segunda-feira, dezembro 20, 2010

RICARDO NOBLAT

Fortes emoções
RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 20/12/10

Na escalação do Ministério da presidente Dilma Rousseff, somente dois atores têm razões de fato para comemorar até agora: Lula, como seria previsível, e a direção do Partido Popular (PP). Lula segue emplacando ministros nas posições-chave do futuro governo. O PP conseguiu o ministério que queria e para alojar nele quem Dilma não queria.

Ministros nomeados por Lula: Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria da Presidência), Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Comunicação), Míriam Belchior (Planejamento), Nelson Jobim (Defesa), Fernando Haddad (Educação), Carlos Lupi (Trabalho) e Edison Lobão (Minas e Energia).

Lula verá com alegria a transferência de Alexandre Padilha do Ministério de Relações Institucionais para o Ministério da Saúde. Como viu a manutenção no Ministério do Meio Ambiente de Izabella Teixeira e a volta ao Ministério dos Transportes do Senador Alfredo Nascimento.
O suplente de Alfredo no Senado é companheiro de farras de Lula.

O PP não apoiou formalmente Dilma para presidente da República. Sua direção alegou que uma fatia do partido preferia a eleição de José Serra (PSDB). Mas o PP arrancou de Dilma o Ministério das Cidades. E mais: impôs a Dilma para o ministério um nome que ela deplora.

Dilma quis manter em Cidades o advogado Márcio Fortes, indicado para o cargo em 2005 pelo então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PE) " sim, aquele forçado a renunciar ao mandato por ter recebido um mensalinho de R$ 10 mil de um concessionário de restaurantes.

O Senador Francisco Dornelles, presidente do PP, foi a Dilma e disse: sinto muito, presidente, mas a senhora será obrigada a trocar Fortes por Mário Negromonte, deputado pelo PP da Bahia. Dilma sempre falou muito mal de Negromonte entre seus colegas de governo. A dama de ferro foi obrigada a engoli- lo por exigência do PP.

No seu primeiro mandato, Lula resistiu a lotear o governo. Achou que dava para governar negociando aqui e ali a aprovação de projetos no Congresso. No que deu? Deu no mensalão " o pagamento de propinas para aprovação de projetos remetidos ao Congresso pelo governo.

No segundo mandato, Lula seguiu o conselho do seu ex-ministro José Dirceu, que caíra em desgraça por conta do mensalão. Chamou o PMDB e perguntou: O que você quer? Chamou nove outros partidos e perguntou a mesma coisa. Ora, eles queriam cargos para financiar futuras campanhas e forrar o bolso de alguns.
Receberam.

Lula não inventou o fisiologismo.
Tampouco o combateu " antes pelo contrário.
Dilma se elegeu apoiada pela mais formidável coligação de partidos que o país jamais vira. Agora está sendo obrigada a retribuir o apoio. Diga-se a favor dela que tem tentado contrariar alguns dos seus aliados.

Tome-se o caso do poderoso PMDB. Perdeu o comando sobre os ambicionados ministérios das Comunicações e da Integração Nacional. Ganhará o do Turismo e o da Previdência Social. Pediu o Ministério da Saúde " ou uma parte dele, a mais endinheirada. Ganhou a Secretaria Especial de Ações Estratégicas.

A desforra do PMDB virá na hora certa. Como poderá vir também a do PSB, que elegeu mais governadores do que o PT. A direção do PSB sugeriu dois nomes para o Ministério da Integração Nacional e o de Portos e Aeroportos, a ser criado.
Dilma adiantou-se e convidou Ciro Gomes para o da Integração Nacional.

Ciro é do PSB. Mas não é.
Ele é ele mesmo. O PSB considera que perdeu uma vaga no Ministério. O PCdoB é dono do Ministério do Esporte.
Quer manter ali o atual ministro, Orlando Silva.
Dilma quer substituir Orlando pela deputada Luciana Santos, também do PCdoB. Talvez crie um novo ministério só para Orlando.

Você deve pensar que o PT está satisfeito com o número de ministérios reservados para ele. Longe disso. O PT são muitos e não há lugar para todos. Daí o barulho silencioso que faz. Fortes emoções nos aguardam.

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