alfredo no Senado é companheiro de farras de Lula.

O PP não apoiou formalmente Dilma para presidente da República. Sua direção alegou que uma fatia do partido preferia a eleição de José Serra (PSDB). Mas o PP arrancou de Dilma o Ministério das Cidades. E mais: impôs a Dilma para o ministério um nome que ela deplora.

Dilma quis manter em Cidades o advogado Márcio Fortes, indicado para o cargo em 2005 pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PE) " sim, aquele forçado a renunciar ao mandato por ter recebido um mensalinho de R$ 10 mil de um concessionário de restaurantes.

O Senador Francisco Dornelles, presidente do PP, foi a Dilma e disse: sinto muito, presidente, mas a senhora será obrigada a trocar Fortes por Mário Negromonte, deputado pelo PP da Bahia. Dilma sempre falou muito mal de Negromonte entre seus colegas de governo. A dama de ferro foi obrigada a engoli- lo por exigência do PP.

No seu primeiro mandato, Lula resistiu a lotear o governo. Achou que dava para governar negociando aqui e ali a aprovação de projetos no Congresso. No que deu? Deu no mensalão " o pagamento de propinas para aprovação de projetos remetidos ao Congresso pelo governo.

No segundo mandato, Lula seguiu o conselho do seu ex-ministro José Dirceu, que caíra em desgraça por conta do mensalão. Chamou o PMDB e perguntou: O que você quer? Chamou nove outros partidos e perguntou a mesma coisa. Ora, eles queriam cargos para financiar futuras campanhas e forrar o bolso de alguns.
Receberam.

Lula não inventou o fisiologismo.
Tampouco o combateu " antes pelo contrário.
Dilma se elegeu apoiada pela mais formidável coligação de partidos que o país jamais vira. Agora está sendo obrigada a retribuir o apoio. Diga-se a favor dela que tem tentado contrariar alguns dos seus aliados.

Tome-se o caso do poderoso PMDB. Perdeu o comando sobre os ambicionados ministérios das Comunicações e da Integração Nacional. Ganhará o do Turismo e o da Previdência Social. Pediu o Ministério da Saúde " ou uma parte dele, a mais endinheirada. Ganhou a Secretaria Especial de Ações Estratégicas.

A desforra do PMDB virá na hora certa. Como poderá vir também a do PSB, que elegeu mais governadores do que o PT. A direção do PSB sugeriu dois nomes para o Ministério da Integração Nacional e o de Portos e Aeroportos, a ser criado.
Dilma adiantou-se e convidou Ciro Gomes para o da Integração Nacional.

Ciro é do PSB. Mas não é.
Ele é ele mesmo. O PSB considera que perdeu uma vaga no Ministério. O PCdoB é dono do Ministério do Esporte.
Quer manter ali o atual ministro, Orlando Silva.
Dilma quer substituir Orlando pela deputada Luciana Santos, também do PCdoB. Talvez crie um novo ministério só para Orlando.

Você deve pensar que o PT está satisfeito com o número de ministérios reservados para ele. Longe disso. O PT são muitos e não há lugar para todos. Daí o barulho silencioso que faz. Fortes emoções nos aguardam.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

ContourGlobal vai investir R$ 900 mi em parques eólicos no Brasil em 2011 
Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 20/12/2010


A ContourGlobal, multinacional do setor de energia, já liberou R$ 900 milhões para investimentos em projetos de parques eólicos no Brasil para o ano que vem.

A empresa planeja adquirir de 200 MW a 300 MW no próximo leilão do governo, esperado para o segundo semestre de 2011.

"O Brasil é um dos mercados mais importantes para a empresa. É o que receberá o maior aporte de recurso da companhia em todo o mundo nos próximos três anos", diz Juan Pablo Gomez, presidente da empresa para a América Latina.

A companhia já havia anunciado neste ano investimentos de R$ 1 bilhão para os projetos em execução no país, como as PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) de Goiás e o parque eólico do Rio Grande do Norte.

Está nos planos da companhia destinar de 30% a 40% de todo o seu investimento dos próximos três anos para o mercado brasileiro.

Hoje, a ContourGlobal atua em 15 países, da África, da Europa, da América Latina e nos EUA.

"De total de megawatts gerados pela companhia no mundo nesse período, 40% serão no Brasil", diz Gomez.

A empresa também tem planos de crescer no país por meio de aquisições.

"Estamos de olho em companhias de pequeno e médio portes do setor de energia renovável", afirma Gomez.

Os primeiros negócios devem ser anunciados ainda no primeiro semestre de 2011.

Marcas menores ganham espaço de líderes, diz estudo
As empresas regionais ganharam espaço no mercado que era ocupado pelas nacionais. A informação é de pesquisa da consultoria Nielsen.

De acordo com o estudo, o produto das companhias menores é, em média, 30% mais barato, e as embalagens apresentam melhor custo benefício ao consumidor.

Segundo a Nielsen, o volume de vendas dos hipermercados registrou queda pelo segundo ano consecutivo. Em 2010, os supermercados que mais cresceram foram os pequenos e médios, 10,5% e 9,0%, respectivamente.

A consultoria ainda analisou 12 categorias de produtos na região Nordeste, que só perde em crescimento no país para a Sudeste.

No Nordeste, as marcas regionais de água mineral aumentaram presença no mercado para 39,2%. Já no setor de salgados, as empresas da região cresceram 24,7%.

Estética Espanhola
Com a expansão do mercado de luxo no país, o laboratório espanhol Germaine de Capuccini resolveu trazer para o Brasil a sua linha Premier The Cream.

"É para um público seleto. Apenas 300 unidades foram destinadas para o mercado brasileiro, que serão vendidas em seis pontos de venda", diz Fernando Emiliozzi, proprietário da distribuidora Skintec, especializada em estética.

O frasco de 50 ml do produto, um anti-idade para o rosto, vai custar R$ 865.

O câmbio, as linhas de crédito especiais de bancos e o aumento do poder de compra impulsionaram o mercado de estética neste ano, segundo Emiliozzi.

"Os equipamentos de alta tecnologia ficaram mais acessíveis com a queda do dólar e com os financiamentos mais baratos."
Criatividade...A agência Digitas, que foca na área digital e pertence ao Grupo Publicis, expande sua operação na América Latina. No Brasil desde 2008, a empresa prepara-se para ter presença na Argentina e no México.
...latinaO escritório de São Paulo coordenará as contas regionais. "Estamos estruturando recursos na região para atender ao crescimento orgânico dos clientes globais", diz Brian Crotty, que comanda a empresa no Brasil.
TI em BrasíliaA Microcity inaugurou uma filial em Brasília. A intenção da empresa é aumentar o número de clientes provenientes do setor privado nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, além de registrar faturamento de R$ 500 milhões até o ano de 2015.
SuperbactériaA bioMérieux lançou no Brasil um sistema que, segundo a empresa, confirma em duas horas e meia a KPC (Klebsiella pneumoniae Carbapenemase), super-resistente a antibióticos. A KPC causou mortes no Brasil nos últimos meses.

GABRIEL KUZNIETZ E FERNANDO BENJAMIN BUENO

Negócios por quem faz negócios

Gabriel Kuznietz e Fernando Benjamin Bueno
O Estado de S. Paulo - 20/12/2010
 
Caipirinha com tequila

Enquanto a Rodada Doha, que corre no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), não chega ao seu final, os acordos regionais de comércio despontam, cada vez mais, como importantes instrumentos para aumentar o sistema multilateral de comércio. De acordo com a OMC, 474 acordos regionais foram notificados à organização, sendo que 193 estão em vigor. A OMC estima, ainda, que outros 100 acordos estão em processo de negociação, apesar de ainda não terem sido notificados à organização.
A modalidade de acordo que mais se destaca é o Acordo de Livre Comércio (ALC), em que as partes concordam em eliminar as tarifas, quotas e preferências sobre a maior parte, ou mesmo todos, os bens importados e exportados entre aqueles países subscritores do acordo. Os Estados Unidos, com acordos de livre comércio firmados com 20 países, três deles ainda não em vigor, e a União Europeia, com acordos com mais de 20 países, foram os precursores dessa modalidade, que tem crescido desde a última década.
Os países emergentes, entretanto, também ganham destaque nesse cenário. A China já notificou à OMC sete ALCs, dois deles firmados com países da América do Sul (Peru e Chile). A Índia também já notificou seis acordos perante a organização. Na América do Sul, o Chile é o líder absoluto, com 14 ALCs e parceiros como EUA, China, Japão, Canadá e Austrália.
Esses números certamente impressionam, mas onde está o Brasil nesse cenário? Neste ano, entrou em vigor o acordo de livre comércio Mercosul-Israel, o primeiro firmado pelo Brasil, como membro do Mercosul, com um país não membro do bloco. Também foi assinado neste ano um ALC com o Egito e outros com Turquia e Jordânia estão sendo negociados. Recentemente foi anunciada a volta das negociações com a UE, o que pode dar origem a um dos maiores blocos comerciais mundiais.
Apesar de acordos com países com economias de menor expressão no comércio mundial serem importantes para o Brasil, negociações com a UE e com outros mercados emergentes, como o México, são fundamentais para o País enfrentar os desafios pós-crise e ganhar mais destaque entre as potências mundiais nos próximos anos.
No último dia 8 de novembro, Brasil e México anunciaram a decisão firme de iniciar as negociações para um Acordo Estratégico de Integração Econômica. Segundo a Confederação da Indústria Nacional, o acordo será amplo, pois tratará do acesso a mercados de bens e também incluirá disciplinas sobre serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, entre outros temas. Um possível acordo irá fortalecer as relações entre os dois países, que contam atualmente com dois acordos comerciais: o ACE (Acordo de Complementação Econômica) 53, que abrange cerca de 800 produtos, e o ACE 55, que disciplina o comércio do setor automotivo e pode se tornar um caminho para a assinatura de um ALC.
Para o Brasil, o acordo seria de extrema importância tendo em vista a relevância da economia mexicana e sua proximidade dos EUA. Para o México, o ponto principal se traduz no acesso ao enorme mercado consumidor brasileiro, que nos últimos anos vem se multiplicando a taxas acima da média.
Este tipo de acordo pode aumentar significativamente as trocas comerciais entre os países. No âmbito do Mercosul, em 2002, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a corrente de comércio (importações mais exportações) entre Brasil e Argentina foi de aproximadamente US$ 7 bilhões, enquanto que em 2008 foi de aproximadamente US$ 30 bilhões. Apesar de apresentarem dois terços do PIB da América Latina, a corrente de comércio entre Brasil e México foi de aproximadamente US$ 7 bilhões, ou seja, a mesma apresentada entre Brasil e Argentina em 2002. Os bens manufaturados representaram 95% das exportações brasileiras à Argentina e 85% das exportações argentinas ao Brasil.
O setor privado deve ter participação ativa nesse acordo, interagindo com o governo e suas autoridades e mostrando os setores da economia mexicana que interessam, bem como os setores sensíveis do mercado brasileiro que podem ser afetados negativamente com uma eventual abertura. Vale lembrar também que eventuais abusos, como a prática de comércio desleal, são contrários às normas da OMC e, portanto, passíveis de contestação. Nesse ponto, destacam-se as medidas de defesa comercial, em especial as medidas antidumping, salvaguardas e medidas compensatórias, instrumentos amplamente usados pelos dois países para neutralizar os efeitos do comércio desleal e garantir a competitividade de suas indústrias domésticas.
Assim, a boa experiência do Mercosul e o recente anúncio das negociações para um Acordo Estratégico de Integração Econômica podem trazer bons fluidos para a negociação de um ALC entre Brasil e México, que pode acelerar o nosso processo de desenvolvimento sustentável. Os setores de infraestrutura, energético, de tecnologia e de bens industriais e agrícolas teriam papel fundamental no aumento do comércio e no fluxo de investimentos entre os dois países.

ANCELMO GÓIS


Acabou em pizza 
Ancelmo Góis 
O Globo - 20/12/2010
Veja como é a era do marketing. A rede de pizzarias Domino’s montou na Cruzada São Sebastião, o conjuntão habitacional de classes C e D no Leblon, no Rio, uma... “UPP”, sigla que criou para “Unidade de Pizza Perfeita”. É carona assumida na pacificação de favelas do Rio. O lançamento foi com degustação de pizzas para o povão local. A rede, até então, sequer aceitava fazer entregas na Cruzada, onde vivem quatro mil pessoas.

Ói nóis lá I 
Casas de câmbio de Nova York exibem letreiros com a cotação do real. No First National Republic Bank, a moeda brasileira já é a mais trocada neste Natal.

Ói nóis lá II 
Diálogo na loja da Apple, também em NY, lotada: — Está cheio assim pelo Natal? — pergunta o cliente. E o vendedor: — Não, é tudo brasileiro.

Maluf chorou 
Maluf, como se sabe, recebeu vaias no dia da diplomação. Mas logo em seguida, ao abraçar um velho amigo, não segurou as lágrimas.

Contagem regressiva 
Faltam 11 dias para mais um nordestino deixar o governo. Antes, houve outros, como Deodoro, Floriano Peixoto, José Linhares, Castelo Branco, Collor (nascido no Rio, mas com a vida política toda em Alagoas) e Sarney. Mas nenhum foi tão generoso com os seus conterrâneos como Lula.

O silêncio do Rei 
Um observador atento do mercado fonográfico notou um dado eloquente da decadência do setor. É o primeiro Natal, em décadas, em que Roberto Carlos não lança um CD, mesmo de regravações.

João do esporte 
Em janeiro, chega às livrarias uma fotobiografia de João Havelange, editada pela Topbooks a pedido do Comitê Olímpico Brasileiro.

Negócios da moda 
O grupo InBrands (Ellus, Alexandre Herchcovitch, Isabela Capeto e 2nd Floor) vai investir R$ 40 milhões ano que vem em Richards, Salinas e Bintang, grifes cariocas que comprou em 2010. A previsão da holding é que, nos próximos cinco anos, as três marcas juntas atinjam faturamento de R$ 1 bi.

Tela quente 
C a u ã R a y m o n d , q u e j á atuou em nove longas, vai produzir seu primeiro filme. Acaba de comprar os direitos para o cinema dos livros “Todos os cachorros são azuis” e “Me roubaram uns dias contados”, do poeta Rodrigo de Souza Leão, falecido em 2009.

Partido da Boquinha 
O economista Ricardo Henriques, que substituiu Benedita da Silva na Secretaria de Assistência Social do Rio, tem tido sua atuação elogiada. Mas pode perder o cargo. É que a ala peemedebista do PT quer o lugar para um político.

A voz do tropa 
Wagner Moura, o Capitão Nascimento, narrará a 12a- edição do Prêmio Orilaxé. A voz do ator de “Tropa de elite” vai ecoar no Teatro Carlos Gomes, onde o AfroReggae entrega a honraria, amanhã.

Como cães e gatos 
A chapa está quente no Museu Nacional, na Quinta, no Rio, muito além do calorão desses dias. Por causa de um cachorro machucado, um funcionário convenceu a direção do Horto Botânico (onde ficam os laboratórios) a proibir a alimentação de cães e gatos que vivem lá. Muitos humanos de alma boa, que dão de comer aos bichos, estão furiosos.

Via Dutra 
A Prima Bruschetteria, botequim vip de vinhos no Leblon, abre filial em São Paulo, na Vila Madalena, em março.

No mais 
Fala sério. Lula deveria instituir o 19 de dezembro como o Dia Nacional do Desperdício, sugestão do leitor Luiz Fernando Azevedo. É que ontem foi implodido o esqueleto do Hospital do Fundão. O prédio começou a ser construído na década de 1950 e nunca foi ocupado, nem teve manutenção. Uns R$ 300 milhões, dinheiro meu, seu, nosso, jogados fora.