domingo, outubro 17, 2010

MÍRIAM LEITÃO

Sem lógica
 Míriam Leitão
O Globo - 17/10/2010




No primeiro balanço do PAC, o trem-bala não constava, no décimo, ele estava no primeiro lugar absorvendo metade dos investimentos previstos para o setor. Não foram feitos os estudos detalhados necessários para que as construtoras possam calcular suas ofertas, mas a licitação está prevista para o fim do ano. Já foi avaliado em R$18 bilhões, agora em R$34 bi e pode ir a R$70 bi.


Os especialistas em logística não sabem como foi que, de repente, o TAV, Trem de Alta Velocidade, virou a prioridade absoluta do país, e acham que pode custar o dobro do calculado. Enquanto isso, o investimento no Ferroanel de São Paulo caiu de R$528 milhões, na previsão do primeiro balanço do PAC, para R$20 milhões, no décimo balanço.


O professor Paulo Fernando Fleury, do Instituto Ilos de Logística e Supply Chain, fez um estudo sobre as estruturas viárias do país, uma pesquisa junto às grandes empresas consumidoras de serviços logísticos, e uma análise do PAC. Viu o retrato de um país perdido entre prioridades invertidas, decisões confusas das autoridades e muitos gargalos.


- Uma pesquisa do Banco Mundial mostrou que 91% dos empresários brasileiros acham que a logística é uma vantagem competitiva estratégica para as empresas. Num ranking de desempenho logístico em 150 países, o Brasil ficou em 41º em desempenho logístico, mas isso porque a privatização das comunicações melhorou o item infraestrutura. No item "procedimentos alfandegários", o Brasil está em 82º. Existem dez órgãos para carimbar e dar autorização na Alfândega. Em 2008, houve 121 dias em que pelo menos uma das repartições que operam dentro dos portos estava em greve - disse Fleury.


A logística mistura uma série de fatores que vão desde o transporte, armazenamento, gestão de estoques, organização de fluxos de insumos e de entrega do produto final de uma empresa. O conceito era quase desconhecido há alguns anos, hoje está no coração das empresas. Fleury conta que numa pesquisa de 1995 em nenhuma das grandes empresas brasileiras havia um responsável por logística. Em 2003, uma pesquisa sobre o nível hierárquico do principal executivo de logística nas grandes empresas brasileiras não havia uma única empresa em que ele fosse presidente ou vice-presidente, mas em 42% delas o responsável era diretor e em 49% era gerente sênior. Agora, em 23% delas o principal executivo de logística está no nível de presidente ou vice-presidente da empresa e em 37% está na diretoria. O setor privado tem investido cada vez mais em logística, o setor público não consegue remover os gargalos, nem tornar eficiente a malha viária do país.


A demanda por serviços logísticos vem crescendo de forma explosiva. As exportações cresceram 18% ao ano desde 2001, a movimentação nos portos cresce a 7% ao ano. Nas ferrovias, desde a privatização em 1997 houve um aumento de 102% de carga transportada. Em 1997, havia 35 operadores logísticos, hoje existem 165 empresas que fazem esse trabalho e o faturamento delas saiu de R$1 bilhão para R$39 bilhões. O custo logístico no Brasil é de 11,6% do PIB, nos Estados Unidos é de 8,7%. No Brasil é 30% maior.


A comparação com qualquer outro país continental mostra uma enorme disparidade da escolha das formas de transportes, os chamados modais. No Brasil, 62,7% da carga vão por via rodoviária, nos Estados Unidos, 27,7%. Aqui, só 21,7% são por via ferroviária, lá, 41,5%. No Brasil, 3,8% vão por dutos e lá, 19%. No aquaviário estão equivalentes, 11,7% e 11,5%. No aéreo, 0,1% aqui e 0,3% lá. Mas por aviões vai a carga mais valiosa.


- Se aplicássemos no Brasil a proporção da matriz dos Estados Unidos, mantendo os custos brasileiros, a economia seria de R$58 bilhões, 2% do PIB. E reduziríamos 35% das emissões dos gases de efeito estufa no transporte. Há uma correlação direta entre desempenho logístico e competitividade na exportação de produtos de alto valor agregado - diz Fleury.


Olhada pelas autoridades de forma partida, a logística é o nervo exposto da falta de competitividade brasileira. Um exemplo: os portos. Eles têm dificuldades, mas a pesquisa mostrou que para os empresários o principal problema dos portos é a ineficiência do acesso rodoviário até eles. Quando se pergunta às empresas quais são os principais problemas de infraestrutura do país, só 27% registraram o item "poucos portos", mas 95% apontaram "estradas mal conservadas" e 86% apontaram "malha ferroviária insuficiente".


O PAC não melhorou esse quadro, na opinião do especialista. Primeiro, pela falta de visão integrada de logística; segundo, pela falta de sentido de algumas prioridades como a do trem-bala.


- Nem foi citado no primeiro balanço do PAC e no décimo balanço aparece como a maior prioridade nos investimentos logísticos do país. Nem foi estudado e já vai ser licitado. Não faz sentido. Além disso, a comparação entre o PAC-1 e PAC-2 mostra sobreposição de ações. Em um e outro, só nos portos há 17 ações repetidas, que estão no PAC-1 e aparecem como coisa nova no PAC-2. Em rodovias e ferrovias há uma série de trechos repetidos nos dois PACs - explica.


Isso sem falar no fato de que entre os balanços, as ações são subdivididas para parecerem concluídas, e as obras são fracionadas para permitirem inaugurações sucessivas. Com truques como esses e falta de visão sistêmica, a ineficiência logística continua e vai drenando os esforços das empresas para serem mais competitivas.

DIOGO MAINARDI


Borat Rousseff

DIOGO MAINARDI
REVISTA VEJA

“O pai de Dilma Rousseff nasceu em Gabrovo, na Bulgária. O vilarejo romeno de Glod está localizado ali perto. Foi em Glod que Sacha Baron Cohen filmou Borat”
Se Borat tem o potássio, Dilma Rousseff tem o pré-sal. Um é igual ao outro. Da mesma maneira que Dilma Rousseff louva nossas reservas de petróleo do pré-sal, Borat louva as reservas de potássio de seu país. Para estimular o sentimento nacionalista do eleitorado, Dilma Rousseff pode até tentar adaptar o hino de Borat:
O Brasil é um país glorioso!
É o exportador número um do pré-sal.
O resto da América do Sul tem um pré-sal inferior
O pai de Dilma Rousseff nasceu em Gabrovo, na Bulgária. O vilarejo romeno de Glod está localizado ali perto. Foi em Glod que Sacha Baron Cohen filmou Borat. Se o pai de Dilma Rousseff tivesse permanecido na Bulgária, a atual candidata a presidente do Brasil, com um tantinho de sorte, poderia ter sido uma das protagonistas do filme, exatamente como Spiridom Ciorebea.
Spiridom Ciorebea é um dos moradores de Glod. Sacha Baron Cohen escalou-o para o papel de Livamuka Sakonov, o aborteiro do vilarejo de Borat. Spiridom Ciorebea acabou processando os autores do filme. Assim como Dilma Rousseff, ele recusou-se a aceitar que o caracterizassem como um fautor do aborto. Assim como Dilma Rousseff, ele foi desmentido publicamente e perdeu o processo.
Borat é sempre acompanhado por Azamat Bagatov, seu produtor, que foi treinado no Ministério da Propaganda soviético. Dilma Rousseff é sempre acompanhada por José Eduardo Dutra, presidente do PT. Recentemente, José Eduardo Dutra disse que o debate sobre o aborto pertence à Idade Média. O que pertence à modernidade, para o PT, é a Casa Civil de Erenice Guerra e de seu filho Israel.
Israel? Borat, em sua viagem aos Estados Unidos, tenta comprar uma pistola para se proteger dos judeus. Impossibilitado de comprar uma pistola, resolve comprar um urso. O urso de Dilma Rousseff é Mahmoud Ahmadinejad, o ditador iraniano que prometeu resolver o problema dos judeus, riscando Israel do mapa.
Na hierarquia de Borat, Deus ocupa o primeiro lugar. Depois: o homem, o cavalo, o cachorro, a mulher, o rato e o inseto. Na hierarquia de Dilma Rousseff, Deus era um retardatário, mas durante a campanha eleitoral Ele foi empurrado rapidamente para a frente, ultrapassando até mesmo o inseto e o rato.
Borat abandona a mulher e os filhos em seu vilarejo e, depois de tentar raptar a playmate Pamela Anderson, arruma outra mulher nos Estados Unidos. Nesse ponto, seu caso é semelhante ao do pai de Dilma Rousseff. Quando saiu de Gabrovo, ele abandonou sua mulher, grávida de oito meses, e casou-se novamente no Brasil.
Dilma Rousseff conta com o apoio de Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Fernando Morais. Borat, por sua vez, conta com o apoio de Urkin, o estuprador de seu vilarejo.
O Brasil é um país glorioso! Borat para presidente!

DANUZA LEÃO

E por falar nisso
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/10/10

Não faço defesa do aborto, mas não aceito que um mundo masculino tenha o direito de ditar as regras


O ASSUNTO CONTINUA o mesmo: o aborto. Você é contra ou a favor? Se não é candidato, tem o direito de achar o que quiser e, sobretudo, a mudar de opinião e negar, com muita clareza (como diz Dilma), o que disse antes, mesmo que suas declarações estejam gravadas, portanto, ao acesso de qualquer eleitor.
Como o passado para alguns não condena, o que interessa é o presente -e o segundo turno, é claro.
Sobre o assunto, gostaria de saber a opinião do nosso vice-presidente, José Alencar.
Como todos sabemos, ele se recusou a fazer o exame de DNA que provaria -ou não- uma sua suposta paternidade. Alencar se recusou a fazer o exame de DNA, declarando, elegantemente, que a mãe de sua possível filha frequentava a "zona" e que, portanto, ele não tinha nenhuma responsabilidade sobre o caso. Pela lei, quem se recusa a fazer o exame é declarado legalmente pai, mas não vi uma só notícia, em nenhum jornal, esclarecendo essa história. Será que os vices têm imunidade e tudo bem?
Eu, por mim, torço para que essa moça, que já é uma senhora, tenha direito à parte da herança do seu possível pai, que não deve ser pequena. E fico pensando: será que se na época nosso vice, tão católico, tivesse sido procurado por sua parceira dos velhos tempos, teria dado força para que ela, em nome de suas (dele) profundas convicções religiosas, tivesse esse filho? Ou talvez até ajudado, financeiramente, a que ela fizesse um aborto?
Nenhuma mulher gosta de engravidar sem querer; milhões delas provocam o aborto nas condições mais primitivas e têm que procurar ajuda num hospital -correndo o risco de irem para a cadeia, como criminosas- e muitas morrem. A igreja proíbe o uso da pílula, da camisinha e continua firme: o ato sexual só existe para a procriação. Os séculos passam e só a igreja não vê que o mundo mudou.
Nenhum dos candidatos fala em uma campanha, já nas escolas, de prevenção à gravidez, para que as meninas se previnam antes de ir para a balada do fim de semana. Porque é sempre às mães que vão caber todas as responsabilidades - vide o caso de José Alencar.
O poderoso Vaticano, que impõe suas leis, é todo formado por homens, e as freiras não têm voz para nada -até melhor, já que não entendem do assunto.
Não faço a defesa do aborto, mas não aceito que um mundo masculino tenha o direito de ditar regras que só dizem respeito a elas. Algum bispo tem ideia do que é enfrentar um estupro, ou a ter mais um filho -muitas vezes sem pai- sem ter como criá-lo, ou a uma gravidez indesejada para uma adolescente?
A ex-candidata Marina falou em plebiscito, mas nem isso os católicos admitem. Se acontecer, e os que são contra vencerem, vai ficar tudo igual: as mulheres vão continuar abortando, e se é a favor da vida que tanto se fala, arriscando as suas (essas vidas não importam às religiões). Que venha o plebiscito, mas que fique estipulado que nele só as mulheres vão poder opinar. É um absurdo que os homens interfiram nesse assunto.
Dilma aprendeu -mais ou menos- a falar, mas não a sorrir. Apenas mostra os dentes, mas os olhos não acompanham, porque isso não se ensina. Poderia ter tido uma assessoria especial para aprender a fazer o sinal da cruz.
Em Aparecida, foi patético: ela, literalmente, gaguejou com as mãos.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Mudando de ramo
João Ubaldo Ribeiro 
O Estado de S.Paulo


Madrugada meio metida a primavera berlinense, muito clara e ensolarada, mas cortada por um ventinho gélido, desses dos quais se diz fazerem com que descubramos partes do corpo que antes não sabíamos que tínhamos. Descubro algumas e lembro, não sem mágoa, que hoje em dia também percebo ossos de que na juventude não tinha consciência. Mas espano da cabeça pensamentos importunos, estufo o peito na medida do possível e me disponho a começar bem o dia, que afinal, apesar do frio, se anuncia belamente. Não passa muito das 5 e Salvatore ainda deverá estar arrumando sua prestigiosa banca de revistas, de que sou freguês leal.

De fato, lá o vejo, entre pilhas de jornais acabados de descarregar. Está particularmente elegante, com o chapéu estiloso comprado em sua recente viagem a Paris. Passou uns 15 dias fora em excursão, na companhia da patroa. Comento com ele como é chique ter um jornaleiro que passeia em Paris e ele, com um risinho que não sei bem descrever, me responde que faz tudo para agradar a freguesia. Agradecendo pela minha parte, compro os jornais de sempre, mas decido inovar. Vou tomar o café da manhã sentado a uma das mesinhas que a padaria ao lado da banca põe na calçada e dar uma olhada nos jornais, apesar de Salvatore me advertir que ler as notícias às refeições só serve para quem está de dieta, porque o apetite vai embora.

Sim, talvez ele tenha razão. Seria bom, como querem muitos, a começar pelo presidente, ler somente o que nos agrada ou nos interessa, mas infelizmente não é possível, pois seria preciso que todo mundo fosse clone de todo mundo, estivesse na mesmíssima situação e perseguisse os mesmíssimos objetivos. Pensando nisso, abro os jornais e mais uma vez constato que, apesar de não ser possível, vem-se tentando bastante que seja e, quando parecia que essa assombração já tinha ido embora para sempre, lá vem mais conversa sobre controlar a imprensa, imagino que é uma espécie de moda.

O caso da Bolívia é dos mais recentes e diz o jornal que o governo boliviano não crê que haja nada a temer, antes pelo contrário. A lei agora aprovada e prestes a ser regulamentada apenas proíbe a veiculação de ideias racistas. Pronto, lei mais correta não haverá. Ninguém é mesmo a favor do racismo, com a óbvia exceção dos racistas, que, todos também concordam, não devem poder manifestar nem propagar suas ideias. Portanto, por que discordar?

Bem, eu tampouco sou racista, mas pergunto, por exemplo, se entrevistar racista vai poder. Em princípio, dir-se-ia que não. Mas, se um determinado racista se torna um líder político importante, como já aconteceu no mundo todo e continua a acontecer, será possível combater suas ideias sem que elas sejam explicitadas de forma clara? Noticiar a realização, digamos, do comício de um partido tido como racista (ele próprio poderá negar isso, como frequentemente ocorre) é ajudar a divulgar ideias racistas? Publicar a notícia de um crime de racismo, mencionando, por exemplo, detalhes de insultos raciais proferidos, seria uma maneira de espalhar e perpetuar esses insultos? Que notícia sobre manifestações racistas não pode ser considerada, de uma forma ou de outra, disseminação de racismo?

Um trabalho antropológico que, na opinião de algum outro setor, seja de cunho racista (o que também sucede bastante e as divergências entre estudiosos são comuns) poderá ser publicado, ou ter suas conclusões noticiadas? Se não houver, entre os entrevistáveis disponíveis, alguém com a mesma qualificação para dar uma opinião contrária e, assim, "equilibrar" a matéria, ela não poderá sair? O jornal, no caso, deverá fazer um editorial condenando o estudo, para ser veiculado junto à matéria? Se bem me recordo, Darwin foi acusado de racismo e é até hoje tido por alguns como racista. Seria racismo publicar textos de Darwin que pudessem ser qualificados de racistas? Em certos casos, o racismo não estará na cabeça de quem lê e não na de quem escreve?

Fico imaginando quem é que vai elaborar os critérios para o cumprimento da lei. A própria comunidade científica, supostamente objetiva, não consegue unanimidade em torno do que pode ser considerado racismo, porque a própria palavra é plurívoca e sujeita a valoração subjetiva. Os critérios e sua aplicação dependeriam então das mil variáveis existentes no funcionamento de comissões, por mais representativas que se pretendam. E, na prática, o resultado seria que os jornais acabarão, por segurança, submetendo suas matérias à comissão competente. Isso, na opinião de quem defende a lei, não é censura, mas não sei que outro nome teria.

O controle sobre o racismo sugere que a mesma coisa se faça em outros campos onde igualmente há problemas, como o da intolerância religiosa. Se sair uma matéria sobre um santo cristão, deverá sair outra ao lado, lembrando que nem todos os cristãos creem em santos? Provavelmente. E assim chegará o dia em que, de tanto proibirem a divulgação do que é por alguém considerado nocivo ou impróprio, acabarão por proibir tudo e os jornais serão coisa do passado. Um pouco apocalíptico, mas quem sabe se não chegaremos a isso?

Terminei o café, fui despedir-me de Salvatore, aproveitando para contar-lhe a conclusão a que havia chegado. Surpreendentemente, ele disse que sabe há muito tempo que jornal vai acabar. E nem as revistas de mulher pelada sustentam mais uma banca, a concorrência ao vivo é cada vez mais invencível. Sim, eu ia ficar sem ter onde escrever e ele sem ter o que vender. Diante disto, talvez abra uma pizzaria. Comida é bom negócio e melhor será quando não houver mais jornais para estragar o apetite. Continuará tudo a mesma scugliambazzione, disse ele, mas ninguém vai saber. 

DORA KRAMER

Rosa dos ventos
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo - 17/10/10



A conversa obviamente não é oficial, mas está adiantada: o PMDB já começou a reconstruir suas pontes com o PSDB para, na hipótese de uma vitória do tucano José Serra, assegurar participação no governo no papel semelhante ao que terá no caso de Dilma Rousseff ser a presidente eleita no próximo dia 31: avalista da governabilidade.

Exímio farejador da direção dos ventos, o partido que indicou o vice de Dilma avalia internamente que aumentaram muito as chances de Serra ser eleito presidente.

Pelo menos cinco sessões regionais do partido (Santa Catarina, Acre, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul) estão com a candidatura da oposição e outras três, Minas Gerais, Pará e Bahia, se não fazem campanha para o PSDB, para o PT também não fazem.

Consequência das mágoas do primeiro turno, quando, segundo as queixas dos peemedebistas, o partido foi tratado como gato borralheiro: deixado de lado, escondido, excluído da propaganda presidencial e das negociações sobre divisão dos espaços no futuro governo.

Como Dilma e Lula estavam com toda força e aparentemente com a vida ganha junto ao eleitorado, o PMDB ficou calado.

Quando as urnas revelaram uma realidade diferente, o partido viu que chegara a "hora do troco". No primeiro momento pensou apenas em melhorar seu cacife e o tratamento junto ao parceiro, já que o PT precisaria de muito apoio na segunda etapa.

Com o passar dos primeiros dias, o ambiente e as pesquisas começaram a desenhar um cenário em que a vitória da oposição ficou sendo uma possibilidade real.

Diante disso, aqueles dirigentes do PMDB mais identificados tradicionalmente com o PSDB, até por terem participado do governo Fernando Henrique Cardoso, cresceram de importância internamente.

Começaram a ser mais ouvidos enquanto ganhou corpo o discurso de que o partido foi tratado como "acessório de luxo" o tempo todo pelo PT.

Diante da situação de empate técnico retratada no fim da semana, o "pragmatismo de Brasília" - é a expressão literal - voltou a prevalecer. Ou seja: emissários acorrem à seara tucana ao mesmo tempo em que outro pedaço do partido continua fidelíssimo à candidatura de Dilma, esperando o resultado da eleição.

Quando Michel Temer, candidato a vice e presidente do partido, diz que será "inútil" a investida dos tucanos em busca de apoios dentro do PMDB sabe que não retrata a realidade.

Tanto que usa a seguinte frase para reafirmar a profissão de fé lulista: "Há um fechamento de todo o PMDB em torno de nossa candidatura."

Normal será que falasse "em torno da candidatura de Dilma", pois não? Pois é.

O partido não teme perder importância ao embarcar na canoa até então adversária, por dois motivos: primeiro, porque supõe que seja bem recebido pelo PSDB e, segundo, porque suspeita de que não teria participação mais que periférica em governo do PT, mesmo ocupando a Vice-Presidência.

As conversas sobre essa transposição de posições correm tão à vontade nas internas do PMDB que já são feitas avaliações a respeito das razões de o PT ter perdido o favoritismo.

Lá não se fala sobre voto religioso, efeito Marina Silva ou influência do escândalo Erenice Guerra. Para os peemedebistas todos esses fatores foram "instrumentos".

O motivo da mudança do clima, de acordo com essas análises, foi a ofensiva do presidente Lula contra os veículos de comunicação e a liberdade de expressão.

Aí, segundo o PMDB, Lula teria dado a Serra a chance que, sozinho e com uma campanha muito mal ajambrada, ele nunca teria.

Currículo. Não é a primeira vez que o instituto Vox Populi erra nas previsões eleitorais aos seus clientes, como aconteceu agora com o PT.

Na eleição municipal de 2008, o então governador de Minas, Aécio Neves, não gostou, e cobrou isso com todos os efes e erres da direção do instituto, com a previsão de que Márcio Lacerda levaria a Prefeitura de Belo Horizonte no primeiro turno.

Confiante, Aécio relaxou e por pouco Lacerda não perde para o candidato do PMDB.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Voto na Mulher Melancia!
JOSÉ SIMÃO
 FOLHA DE SÃO PAULO  17/10/10

E o resgate dos mineiros? A cápsula era o supositório da Mulher Melancia. Quero votar na Mulher Melancia


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchetes do resgate! Mineiro endividado migra pro Chile pra tentar sair do buraco. Informado que a sogra o aguardava, mineiro se recusou a subir!
E sabe como se chama o único senador eleito solteiro? Sergio PETECÃO! Aviso pras brasilienses: O PETECÃO TÁ SOLTO!
E sabe o que a Geisy falou no "Fazenda 3"? Preciso de um PERSONAL TRAILER! Rarará!
A Dilma não ganhou, mas, em Piracicaba o marido sim: Pastor Dilmo dos Santos. E com medo de perder votos entre as peruas classe A, Serra desmente que seja contra o aborto. Ops, CONTRA O BOTOX! É que só falam em aborto e a gente se confunde.
E essa: "Mulher Melancia passa doce de leite em Sérgio Abreu e LAMBE". Eu quero votar na Mulher Melancia. Eu quero votar em gente que lambe. Em gente humana.
E chega de religião. Eu quero votar numa bem devassa. Já sei, na Paris Hilton. A DEVASSA!
E diz que a Dilma vai estatizar até o Playcenter. E o Serra vai botar pedágio até no Google Maps!
E o resgate dos mineiros? Diz que a cápsula era o supositório da Mulher Melancia. E o resgate foi patrocínio do Viagra. A emoção de subir!
E aquele mineiro que foi recebido pela amante? Pela cara de bagulho da amante, imagine como deve ser a mulher!
E já imaginou o resgate dos candidatos? A Dilma não ia caber na cápsula. Ia ter que subir com o barril do Chaves. Rarará.
E o Serra não ia caber na cápsula. Porque ele ia levar o terço, a santa e a réplica do altar de Aparecida. Aliás, o Serra não ia querer sair da cápsula: "Eu quero ficar na cripta! Eu não quero ver o sol". Rarará!
Mas agora os mineiros viraram celebridades. Eu gostava quando eles eram underground. Rarará!
O Brasil virou o Irã, parte 2! A Fogueira da Inquisição.
Eu quero saber por que eles não falam de padre pedófilo e pastor que esconde dólar na Bíblia! Eu quero saber por que o Serra virou carola. E por que a Dilma também entrou nessa onda!
Dúvidas do eleitor: eu não sou batizado, posso votar? Pode, mas não deve. Rarará. E católico é o Roriz , que tudo o que faz leva um terço!
E Datena Urgente! Prenderam o fugitivo! Na delegacia, o interrogatório: "Você é a favor ou contra o aborto?". Rarará!
E quem é a favor da descriminalização do aborto, vota em quem? No bicho papão, no cão, no coisa ruim. Ou então se muda pra Europa. Rarará. Deus! Ó Deus! Adeus.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GILBERTO DIMENSTEIN

A universidade do futuro é dos velhos
GILBERTO DIMENSTEIN
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/10/10


A bomba da aposentadoria é mais um daqueles temas, que está passando longe do discurso dos candidatos

COM BASE EM UMA investigação realizada nos últimos 20 anos com americanos acima de 50 anos de idade, cientistas da Universidade de Stanford, especializados em estudos da longevidade, sustentam que a aposentadoria prejudica a memória e, portanto, acelera a decadência do indivíduo. A razão: a falta de uso tiraria o vigor do cérebro. Semelhantes conclusões são encontradas em pesquisas realizadas em outros 12 países europeus.
Esses dados foram divulgados na semana passada, no mesmo dia em que o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou uma projeção sobre o envelhecimento da população brasileira- defendendo que o país deveria mudar urgentemente sua visão sobre o que é ser velho. Num futuro breve, a idade média do nosso trabalhador será de 45 anos. Na apresentação dos dados, os pesquisadores daquele instituto relacionaram a aposentadoria como mais um estímulo de problemas como a depressão e o alcoolismo.
A bomba da aposentadoria é mais um daqueles temas que estão passando longe, por motivos óbvios, dos discursos dos candidatos à presidência. No entanto, ficará- na marra- na agenda do país.
Para ser mais preciso, quando isso aparece no debate eleitoral é uma ilusão, para dizer o mínimo. José Serra promete um reajuste de 10% no valor das aposentadorias e mais um aumento do salário mínimo dos brasileiros, para R$ 600,00. Todos os especialistas consultados por esta coluna me informam que, apenas na previdência, essas medidas custariam por baixo mais R$ 11 bilhões -o equivalente a todo o valor do programa Bolsa Família. Isso representaria mais uma pancada num deficit da previdência projetado, para o próximo ano, de R$ 41 bilhões.
Lembremos que ele já tinha proposto duplicar o Bolsa Família, dando-lhe, além disso, um 13º.
Some-se o buraco provocado pelas aposentadorias dos servidores, estimado em R$ 27 bilhões.
Dilma Rousseff fica espertamente calada diante das promessas de seu concorrente, José Serra, embora saiba que essa conta não fecha. Até porque está longe do topo das prioridades do PT mexer em interesses corporativos. O PT, afinal, é um dos responsáveis pelo buraco da aposentadoria dos servidores federais, por deixar de aprovar lei aprimorando sua contribuição.
Somos um país em que quase ninguém se escandaliza com o fato de que professores universitários se aposentam ainda jovens. Entre nas grandes universidades americanas, incubadora da maioria dos vencedores do Prêmio Nobel, e veja o número de mestres e pesquisadores ainda trabalhando com mais de 80 anos de idade.
Há uma discussão ainda mais complexa do que as questões fiscais, embutida na projeção do IPEA- de que, em breve, a idade média do trabalhador será de 45 anos- e é uma discussão essencialmente educacional.
Isso significa que haverá bem menos jovens e que as empresas terão de saber lidar com empregados mais velhos. Serão demandados programas ainda mais intensos de reciclagem profissional. Não se vai poder mais parar de estudar.
As boas empresas vão se assemelhar a escolas, com investimentos crescentes em universidades corporativas.
Já há sinais palpáveis desse movimento. Além da disseminação das chamadas universidades corporativas, nada cresce mais no Brasil do que ensino a distância, cujos alunos, em média, têm nota mais alta do que a dos cursos exclusivamente presenciais. A explicação: são alunos mais velhos e responsáveis.
Outro sinal é a propagação da matrícula no período noturno. Em São Paulo, uma universidade está oferecendo cursos de madrugada: as aulas começam às 23h e acabam quase às 2h.
Estamos vivendo na era da aprendizagem permanente. Estuda-se o resto da vida nos mais variados lugares. Daí que, podem apostar, a universidade do futuro, nas quais não se vai mais distinguir o virtual do presencial, será dominada pelos velhos.
PS- Para mim, esse sonho da aposentadoria é um pesadelo. É o que indica aquelas pesquisas sobre a memória. Deveríamos ensinar à criança, desde o berço, que a vida só se torna uma bela aventura, com sentido, se não pararmos de ter curiosidade, de aprender e de criar. Fazer planos para não fazer nada é a morte.

CELSO LAFER

A democracia e o segundo turno
Celso Lafer 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/10/10


O resultado das eleições de 3 de outubro tem como nota a contenção da dimensão plebiscitária que o presidente Lula imprimiu à campanha, valendo-se de seu cargo e sua popularidade. Ao se empenhar, sem maiores freios, em mover e desequilibrar o eleitorado em favor da candidatura Dilma Rousseff, buscou beatificadora consagração da sua pessoa e do seu governo.

A postura do presidente na campanha eleitoral do primeiro turno tem muito que ver com o que, na Grécia clássica, se denominava hybris: a violação da norma da medida, estipuladora de limites. Existe hybris que, para os gregos, acaba sendo sancionada toda vez que é ultrapassada, como dizia Platão, "a medida do justo".

Lula violou a norma da medida ao reiteradamente afirmar que a História do Brasil teve início com a sua eleição em 2002 e se desdobrou com sucesso nos oito anos da sua Presidência - sucesso a que só a eleição da sua candidata poderia dar continuidade.

A História não começa do zero a cada oito anos e o governo Lula faltou com a "medida do justo", pois teve como lastro o acervo de realizações do ciclo político-histórico iniciado com a redemocratização - acervo ao qual Lula não deu seu respaldo nos momentos oportunos. Pôde contar com os méritos da transição que a eleição de Tancredo Neves emblematizou e com a Constituição de 1988, a cuja elaboração Ulysses Guimarães presidiu. A Constituição ampliou a tutela dos direitos humanos, fez da Nova República um regime político que trouxe expansão sem precedentes da cidadania eleitoral e propiciou conquistas e costumes socioculturais que criaram o contexto que permitiu a eleição de Lula em 2002. A Constituição afirmou a importância de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, um valor cuja ideia a realizar caracterizou, com ressonância eleitoral, a campanha da candidata Marina Silva.

O governo Lula teve o alicerce dado pela consolidação da democracia depois do regime militar que José Sarney, na Presidência, com competência política empreendeu e a mudança da agenda brasileira para enfrentar o mundo pós-guerra fria que o presidente Fernando Collor, não obstante os percalços do seu governo, promoveu. Dispôs do exemplo de integridade do presidente Itamar Franco na condução política do pós-impeachment, que possibilitou o início do Plano Real com a escolha e o apoio dado a FHC como seu ministro da Fazenda.

O presidente Fernando Henrique Cardoso elegeu-se com os generalizados benefícios para a população brasileira trazidos pelo Plano Real, que consolidou nos seus dois mandatos. A estabilidade da moeda propulsionou inédita redistribuição de renda, significativa redução da pobreza e inseriu a segurança da previsibilidade na vida dos brasileiros.

O Proer deu solidez ao sistema financeiro brasileiro e dessa solidez se valeu o presidente Lula para enfrentar a grande crise econômica mundial. A Lei de Responsabilidade Fiscal imprimiu racionalidade às políticas públicas do País. As redes de proteção social do seu período, de que são exemplos a Bolsa-Escola e a Bolsa-Alimentação, constituem a base da Bolsa-Família, que tanta popularidade vem trazendo ao governo Lula. O empenho nas práticas democráticas, a atenção aos direitos humanos e à sustentabilidade ambiental, o republicano processo de transição da sua Presidência para o governo Lula integram o patrimônio do legado de Fernando Henrique.

Criterioso levantamento comparativo de cem indicadores dos últimos 16 anos da sociedade brasileira nos mais variados campos - da desigualdade, do trabalho, da saúde e moradia à ciência e tecnologia, publicado pela revista Época de 4/10 - revela que a marca mais forte deste período não é a do ineditismo da ruptura, mas sim a da continuidade da melhoria. Esta provém daquilo que o governo FHC construiu e a partir da qual o governo Lula trabalhou.

Faço o registro porque a denegação do legado de FHC é uma falsidade destituída da norma da medida, agravada pelo sistemático empenho do presidente Lula e de seus companheiros na desconstrução da imagem política do seu antecessor. Este recorrente empenho lulista, intensificado no componente plebiscitário da campanha do primeiro turno, é expressão de uma hybris que se traduz, para evocar Aristóteles, na retórica da ofensa política animada pelo prazer personalista de se sentir superior.

O povo dá vida à democracia constitucional pelo voto e pelos costumes políticos. Para o enraizamento destes costumes não contribui a má-fé do plebiscitarismo que acompanha a candidatura Dilma. Também não contribui para a vigência da democracia o maléfico propósito do presidente Lula de exterminar adversários, o que é incompatível com o pluralismo da sociedade brasileira, que a representativa eleição de governadores da oposição ao seu governo confirmou.

Numa democracia, a concessão de poder pelo eleitorado é sempre temporária. Pode ser periodicamente renovada ou revogada. Nesse processo as candidaturas ou são impositivas ou propositivas. A candidatura Dilma é uma candidatura imposta ao eleitorado pelo presidente Lula. No primeiro turno contrastou com a de Marina e a de José Serra, que foram candidaturas propostas ao juízo eleitoral. A candidatura Marina foi propositiva da importância da sustentabilidade, teve o mérito de romper a dimensão plebiscitária que o presidente Lula quis impor ao primeiro turno e carregou, no seu bojo, a expansiva lição ética da inteireza do seu caráter. A candidatura Serra foi propositiva de um empenho na ampliação e no aprofundamento das condições de possibilidade do País, lastreada na ampla e bem-sucedida experiência política e administrativa de um dos mais qualificados homens públicos do Brasil.

O segundo turno, que se avizinha, será um embate entre uma candidatura imposta - a de Dilma - e uma candidatura proposta - a de Serra, que, no meu entender, é a que melhor serve ao País e à sustentável renovação da vida democrática.

PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FHC

MERVAL PEREIRA

Nuances do voto 

Merval Pereira
O GLOBO - 17/10/10


O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a "geografia do voto" nas eleições presidenciais do Brasil. Eles terminaram o mapeamento da disputa do primeiro turno deste ano, completando a cartografia das seis eleições da redemocratização, de 1989 a 2006.

Através dos mapas, identificamse as nuances do processo eleitoral, explica Romero Jacob, que ressalta que o mapa da votação de Dilma Rousseff este ano é muito semelhante ao de Lula em 2006, mas tem diferenças que podem ser exploradas no segundo turno.

Mesmo que o percentual dos dois tenha sido muito parecido - Lula teve 46% em 2002 e 48% em 2006, e Dilma teve agora 47%.

Dilma, em relação a Lula na última eleição, cai em umas regiões e cresce em outras.

Por exemplo, aumentou a votação no Sul do país, no Rio Grande do Sul, sobretudo, mas também tem crescimento em Santa Catarina e Paraná, além de melhorar a votação na área de agronegócio.

Mesmo que essa região tenha votado a favor de Serra - venceu em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso -, houve crescimento da votação do PT.

Mas ela caiu em muitas outras áreas, até 25 pontos, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo (onde a queda foi geral), no leste de Minas, (mas cresce no Oeste mineiro), no litoral da Bahia e Pernambuco (mas cresce no interior dos dois estados) e nos estados de Rio Grande do Norte e Paraíba. Caiu também no Maranhão.

Mesmo que ela tenha vencido as eleições nesses estados, houve uma queda em comparação com a votação de Lula em 2006.

Na área do agronegócio, que tem se caracterizado nas últimas eleições por um voto contrário ao governo devido à valorização do real, que prejudica as exportações, houve uma estratégia do PT para crescer no Sul e no CentroOeste, reduzindo a diferença a favor do PSDB.

No Nordeste e no Sudeste, Dilma venceu no primeiro turno, mas teve votação menor do que Lula obteve em 2006. A estratégia de Lula de lançar uma candidata que nasceu em Minas e fez sua vida política no Rio Grande do Sul deu bons resultados para o governo, avalia Romero Jacob.

Ela manteve a vitória do PT em Minas e retomou o Rio Grande do Sul para o partido. Talvez esse crescimento de Dilma em Santa Catarina, Paraná e no CentroOeste possa ter sido fruto de um certo espírito gaúcho, comenta Cesar Romero Jacob, lembrando que nessa região Leonel Brizola sempre teve muito voto.

Os mapas de votação mostram também que há uma queda na votação petista na faixa litorânea, a partir do Rio Grande do Norte.

O mapa de votação de Serra também é muito parecido com o de Geraldo Alckmin em 2006. Há uma área contínua que pega o Sul do país, o Centro-Oeste, São Paulo e uma parte de Minas onde prevalece o voto tucano.

Mas, quando comparamos a votação deste ano com a de 2006, verificamos que há uma queda em toda essa região. Serra, com 33% dos votos, superou sua própria votação em 2002, que foi de 23%, mas ficou nove pontos percentuais abaixo da votação de Alckmin em 2006, de 42%.

Essa diferença foi absorvida em alguns lugares por Dilma, e em outros por Marina. Assim como Dilma, nas áreas em que diminuiu a votação, ela perdeu ou para Serra ou para Marina.

O mapa da votação de Serra mostra também um crescimento em regiões onde o PSDB não costumava vencer: no norte do Rio de Janeiro, especialmente em Campos; no Espírito Santo; na Bahia; em Governador Valadares, em Minas; e no Acre.

Esses nove pontos percentuais de eleitores que votaram em Alckmin no primeiro turno de 2006 muito provavelmente voltarão em sua maioria para Serra no segundo turno, avalia Romero Jacob.

O mapa de abstenção, votos em branco e nulos do primeiro turno, demonstra que as regiões Norte e Nordeste, onde Dilma teve seu melhor desempenho, tiveram o maior nível, chegando em certas áreas a 45% dos eleitores.

Já na eleição do segundo turno, o perigo maior é nas regiões Sul e Sudeste, onde os cidadãos de maior renda podem viajar no feriadão.

Mas há uma nova classe média emergente que também está viajando mais, e que pode ser também prejudicial a Dilma.

No caso do mapa de votação de Marina Silva, há uma área contínua no Sudeste do país: em São Paulo, Marina teve 20% dos votos, que tirou, na maioria, de Serra, que teve 40% dos votos, ficando distante de Alckmin, com 50% de votos para governador.

Já em Minas, Romero Jacob acha que ela tira votos de Dilma, que teve 47% dos votos contra 21% de Marina. No Rio de Janeiro, Dilma vence com 44%, mas Marina teve 32%. No Espírito Santo, Dilma teve 37% e Marina, 26%.

Outro elemento que chama a atenção é o desempenho de Marina no Oeste do Tocantins, onde os estudos mostram que há uma c oncentração evangélica muito grande.

Não foi à toa que Garotinho teve um bom desempenho naquela região na eleição de 2002.

Na votação de Marina em Brasília, única unidade da Federação em que ela venceu a eleição, os estudos de Cesar Romero Jacob apontam influência decisiva dos votos evangélicos nas cidades-satélites do entorno da capital.

Esses votos de Marina no Sudeste podem definir a eleição no segundo turno, e não é por outra razão que as duas campanhas estão priorizando São Paulo, Minas e Rio de Janeiro na reta final da campanha.

Os mapas coloridos que mostram a distribuição dos votos dos candidatos e a comparação com a eleição de 2006 podem ser vistos no endereço


br/puc-riodigital>.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Novo fôlego
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/10/10

O quadro de estabilidade detectado pelo mais recente Datafolha sobre a disputa pelo Planalto tende a aliviar as críticas internas ao comando da campanha de Dilma Rousseff, que desde a passagem para o segundo turno foi obrigado a acatar, sem direito a recurso, as mudanças recomendadas por Lula e por aliados recrutados pelo presidente para reforçar o time. 
Ao mesmo tempo, os números da pesquisa reforçam a posição dos que defenderam a mudança de tom da candidata e de sua propaganda. Tudo indica que a Dilma mais ‘assertiva’ veio para ficar.

Veja bem - De Lula, relativizando, em conversa com o marqueteiro João Santana, os resultados de pesquisas qualitativas internas: ‘João, os grupos não dizem tudo’. 
Extremos - Dilma treinou especialmente para melhorar a performance na abertura e no encerramento do debate Folha/Rede TV!. As considerações finais da candidata ainda são consideradas insatisfatórias. E, na primeira intervenção, ela está devendo uma atitude ‘mais simpática’, cobram petistas. 
Ironia... - No início da campanha, petistas fizeram de tudo para se aproximar, com a ajuda de neoaliados como Gabriel Chalita (PSB-SP), da Canção Nova, de olho no potencial midiático dessa comunidade católica. 
...do - destino Entretanto, são da Canção Nova alguns dos padres mais inflamados na pregação contra o voto em Dilma. Há quem anuncie greve de fome pela derrota da petista.

Abafa o caso - A cúpula do PMDB fez de tudo para evitar que o ex-governador Newton Cardoso sentasse à mesa principal da entrevista coletiva que se seguiu à reunião do partido na sexta, em Belo Horizonte, na qual foram definidas providências pró-Dilma em Minas. 
Vacina - A campanha de José Serra (PSDB) pretende repetir eventos setorizados como o de sexta-feira, voltado à educação. O próximo será com profissionais da saúde. O objetivo é neutralizar as críticas de Dilma aos programas implantados pelo tucano no governo paulista. 
Caserna - Com o slogan ‘Petista bom é petista sem mandato’, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) anunciou apoio a Serra, contrariando a posição nacional de seu partido. Reeleito para o sexto mandato com 120 mil votos, ele diz ter comunicado a decisão ao tucano e minimiza retaliações. ‘Podem me pressionar, mas não vou contrariar meus princípios.’ 
DNA - Recordista de votos em SP, Bruno Covas, neto de Mário Covas, desponta como favorito para presidir a Assembleia em 2011. Embora o PT tenha eleito a maior bancada, com 24 deputados, a maioria governista não abdicará do comando da Casa. 
Toga justa 1 - A campanha para escolher, em novembro, o sucessor de Mozart Valadares na Associação dos Magistrados Brasileiros reproduz o clima eleitoral do país. Nelson Calandra (SP), da oposição, rejeitou a votação pela internet por temer um ‘processo viciado’ e acusou a AMB de fornecer lista incompleta dos sócios. 
Toga justa 2 - Em nota, a AMB, que apoia a candidatura do juiz Gervásio Santos (MA), considerou o ataque ‘injusto e leviano’. E repudiou a acusação da oposição, para a qual a entidade que pregou a Ficha Limpa para os políticos quer agora ‘sujar’ a eleição dos juízes.

Tiroteio
Depois de Dilma de Calcutá, faltam Erenice de Jericó e Israel de Jerusalém. Aí sim a trindade estará completa. 
DO DEPUTADO ESTADUAL CELSO GIGLIO (PSDB-SP), comentando o paralelo, estabelecido na propaganda de TV, entre a candidata petista e Madre Teresa.

Contraponto
Último a saber 
Para ilustrar sua convicção de que Serra pode conquistar apoios no Nordeste, onde perdeu de goleada para Dilma no primeiro turno, o deputado Jutahy Jr. (PSDB-BA), um dos políticos mais próximos do tucano, recorre a uma história ocorrida durante eleição no município baiano de Queimadas. Iniciada a apuração, um vereador percebeu que seu candidato a prefeito seria derrotado. Caminhou até ele e disse, indignado: 
- Você me garantiu que ganharia! 
Em seguida, sentindo-se liberado do compromisso, anunciou apoio ao iminente vencedor.

GAUDÊNCIO TORQUATO

A moral especulativa
Gaudêncio Torquato 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/10/10


"A identidade de ideias não liga no Brazil os homens, mas sim a identidade de interesses, donde resulta que a moral predominante é a especulativa." A frase é do dr. Jaguaribe e o z do País mostra a grafia antiga, mais precisamente de 1889, e está impressa em seu livro Homens e Ideias. O pensamento abre este texto porque explica muito bem o clima do segundo turno desta que é uma das mais contundentes campanhas eleitorais da História e, ainda, porque o autor defendeu, em 1874, na Faculdade do Rio de Janeiro, uma tese em Medicina versando sobre temas relevantes para a época, entre os quais, "aborto criminoso e fraturas complicadas".

Após 120 anos, o alerta sobre as consequências do aborto feito pelo cearense Domingos Jaguaribe, fundador de entidades científicas e culturais, entre as quais o Instituto Histórico de São Paulo, passa a figurar na agenda dos candidatos à Presidência da República. Uma citação de Sêneca ao final de sua obra parece até vaticínio: "Os vícios dos tempos antigos passam a ser costumes de hoje." Basta conferir a estatística: uma brasileira morre a cada dois dias em consequência do que se chama de "aborto inseguro". No ano passado, mais de 183 mil mulheres sofreram complicações por aborto e curetagem.

Desde o final do século 19, como se pode aduzir, a questão do aborto faz parte da pauta da saúde pública no País. Desconsiderar a gravidade da situação por que passam milhares de brasileiras ou tentar escamotear o tema, deixando-o à margem das questões nacionais, constitui um gesto de desonestidade cívica, só explicável sob a régua da "moral especulativa" que guia a identidade de interesses dos nossos atores políticos. Nas últimas semanas, o assunto virou tabu. Quem se dispuser a discorrer sobre ele - mesmo inserindo-o na política de saúde pública - pode ser mal interpretado e até vir a ser considerado uma "pessoa contra a vida". A verdade é que de uns tempos para cá o aborto ganhou um foro extremamente emocional, e mais, passou a ser pautado por uma ótica exclusivamente religiosa. Os limites entre Estado laico e religião não resistem às pressões dos exércitos que atuam na retaguarda dos credos. A questão está mal posta.

Para início de argumento, nenhum ser humano, negando sua própria condição, pode ser contrário à vida. A defesa de princípios dogmáticos e morais, por seu lado, não deve impedir que uma temática, por mais polêmica, seja abordada de modo objetivo.

A lei brasileira, aprovada por 71% da população, segundo pesquisas, permite o aborto apenas nos casos de gravidez resultante de estupro e ante a ameaça de a mãe correr risco de vida. Ser favorável a este estatuto não significa, como se tem difundido nos subterrâneos da campanha eleitoral, aprovação de "mortandade de criancinhas". Uma coisa é defender políticas públicas de apoio à saúde da mulher, outra coisa é procurar disfarçar o debate franco e objetivo em torno da questão com apelos e mensagens subliminares que induzem o eleitor a imaginar determinados candidatos como a encarnação de Belzebu.

O mesmo argumento serve para desfazer o mito sobre o conceito da privatização. Um dos maiores feitos do Brasil contemporâneo, como qualquer pessoa poderá comprovar, bastando teclar o celular, foi o da privatização das telecomunicações, levado a cabo pelo governo Fernando Henrique. Hoje o País conta com 187 milhões de linhas de celular. Quem pode ser contra esse extraordinário avanço?

Portanto, cada coisa no seu devido lugar. Se algum político muda sua visão a respeito do escopo da privatização ou do aborto, curvando-se ao sentimento maior da população, deve ser aplaudido. Ortega Y.

Gasset ensinava: "Só os imbecis não mudam porque nascem com uma deficiência congênita." Pontos de vista contundentes, declarações que extrapolam o bom senso, ataques virulentos por meio de redes sociais, envolvimento de religiões com candidatos e partidos constituem, como se sabe, um arsenal à disposição da artilharia do marketing eleitoral.

Uma campanha, mesmo ferrenha e caracterizada por embate entre os grandes ajuntamentos partidários, há de obedecer a um mínimo regramento ético, sem o qual o eleitor será submetido a uma guerra sanguinolenta. Vencidos e vencedores serão responsabilizados pela extinção da chama ética e por esvaziamento das fontes morais. Casos escabrosos, versões estapafúrdias e até piadas de extremo mau gosto não podem tomar o lugar dos programas. Quando o destempero transborda do caldeirão eleitoral, todos acabam perdendo.

O eleitor precisa, é claro, conhecer a opinião dos candidatos sobre os mais variados temas. Mas a tática da emboscada, usada de maneira despudorada para desmoralizar perfis, tende a ser desastrosa. O teor de educação política de um povo depende também do grau civilizatório dos pleitos. O ciclo do sufrágio tem o condão de alargar o conhecimento do eleitorado, tornando-o mais envolvido nas soluções para suas demandas.

Parcela do acervo negativo, vale lembrar, é de responsabilidade do marketing. Engessados pelos marqueteiros, os candidatos, recitando mantras e refrãos, perdem autonomia e naturalidade, tornando-se peças de uma engrenagem. Encaixam-se em formatos gastos, que se desenvolvem desde os tempos exacerbados de Collor, quando a vida presidencial era um palco espalhafatoso. De lá para cá o que se tem visto é uma cobertura plástico-cosmética canibalizando conteúdos. Os debates, que deviam privilegiar grandes temáticas, acabam dando lugar ao estilo "tudo ou nada".

Afinal de contas, que desenho se extrai da paisagem eleitoral? Além dos aspectos pontuais voltados para o cotidiano - saúde, educação, segurança, assistência aos carentes, habitação, etc. -, poderemos ter esperança na reforma da política?

Continuaremos a conviver com alta carga de impostos? Poderemos acreditar numa reforma da Previdência? E na seara do trabalho, haverá semente nova capaz de mudar a feição da nossa burocracia sindical, sob a qual vegeta o neopeleguismo? Questões que permanecem no ar.

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP E CONSULTOR POLÍTICO

ELIANE CANTANHÊDE

Quente e frio 
Eliane Cantanhêde
folha de são paulo - 17/10/10

BRASÍLIA - O Datafolha registrando estabilidade foi um banho de água fria nos tucanos e esquentou os ânimos dos petistas para prosseguir na linha da agressividade.
Há uma pesquisa e dois resultados. Um é que a arriscada tática de bater conseguiu estancar a queda de Dilma. O outro: apesar de todos os seus excessos, Lula continua quebrando recordes de popularidade. Dilma sabe muito bem o que fazer com esses dois sinalizadores. Mas Serra pode fazer o quê?
A estratégia petista será mais e mais de pancada em Serra, no PSDB e em FHC, acusando os adversários de calúnia e de difamação contra Dilma, como se Erenice fosse um mero factoide e a candidata não tivesse mudado de opinião sobre aborto ao sabor das pesquisas.
E ninguém segura Lula. É mais marqueteiro do que o marqueteiro, mais coordenador que os coordenadores, mais candidato que a candidata. Se bobear, demite a maquiadora e cuida ele mesmo do batom da pupila, enquanto se esgoela nos palanques acusando adversários e imprensa de "caluniadores" quando a verdade dói.
A vantagem de Dilma se cristaliza, e os espaços de Serra para crescer se esgotam. Ela mira os artistas, que faziam a festa dos petistas e foram minguando ao longo de mensalões, aloprados e Erenices.
Ele avançou nos votos verdes, em alas religiosas e nos centros urbanos. Agora atrai parte do PMDB e disputa apoios no PV, no PP e no PTB, aguçando o antipetismo ao condenar o aparelhamento e o jeitão do PT de governar "em família". Mas são poucos os outros caminhos a explorar. Cerca de 90% dos eleitores de Dilma dizem que não vão mudar, e os indecisos, por definição, tendem a se dividir.
No mais, o PT costuma ter menos votos e o PSDB mais votos do que as pesquisas indicam. Logo, uma diferença de seis pontos, faltando duas semanas para a eleição, não garante certezas. Dilma está mais aliviada, mas a guerra continua.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Ele (Lula) queria ser um ditador” 
SENADOR HERÁCLITO FORTES (DEM-PI), CUJA DERROTA ELEITORAL FOI FESTEJADA POR LULA NO PIAUÍ 

REBELIÃO NO PT: LULA JÁ NÃO TEM A ÚLTIMA PALAVRA 
A coordenação da campanha de Dilma Rousseff adotou nova postura em relação a Lula: recados dele, antes acatados como ordens, agora são recebidos com a consideração habitual, mas só como “sugestões”. Dilma e coordenadores como o presidente do PT, José Eduardo Dutra, Antônio Palocci e deputado José Eduardo Cardozo (SP), já acham que a eleição não foi resolvida no primeiro turno em razão de erros de Lula.

A ORIGEM 
A nova atitude dos coordenadores de Dilma está na origem do conflito deles com o ministro da Propaganda, ex-jornalista Franklin Martins.

MEIO TERMO 
A ordem para “abrir fogo” contra Serra foi questionada. Acabou adotada em parte, mas sem a agressividade determinada pelo presidente.

CLIMA RUIM 
A divergência aos poucos fica clara: no “camarim vip” (montado atrás do palanque) dos últimos comícios, Lula e Dilma mal se falaram.

O CORONEL EM SEU LABIRINTO 
O senador e “coroné dos zoio azul” Tasso Jereissati (PSDB-CE) ainda não absorveu sua derrota nas urnas. Borocoxô, nem sai de casa.

COORDENADOR DE DILMA ESCAPOU DE ‘CORRETIVO’ 
Plantado na campanha de Dilma Rousseff pela senadora eleita Marta Suplicy, o petista Rui Falcão bateu em retirada do “wine bar” Expand, de Brasília, quando se deparou com o jornalista Luiz Lanzetta. Mais alto e mais forte, Lanzetta o encarou e xingou: “Traíra f.d.p.! Canalha!” Falcão, que se encontraria com uma jornalista, deixou o local a passos largos, quase correndo, mergulhou num carro e saiu em disparada.

A FOFOCA 
Petistas atribuem a Rui Falcão a fofoca que afastou de Luiz Lanzetta da campanha, com objetivo de abrir para amigos dele de São Paulo. 

INVENÇÃO 
Segundo petistas, foi Rui Falcão quem inventou que Luiz Lanzetta contratara arapongas para elaborar dossiês contra José Serra.

LÍNGUA DO PT 
Depois do “peremptório” gaúcho Tarso Genro e do “irrevogável” paulista Mercadante, agora temos a “tergiversante” mineira Dilma. 

PROBLEMAS DOMÉSTICOS 
Se for mesmo eleita, Dilma Roussef terá de acalmar a amiga e braço direito Erenice Guerra: ela anda lembrando que não é Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT que aguentou o tranco sem abrir o bico.

O MAIOR ELEITOR 
Decidido a cuidar da saúde, o senador José Sarney (AP) vai escolher seu substituto na presidência do Senado, entre os colegas do PMDB. O partido de maior bancada tradicionalmente indica o presidente. 

RETORNO TRIUNFAL 
Com votação expressiva, o deputado Pauderney Avelino (DEM) foi o único oposicionista eleito na bancada federal do Amazonas. Os dois senadores e sete dos oito deputados federais são “lulistas”.

ELEITOR PERALTA 
O ex-jornalista Franklin Martins, ministro da Propaganda, viajou para a Europa à procura de “modelos” para sua obsessão de controlar a imprensa, porque queria ser recebido por lá sob o impacto da vitória de Dilma no primeiro turno. Mas faltou combinar com o zagueiro, o eleitor. 

IDENTIFICAÇÃO 
Um guitarrista da banda de funk, rap e heavy metal Rage Against the Machine pediu votos para Dilma no Twitter. O americano deve ter pensado que ela representa a “Fúria contra a máquina do sistema”. 

ROMANCE 
Sinais impossíveis, romance de Vinícius Castro (Ed. Geração, São Paulo), será lançado no próximo dia 9 em Brasília, onde a história é ambientada. O orgulhoso pai do autor, advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, adorou o livro pela “profundidade, leveza e charme”.

MAIS UM ABUSO 
A TAM agora cobra taxas adicionais para acomodar seus passageiros nas poltronas que escolhem. Pais não podem viajar com filhos pequenos, a menos, é claro, que paguem. E a Anac, claro, finge que não sabe.

IRMÃOS-PROBLEMA 
Lula cansou de esperar e já não quer saber do senador eleito Jorge Viana (PT-AC) por que Dilma Rousseff não foi a mais votada no Acre. Nem por que Tião Viana teve tanto trabalho para ser eleito governador.

QUESTÃO CELESTIAL 
A diferença entre Lula e Deus é que Deus sabe que ele não é Lula. 

PODER SEM PUDOR 
UM BRIZOLA MINEIRO 
Leonel Brizola organizava o PDT no País e o deputado Genival Tourinho se dedicava à mesma tarefa no norte mineiro. Ao chegar no Clube Atlético Operário de São Francisco para uma reunião, Tourinho se deparou com várias faixas “Fora Brizola” e se queixou ao anfitrião, Alican Albernaz:
– Que papelão vocês estão fazendo comigo... Isso é indelicado.
– Genival – explicou-lhe Albernaz – vai haver eleição no clube e os associados querem tirar Antônio Brizola da diretoria...