terça-feira, outubro 26, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O homem do carro preto
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 26/10/2010


Em janeiro de 2002, o prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, foi sequestrado, torturado e morto a tiros. Desde a primeira hora, o seu partido fez o que podia para que a polícia considerasse o assassínio do companheiro crime comum. Mas não conseguiu evitar que, ao cabo de 5 anos de investigações, o Ministério Público paulista concluísse que Daniel foi eliminado por uma razão incomum. Ele queria acabar com a "privatização" das propinas arrecadadas de empresas de transporte da cidade. O esquema era operado pelo segurança do prefeito, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra - preso e prestes a ser julgado como mandante do assassínio do chefe.

Daniel não se opunha à extorsão. Ele se insurgiu apenas contra a apropriação pessoal de parte da bolada que devia ser toda ela entregue ao PT para reforçar o caixa 2 da agremiação. Graças ao testemunho de João Francisco Daniel, irmão do prefeito, soube-se também que o então secretário de governo do município, Gilberto Carvalho, era o incumbido de repassar o dinheiro ao partido. Ele próprio contou isso a João Francisco, acrescentando que entregava as somas ao presidente da legenda à época, José Dirceu. As acusações não tolheram a carreira de Carvalho. Desde 2003, ele chefia o gabinete do presidente da República.

O futuro do mais próximo colaborador de Lula poderá já não ser tão auspicioso. Ele corre o risco de ter os seus direitos políticos suspensos durante até 10 anos e de ter de devolver uma parcela dos milhões desviados da prefeitura de Santo André. É a pena que o Ministério Público pede para Carvalho e outras cinco pessoas, além de uma empresa e do próprio PT, numa ação apresentada em 2007 - e que, enfim, foi plenamente acolhida. Na semana passada, negados os últimos recursos dos acusados, a juíza Ana Lúcia Xavier Goldman confirmou a pronúncia de Carvalho e demais envolvidos como réus de uma processo por improbidade administrativa.

Em casos do gênero, os acusados têm direito à defesa prévia - o que, em boa parte, explica os 3 anos transcorridos entre a iniciativa dos promotores e o início efetivo da ação judicial. Carvalho, que já foi ouvido sobre o esquema de corrupção pelo Ministério Público e pela CPI dos Bingos do Senado em 2005, diz estar com a consciência "absolutamente tranquila". Por que não? O prefeito com quem trabalhou decerto também tinha a consciência em paz enquanto imaginava que todo o produto da chantagem a que a sua gente submetia os prestadores de serviços ao município estava em boas mãos - nos cofres clandestinos do PT.

Carvalho se permitia até debochar de quem o procurava para denunciar "que havia coisas erradas na administração Celso Daniel", lembra a psicóloga Mara Gabrilli, cujo pai era dono de uma empresa de ônibus, a Viação Expresso Guarará, submetida à extorsão pela prefeitura. Inicialmente tentou reagir à chantagem. Mas acabou submetendo-se a ela diante do truculento "cobrador", o Sombra, que fazia a cobrança empunhando um revólver. Mara, que entraria para a política, se elegeria vereadora e, agora, deputada federal pelo PSDB, chegou a procurar o presidente Lula no seu apartamento em São Bernardo para denunciar o que estava ocorrendo. "Ele me recebeu por 40 minutos, eu contei tudo. Mas nenhuma medida foi tomada", relata. Diante disso, ela resolveu procurar o Ministério Público.

No banco dos réus, fazem companhia ao primeiro interlocutor de Lula o Sombra, o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-secretário de Transportes de Santo André Klinger Luiz de Oliveira Souza, entre outros, mais o PT. Segundo a denúncia, o segurança do prefeito entregava o dinheiro extorquido ao empresário, que o repassava a Carvalho. Ele, por sua vez, se incumbia de levá-lo ao PT. "A responsabilidade de Klinger e Gilberto Carvalho decorre de sua participação efetiva na quadrilha e na destinação final dos recursos", especificaram os promotores. "Era voz corrente na cidade", recorda Mara, "que Gilberto Carvalho era o homem do carro preto, o cara da mala, que levava dinheiro da corrupção para José Dirceu."

MERVAL PEREIRA

Oposição unida 
Merval Pereira 

O Globo - 26/10/2010

A radicalização promovida pelo próprio presidente Lula no embate eleitoral, com o objetivo de eleger sua candidata a qualquer custo, gerou uma inesperada unidade de ação na oposição no segundo turno. Além de ter dado novo ânimo à oposição, essa tentativa de Lula de atropelar os adversários fez com que os líderes oposicionistas usassem o segundo turno para ensaiar os primeiros movimentos do que será a atuação de um futuro bloco oposicionista, se for confirmada a eleição de Dilma Rousseff neste segundo turno

O melhor exemplo está na manifestação do fim de semana no Rio, que reuniu as principais lideranças do PSDB, do PP e do DEM em apoio ao candidato tucano, José Serra, no que foi a maior passeata da campanha até o momento.

O fato é que a tentativa de dizimar a oposição acendeu um sinal amarelo nas lideranças que ainda alimentavam a utopia de um relacionamento amistoso com o presidente Lula, e tornou muito mais acirrada a disputa presidencial, quase que obrigando a essa união das forças oposicionistas que sobreviveram ao ataque de Lula.

“O presidente sai desta eleição menor do que entrou”.

A frase do ex-governador e senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves é emblemática.

Elegendo sua candidata usando os meios que vem usando, o presidente Lula, como diz a candidata verde Marina Silva, “ganhará perdendo”.

E se, como tudo indica, isso não tiver a menor importância para ele, desde que vença a eleição, estará ratificando a sua opção pela baixa política, o que quase metade do eleitorado brasileiro repudia ao votar na oposição sistematicamente desde que ele se elegeu pela primeira vez em 2002.

Há um mínimo de 40% de eleitores que votam na oposição desde aquela época no segundo turno, e tudo indica que este ano o número será maior ainda, mesmo que os votos válidos oposicionistas não sejam suficientes para vencer a eleição, o que ainda é uma hipótese rejeitada pela oposição.

No meu livro “O lulismo no poder”, da Editora Record — que, aliás, já está na segunda edição —, escrevi na introdução, utilizando uma definição bastante conhecida, que o presidente Lula tem demonstrado que é um político populista, que pensa na próxima eleição, enquanto o estadista pensa nas próximas gerações.

O próprio Lula, na primeira declaração ao ser eleito em 2002, reconheceu em público a atitude “republicana” do então presidente Fernando Henrique Cardoso durante a campanha presidencial, sem a qual ele poderia não ter sido eleito.

Ao contrário do seu antecessor, que promoveu um processo de transição presidencial exemplar, o presidente Lula deixou claro desde muito antes do início oficial da campanha presidencial que o único resultado que lhe interessava era a eleição de sua sucessora.

Chegou ao exagero de dizer que, sem a eleição de Dilma Rousseff, consideraria que seu governo tivesse fracassado.

O ex-operário que chegou ao poder prometendo uma nova maneira de fazer política, e alegando que a corrupção seria reduzida pela simples chegada do PT à Presidência da República, transformouse no mais pragmático dos políticos, no pior sentido do termo, que é o de conviver com o fisiologismo e a corrupção no pressuposto de que são inevitáveis na nossa democracia de massas.

O deputado constituinte que se recusou a se candidatar novamente porque identificou na Câmara pelo menos “300 picaretas” num total de 531 deputados, hoje tem uma maioria parlamentar ampla e heterogênea que abriga grande parte desses picaretas, espalhados por diversas legendas que compõem uma base parlamentar tão grande quanto anódina.

Essa base foi ampliada ainda mais na eleição parlamentar de 3 de outubro, o que dará a Dilma Rousseff, caso se eleja, um apoio político maior do que Lula jamais teve, especialmente no Senado.

Mas para se ter uma ideia de para que ser ve uma base parlamentar tão grande, que chega a 70% das duas Casas do Congresso, basta que se raciocine ao contrário.

Se o candidato da oposição, José Serra, vencer a eleição, terá dificuldades para governar com uma oposição tão forte no Congresso? A resposta é não, não terá nenhuma dificuldade de montar uma base parlamentar que o ajude a governar.

Na verdade, os partidos de esquerda que formavam a base política de Lula nas três eleições presidenciais que perdeu são PT (88), PCdoB (15), PDT (28) e mais recentemente o PSB (34), o chamado “bloquinho”.

Com 165 deputados eleitos para a próxima legislatura, esse a grupamento de esquerda não terá atuação compacta e, além disso, terá que negociar com a segunda bancada da Câmara, a do PMDB, que elegeu 79 deputados.

Os de mais partidos, que formam com o PMDB a maioria da base parlamentar do governo, são de tendência política conservadora, e é previsível que haja muitos conflitos internos, tanto na divisão de cargos e verbas quanto na própria discussão dos rumos do governo.

Uma possibilidade é que a ala mais radical desse grupo de esquerda encontre resistência até mesmo dentro do “bloquinho”, mas principalmente entre os partidos conservadores da base governamental, que terão força política, liderados pelo PMDB, para bloquear movimentos mais radicais.

JOSÉ SIMÃO


Ueba! Odete Roitman me odeia!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/10/10

E as carreatas? Político não precisa de carreata, precisa é de de psiquiatra. Serra e Dilma estão loucos. Rarará!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Exclusivo! Eu encontrei a Odete Roitman no supermercado! Sim, a própria! Ela chegou perto de mim e disse: "Você continua mauzinho, eu te odeio!". Agora vai! A Odete Roitman me odeia. Que decepção! Eu pensava que a Odete Roitman me amasse. Rarará!
E a faixa de protesto dos corinthianos: ACABOU A PASIÊNCIA! Rarará! E a bombástica manchete do Sensacionalista: "PT contratou sósia do Chico Buarque para apoiar Dilma. Ninguém nunca o viu abraçando mulher feia". Só pode ser sósia, ninguém nunca viu o Chico abraçando mulher feia. Rarará!
E o novo slogan do Serra: "Votem em mim e ganhe uma tomografia". E mais uma da minha ídala dona Weslian: "Prometo construir hospitais pra quem fica na fila". Então eu quero um hospital na fila do Bradesco. Outro hospital na fila do Itaú. E um hospital na fila dos frios da padaria. Domingo, às 19h! Rarará!
E quantos terninhos vermelhos a Dilma tem? Acho que são dois. Um ela usa e o outro fica secando atrás da geladeira. E o Serra não tira aquela camisa social azul.
Definição do PSDB: três homens brancos de camisa social azul. Rarará! Eu acho que ele manda lavar na Transilvânia!
E as carreatas? Político não precisa de carreata, precisa de psiquiatra. Esses dois tão doidos! A Dilma dava adeus até pra roupa no varal!
E olha o mico: um amigo meu acordou na avenida Atlântica domingo de manhã de ressaca e com a carreata do Serra! Rarará!
E tinha um boneco inflável do Serra com um band-aid na careca. Do lado errado. Nem eles sabem mais onde caiu a BOPNI: Bolinha de Papel Não Identificada! Rarará!
E os bonecos da Dilma e do Serra não são feios. São um insulto a Olinda! Rarará!
E mais piada pronta! Direto de Recife: "Padre cai no conto do vigário". Rarará! E "sexo em público é popular em cidade britânica". Como é o nome da cidade? Puttenham! Putarquia britânica vai a Puttenham. Rarará!
E adorei a charge do Duke: "Alô, eu queria falar com o Lula". "Nenhum dos dois está. O Lula presidente faz tempo que não vem e o Lula cabo eleitoral saiu pra fazer campanha." Rarará! E segundo transturno que não acaba. Falta muito, tio? Rarará! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DORA KRAMER

Exceção à regra 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 26/10/2010 

De um lado da mesa, Paulo Egydio Martins, governador de São Paulo quando Vladimir Herzog foi morto há 35 anos (completados ontem), nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Do outro, Fernando Henrique Cardoso, na época ainda um anteprojeto de político profissional, ativista da luta contra a ditadura e 19 anos depois eleito presidente da República.

Testemunhar essa conversa é uma lição de história passada, presente e futura - sim, fazem previsões -, mas não deixa de dar uma estranha sensação de desperdício.

Afinal, o que fazem esses dois experientes políticos a uma semana da eleição em pleno sábado à tarde jogando calmamente conversa fora (em termos) diante um sorvete com figos e meia dúzia de ouvintes?

Cumprindo o papel que o partido ao qual ambos são filiados, FH como presidente de honra, diga-se, reservou para eles na campanha presidencial de José Serra pelo PSDB: nenhum.

O ex-presidente da República soube da passeata que o partido faria no Rio no dia seguinte, pelos jornais. O ex-governador desde que se filiou jamais foi chamado para dar um palpite sequer.

De FH todos conhecem a biografia e a experiência por oito anos na chefia da Nação, período em que comandou o processo que acabou com a inflação, extinguiu um dos maiores valhacoutos do fisiologismo do País localizado no setor estatal de telecomunicações e pôs o Brasil na rota do mundo.

Sobre o papel de Paulo Egydio naqueles tempos ruinosos da ditadura a nova geração não tem notícia e a velha raramente lhe faz justiça. Por desconhecimento ou má-fé, visto que pertencia à Arena e foi governador nomeado pelo general Ernesto Geisel.

Em resumo, muito resumido: Paulo Egydio era considerado pela linha dura do regime militar como um "traidor da revolução" porque se aliava aos moderados que queriam o quanto antes - na verdade, desde Castelo Branco, antes de Costa e Silva e Emílio Médici - devolver o poder aos civis.

Paulo Egydio presenciou a demissão do general Ednardo D"Ávila Mello, então comandante do II Exército depois da morte do operário Manuel Fiel Filho, assassinado nas masmorras da ditadura três meses depois de Herzog.

A linha dura achava Paulo Egydio um liberal e queria enfraquecê-lo para, assim, atingir Geisel e o projeto de redemocratização "lenta e gradual".

FH aos 79 anos e Egydio aos 82 são quadros qualificados da política, reúnem experiências complementares, até por terem militado em lado opostos, escrevem, rodam mundo, analisam, cotejam, indignam-se, têm na ética uma companheira de todas as horas, sabem o que houve, percebem o que há e anteveem no futuro próximo o que haverá no mundo.

Mas aqui neste Brasil de política e políticos tão desqualificados o que vale é a gritaria de um presidente transgressor e a palavra de dois ou três marqueteiros e seus truques repetitivos e, pela ausência de originalidade e de elaboração mental, embrutecem os espíritos e "emburrecem" as mentes.

Paulo Egydio e FH acham a campanha eleitoral um horror, a oposição feita pelo PSDB um fracasso. Consideram inexorável o avanço do Brasil, mas veem muita crise política pela frente e a necessidade urgente de o partido se aprumar se não quiser acabar.

No caso de perder e até se ganhar.

Páginas viradas. O senador José Sarney diz que não é candidato a presidente do Senado, seus amigos espalham que, na verdade, é para que todos pensem que realmente é candidato quando, de fato, não é.

Não porque não queira, mas porque não tem a menor condição política de ser.

Diga-se o mesmo de Renan Calheiros, cuja pretensão de voltar ao posto do qual foi corrido por ausência de decoro já é objeto de movimentação de senadores eleitos. Governistas, oposicionistas e pemedebistas.

Abstenção. "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam". Arnold Toynbee.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

De passagem 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 26/10/2010

Em visita recente ao Rio de Janeiro, Dilma Rousseff mencionou pela primeira vez, em conversa com aliados, a possibilidade de Lula ser candidato à Presidência em 2014. Mesmo tendo surgido em contexto informal, a fala surpreendeu os presentes. Quem acompanha a política fluminense sabe que o grande desejo de Sérgio Cabral (PMDB), governador reeleito, é se tornar vice de uma chapa encabeçada por Lula.
Da Europa, onde esteve logo depois do primeiro turno, Cabral manifestou ao marqueteiro João Santana a opinião de que o presidente deveria voltar a ter protagonismo na propaganda da petista. "A Dilma é Rousseff, mas também é "do chefe'", justificou.

Cronologia Embora tenha preservado Dilma Rousseff no depoimento à PF, Erenice Guerra fez a ressalva de que Vinícius Castro, sócio de seu filho na empresa de lobby que teria atuado na Casa Civil, foi nomeado assessor da pasta antes de ela virar ministra. À época, Dilma estava no comando, e Erenice era sua secretária-executiva.


Dá azar Aloizio Mercadante foi rapidamente dissuadido da sugestão, feita em reunião com petistas ontem, de que a avenida Paulista fosse "reservada", por meio de solicitação formal, para a festa da vitória de Dilma, na noite do próximo domingo. Na véspera do primeiro turno, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência chegou a solicitar reforço para a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Numa nice A previsão do tempo contribui para justificar a apreensão dos tucanos com a taxa de abstenção. Segundo o Inpe, as regiões Sul e Sudeste, esteio eleitoral de José Serra, terão um feriado prolongado com sol e temperaturas elevadas.

Muralha Municípios localizados no entorno das grandes capitais, redutos de obras do PAC e de elevada preferência por Dilma, são foco de preocupação para a campanha tucana.

Milhagem Apesar da avaliação, majoritária no QG serrista, de que Aécio é mais necessário no momento em Minas, ele é esperado hoje para uma visita à Bahia.

Trem 1 Antonio Anastasia levará Serra ao Triângulo Mineiro, alvo de ofensiva dilmista na semana passada. A caravana tucana chega quinta a Uberlândia, onde o PSDB perdeu no primeiro turno.

Trem 2 Embora o governador eleito enxergue "situação de empate", as mais recentes sondagens que abastecem a campanha petista mostram Dilma com vantagem confortável em Minas. No primeiro turno, Anastasia teve seis milhões de votos, o dobro de Serra no Estado.

Cartilha Dono de uma rede de estabelecimentos de ensino, o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia (PSB) foi escalado pela campanha de Dilma para divulgar em Minas o caminho para o ingresso nos programas da área de educação, como o ProUni.

Pedalando Em reunião ontem à noite na ala residencial do Bandeirantes, o governador Alberto Goldman cobrou empenho pró-Serra na reta final, com agenda intensa no interior. O tucano convocou o primeiro escalão para a caminhada desta sexta, no centro da capital.

Visita à Folha Eduardo Campos (PSB), governador reeleito de Pernambuco, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Evaldo Costa, secretário de Comunicação, Milton Coelho (PSB), vice-prefeito de Recife, e Márcio França, deputado federal por São Paulo e líder do PSB na Câmara.

tiroteio

"Dizem que o Alckmin resolveu criar uma supersecretaria. Vai ver, se o Serra perder, o cargo será dele. E, se por acaso ele ganhar, a pasta irá para o Rumeu Tuma Jr."
DE ANDRÉ VARGAS (PR), deputado federal reeleito e secretário de Comunicação do PT, fazendo ironia sobre o futuro político de adversários.

contraponto

Sessão nostalgia

Escalado para aquecer o público na abertura do comício de Lula e Dilma em São Miguel Paulista, zona leste da capital, Netinho de Paula (PC do B) confessou tristeza pela ausência do fundo musical que embalou sua campanha. Derrotado na disputa por uma cadeira no Senado, o vereador e pagodeiro desabafou:
-Eu estava acostumado a subir no palanque e dançar ao som do meu jingle. Agora, para animar vocês, eu danço sem música. Afinal, nunca consegui vender 7,5 milhões de discos. Mas votos eu tive...

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Por favor, votem 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 26/10/2010

Existe grande preocupação entre integrantes da coligação Serra em relação ao índice de abstenção no domingo. Segundo Indio da Costa, pesquisas indicam que do total dos que deixaram de votar no primeiro turno, dois terços teriam optado pelo candidato tucano.
A torcida é por chuva pelo Brasil no fim de semana, desestimulando o eleitor a viajar. Combinaram com São Pedro? "Já viu índio não fazer chover?", brincou durante voo Rio-São Paulo, domingo. Indio da Costa não foi reconhecido pelo efetivo da TAM nem por boa parte dos passageiros. Em gesto raro em se tratando de políticos, tampouco se "auto-anunciou" se comportando como passageiro comum.

Votem 2
A ansiedade da oposição tem endereço: em uma das mãos, Indio portava pesquisa da GPP - instituto formado por profissionais oriundos da Unicamp - mostrando empate técnico entre Dilma e Serra.
Em outra, um artigo de 2006 escrito por dois renomeados pesquisadores, debatendo a eficácia das pesquisas feitas por meio de cotas quando, reconhecidamente, o melhor é o sistema aleatório - menos usado por ser mais caro e demorado.

Gasparzinho?
Em lugar de luz, há um condomínio no fim do túnel que Kassab planeja construir na Sena Madureira para dar acesso à Imigrantes. Segundo o traçado da Prefeitura, a obra engolirá cinco casas de um residencial. E a área de lazer de outro em construção. O que mais preocupa os advogados dos moradores é a promessa de não haver desapropriações.
As casas e o prédio simplesmente não aparecem no mapa da Prefeitura... Em audiência pública, que acontece quinta, pretendem provar que as construções existem, sim.

Contra-ataque
Começaram ontem série de reuniões, em Paris, entre familiares da Hermès com objetivo de blindar a marca contra Bernard Arnault.
Os acionistas controladores acordaram sábado, com a notícia de que LVMH conseguiu 17% de participação na Hermès em silencioso take-over, segundo fonte francesa envolvida. Os descendentes da Hermès têm 72% da empresa. Isto é, o agressivo Arnault abocanhou mais da metade das ações "livres" na Bolsa de Paris.
A exemplo da Bvlgari e Chanel, a Hermès resiste: é das poucas marcas top internacionais ainda controlada por fundadores.


A grande família
Camilla Baeta Neves, ex-mulher do Amaury Ribeiro Junior, trabalhou três meses na área de comunicação da campanha de Dilma.
Saiu assim que Fernando Pimentel enfraqueceu.

Bola de ouro
Os grandes clubes não se incomodaram com a decisão do Cade vetando preferência da Globo na compra dos direitos do Brasileirão: acreditam que a concorrência pode elevar o pacote para os próximo três anos.
A última negociação rendeu aos times R$ 1,4 bilhão.

Carrapeta
Ícone da música sertaneja, Chitãozinho ataca pela primeira vez de... DJ.
Ao lado do guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, lança disco de seu filho Alison Lima. Hoje, no Inferno Club.


Na frente

Marcelo Odebrecht recebe hoje no lugar do pai, Emílio, medalha da qualidade em governança, pela International Academy for Quality. Hoje, no Sheraton Rio.

O Instituto Arte de Viver Bem distribui, a partir de amanhã, no Salão do Automóvel, cartilhas de prevenção ao câncer de mama.

Arnaldo Jabor comanda pré-estreia hoje de seu filme. No Cine Livraria Cultura.
Festa da revista Rolling Stone comemora hoje seu 4º aniversário. Na TW Eventos.

Amir Slama abre hoje primeira loja com seu próprio nome. Nos Jardins.
Tony Blair ficará no Hyatt.

Correção: José de Filippi Júnior não perdeu os direitos políticos. Venceu o processo em primeira instância e tem liminar que lhe garantiu disputar e ganhar eleição para deputado federal.


Buena de llorar!
Tudo ao mesmo tempo. Vinho, azeite, trufas, jamón...

Assim é o clima do Millesime Madri, reconhecido evento de gastronomia da capital espanhola. Pequenas cozinhas em estilo hight tech, montadas lado a lado, oferecem amostras do que há de mais refinado em termos de degustação. E uma nova tertúlia, que dura três dias, entrou em fase de pré-cozimento: acontece em março, na Daslu, uma versão paulistana.

"Não é uma feira de alimentos. Unimos chefs de vanguarda e da cozinha tradicional. Assim, os convidados podem experimentar um pouco de história e ainda conhecer o que existe de novas técnicas", conta Manuel Quintanero Jimenez, organizador do Millesime. E o que seria cozinha de vanguarda? Paco Roncero, discípulo de Ferran Adriá, tem a resposta na ponta da língua: "Não usamos as novas tecnologias por si só. São possibilidades de caminhos para se apresentar um prato. E por técnicas diferentes, entenda-se o uso de nitrogênio para fazer as clássicas "tapas", ou petiscos".

Não menos importante, representando a culinária tradicional, os amantes do jamón- o famoso presunto espanhol- "se vuelven locos". Florencio Sanchidián chega a cobrar mais de três mil euros para fazer o corte artesanal na casa de Brad Pitt e Angelina Jolie. É este é um dos estandes mais cobiçados do evento, onde há filas de espera para conseguir sua fatia do tira gosto - "bueno de llorar", como dizem os locais.

Para a edição brasileira, o desafio peculiar, até agora, tem sido encontrar a quantidade necessária de copos. Utiliza-se 20 mil taças por dia no Millesime...

ARNALDO JABOR

Eu nasci dentro de uma câmera
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 26/10/10



Eu era cineasta e virei jornalista. Fiz nove filmes e parei há 17 anos. Continuo jornalista, que adoro como profissão, mas, de três anos para cá, resolvi filmar de novo. Alguns artigos que escrevi sobre meu passado juvenil foram a base do argumento: meu pai, meu avô, minha mãe, as primeiras buscas de amor e sexo, o Rio da bossa nova que nascia, da copa de 58, o Rio que na época era um paraíso de liberdade, até a chegada do golpe de 64.

Um ano escrevendo, um ano atrás do dinheiro com meu sócio Francisco Ramalho Jr., um ano e meio para filmar, montar e agora exibir.
Fiquei besta como tudo mudou. O cinema no Brasil está um show tecnológico. Antes, as condições eram terríveis, as equipes, despreparadas, a fome rondava o espetáculo e variávamos entre dois sentimentos básicos: ansiedade e frustração - "Será que vai sair o dinheiro?" ou "Os exibidores acham que o filme é um ‘abacaxi’".
Em 1943, meu pai foi aos Estados Unidos e comprou uma máquina de filmar, de 8mm, Kodak. Guardo essa câmera até hoje, fico olhando o buraco da objetiva e penso que ali, naquela lente, passou minha vida inteira. Meu pai fez um verdadeiro longa-metragem de nossa família, entre 43 e 62. Minhas primeiras imagens são de fraldas e as últimas mostram-me com 20 anos, recebendo a espada de aspirante a oficial da reserva, perfilado no quartel do Exército - mais de três horas de minha infância profunda em trêmulas imagens riscadas.
Este filme, "A Suprema Felicidade", é uma volta ao passado, onde devolvo minha vida a meus pais e ao Rio que me viu crescer. Essa pequena câmera aparece no início do filme, nas mãos de Mariana Lima. Entrei nessa câmera e virei cineasta.
Quando comecei a filmar, em 65, as câmeras eram pobres, nossos filmes, preto e branco, nosso som, precário e, no entanto, a fome de mostrar o olho do boi morto, o mandacaru pobre, as mãos brutas dos camponeses, a cara boçal da classe média faziam-nos desprezar até o aperfeiçoamento técnico, numa espécie de mímica do cotidiano proletário. Racionalizávamos nossa miséria em teoria, numa espécie de arte povera: a precariedade seria mais profunda que um "reacionário" progresso audiovisual.
Estava surgindo o Cinema Novo, que, aliás, nasceu num botequim.
Isso mesmo. Lá no bar do laboratório Líder, em Botafogo, foram sonhadas dezenas de filmes. Hoje, o bar já virou uma "acrílica" lanchonete. Mas, desse tempo mágico, ficaram as lembranças: as moscas no bico dos açucareiros, os chopes, os sanduíches de pernil, os ovos cozidos cor-de-rosa, a linguiça frita, o cafezinho em pé. E era ali, no meio de insignificantes objetos brasileiros, era ali que traçávamos os planos para conquistar o mundo. Conspirávamos contra o campo e contracampo, contra os travellings desnecessários, contra o happy end, contra a fórmula narrativa do cinema norte-americano e acreditávamos que éramos parte da salvação política do país - nossa câmera era um fuzil que, em vez de mandar balas, recolhia imagens do país para "libertar" os espectadores.
E nisso havia até uma ingênua verdade, pois o cinema moderno perdeu a magia crítica de antes, porque, quanto mais se aperfeiçoam as maneiras de devassar a "realidade", mais distante ela fica.
Hoje, são infinitas as imagens que invadem nossas mentes e olhos. O videoclip, a metralhadora da publicidade, a velocidade do ritmo criaram um excesso de informações que se anulam. Tanta é a exposição da realidade do mundo que não vemos nada. Quanto mais se fazem descobertas, mais fundo é o túnel do mistério; a máquina do mundo, quanto mais aberta, mais fica vazia. O desejo dos produtores (de Hollywood, principalmente) é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. A ação na tela é incessante, de modo a nos paralisar na vida; o conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos.
O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados. Temos uma imensa e riquíssima quantidade de formas técnicas e quase nenhum conteúdo. Antes, tínhamos fins, mas não tínhamos meios. Hoje, temos todos os meios, sem um fim claro. A tecnologia nos enfiou uma lógica produtiva de fábricas, fábricas vivas. Somos carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa. Assistimos às chacinas diárias entre chips e websites.
Por isso, tentei fazer um filme que seja visto sem a pressa angustiada do rococó eletrônico que nos assola. Já que a vida está tão fragmentada do lado de fora dos cinemas, tenho a esperança de que uma vida mais clara apareça na sala escura.
Minha "suprema felicidade" é que o filme parece que tocou em emoções que ficaram impalpáveis nos últimos anos, pois quem muda não são apenas as produções, mas a cabeça dos espectadores. Ficamos desacostumados de cenas puras, sem manipulações e efeitos, que subtraem do público a liberdade de observar as ações das personagens; esquecemos que as ações humanas vão muito além das corridas vertiginosas de carros ou de metralhas arrebentando corpos; esquecemos de uma dramaturgia que exponha ações complexas do drama humano.
Meu Deus, que saudade do cinema clássico! Que saudade do sonho, da utopia fílmica dos anos 50 e 60, alimentada pelo "Cahiers du Cinema" e pelos círculos de fumaça dos "Gitanes" sem filtro. Hoje, o cinema é nu. Está exposto nas lojas, feiras e bancas de jornais, está nos hotéis, na ponta dos dedos dos insones, está rodando bolsinha nas ruas.
Tenho saudades da sala escura, do cinema segredo, do cinema tesouro, o cinema dos pobres tímidos, o cinema como uma ilusão que nos levava ao êxtase ("ia-se ao cinema como ao bordel - em busca de ilusões", conforme Paulo Emílio Salles Gomes), o cinema como realidade alternativa, que analisávamos noite adentro nos bares. Ahh... como era bom esperar um filme do Fellini, a cada ano... Quando vem o novo Antonioni, o novo Bergman?
Mal me comparando a esses grandes homens, estreia no Brasil, no dia 29, um "novo Jabor".
Não me percam... num cinema perto de vocês.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Rossin-Bertin investe R$ 65 mi no 1º superesportivo nacional
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 26/10/2010

O primeiro superesportivo nacional está perto de se tornar realidade, após investimentos que devem chegar a R$ 65 milhões.
A empresa Rossin-Bertin lança hoje, no Salão do Automóvel, o Vorax. O projeto nasceu há três anos, fruto de um sonho do designer Fharys Rossin, ex-funcionário da GM em Detroit (EUA) e um dos projetistas do Camaro, lançado ontem pela Chevrolet no Anhembi.
Natalino Bertin Junior, presidente da Platinuss (importadora de outros supercarros como Pagani, Spyker e Koenigsegg) e sócio de Rossin, diz que já investiu R$ 30 milhões no projeto de design e engenharia do Vorax.
"Investiremos mais R$ 35 milhões até 2012, quando o carro será lançado no Brasil."
Hoje a empresa tem oito investidores brasileiros e três estúdios de design em São Caetano do Sul (SP). Tudo para bancar a construção de uma fábrica em Blumenau (SC). "Além do incentivo do governo de Santa Catarina, escolhemos Blumenau pois a cidade é perto do porto e facilita a exportação."
Bertin diz que já há revendedores interessados no Vorax na Europa e nos EUA. "Mas acredito que Oriente Médio e Ásia, especialmente China, serão os principais mercados para exportação."
O grupo planeja vender 50 carros no primeiro ano e 300 por ano a partir de 2017. No país, custará R$ 700 mil, preço de esportivos como Porsche 911 Turbo e Audi R8 V10.

NA MEMÓRIA
O Prêmio Folha Top of Mind anuncia hoje as marcas mais lembradas pelos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha feita em todo o país.
A cerimônia, considerada a principal premiação de lembrança de marca do Brasil, será realizada a partir das 19h30, no HSBC Brasil (zona sul de São Paulo).
A edição histórica da revista Folha Top of Mind 2010, com o resultado completo da pesquisa, que comemora 20 anos, circula gratuitamente junto com a edição da Folha de amanhã.

ETANOL NO JAPÃO
A Petrobras Biocombustível espera produzir 1 bilhão de litros de etanol neste ano, no Brasil, segundo o diretor de etanol da empresa, Ricardo Castello Branco.
Até outubro de 2010 foram produzidos 87% desse volume (cerca de 850 milhões de litros). O executivo participou de um seminário sobre biocombustíveis, ontem, em Nagoya, no Japão.
O evento, paralelo à 10ª Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 10), promoveu a produção de combustíveis renováveis.

CASEIRO
De olho no excesso de oferta para a classe C, a fábrica de produtos têxteis Buddemeyer e a centenária Casa Almeida, especializada em cama, mesa e banho, querem aumentar as vendas para clientes das classes A e B.
"É, porém, mais um fator cultural do que de classe", pondera Rolf Buddemeyer. "Alguns clientes valorizam mais a casa e priorizam gastos com artigo de qualidade."
A rede de lojas, que faz parte do grupo catarinense Buddemeyer desde 2002, inaugura hoje a quinta unidade, nos Jardins, em São Paulo.
Até o primeiro semestre de 2011, o grupo planeja reformar todas as unidades, dentro do enfoque para o público de maior poder aquisitivo, abrir outra loja, em Higienópolis e ter mais coleções.
"Queremos trazer para o setor, o modelo de lançamentos sazonais, com duas coleções por ano, como ocorre na Europa."

Aluguel... Entre as garantias locatícias, o seguro-fiança é o que mais cresce. "Nos últimos dez anos, a contratação pulou de 10% para 20% nas locações residenciais em SP, enquanto o uso do fiador caiu de 70% para 50%", diz Jaques Bushatsky, diretor de legislação do inquilinato do Secovi-SP.

...garantido Bushatsky vai falar hoje sobre as vantagens e as desvantagens das diversas formas de garantias locatícias no "1º Encontro de Imobiliárias do Porto Seguro Aluguel", em São Paulo. "Não existe fórmula mágica. O que serve para um pode não servir para o outro", diz.

Território A curitibana Link Monitoramento, especializada em rastreamento, inicia expansão em BA e SE a partir de parceria com o Banco do Nordeste. A empresa oferece financiamento para franquias no Nordeste e no norte de ES e MG. Pelo acordo, o banco financiará os franqueados com quatro anos de carência. A Link quer fechar 2010 com 60 unidades. Tem hoje 42 lojas.

Linha A Coats Corrente, fabricante de linhas, investirá em projetos especiais nas principais faculdades de moda do país. O objetivo é difundir a aplicação de linha e zíperes no vestuário. Nos três primeiros anos, será destinado US$ 1 milhão ao projeto.

Reforço
O advogado Leonardo Miranda, especializado em petróleo, gás e financiamento de projetos, integrará a equipe do Machado, Meyer, Sendacz e Opice no Rio.

6.000.000.000
Do café com leite das padarias à cerveja dos bares. O tradicional copo americano vai atingir nesta semana a marca de 6 bilhões de unidades produzidas.
Vendido a cerca de R$ 1, o copo é considerado um dos ícones do design brasileiro pelo MoMA, de Nova York, onde ficou exposto em uma mostra.
A Nadir Figueiredo, fundada em 1912, fabrica o produto desde 1945.
Os 6 bilhões de peças, que pesariam 630 milhões de toneladas, enfileiradas chegariam a 402 mil km, ou dez voltas na Terra.

ANCELMO GÓIS

Calma, gente 
Ancelmo Góis 

O Globo - 26/10/2010

Luciano Huck, cuja presença havia sido anunciada no ato de Serra, em Copacabana, domingo, não compareceu, mas pôs no Twitter uma mensagem para seus seguidores.

O apresentador comentou, com regozijo, que vários amigos seus estavam lá — e que o dia parecia que seria bom.

Segue...

Bastou para seu Twitter ser inundado de mensagens petistas iradas. A ponto de ter de retirar sua mensagem inicial.

O incidente retrata bem a agressividade que domina a campanha presidencial.

Modo avião

Um passageiro que sempre viaja pela TAM reparou.

A empresa já deixa que os passageiros usem seus celulares no modo avião (desconectado da rede) durante os voos. A Gol já permite desde o ano passado

Alô, Infraero!

A esteira de bagagens do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, está quebrada há seis dias.

A turma têm de pôr e tirar as malas dos aviões no muque.

Na verdade...

A Infraero é outra que dá razão ao Barão de Itararé: “De onde menos se espera... é daí que não sai nada mesmo.”

Tempos nervosos

Há uma torcida geral entre os assessores diretos de Dilma para que a eleição acabe logo.

A irritação da petista é inversamente proporcional à sua subida nas pesquisas. Tem sobrado bordoada para todo mundo.

Menino do Rio

De Aécio Neves, domingo, sobre sua fama de carioca, brincando com um amigo depois de participar de uma manifestação da campanha de Serra na orla do Rio: — Nada como sair de um evento e ir a pé para casa...

QUE NOS PERDOE Vanessa Riquelme, a modelo paraguaia boazuda que ficou famosa na Copa da África ao aparecer sempre com o celular preso entre, digamos, as duas alas da comissão de frente.

Mas nossa Quitéria Chagas, aqui em pose idêntica, é muito melhor.

Repare na rainha de bateria do Império Serrano, em foto 3D, num ensaio de Yuri Graneiro para o site Sambarazzo.

Quitéria, aliás, já é 3D pela própria natureza: Deslumbrante! Divina! Demais! Com todo o respeito

Tuma Jr. explodiu

Romeu Tuma Jr., em junho, quando foi demitido do cargo de secretário Nacional de Justiça por suspeita de envolvimento com a máfia chinesa, teria dito, em rodas de Brasília, que se sentia “abandonado pelo governo Lula” e “prestes a explodir”.

Bombeiros do PT tentaram, então, sossegar o leão, afagando Romeu Tuma, seu pai. Mas o senador, doente, não se reelegeu e o PT deixou assunto para lá.

Segue...

Agora, o PT não tem dúvidas de que Tuma Jr. é a fonte da capa da “Veja” desta semana.

A revista fala de gravações em que Pedro Abramovay, sucessor de Tuma, diria não aguentar mais pedidos de Dilma e Gilberto Carvalho para fazer dossiês contra adversários do governo.

No mais...

Lula não pode reclamar.

Afinal, loteou o governo, que virou um saco de gatos, uns mordendo outros.

O mestre e o violão

Geraldo Azevedo, nosso cantor e compositor, está inconsolável.

Seu violão de estimação (veja na foto) foi levado domingo, num show em Goiânia.

O larápio aproveitou a confusão causada por uma chuva forte, depois da passagem de som, e levou o instrumento. As iniciais do artista (GA) estão esculpidas no corpo do violão.

A santa conta

A Light perdeu a paciência com a Santa Casa de Misericórdia do Rio, que, por seus cálculos, deve R$ 14,5 milhões em contas atrasadas desde 2002.

A empresa promete doar um gerador ao hospital antes de cortar o fornecimento de luz, caso não haja acordo.

Caso médico

O ator Oswaldo Loureiro, de 78 anos, está internado no Hospital São Carlos, em São Paulo.

Gorda é a...

Ontem, por volta de 13h, uma moça com a barriga, digamos, um pouco proeminente entrou na agência do Itaú no shopping Downtown, na Barra, no Rio, e ouviu o aviso do segurança, gentil: — Senhora, a fila preferencial é a da esquerda.

E ela, zangada: — Não estou grávida!!! Há testemunhas.

MÍRIAM LEITÃO

Imprensa em foco
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/10/10


Os Estados Unidos viveram em 1971 e vivem agora o mesmo dilema: qual é o limite da imprensa? Ela deve ser censurada quando divulga documentos militares? No caso dos "Papéis do Pentágono", sobre a guerra do Vietnã, o impasse foi decidido na Justiça. Agora, novo debate começa com os documentos do Wikileaks. Na América Latina, tentam pôr a imprensa a reboque dos governos

A divulgação de 400 mil documentos secretos da guerra do Iraque e Afeganistão, neste fim de semana, pela ONG especializada em capturar documentos, a Wikileaks, ajuda a revelar o que tentaram esconder: 15 mil mortes não registradas; excessos das empresas terceirizadas na guerra; uma intervenção mais séria do que se sabia do Irã no conflito; e a aceitação da tortura e das violações dos direitos humanos.

O Pentágono, o Departamento de Estado, a Casa Branca condenaram a divulgação porque ela colocaria em risco os soldados americanos e seus informantes locais. A mesma alegação de 1971, quando se tentou na Justiça suspender a publicação dos documentos vazados por Daniel Ellsberg para o "New York Times" revelando os crimes do governo americano no Vietnã. O final da história foi um marco do jornalismo e do Direito: a Suprema Corte decidiu por 6 a 3 que a imprensa tinha o direito de informar.

De novo há muita polêmica em torno da ação da Wikileaks de divulgar o que os governos envolvidos com a guerra tentaram esconder.

O primeiro-ministro inglês, David Cameron, ficou em silêncio, o vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, já avisou que quer saber até que ponto a Inglaterra foi conivente com os crimes. Ou seja, num momento em que a coalizão que governa a Inglaterra passa pelo seu teste de fogo, com os cortes no Orçamento, os dois partidos no governo divergem sobre as revelações da imprensa.

Entre o vazamento de Ellsberg e o do Wikileaks ocorreu a mais ampla revolução da comunicação de que se tem notícia na História. Pense no que evoluiu a tecnologia de informação em 40 anos. É muito mais difícil hoje criar barreiras à livre circulação da informação.

Até nos regimes autoritários está ficando difícil.

Neste contexto, em que os limites da transparência são forçados pelas armas da tecnologia, no Brasil reaparece a ideia de censurar a mídia. Desta vez, a censura tem o carinhoso nome de "controle social", mas o efeito é o mesmo. Houve nos últimos anos uma captura do movimento social pelo governo ao custo de recursos públicos e aparelhamento.

Essa não é a primeira vez que o governo tenta criar conselhos e agências que supervisionem e monitorem o trabalho dos jornalistas. O que mais irrita é a dissimulação.

Jabuti não sobe em árvore.

Se está lá, alguém pôs. Como foi mesmo que apareceu no primeiro programa da candidata Dilma Rousseff a menção explícita a esse "controle social"? Depois isso foi tirado e a candidata passou a declamar a resposta de que prefere "o barulho da imprensa livre, ainda que injusta, ao silêncio das ditaduras." Bela frase.

Só falta explicar o jabuti na árvore. Até porque ele aparece lá com uma certa frequência: nos projetos Ancinav e do Conselho Federal de Jornalistas, na Conferência Nacional de Comunicação, no Programa Nacional dos Direitos Humanos-3, na primeira versão do programa da candidata, no projeto de conselho de comunicação do Ceará e nas palavras do presidente.

Os governantes não devem fazer tão pouco da nossa inteligência. É óbvio que está em marcha uma tentativa de estabelecer, através de instâncias burocráticas e corporativas controladas pelo PT e seus aliados, uma nova forma de censura à imprensa, agora edulcorada com a ideia de que a sociedade é que quer.

De novo, não passarão.

Como não passaram as tentativas do começo do governo Lula porque a sociedade brasileira é mais vigorosa do que pensam. Mas os riscos não podem ser subestimados.

Na América Latina, o governo da Venezuela fechou uma rede de televisão, 32 rádios, duas TVs regionais, ameaça e prende jornalistas, instiga agressões físicas a empresas e profissionais e tem ampliado de forma extravagante a imprensa paga direta ou indiretamente pelo dinheiro público. Na Argentina, o casal que governa o país mandou sobre o grupo Clarín fiscais tributários, pressionou anunciantes privados, cancelou licença para serviços de provedor de internet, tenta estatizar a empresa de papel de imprensa e já falou em estatizar a própria imprensa.

Na ditadura de Cuba surgem cada vez mais furos no projeto de uma imprensa monolítica. Blogs, twitters furam o bloqueio. No Irã, as cenas de assassinato da estudante Neda correram mundo depois de gravadas por um celular e enviadas pelo twitter. A China, no alto do seu poder, tenta com todos os recursos tecnológicos evitar que saia qualquer notícia inconveniente como a do prêmio Nobel para Liu Xiaobo, mas ainda assim um blog chinês que postou apenas duas aspas com o texto em branco bateu recordes de visitas e apoios. Se os jornalistas contornaram proibições em outros momentos e regimes, mais facilmente conseguirão agora. Por isso o melhor é que os neocensores sejam sensatos, atualizemse, e abandonem seus velhos projetos.

RUBENS BARBOSA





Notas sobre uma nova política externa
Rubens Barbosa 

O Estado de S.Paulo - 26/10/10


No próximo domingo, para definir os rumos de nosso país nos próximos quatro anos, novamente 135 milhões de brasileiros irão às urnas. E a política externa, pelas grandes controvérsias que despertou nos últimos oito anos, foi talvez o grande tema esquecido nos debates entre os candidatos.

A maior projeção externa do Brasil e alguns avanços importantes na política externa são indiscutíveis. É também inegável que, caso seja feita uma análise das principais prioridades do governo Lula, as políticas seguidas para assegurar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, para conseguir o acordo comercial da Rodada Doha e para exercer a liderança na América do Sul e no Mercosul tiveram um custo mais alto do que os seus resultados.

O futuro presidente deverá concentrar suas atenções na herança recebida. A candidata Dilma Rousseff já declarou que vai dar-lhe continuidade e aprofundar a política externa do governo Lula e o candidato José Serra mencionou que a política externa deverá ser atualizada, com menos partidarização e mais consenso.

A política externa tem um componente de continuidade e outro de renovação. Como na economia, ajustes terão de ser feitos. Relevante, porém, é recuperar a ideia de que o mais importante é a preservação e a defesa do interesse nacional. O Itamaraty deve executar uma política de Estado, e não de um partido ou de um governo.

Sem sobressaltos ou protagonismos, a política externa deveria voltar ao seu leito normal, com o Ministério das Relações Exteriores concentrando-se exclusivamente na sua formulação e execução. A crescente projeção do Brasil no mundo exigirá uma atuação cada vez mais ativa do Itamaraty para enfrentar e superar os desafios que vêm surgindo no cenário internacional.

Os temas globais, como mudança de clima, energia, democracia, direitos humanos, comércio exterior, em cujas discussões o Brasil desempenha um papel relevante nos diferentes organismos internacionais, terão de ser revistos para refletirem os valores e interesses que defendemos internamente.

A prioridade do relacionamento Sul-Sul deveria ser equiparada à atenção que caberia atribuir aos países mais desenvolvidos. Superada a crise financeira, eles voltarão a ser um mercado importante para nossos produtos, os manufaturados em especial. Nesse particular, as relações econômicas, comerciais e políticas com a China e os EUA deveriam ser revistas para, sem preconceitos ideológicos, atenderem aos reais interesses de um país que nos próximos cinco anos se pode transformar na quinta economia global. Deveriam ser buscadas formas de ampliar a atuação comum com o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e com o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).

O processo de integração regional, em especial o Mercosul, e o relacionamento bilateral com os países sul-americanos foram aspectos da política externa em que a retórica oficial foi mais efetiva do que os avanços concretos. A ação do Itamaraty deveria ser despolitizada, com a redefinição de nossas estratégias. As mudanças políticas na região e as transformações no comércio internacional, que fizeram a China tornar-se o principal parceiro da maioria dos países sul-americanos, exigem uma atitude mais realista em relação à integração, diferente daquela seguida nos últimos 50 anos. As obras de infraestrutura deveriam ser aceleradas para abrir corredores de exportação para os nossos produtos a partir dos portos do Peru e do Chile para o mercado asiático. O Mercosul deveria ser flexibilizado para facilitar as negociações comerciais.

Um dos aspectos mais salientes e mais negativos para os interesses comerciais do Brasil nos últimos anos foi a excessiva influência da política externa na escolha de nossos parceiros e de países com os quais entabulamos negociações sobre comércio. Acordos com Israel e Egito e as negociações com os palestinos, a Jordânia, o Marrocos são exemplos que comprovam essa afirmação.

Estamos numa situação semelhante à dos EUA no início da década de 60. Em 1962, depois da Rodada Tóquio, o Departamento de Estado, então responsável pela negociação externa, ofereceu à Europa concessões tarifárias inaceitáveis para o setor privado e para o Congresso. Houve forte reação e o resultado foi a criação do USTR, o representante comercial dos EUA, independente do Ministério do Exterior norte-americano.

O futuro governo terá de enfrentar a questão do papel do Itamaraty na ação comercial externa. Talvez tenha chegado o momento de promover uma profunda modificação do processo decisório na negociação comercial externa. Impõe-se o fortalecimento da Camex, colegiado integrado pelos principais Ministérios que têm influência no comércio exterior, com a criação do cargo de presidente diretamente subordinado ao presidente da República. Sem criar nenhuma nova estrutura, mas retirando o colegiado da atual posição burocrática inferior e colocando-o em nível político adequado, o setor ganharia a importância que merece no contexto da política econômica e facilitaria o contato empresarial com um único interlocutor no governo. A nova estratégia de negociação comercial deveria ser definida pela Camex. A promoção comercial, por outro lado, deveria ser concentrada no Itamaraty, eliminando-se assim a descoordenação e a competição burocrática existente hoje. O comando efetivo da política de comércio exterior e das negociações externas passaria a ser exercido pela Camex, sem prejuízo das competências de todos os Ministérios e agências interessadas.

Nos próximos anos, o setor externo será cada vez mais relevante e o novo governo terá de assumir responsabilidades adicionais e um papel de liderança cada vez mais efetivo.

EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON (1999-2004), É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMERCIO EXTERIOR DA FIESP 

MARIO CESAR FLORES

Clivagem psicopolítica
Mario Cesar Flores 
O Estado de S.Paulo - 26/10/10


A qualidade da democracia depende de quatro requisitos. Primeiro: a ausência de dissonâncias inconciliáveis, ao estilo sunitas x xiitas. Segundo: uma socioeconomia que atenda ao povo (a escassez enfraquece a democracia). Terceiro: atores políticos competentes e éticos. E quarto, objeto deste artigo: um universo eleitoral razoavelmente apoiado em capacidade de avaliar opções políticas e dotado da segurança que neutralize a sedução viciosa.

Quando é grande a distância entre a inclusão política e as inclusões social e econômica, a base da pirâmide social, cujo justo desejo de vida digna se situa acima da política, tende à frustração e ao voto sem entusiasmo, viciado pelo baixo padrão ético das promessas milagrosas e da mistificação da verdade. A democracia não pode funcionar bem com eleitorado como o refletido no diálogo e na situação descritos a seguir. Diálogo em fila de votação de 3 de outubro: "Qual é mesmo o número da mulher do Lula?" "A mulher do Lula não é candidata." "O número daquela mulher que o Lula mandou votar nela." Situação: conforme publicado na mídia, eleitores foram reclamar na polícia o não pagamento de seus votos na eleição de 2002, prometido por candidato! Some-se aos disparates dessa natureza o fascínio do assistencialismo, que, mesmo se racional, dilui a dignidade cidadã e a já normalmente diminuta atenção à ética na política e gera a gratidão vassala a políticos confundidos com o Estado benfeitor!

Para esses eleitores, qual é a lógica na escolha de suas opções eleitorais?

Na Primeira República e na democracia de 1946 havia discordância de ideias, normal na democracia, mas descomedimentos graves eram raros. Já nos últimos decênios isso mudou. O crivo da eleição não tem melhorado o padrão da política, que vem até apresentando sintomas de piora, tanto assim que agentes políticos de precária qualificação são eleitos e reeleitos. Bem disse um deputado: "Estou me lixando para a opinião pública... Vocês batem (a mídia), mas a gente se reelege... Tenho sete mandatos..." Palavras de desprezo pelo povo, que, por seu lado, não valoriza sua responsabilidade cívica, haja vista os sete mandatos daquele deputado! O político lixa-se para o povo e o povo lixa-se para a política desacreditada, para a ética na política.

As disfunções do processo eleitoral vêm sendo exponenciadas pela propaganda ilusória, que lhe confere uma conotação mais de disputa publicitária sensacionalista do que de disputa política pautada por ideias. Deforma a política com a combinação de imagens (TV) e textos de precário nível mental e estético, influente sem exigir saber ler, e leva o eleitorado mais vulnerável a abdicar de sua soberania mental às parvoíces simpáticas, que atendem à sua necessidade psíquica de ilusão - parvoíces que compelem o telespectador cônscio ao uso do botão mute do controle da TV, como precaução profilática mental.

Não há na História democracia bem-sucedida construída sobre alicerces eleitorais frágeis. Todas as democracias hoje consagradas eram seletivas numa primeira etapa, em que foram construídas as bases populares de suas democracias de massa. A precariedade dessas bases no Brasil ajuda a entender a eleição de políticos essencialmente dedicados ao usufruto do poder, alheios às questões fundamentais que os excedem, a interpretar a reeleição como absolvição pelo voto, a entender a eleição de personagens caricatas ou exóticas, beneficiárias dos votos de desesperança ou protesto - antes da urna eletrônica, direcionados para desabafos zoológicos, a exemplo do rinoceronte Cacareco, que teve votação expressiva -, despreparadas para a política, mas puxadoras de legenda. Ajuda a compreender a expressão macunaína - hoje também tiririca - de nossa democracia, em que o eleitor folgazão se diverte com o "pior do que está não fica" e, ao votar no palhaço candidato, faz papel de palhaço eleitor.

O risco de um processo assim viciado é vê-lo, mais dia, menos dia, travestido (na tolerância coletiva) de aval plebiscitário ao semiautoritarismo populista. O socialismo bolivariano de Hugo Chávez, mistura do nacionalismo petroleiro à Mossadegh com o nacionalismo populista de Perón e o socialismo agressivo à legalidade de Allende, é exemplo atual desse paradigma, já visto com simpatia por brasileiros (o próprio presidente Lula chegou a dizer que na Venezuela "há democracia demais").

Todo esse quadro sugere o risco da ascensão de uma ameaça cujos sintomas já são sensíveis, embora raramente considerados: a ameaça da clivagem pscicopolítica do País. De um lado, a fé emocional no Estado provedor e protetor e nas imagens mitificadas do populismo salvacionista condutor daquele Estado, a alienação refletida na frase "o número daquela mulher que o Lula mandou votar nela" - tendência potencialmente simpática à hipótese do parágrafo anterior. Do outro, a parcela do povo, a que pertence grande parte da classe média, que vê a política com preocupação democrática e procura votar com convicção fundamentada em alicerces racionais - não importa aqui qual a propensão ideológica, se mais à esquerda ou à direita, ela existe em ambas, embora mais no centro.

A ameaça da clivagem, difusa e generalizada, vem correndo o risco de adquirir uma conotação perigosa para a solidariedade nacional tranquila, por acrescentar-lhe a ideia de dimensão territorial, com o Leste (Bahia)/Nordeste prevalecente (sem exclusividade, é claro) na primeira tendência e o Sudeste/Sul, na segunda. Essa inserção, uma vez na mente coletiva brasileira, vai "apimentar" a clivagem com um sabor de defasagem quanto a interesses, objetivos e rumos fundamentais. Se não for revertida, poderá vir a fragilizar o potencial integrado da unidade nacional. O processo eleitoral de 2010 vem evidenciando essa ameaça, que há de preocupar no futuro próximo, até porque suas manifestações tenderão a permanecer vivas - se não acentuadas - depois das eleições.

ALMIRANTE DE ESQUADRA
(REFORMADO)

VINICIUS TORRES FREIRE

O barquinho do Brasil e o dólar
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/10/10



Países do G20 assinam comunicado para americano ver e para brasileiro lamentar; dólar cai mais


OS EUA se comprometeram a "não desvalorizar o dólar" (rir, rir). Foi na reunião dos ministros das Finanças do G20, no final de semana passado, na Coreia do Sul. Os ministros pariram um comunicado sem graça e de escasso valor prático, como de costume, mas no qual se diz que o valor das moedas dos países do grupo deve ser cotado pelo mercado (rir, rir).
O que está em jogo? Políticas de câmbio e econômicas que permitem a alguns países terem grandes superavit externos (grosso modo, exportação de bens e serviços muito superiores às importações). Por exemplo, China e Alemanha, a China em especial, pois, além de poupar muito (o que redunda em muito excedente exportável), "manipula" sua moeda, adota políticas de câmbio que baixam ainda mais o valor do yuan (o que torna os produtos chineses ainda mais baratos).
Se valesse o que está escrito no comunicado, porém, todas as moedas do G20 se desvalorizariam em relação ao dólar. Mas China e cia. asiática, afora o Japão, de relevante, não vão deixar que suas moedas flutuem feito barquinho de papel no mar de dólares que os EUA despejaram e ainda vão despejar na economia ainda anêmica. O mercado entende isso e, ontem, o dólar voltava a cair.
Logo, a reunião do G20 repetiu o fracasso habitual de qualquer cúpula? Sim, mas não um fracasso 100%. Primeiro, surgiram alguns temas de conversa mais organizada para a reunião dos chefes de governo do G20, em novembro. Segundo, é melhor conversar do que partir para o conflito aberto.
Os EUA fizeram meio pontinho. Pelo menos conseguiram um comunicado que criticasse políticas como as da China, sem dizê-lo. Mas sua proposta de metas para saldos externos, que implica quase intervenção em políticas econômicas domésticas, foi esnobada por China, Alemanha, Índia e Rússia (o Brasil nem foi à reunião, meio "em protesto").
O comunicado trata ainda de dizer que os países não devem promover desvalorizações competitivas de suas moedas (a fim de ganhar fatia do comércio mundial) e devem adotar políticas que ajudem a reduzir os desequilíbrios mundiais (deficit enormes, como os americano e britânico, superavit gigantes, como os de China e Alemanha).
A China não costuma dar a mínima para tais comunicados ou afirma que vai cumprir acordos de modo lento, seguro e gradual. A novidade do encontro foram os orgulhosos alemães, que avacalharam soberbamente os americanos.
Os deficit e as dívidas públicos alemães são os menores do mundo rico relevante. Sua economia não viveu de bolhas, como as de EUA e Reino Unido, nem se desindustrializou. Os alemães não "manipulam a moeda". Sua economia não precisou de injeções heterodoxas de moeda para ressuscitar. Seu superavit externo é similar ao chinês, na casa do trilhão de dólares.
Mas a Alemanha paga salários dezenas de vezes maiores que os da China, tem seguridade social, seis semanas de férias etc. Ou seja, é eficientíssima. Mesmo com alto nível de vida, seus produtos são competitivos.
E o Brasil? Se queixa dos EUA. Mas não tem os recursos, disciplinas ou competências de China e Alemanha. O real fica mais forte, o país poupa pouco, o deficit externo cresce. Do G20 é que não virá solução para nossos problemas.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Para mim, política não é um emprego. É uma missão” 
MARINA SILVA, A “MISSIONÁRIA” DO PV, EM ENTREVISTA À RÁDIO JORNAL, DO RECIFE

LULA USARÁ EM FACTOIDE 4 NAVIOS E 6 HELICÓPTEROS 
Serão mobilizados quatro navios e seis helicópteros da Marinha no factoide do presidente Lula nesta quinta (28), na visita ao “campo petrolífero” de Tupi, para discursos em defesa do pré-sal e para insinuar que o candidato do PSDB, José Serra, ameaça “privatizar a Petrobras”. Por razões de segurança, como o campo de Tupi fica em alto-mar, a 155 milhas da costa, haverá um navio a cada 50 milhas, e cada um deles terá um helicóptero, para eventual emergência.

BASE DE APOIO 
Um dos navios mobilizados no factoide de Lula servirá de heliporto alternativo e também como base de reabastecimento de helicópteros.

PÚBLICO-ALVO 
Um helicóptero será usado apenas para transportar 14 jornalistas. Afinal, o factoide será produzido para que eles o documentem. 

OPERAÇÃO COMPLEXA 
A comitiva de Lula, incluindo seguranças, seguirá em outro helicóptero. Há tensão no comando da Marinha: oficiais temem que algo dê errado.

CONTA SECRETA 
O governo não divulgou o custo da mobilização de quatro navios e seis helicópteros, incluindo combustíveis e diárias, no factoide em alto-mar.

FRACASSA AÇÃO DE TEMER PARA ATRAIR PUCCINELLI 
Dirigentes do PMDB-MS ainda fazem piada do fiasco da visita a Campo Grande, há dias, do deputado Michel Temer, candidato a vice de Dilma, com oobjetivo de conquistar o apoio do governador André Puccinelli, ilustre “desgarrado” da aliança com o PT. O evento de Temer atraiu pouca gente e quinze prefeitos. No encontro pró-José Serra, realizado dois dias depois, organizado por Puccinelli, havia 1.500 e 56 prefeitos.

CNT/SENSUS 
Sairá nesta quarta-feira a nova pesquisa CNT/Sensus para presidente. Foram 2 mil entrevistas, até ontem, em 136 municípios de 24 Estados.

NOS OUTROS É REFRESCO 
A Câmara vai gastar R$ 27 milhões reformando o ar-condicionado dos apartamentos onde os deputados federais moram de graça, coitados. 

‘EDUKATORS’ 
O ex-ministro José Dirceu, um empresário e um reitor paulistas pretendem virar os novos donos da Universidade Santo Amaro (Unisa). 

BATENDO À PORTA... 
O chefe de gabinete Gilberto Carvalho não é o primeiro auxiliar direto do presidente Lula a virar réu, sob acusação de integrar uma quadrilha, mas certamente é o mais próximo. Lula, é claro, de nada sabia.

...DA PRESIDÊNCIA 
Gilberto Carvalho é acusado de integrar a quadrilha que cobrava propinas de empresas de ônibus de Santo André (SP), para financiar campanhas eleitorais do PT. Inclusive a campanha presidencial.

NÃO AO FASCISMO 
A OAB repudiou ontem a criação de “conselhos” para monitorar e intimidar jornalistas e veículos. A iniciativa de inspiração fascista é pretendida por uma “Confecom”, convescote de maioria petista e ressentida por estar fora do mercado, até por incompetência.

QUASE IRREVOGÁVEL 
Parece irrevogável na Petrobras que o candidato derrotado ao governo paulista Aloizio Mercadante (PT) será o novo presidente da empresa, se Dilma vencer. A “consolação” começou na visita ao túnel do Gastau, semana passada, em São Paulo, com o presidente Sérgio Gabrielli. 

FALTA FEIJÃO 
O preço do feijão subiu, e muito. Isso é mais importante que aborto e privatização ou bolinha de papel, mas não virou tema da campanha. Em setembro, a cotação do feijão preto saltou de R$ 92 para R$ 130.

ESSA DOEU 
Ex-presidente do Inca e especialista em cabeça e pescoço, Jacob Kligerman vai processar Lula por calúnia e difamação, por chamar de “farsa” o atentado a bolinha de papel e rolinho de durex contra José Serra. Ele diz que o tucano sentia “náuseas” e estava “tonto”. 

TIJOLO POR TIJOLO 
O relatório da CPI da Bancoop, aprovado ontem na Assembleia paulista, pede ao governo linha de crédito emergencial aos cooperados lesados e intervenção na direção, suspeita de caixa 2 para o PT. 

LOJA DE R$ 1,99 
Além da inadmissível violência no episódio contra Dilma e Serra, petistas e tucanos mostraram que são uns mão de vaca: em vez de bexiga d’água e rolo de fita, por que não torta de chocolate ou sapato?

PENSANDO BEM... 
...Erenice Guerra deve ter dito à Polícia Federal apenas 6% do que sabe...

PODER SEM PUDOR 
O SÍNDICO MIRIM 
O deputado ACM Neto mostrou desde cedo como assimilou o jeito ACM de se impor. No final dos anos 80, o alto clero carlista morava no Condomínio Bosque Suíço, em Salvador, construído pela empreiteira Santa Helena, do clã ACM: entre outros, Antonio Imbassahy, depois prefeito, e o ex-senador ACM Jr. O pequenino Neto, aos dez anos, insistiu em se tornar síndico do condomínio. Foi impedido pela convenção do condomínio, mas criou a figura do “síndico mirim”, à revelia dos moradores, que lhe garantia até verba mensal. ACM Neto foi, assim, o primeiro e único a ocupar o cargo.

TERÇA NOS JORNAIS

Globo: Erenice se contradiz e agora admite reunião na Casa Civil

Estadão: Erenice muda versão e diz à PF que encontrou consultor

Valor: 'Estarrecido' com baixarias, TSE quer mudar campanhas

Estado de Minas: Feriado, colheita de cana e seca aumentam medo da abstenção

Zero Hora: Plano de emergência em hospitais tenta conter superlotação