ARNALDO JABOR

Os grandes arrepios
ARNALDO JABOR

O GLOBO - 17/08/10

Hoje começa o circo da propaganda eleitoral, o desfile de horrores da política brasileira. Os dois carros-chefes do desfile, Dilma e Serra, correrão na frente de um trem-fantasma de caras e bocas e bochechas que traçam um quadro sinistro do Brasil, fragmentado em mil pedaços — o despreparo, a comédia das frases, dos gestos, da juras de amor ao povo, da ostentação de dignidades mancas.
Os candidatos equilibram bolas no nariz como focas amestradas, dão "puns" de talco, dão cambalhotas no ar como babuínos de bunda vermelha, voando em trapézios para a macacada se impressionar e votar neles. Os candidatos têm de comer pastéis de vento, de carne, de palmito, buchada de bode e dizer que gostou, têm de beber cerveja com bicheiros e vagabundos, têm de abraçar gordos fedorentos e aguentar velhinhas sem dente, beijar criancinhas mijadas, têm de ostentar atenção forçada aos papos com idiotas, têm de gargalhar e dar passinhos de "rebolation" quando gostariam de chorar no meio-fio - palhaços de um teatrinho absurdo num país virtual, num grande pagode em que a verdade é mentira e vice versa.
Ninguém quer o candidato real; querem o que ele não é. A política virou um parafuso espanado que não rola mais na porca da vida social, mas todos fingem que só pensam no povo e não em futuras maracutaias.
Arrepios voltaram. Ninguém sabe o que vai acontecer. Só nos restam o mau ou bom agouro, o palpite, a orelha coçando, o cara ou coroa. Meu primeiro arrepio foi em 54. Estou do lado do rádio e ouço o "Repórter Esso": "O presidente Vargas acaba de se suicidar com um tiro no peito!". O mundo quebrou com o peito de Getúlio sangrando, as empregadas correndo e chorando. Estou no estribo de um bonde, em 61. "O Janio Quadros renunciou!", grita um sujeito. Gelou-me a alma. Afinal, eu votara pela primeira vez naquele caspento louco (o avô "midiático" do Lula), mais carismático que o careca do general Lott. Eu já sentira arrepios quando ele proibiu biquínis nas praias. Tínhamos elegido um louco - não seria o único...
Em 64, dias antes do golpe militar - o comício da Central do Brasil. Serra também estava, falando, de presidente da UNE. Clima de vitória do "socialismo" que Jango nos daria (até para fazer "revolução" precisamos do governo). Tochas dos bravos operários da Petrobras, hinos, Jango discursando, êxtase político: seríamos a pátria do socialismo carnavalesco. Volto para casa, eufórico, mas, já no ônibus passando no Flamengo, vejo uma vela acesa em cada janela da classe média, em sinal de luto pelo comício de "esquerda". Na noite "socialista", cada janela era uma estrelinha de direita. "Não vai dar certo essa porra..." - pensei, arrepiado. Não deu. Ainda em 64, festa do "socialismo" no teatro da UNE. 31 de março, 11 da noite. Elza Soares, Nora Ney, Grande Otelo comemoram o show da vitória. No dia seguinte, a UNE pegava fogo, apedrejada por meus coleguinhas fascistas da PUC. Na capa da revista "O Cruzeiro", um baixinho feio, vestido de verde-oliva me olha. Quem é? É o novo presidente, Castelo Branco. Corre-me o arrepio na alma: minha vida adulta foi determinada por aquele dia. O sonho virou um pesadelo de 20 anos.
Depois, vem o Costa e Silva, outro arrepio, sua cara de burro triste e, pior, sua mulher perua-brega no poder. Aí, começaram as passeatas, assembleias contra a ditadura. Costa e Silva tinha alguns traços populistas e resolveu dialogar com os líderes do movimento democrático. Uma comissão vai conversar com o presidente. Aí, outro absurdo - os membros da comissão se recusam a vestir paletó e gravata na entrada do palácio: "Não usamos gravatas burguesas!", e o encontro fracassa. Ninguém se lembra disso; só eu, que sou maluco e olho os detalhes.
Tancredo entrou no hospital, e arrepiou-me o sorriso deslumbrado dos médicos de Brasília no "Fantástico", amparando o presidente como um boneco de ventríloquo; tremeu-me o corpo quando vi que nossa história fora mudada por um micróbio em seu intestino. Arrepiou-me ver o Sarney, homem da ditadura, posando de "oligarca esclarecido" na transição democrática, com seu jaquetão de teflon, até hoje intocado. Assustei-me com a moratória de 87, aterrorizou-me a inflação de 80% ao mês. E, depois, vejo a foto do Collor na capa da "Veja" - com todo mundo dizendo: "Ele é jovem, bonito, macho...", revirando os olhos numa veadagem ideológica. Foi um período tragicômico, com a nação olhando pela fechadura da Casa da Dinda para saber do seu destino. Depois o período do impeachment, dos caras-pintadas, num breve refresco dos arrepios. Durante Itamar, a letargia jeca-tatu, só quebrada pela mudança na economia com o Plano Real que FHC fez (que depois foi roubado pelo Lula, claro...). Aí, 1994, o ano da esperança, Brasil tetra na Copa e um grande intelectual de esquerda subindo ao poder. Mas, meu arrepio histórico logo voltou, quando vi que a academia em peso odiava FHC por inveja e rancor, criando chavões como "neoliberalismo", "alianças espúrias" (infantis, comparadas com a era Lula). Os radicais de cervejaria ou de estrebaria não deram um escasso crédito de confiança a Fernando Henrique Cardoso, que veio com uma nova agenda, para reformar o Estado patrimonialista.
Durante o mandato, o próprio governo FHC cometeu seu erro máximo que até hoje repercute - não explicou didaticamente para a população a revolução estrutural que realizava: estabilização da economia, lei de responsabilidade fiscal, privatizações essenciais, consolidação da dívida interna, saneamento bancário que nos salvou da crise de hoje, telefonia, tudo aquilo que, depois, Lula desapropriou como obra sua. É arrepiante ver a mentira com 80% de ibope.
Arrepiou-me a morte de Sergio Motta, Mario Covas e Luís Eduardo Magalhães, levando para o túmulo a autoestima do PSDB, o partido que se esvai e apanha calado.
Hoje, estamos diante do mistério: Dilma ou Serra? Teremos a sabotagem radical de tropas pelegas impedindo Serra de governar ou o "revival" do arremedo de socialismo que já era ridículo em 63? Arrepio-me.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Dilma vira abóbora!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/08/10

Avisa pro Serra não chorar por estar perdendo nas pesquisas: sempre tem um pedágio no fim do túnel! 


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Novidades no trânsito! Estacionar não é mais problema! Depois de vaga para deficientes e vaga para idosos, agora temos VAGA DE CORNO!
É verdade! Um cara numa cidade do interior botou uma placa: vaga de corno. Rarará! Eu tenho a foto!
E as Ereções? Halloween 2010! Adorei essa expressão: a virada da Dilma. Já sei, ela virou abóbora. Rarará! O Lula já está preparando a Dilma para a televisão: Como Treinar o Seu Dragão! Em 3D! Rarará! Dragão amestrado. Agora pula! Agora solta fogo pelas ventas. Agora diz LULA! LÊ-U-LÊ-A! Lula!
E avisa para o Serra não chorar por estar perdendo nas pesquisas: sempre tem um pedágio no fim do túnel! Rarará! Aliás, esse devia ser o slogan dele: "Serra, um pedágio no fim do túnel!". E o chargista Duke mostra o Serra ligando pro FHC: "A Dilma me passou no Datafolha, o que eu faço?". E FHC de pantufas e camisolão de bolinhas: "Faz como a Vanusa, ESQUECE!". Rarará!
A Vanusa só não pode esquecer de pintar o cabelo. O loiro Vanusa é um ÍCONE! E eu só gosto da Vanusa quando ela esquece. Quando ela lembra, não tem graça! E o Levy Fidelis: "A Dilma é a mãe do PAC e eu sou pai do aerotrem". Ou seja, duas coisas que não existem.
E a plataforma de governo da Marina Macunaíma: xampu de cupuaçu, bronzeador de urucum e camisinha de polpa de buriti. E tem um amigo que ficou com muita pena da Marina na TV: "Eu vou dar o meu voto e mais uma cesta básica". Rarará! E sou pela transparência! Se tiver um candidato que falar "sou cleptomaníaco", voto nele!
A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Adorei esse candidato de Alagoas: tetraneto de Zumbi dos Palmares. Ueba! E eu sou tetraneto do Garrincha com a Elza Soares. Rarará! E tem um aqui em São Paulo: Sonrisal! Já sei, toma um porre, vota nele e depois Sonrisal. Rarará!
E acabei de receber a foto duma padaria em Santo Amaro da Purificação, terra de Bethânia e Caetano. Baguete na Bahia se chama vara. E aí aparece na porta da padaria: vara com manteiga, R$ 1,60. Vara com ovos, R$ 2,70. Vara mista, R$ 4,50!
E pão francês se chama cacetinho. Aí entrou um senhor todo circunspecto na padaria e gritou: "Eu quero uma vara e três cacetinhos". É mole? É mole, mas sobe! E eu vou votar no Oreia. Pra coisa ficar feia.
Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar meu colírio alucinógeno! 

MÔNICA BERGAMO

Puxadinho básico 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 17/08/2010

A venda de cimento no Brasil, termômetro da atividade da construção civil, continua crescendo em ritmo acelerado. Em julho, a comercialização do produto no mercado interno deu salto de 12% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram vendidas 5,2 milhões de toneladas.
Corte
A região Norte continua puxando o crescimento: deu um salto de 68% no semestre, em relação ao mesmo período de 2009. A segunda melhor performance é a do Nordeste, onde a venda de cimento cresceu 18% no período. Depois vêm Sudeste (12,2%), Centro-Oeste (9,8%) e Sul (5,6%).
Tem e mas não tem
O Corpo de Bombeiros entregou ao Ministério Público o resultado da vistoria feita em dez túneis e passagens subterrâneas de São Paulo para verificar a existência de extintores e hidrantes. Todos apresentaram algum problema. Os túneis Ayrton Senna, Max Feffer e Fernando Vieira de Mello possuem hidrantes, mas não têm acessórios como mangueiras e esguichos. Nos dois últimos, também faltam extintores portáteis e sinalização adequada.
Não Tem Mesmo
Já os túneis Sebastião Camargo, Tribunal de Justiça e 9 de Julho e quatro passagens subterrâneas da cidade, segundo a promotora Maria Amélia Nardy, "não contemplam quaisquer exigências" quanto aos sistemas de proteção contra incêndios.
De Perto
A equipe do cineasta James Cameron deve desembarcar no Brasil em novembro para filmar os shows do Black Eyed Peas. As imagens serão registradas em 3-D. É possível que o próprio diretor venha ao país para acompanhar o trabalho.
Cálice
O InCor está reabrindo inscrições para a seleção de homens entre 50 e 75 anos, abstêmios, que queiram participar de estudo sobre os efeitos do vinho no processo de envelhecimento. A pesquisa já está em andamento, com cem "bebedores" e 50 que não consomem álcool. Todos passam por check-up para posterior comparação dos resultados dos dois grupos.
Pressão
Coordenado por Protásio Lemos da Luz - médico, entre outros, de Galvão Bueno e do ex-ministro José Dirceu -, o estudo, chamado de "Confrarias", fará também um perfil psicológico tanto dos bebedores quanto dos abstêmios. Será analisada a qualidade de vida, o nível de estresse e a incidência de depressão nos dois grupos.
Moda de Leilão
Flávia Sampaio, namorada do empresário Eike Batista, Rosangela Lyra, da Dior, a atriz Regina Duarte, a apresentadora Luciana Gimenez e outras 25 personalidades customizaram móveis que serão leiloados hoje no Club A. A renda será revertida para entidades assistenciais.
Grazi Na Telona
Em seu primeiro papel como protagonista no cinema, Grazi Massafera viverá um par romântico com Selton Mello. Em "The Billi Pig", comédia de ação de José Eduardo Belmonte com produção da Bananeira Filmes, Grazi interpretará uma aspirante a atriz. O longa está orçado em R$ 6 milhões e deve ser rodado no fim do ano.
Pato no Tietê
O bufão espanhol Leo Bassi quer colocar um bote inflável no formato de um pato gigante no leito do rio Tietê. O barco amarelo comporta até 20 pessoas. O palhaço quer chamar a atenção para o seu espetáculo "Utopia", que terá apresentação única no dia 11 de setembro, no Espaço Parlapatões.
Comida Saudável
O infectologista David Uip, o secretário da Educação de SP, Paulo Renato Souza, e a professora Suely Pinotti comandaram os fogões do restaurante A Figueira Rubaiyat, anteontem. A quarta edição do Jantar dos Cozinheiros foi palco também da divulgação de uma campanha para arrecadar fundos para a reforma do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (cerca de R$ 30 milhões) e do lançamento do livro que comemora os 130 anos do hospital.
Amantes em Cena 
Os atores Daniel Alvim e Paula Burlamaqui estrearam na sexta a peça "O Amante", dirigida por Francisco Medeiros, no teatro Nair Bello, no shopping Frei Caneca.
Curto-circuito
A mostra 3M de Arte Digital será inaugurada hoje, às 20h, no Mackenzie, com palestra de Julien Wiedermann.

Ilana Casoy autografa o livro "A Prova É Testemunha", hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A ONG Banco de Alimentos lança o projeto Chef Solidário, às 10h, no restaurante Fidel.

O evento de moda Colheita Especial começa hoje, às 12h, no Jardim Paulistano.

A coleção de verão da grife Têca tem lançamento hoje.

O filme "Estou com Aids", de David Cardoso, será exibido hoje, às 20h, no Espaço Unibanco. 16 anos.

LUIZ GARCIA

Farrapo de desculpa
LUIZ GARCIA 
O GLOBO - 17/08/10
Faz parte da munição usada pela oposição, em qualquer governo, a denúncia de escândalos na máquina administrativa. Não é raro que desmandos e malandragens sejam inchados no esforço de convencer os cidadãos de que escolheram mal nas últimas eleições — e de que não devem esquecer-se disso nas próximas.

A mais recente história de terror a propósito de comportamento peculiar de membros do governo Lula, para usar a definição mais branda do vocabulário, é singular nesse aspecto. Não vem sendo contada por políticos da oposição, e sim áridos e circunspectos relatórios do Tribunal de Contas da União.

O qual sequer botou sua discreta boca no trombone, inclusive porque não é esse o seu papel. Foi preciso que repórteres do GLOBO escarafunchassem (lindo verbo, não?) quase 400 relatórios do Tribunal, para descobrir que contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, de um ano e meio para cá, continham os feios pecados do sobrepreço e do superfaturamento, além de outras irregularidades.

O custo para a bolsa da Viúva seria de um bilhão de reais e mais uns trocados, sem a vigilância do TCU. Não se calculou quanto desse dinheirão poderá ser recuperado.

Esse Dnit é o velho Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, que o governo Fernando Henrique extinguiu por ser corrupto demais. Pelo visto, a corrupção não dependia do nome da repartição.

Fontes ligadas ao Governo Lula garantem que a atual administração colocou gente séria no comando do Dnit em Brasília.

Parece que foi como botar esparadrapo em fratura exposta: a corrupção detectada pelo TCU, pelo visto, não existe na matriz e sim nas filiais, e um bilhão de reais é muito dinheiro de qualquer maneira.

O TCU fez e faz o seu papel. Pode punir, mas não evitar a corrupção em áreas de repartições federais. Isso é problema exclusivo do Poder Executivo. Nessa área, só o Dnit se manifestou. Reconheceu que o TCU cumpre o seu papel , mas não admitiu que o tamanho do rombo indique a necessidade de políticas e medidas destinadas a impedir que a roubalheira continue. Diz que segue “metodologia definida pelos ministérios do Planejamento e dos Transportes”.

É desculpa esfarrapada demais. Se os métodos usados não impedem a corrupção, o bom administrador troca os métodos.

Enquanto não o fizer, é cúmplice da ladroagem. Mesmo que não ganhe um tostão com isso.

DORA KRAMER

Na frente dos bois 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 17/08/2010

No frigir, a prolongada dianteira do candidato da oposição a presidente não o favoreceu. Além de ter posto José Serra e o PSDB em relativo sossego durante bastante tempo, ajudou a consolidar a impressão de que uma vez perdida a primeira posição estaria também perdida a eleição.


Esta é a ideia preponderante hoje entre os analistas. Não todos, mas aqueles de compromisso marcado com a adivinhação já se aboletam sobre a certeza de que a eleição está decidida.

Se o cenário mudar não tem problema, basta atribuir ao efeito do horário eleitoral e fica tudo certo: todos ao menos parecerão "justos" e não engajados.

Realistas, sobretudo, uma vez que é mais fácil tomar como verdadeiro um cenário desenhado e depois adaptar o raciocínio do que raciocinar sobre os traços do desenho.

Por ora a explicação para as assertivas é a de que o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva torna a candidata do PT imbatível. Se Dilma Rousseff inicia o horário eleitoral à frente de José Serra, isso quer dizer (de acordo com a norma em voga) que ela tende a crescer, ele a cair.

Ademais, como Dilma está "a três pontos porcentuais da vitória no primeiro turno", não há o que se discutir.

É de se perguntar para que mesmo eleição, campanha, gastos inúteis de tempo, dinheiro e energia. Apenas para que as urnas confirmem as pesquisas? De fato, parece ser a conclusão subjacente às argumentações de maior aceitação.

Só um truque espetacular saído da cabeça do marqueteiro seria capaz de virar o jogo. Isso tudo é o que se diz, embora não seja necessariamente o que acontece.

E acontece que a eleição é daqui a dois meses e será decidida pela maioria dos 135 milhões de eleitores que compareceram às urnas.

Até lá o favoritismo da candidata governista pode se confirmar, se acentuar, disparar, mas pode também estacionar e até diminuir.

Tomemos a eleição anterior, de 2006. Lula em pessoa estava na disputa e nessa mesma época mais bem situado do que Dilma está agora. Ela tem 41% das intenções de voto contra 33% do adversário. Lula tinha 55% contra 24% de Geraldo Alckmin.


Eram 31 pontos de diferença. Dois meses depois, as urnas deram 48% para Lula e 41% para Alckmin. Ah, dirá alguém, havia a sombra do mensalão. Ainda assim Lula tinha 55% das intenções de voto.


Ah, mas houve o escândalo dos aloprados. Pois é, as coisas acontecem. Ou não.


Em Minas Hélio Costa tem 43% contra 17% de Antonio Anastasia e os mesmos analistas não tiram do cenário a hipótese de uma "virada". Por que a diferença de expectativa?


Tudo depende da percepção e do desejo da maioria: se o eleitorado cotejar os atributos dos candidatos ganha Serra; se resolver votar apenas referido em Lula ganha Dilma e não haverá malabarismo publicitário capaz de mudar o curso desse rio.


De verdade o que José Serra poderia fazer ou inventar? Ele está em cena há anos, é conhecido de todos, não tem quem fale em seu lugar, não há Celso Kamura que dê jeito no visual nem existe margem para mágicas: Serra é o que é.


Isso pode beneficiá-lo ou pode prejudicá-lo, mas a realidade não pode ser alterada.


Diferente de Dilma, cuja situação se presta a quaisquer construções. Sendo desconhecida, tudo o que se diga ou se crie em torno dela passa a ser a circunstância real. Por mais fantasiosa que possa ser.


Incluindo aí a já afamada continuidade. Nada mais diferente de um governo de Lula que um governo de Dilma, a começar pela personalidade e o estilo da que terá sido (se for) eleita presidente, que não terá como levar o governo na base da conversa com as massas.


A se estender pela presença mais incisiva do PT e pela participação marcante do PMDB agora na posição de "protagonista", de poder - note-se - moderador e da já auto-anunciada condição de distribuidor de partilhas.


São parceiros de apetites inesgotáveis a serem administrados por uma pessoa ao mesmo tempo inexperiente e senhora absoluta do mando, cujo respaldo popular nunca lhe será atribuído a mérito próprio, mas pela conquista do empenho e da força de outrem.

PAINEL DA FOLHA

Oportunidades
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/08/10 

Tão logo Dilma Rousseff afirmou que, se eleita, incluirá na segunda edição do "Minha Casa Minha Vida" uma linha de financiamento para a compra de eletrodomésticos e móveis, o comando de sua campanha passou a ser assediado por empresas do setor, interessadas em conhecer detalhes do programa. 
Ontem a petista anunciou a distribuição 100% gratuita de medicamentos para o tratamento de hipertensão e diabetes -hoje, o governo federal subsidia até 90% do valor desses remédios. Com a arrancada de Dilma nas pesquisas, acirra-se a disputa do setor privado por um espaço na agenda da candidata. O lobby do ensino particular tem sido especialmente intenso. 


Roteiro 1 Um trecho de "Bate Coração", sucesso com Elba Ramalho que ganhou nova letra do publicitário PC Bernardes, abrirá o primeiro programa de José Serra no horário eleitoral. Após a música, o candidato surgirá no estúdio, se apresentando. 

Roteiro 2 O programa, que será o mesmo na hora do almoço e à noite, terá ainda biografia de Serra narrada por um locutor e entremeada por depoimentos de beneficiados por ações do tucano -que, ao final, participa de uma espécie de "pagode na laje" produzido em estúdio. 

VIP Por ora, Cid Gomes (PSB) foi o único candidato a governador de Estado onde Dilma tem mais de um palanque agraciado com um depoimento gravado de Lula. Lúcio Alcântara (PR), que também apoia a petista no Ceará, ainda está a seco. 

De cor Quem conversa com Lula sai impressionado com seu grau de memorização da situação da disputa para o governo e para o Senado em todos os Estados. 

Alô, internautas! Livros recomendados no site da campanha de Marina Silva (PV): "A Cidade de Deus", de Santo Agostinho, "Os Idiomas do Aprendente", de Alicia Fernández, "Os Mistérios da Trindade", de Dany-Robert Dufour e "Nomes-do-Pai", de Jacques Lacan. 

Explosivo Por meio de seu advogado, José Luís Oliveira Lima, o ex-diretor de engenharia da Dersa Paulo Vieira de Souza, também conhecido como Paulo Preto, apresentará queixa-crime contra os tucanos Eduardo Jorge, José Aníbal e Evandro Losacco, que o apontaram como suspeito do desaparecimento de R$ 4 milhões supostamente arrecadados para campanhas do PSDB. 

Blindagem Imitando o recado dado por Lula aos ministros, o governador Alberto Goldman quer o secretariado paulista a postos para defender a administração tucana. 

Ops! No próprio PT há preocupação com a iniciativa do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, de franquear comitê aos candidatos ao governo Celso Russomanno (PP) e Paulo Skaf (PSB), que têm auxiliado Aloizio Mercadante na tarefa de bater em Geraldo Alckmin (PSDB). Como não são coligados, para caracterizar crime eleitoral é um pulo. 

Próximo capítulo Com menos de um minuto e meio de tempo de TV, Skaf, que tem a campanha assinada por Duda Mendonça, adotará a prática de remeter o telespectador para uma "continuação" do programa eleitoral na internet. O candidato promete entrar ao vivo no site para responder perguntas. 

Indefinido Hélio Costa (PMDB) nega pretender, em caso de vitória, dar a Carlos Henrique Custódio o comando da Cemig. Na sabatina da Folha, o líder da disputa em Minas havia afirmado que não teria problema em nomear Custódio, demitido da presidência dos Correios por Lula, para seu governo. 
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI 

tiroteio 

"O inchaço da máquina se dá desde o primeiro dia deste governo. O presidente criou um Estado para abrigar apadrinhados." 
DO PRESIDENTE DO PPS, Roberto Freire (SP), sobre o aumento no número de funcionários contratados sem concurso público ao longo dos mandatos de Lula. 

contraponto 

Lava mais branco 

Ao final de reunião com a direção da Petrobras, ontem, Lula já se levantava quando o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, lembrou à diretora de Gás e Energia, Maria das Graças Foster: 
-Você não vai entregar o presente a ele? 
Ela então se dirigiu ao presidente com uma obra comemorativa produzida pela empresa, e Lula, diante da cena, lembrou-se de que tinha algo a contar: 
-Sabe aquele macacão que eu ganhei de vocês, com as marcas das mãos da Dilma e de todo mundo sujas de petróleo? Pois é... O pessoal da lavanderia do palácio pegou. Sobraram só uns borrões.... 

MARIO CESAR FLORES

Semiautoritarismo maquiado
Mario Cesar Flores 
O Estado de S.Paulo - 17/08/10

A democracia nunca predominou no mundo nem induziu entusiasmo popular semelhante ao induzido por líderes carismáticos e messiânicos - no século 20 ocidental, de Hitler e Mussolini, na Europa, a Vargas, Perón e Chávez, na América do Sul. Em algumas regiões jamais existiu e é improvável que possa existir - situação refletida na resposta de cientista político russo, perguntado se Putin era democrático: "Para a Rússia é." Insere-se aí a ilusória pretensão de fazer do Iraque e do Afeganistão democracias que requerem as circunstâncias ocidentais, não transplantadas pela vitória militar.

Nos anos 1900 dezenas de milhões de europeus viram no fascismo e no comunismo totalitários opções melhores que a democracia, menos de 50% da população mundial vive hoje sob regime democrático e não se espera melhora significativa no futuro breve. Ao contrário: depois do avanço da democracia social de massa no século 20, a democracia vive hoje restrições em suas combinações de liberdade civil, mercado e interveniência estatal e corre o risco de retrocesso, já transparente em países, inclusive da América Latina, onde a eleição do chefe do Executivo, ungido à liderança redentorista rotulada de democracia, é pretendida como respaldo legítimo ao detrimento das demais instituições.

No Brasil, as razões que perturbaram a democracia no nosso passado ainda não estão satisfatoriamente superadas e algumas vêm sendo até intensificadas. Particularmente grave hoje: o descrédito das instituições representativas pluralísticas e dos agentes políticos que, pautados pela cultura patrimonial-clientelista, confundem o exercício legal com lassidão na posse do poder. Descrédito que está levando o mundo político a ser visto como defensor da reeleição e da continuidade no usufruto do poder acima dos interesses nacionais que possam prejudicá-las - precedência transparente, por exemplo, na derrubada do fator previdenciário no Congresso Nacional.

Apesar da tendência global (muito, latino-americana...) e da preocupante conjuntura brasileira, nossa normalidade processual democrática não está ameaçada, intervenções à século 20 são implausíveis hoje. Mas essa implausibilidade tem limites e nossa fragilidade política abre espaço, se não ao trauma, ao menos a medidas não exatamente na ortodoxia democrática, ao semiautoritarismo maquiado de democracia, que, sem agredi-la ostensiva e radicalmente, mutila a concepção da democracia pluralista e representativa. E não será o caso de atribuir eventuais atribulações à interferência estrangeira: os interesses multinacionais preferem tranquilidade política e segurança jurídica, para investir e lucrar. Tampouco aos militares, que, ao contrário, desejam a consolidação do regime democrático, desejam que os políticos aprimorem a democracia e lhes assegurem espaço funcional para suas finalidades precípuas.

A responsabilidade caberá à combinação de nossas mazelas políticas (em evidência porque da política depende a correção de tudo) com as socioculturais, à combinação da fragilidade de dois requisitos da democracia - povo educado e em segurança socioeconômica, para exercer seus direitos imune ao fascínio populista ilusório, e atores políticos capazes e éticos - com a cultura sebastianista herdada do absolutismo português e estimulada por ideias do positivismo, fascismo e socialismo. Combinação em que o Estado é visto como a solução de todos os problemas e a fonte de benesses de toda ordem.

O Brasil desejável e possível exige bons alicerces políticos, e - ao contrário do regime de Franco, que, superado o trauma da guerra civil, facilitou a formação de quadros para a democracia que inexoravelmente o seguiria na Espanha - nosso regime de 1964 não foi feliz nesse campo. A insuficiente emersão da política de qualidade acabou desembocando na política medíocre, permeada pelo populismo por vezes proxeneta irresponsável em temas nacionais (previdência, por exemplo) e irrealista em internacionais, pelo arrivismo que transforma a política, de sacerdócio cívico, em meio de vida patrimonialista, caracterizado pelo cultivo do usufruto do poder.

O clima de avanço econômico que estamos vivendo e alguns aspectos efetivamente positivos (nem todos são) do assistencialismo ajudam a mistificar os riscos da situação política. Entretanto, mais dia, menos dia, a deterioração da prodigalidade mágica (?) do BNDES, a exaustão do modelo macunaíma da cidadania "subprime", em que crédito e endividamento são vistos como aumento da renda, a violência e a criminalidade, a má qualidade da educação e da saúde, o descalabro infraestrutural e outros problemas de magnitude similar vão fragilizar a euforia. Em coerência com o DNA sociopolítico latino-americano, a consequência será a atração por soluções salvacionistas, em geral com nuanças "menos democráticas". A mais provável hoje: o populismo semiautoritário amparado no número emocional, que não é garantia de acerto (Sócrates foi condenado por maioria, Barrabás foi preferido a Jesus e o apoio do povo alemão permitia que Hitler se dissesse democrático), e na cooptação do capital, via benesses e obras públicas do Estado, e do trabalho, via sindicalismo oportunista.

É da natureza intrínseca dessas soluções que os conluios "fisiológicos", descomprometidos com a ética e o rigor do direito, facilitem a formulação da estrutura legal que confere ao poder redentorista o respaldo da tintura de legitimidade democrática para práticas semiautoritárias - para o cerceamento da liberdade de expressão e de outras liberdades civis, para restrições a direitos, como o de propriedade. Facilitem, enfim, a estruturação legal do governo forte de perfil semiautoritário, diferente do Estado democrático forte como deve ser. Há que estar atento a essa hipótese, de que é exemplo relevante hoje a Venezuela, vista com simpatia mimética por segmentos políticos brasileiros!

ALMIRANTE DE ESQUADRA (REFORMADO)

ALEXANDRE BARROS

Quem mais ainda é de esquerda?
Alexandre Barros 
O Estado de S.Paulo - 17/08/10

A esquerda completou 200 anos. Começou na Revolução Francesa. Eram os antimonarquistas que, na Assembleia dos Estados Gerais, se sentavam do lado esquerdo. Desde então, a esquerda foi mudando sutilmente de sentido, mantendo a ideia geral de que esquerda eram os favoráveis ao povo e contra os privilégios.

O progresso tecnológico que tomou impulso ali por 1850 e a Revolução Soviética de 1917 mudaram o mundo, mas, por inércia, perpetuou-se a ideia de que esquerda seria tudo o que era pró-povo. Era uma distorção, mas as desigualdades mantinham o conceito vivo, já apoiado na bengala.

A partir de 1950 o consumo de massa deu os primeiros passos, com o fim da 2.ª Guerra Mundial e a aceleração do crescimento nos Estados Unidos, na Europa do Plano Marshall e no Japão. A tomada do poder pelos comunistas de Mao Tsé-tung, na China, e a guerra fria engessaram o conceito, mas nessa altura ele já andava de muletas, e não mais de bengala.

A política brasileira manteve, entretanto, uma característica curiosa, herdada, talvez, do populismo getulista. Todos queriam ser a favor do povo e, encabulados, definiam-se como "meio de esquerda". As ditaduras latino-americanas iniciadas nas décadas de 1960 e 1970 ajudavam. No Brasil, ser de esquerda era ser contra a ditadura, e aí o conceito parou. Velhos políticos, como os nossos principais candidatos presidenciais, formaram-se nessa época e congelaram o conceito em sua cabeça.

O País passou por muita coisa e mudou, principalmente a demografia. O Brasil de 2010 tem mais que o triplo da população da década de 1950. E esse crescimento acelerou-se até 1980, quando as mulheres brasileiras chegaram à conclusão de que não era mais vantagem ter tantos filhos, apesar do que achavam igrejas, militares e governos, que nada faziam para reduzir o ritmo de crescimento da população.

Os 66% da população brasileira nascidos a partir dos anos 50 já pegaram o conceito de esquerda à morte. O crescimento econômico acelerado incorporava cada vez mais pessoas à sociedade de consumo, por mais básico que fosse esse consumo.

A mídia de massa mostrava às pessoas como viviam a classe média e os ricos. E todos queriam ser ricos. A esquerda não era o caminho. Quando Ronald Reagan disse a Mikhail Gorbachev, em Berlim, "sr. Gorbachev, derrube esse muro", o Muro finalmente caiu em 9 de novembro de1989. Aí o conceito de esquerda perdeu qualquer significado, inclusive no Brasil.

Curiosamente, ainda em 2010 os dois candidatos à Presidência da República mais bem colocados nas pesquisas, formados politicamente que foram durante o regime militar, continuam com a dicotomia maniqueísta. Parecem não perceber que o Brasil e o mundo mudaram.

Fernando Henrique Cardoso, que, alegadamente, teria dito "esqueçam tudo o que eu escrevi", libertou-se das algemas. Lula só era "de esquerda" porque seus opositores assim o definiam. Ele estava fora da ideia de esquerda dos tempos da guerra fria. No dizer de um general importante do período 1964-1990, Lula sempre foi do sistema, isto é, ele lutou com as armas políticas aceitas e possíveis do fim do regime militar. Marina Silva é outra que não se encaixava nisso. Estava lutando pela sua floresta e era mais verde do que o azul ou o vermelho da guerra fria.

Mas os dois candidatos majoritários nas pesquisas seguem atraídos por conceitos que não fazem mais sentido. Em sua retórica de campanha batalham para responder à pergunta que o eleitorado não está fazendo: quem é mais de esquerda?

A candidata Dilma Rousseff (PT) - que num esquema tradicional seria chamada "de esquerda" -, curiosamente, porém, busca se afastar um pouco do conceito oco, enquanto o candidato José Serra (PSDB) se apega a ele, tentando convencer o eleitorado de que é mais "de esquerda" que sua principal concorrente.

Enquanto isso, em outros pontos do universo político, Aldo Rebelo, do PCdoB (SP), apoia e promove um projeto de lei para desengessar as regulamentações ambientais e facilitar o crescimento do moderno agronegócio brasileiro, e outros projetos essenciais para o enriquecimento. Uma postura totalmente inesperada para os que ainda se apegam aos conceitos anacrônicos de esquerda e direita. Eduardo Campos, do PSB, governador de Pernambuco, neto de Miguel Arraes, livrou-se da prisão conceitual e faz um governo tão livre quanto possível da dicotomia ultrapassada. Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de Janeiro, filho de um comunista histórico, possivelmente ganhará em primeiro turno tentando ser um governador moderno.

Em São Paulo, o presidenciável José Serra, que insiste em se dizer de esquerda, quase não fala com o candidato a governador pelo PSDB, que faz questão de não ter nada que ver com esquerda ou direita, tendo chegado a ser apelidado de "picolé de chuchu", numa analogia com o que de mais insosso pode existir em gastronomia.

Quando será que os candidatos a presidente vão acordar e perceber o que o povo brasileiro já aprendeu: que a esquerda e a direita ficaram ocas? Elas não querem dizer mais nada. Com inflação baixa, crédito abundante e produtos para consumir, os eleitores de hoje são conservadores em relação a manter o que conquistaram ou ganharam nos últimos três governos - Itamar Franco, Fernando Henrique e Lula.

Roucos de tanto ouvir isso, os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas bradam coisas que a maioria do eleitorado brasileiro nem sequer sabe o que querem dizer. Insistem em responder à pergunta: quem é mais de esquerda? Quando o máximo que o moderno eleitorado brasileiro, de 135 milhões de pessoas, quer saber mesmo é: quem mais ainda é de esquerda?

Acordem, Dilma Rousseff e José Serra, parem de se esforçar para responder à pergunta que o Brasil não está mais fazendo.

CIENTISTA POLÍTICO, É DIRETOR-GERENTE DA EARLY WARNING: OPORTUNIDADE E RISCO POLÍTICO (BRASÍLIA).

ILIMAR FRANCO

Palavras de ordem 
Ilimar Franco 
O Globo - 17/08/2010

A preocupação do comando da campanha de Dilma Rousseff, agora que a petista passou a liderar as pesquisas em todos os institutos, é com a capacidade de os próprios correligionários produzirem fatos negativos. Os aloprados de 2006 assombram os petistas. São três as frases mais ouvidas no Estado maior dilmista: “Não podemos errar”, “não fazer marola” e “cuidado com o salto alto”.

Para todos os gostos

Além do material tradicional de propaganda, as campanhas presidenciais estão investindo também em toques de celular. A de José Serra (PSDB) estimula seus militantes a baixarem em seu telefone o jingle do candidato. A militância de Dilma Rousseff (PT) está atendendo o celular até com trechos da resposta que a petista deu ao senador José Agripino (DEMRN), em uma comissão do Senado, sobre sua atuação durante a ditadura militar.

São frases como: “Não é possível supor que se dialogue com o pau de arara”. A de Marina Silva (PV) disponibiliza o jingle da campanha, em várias versões, para toque de celular.

Tem muito chão ainda. O horário eleitoral gratuito só começa amanhã (hoje)” — Arnaldo Madeira, deputado federal (PSDB-SP), sobre as últimas pesquisas

APOIO. A atriz Beatriz Segall (foto) gravou depoimento para José Serra sobre a atuação do candidato contra a ditadura militar.

“Serra apareceu na minha casa, porque naquele tempo era assim. Foi alguém que marcou muito lá em casa. Marcou porque ele brincava com as crianças, arrumou livros, fez um monte de coisas lá em casa desse tipo”, disse ela. O vídeo aparece no site sob o título “Por que sou Serra”.

No banho

promessa de revitalizar o Rio das Velhas (MG) não foi cumprida pelo ex-governador Aécio Neves, mas, no sábado, numa área já despoluída, Aécio e o governador Antonio Anastasia colocaram seus calções de banho e caíram na água.

Carona

Candidato à reeleição, o deputado Lindomar Garçon (PV-RO) fez de tudo para aparecer com o presidente Lula na visita às obras da usina de Jirau. Para ele, que negou traição a Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT) “tem potencial”.

Economizando na propaganda

A campanha de José Serra vai montar 40 comitês regionais em Minas para tentar reverter a ultrapassagem de Dilma Rousseff no estado. Mas os tucanos mineiros reclamam de falta de material de propaganda. “O comando nacional não considera nada além de propaganda na TV. Não temos adesivo, cartaz, bottom, nada. Aí depois a queixa vem para cima da gente”, reclamou o presidente do PSDB-MG, Nárcio Rodrigues.

As pesquisas e o discurso dos tucanos

Apesar dos resultados das pesquisas, o comando da campanha tucana não entrega os pontos. Além de apostar tudo na propaganda na TV, seus integrantes minimizam as pesquisas. É comum ouvir a frase: “A pesquisa que vale é a das urnas”. O ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), em seu ex-blog, sentenciou ontem que chegou ao fim a transferência de votos do presidente Lula para sua candidata: “Dilma chegou aos 40%. Podemos chamar esses 40% de efeito-poste”.

MANUEL ZELAYA, presidente deposto de Honduras, participa hoje de seminário da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O debate será: “Os Desafios Contemporâneos da América Latina”

DISSIDÊNCIA. O tucano José Serra também conquista apoio de governistas. No fim de semana, com o vice Indio da Costa (DEM), pediu votos em Nova Iguaçu (RJ), ao lado do deputado Nelson Bornier (PMDB-RJ).

O BLOG do presidente do PTB, Roberto Jefferson, estava fora do ar ontem. Ele explica: “Esqueci de pagar a mensalidade de R$ 39”.

MERVAL PEREIRA

Zona de conforto
Merval Pereira
O GLOBO - 17/08/10 

Não poderia haver situação mais confortável para a candidata oficial do que começar a campanha de rádio e televisão hoje com as pesquisas mostrando-a em ascensão e com a possibilidade de vencer já no primeiro turno. Não era esse o cenário que o candidato oposicionista imaginava, e provavelmente a estratégia montada deve ter sido alterada na última hora

Todas as contas de José Serra eram de chegar ao horário eleitoral pelo menos em situação de empate técnico, para virar o jogo com o auxílio da campanha eletrônica e dos debates que ainda se realizarão.

O problema é ainda maior porque o tucano está perdendo força em estados e mesmo regiões onde deveria ter seu melhor suporte eleitoral: em São Paulo, com reflexos na região Sudeste, e no Sul do país.

Desde a última eleição, o país vem votando dividido por regiões no primeiro turno, o que o torna muito semelhante, em termos eleitorais, aos Estados Unidos, que têm estados vermelhos (republicanos) e estados azuis (democratas).

E existem os estados que são chamados de “campos de batalha”, onde os dois partidos disputam os votos de maneira equilibrada.

O presidente Barack Obama se elegeu em 2008 tendo vitórias históricas em estados que tradicionalmente optavam por candidatos republicanos, como Ohio e Pensilvânia.

E ganhou também em “campos de batalha” como Virgínia, que não escolhia um candidato democrata desde 1964, mas mesmo assim não era considerado um estado “vermelho”.

Aqui no Brasil, as regiões Sul e Sudeste têm sido “tucanas”, enquanto o Norte e o Nordeste têm votado com o PT.

Até as pesquisas de ontem, esse equilíbrio se mantinha, embora já fosse detectado um enfraquecimento da candidatura de José Serra em estados em que a oposição domina, como os estados do Sul, onde, mesmo continuando na liderança, a distância para Dilma estava sendo reduzida.

Na região Sudeste, a vitória do PSDB dependia basicamente do tamanho da diferença tirada em São Paulo.

O ex-presidente Fernando Henrique chegou a tirar 5 milhões de votos em cima de Lula em 1998, o que certamente foi decisivo para que vencesse no primeiro turno por uma pequena margem.

O ex-governador Geraldo Alckmin, mesmo sendo derrotado, venceu em São Paulo com 3,8 milhões de votos de diferença, o que o fez vencer Lula na região Sudeste por uma diferença pequena, já que perdeu em Minas e no Rio de Janeiro e venceu por pequena margem no Espírito Santo.

O candidato José Serra, até o momento, não conseguiu tirar nem mesmo a vantagem mínima em São Paulo, ficando abaixo do histórico do seu partido.

Ele também começou a campanha vencendo em Minas, mas deixou escapar esse momento, e hoje Dilma já vence lá por diferença semelhante à que Lula ganhou em 2002 e 2006.

São Paulo, que é um estado “tucano”, terá que melhorar a performance a favor de Serra se o PSDB quiser ter a chance de ir para o segundo turno.

Já Minas Gerais, embora governada há oito anos por Aécio Neves, nunca pode ser considerado um estado “tucano”, pois o PT sempre foi forte por lá, e sobretudo Lula tem uma popularidade grande no estado.

Minas é um típico “campo de batalha” onde a eleição pode vir a ser decidida se o ex-governador Aécio Neves conseguir reverter o quadro que no momento é favorável ao candidato da coligação petista Hélio Costa e à candidata oficial Dilma Rousseff.

Não há dúvida de que, no momento, está mais fácil Dilma vencer no primeiro turno do que Serra conter sua queda e tentar reverter a situação no segundo turno.

Especialmente porque parece que ele vem perdendo votos diretamente para Dilma, o que faz com que não importe se a candidata Marina Silva mantenha os cerca de 10% de apoio.

Há, porém, questões que devem ser observadas diante da experiência que já temos em campanhas eleitorais e pesquisas.

Na eleição de 2006, o presidente Lula, tentando a reeleição, iniciou a campanha de rádio e televisão com 55% de votos válidos — mais, portanto, do que os 51% que Dilma tem hoje — e acabou com 48,61%.

É bem verdade que, para impedir que ganhasse no primeiro turno, como todas as pesquisas previam, houve o episódio dos “aloprados” comprando com uma montanha de dinheiro vivo um dossiê com supostas acusações contra o candidato José Serra, que disputava o governo de São Paulo.

É também importante frisar que, àquela altura, ainda com sequelas do mensalão, Lula tinha 55% de avaliação de “bom e ótimo” nas pesquisas, e hoje tem 77%. Mas, como não é ele que concorre, e sim uma sua “laranja eleitoral”, a transferência de votos ainda não é total, e possivelmente não será.

O resultado da pesquisa Ibope de ontem — Dilma com 51% e Serra, 38% dos votos válidos — é curiosamente quase a repetição do final do primeiro turno de 2006, se contarmos a margem de erro: Lula, 48,61% e Alckmin, 41,6%.

Em teoria, esta seria a posição já fixada do eleitorado, com a diferença importante a favor de Dilma de que ela chega a esses números em ascensão, enquanto Serra chega em queda.

Ao contrário, em 2006, quem caiu foi o presidente Lula, e Alckmin cresceu quase 20 pontos durante a campanha de rádio e televisão.

Por outro lado, não existe na nossa curta experiência de eleição presidencial com segundo turno exemplo de viradas: Collor e Lula foram para o segundo turno nas eleições que venceram à frente de seus adversários e mantiveram a dianteira.

Mas há exemplos regionais de viradas, o mais espetacular deles acontecido em Minas, quando o mesmo Hélio Costa deixou de ganhar a eleição no primeiro turno por uma diferença mínima e perdeu no segundo turno para Eduardo Azeredo, o que lhe valeu a fama de ser um “cavalo paraguaio”, que não aguenta a reta final e perde sempre a corrida.

Com a ajuda do presidente Lula, o candidato do PMDB quer exorcizar essa fama. Mas é ela, além da popularidade, que alimenta a esperança do ex-governador Aécio Neves de reverter o jogo.

Se houver segundo turno em Minas, e Alckmin vencer no primeiro turno em São Paulo, é possível que Serra tenha uma performance melhor num eventual segundo turno frente a frente com Dilma.

Mas, para isso, será preciso primeiro frear a subida da candidata oficial.

ANCELMO GÓIS

Fundo da bola 
Ancelmo Góis 

O Globo - 17/08/2010

Lula já deu sinal verde. Orlando Silva, ministro dos Esportes, detalha um projeto de criação de um fundo de previdência privada para jogadores de futebol: — A profissão é muito curta e ingrata. Tem muito jogador antigo passando necessidade.

Transferência...

A ideia é que o fundo seja abastecido com um percentual sobre o dinheiro das transferências de jogadores entre clubes.

Bienal dos miúdos

Domingo, na Bienal de São Paulo, Ziraldo fazia palestra para a criançada quando perguntou quem entraria a seguir. Os miúdos gritaram que era Thalita Rebouças, a escritora de grande sucesso com o público juvenil.

O mestre reagiu, gaiato: — Odeio essa menina. As filas de autógrafo dela são muito maiores que as minhas...

A propósito...

A fila de autógrafos de Thalita, que já vendeu 600 mil livros, durou... quatro horas!

Basta de teorias

O Conselho de Psicologia do Rio enviou comunicado aos profissionais da área, determinando que não deem mais declarações sobre o caso do goleiro Bruno.

Alô, MinC!

É pena. O Cine Edgar, único de Cataguases, MG, terra de Humberto Mauro, que exibiu ali seu primeiro longa, “Na primavera da vida”, em 1926, está para virar... supermercado.

Uma turma fez um curtamanifesto que será exibido em canais abertos e em festivais

O FRIO DESSES dias — brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr... — até diminui diante da beleza cinematográfica deste ipê, que reina absoluto na Praça da República, em Niterói. O autor da foto, Vinícius Martins, comenta que a visão é um bálsamo para quem passa pela sempre congestionada Avenida Amaral Peixoto, a principal do Centro da antiga capital fluminense, às margens da praça. “Com um visual desses, o dia tem tudo para começar bem”, conclui ele. Eu concordo

Ouro na internet

Hospeda-se no site brasiliana.

com.br a íntegra, até agora, de 80 livros da famosa coleção “Brasilianas”, editada originalmente, logo depois da Revolução de 1930, pela Companhia Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato. Trata-se de um megaprojeto tocado nos últimos três anos pela UFRJ.

O objetivo é digitalizar e franquear na rede os 415 volumes da coleção, com autores que retrataram o país.

Segue...

Segundo o professor Carlos Vainer, coordenador do projeto, a ideia é o leitor ter na internet duas versões de cada livro, uma em fac-símile da original e outra mais moderna, com atualização ortográfica

Que feio

Wando, o cantor que distribui calcinhas nos shows, furou a fila de embarque do voo da Gol RioBrasília das 9h50m de domingo.

Darcy é nosso

Polêmica no Conselho Curador da Fundação Darcy Ribeiro.

O atual presidente, sobrinho de Darcy, Paulo Ribeiro, resolveu mudar a sede do Rio para Brasília e levar a biblioteca do senador para lá.

Intelectuais cariocas se movimentam para impedir.

Mistério no táxi

Três pessoas pararam um táxi (um Zafira), sábado, às 6h30m, na Rua Viveiros de Castro, Copacabana, para ir ao Aeroporto Santos Dumont.

Quando o motorista abriu o porta-malas para pôr a bagagem, havia um homem ali, dormindo ou desacordado. Diante do pavor, o taxista arrancou.

Há testemunhas.

Alô, Patrícia!

O Flamengo, até hoje, não pagou os direitos trabalhistas do técnico Andrade

Deus castiga

No centro social do vereador Jefferson Dias da Silva, em Queimados, RJ, o Ministério Público Eleitoral encontrou 61 caixas de remédios vencidos,

Direito de resposta

Jaguar, indignado, exigiu direito de resposta. Saiu aqui que o lendário pinguço estava se “embriagando”, domingo, com um sorvete-iogurte Yogoberry, no Leblon.

Alega que não era para ele, mas para sua mulher. Ah, bom!

No mais...

Quem já provou o sorvete de mangaba da antiga Cinelândia, em Aracaju, tem direito de achar o sorvete-iogurte... deixa pra lá.

ESTRELA DA
nossa ginástica, Daniele Hypolito aparece em versão noite no show do cantor americano Ne-Yo, no Riocentro

ATORES QUERIDOS
e talentosos, Luiz Mello e Vera Holtz exibem sua simpatia na estreia da peça “Fragmentos do desejo”, no CCBB do Rio

PONTO FINAL
A Comlurb, que bom, está incentivando a coleta seletiva de plástico e a reciclagem.

A estatal carioca do lixo testa na Praça dos Leões, no Humaitá, este escorrega de “madeira plástica” (veja ao lado). O novo material faz bonito frente às versões tradicionais em madeira e ferro, pois não enferruja, não precisa ser pintado e não solta farpas. Ganha todo mundo, a garotada e o meio ambiente.

JOÃO MASSUD FILHO

Inovação em medicamentos
JOÃO MASSUD FILHO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 17/08/10

Qual portador de câncer com poucas perspectivas de cura não se candidataria a participar de uma pesquisa clínica que lhe dê esperança?



Estimativas indicam que, em 1950, o desenvolvimento de um novo medicamento custava cerca de US$ 1,5 milhão, e o dossiê para registro sanitário continha menos de cem páginas. Atualmente, calcula-se um custo de desenvolvimento em torno de US$ 1 bilhão, e o dossiê de registro chega a 300 mil páginas.
Ao longo do tempo, houve um aumento significativo das exigências científicas, éticas e legais para desenvolver produtos farmacêuticos seguros e eficazes. O exemplo infeliz da talidomida foi o marco decisivo para essa busca.
Os dados relativos ao aumento da longevidade, diminuição dos eventos cardiovasculares, tratamento da Aids, cura de alguns tipos de câncer e cura de doenças infecto-contagiosas são a melhor resposta àqueles que demonizam a indústria farmacêutica e as pesquisas clínicas que buscam novas opções terapêuticas.
A inovação é fundamental para o desenvolvimento de produtos que aliem melhor eficácia e segurança.
Se assim não fosse, ainda estaríamos usando reserpina para o tratamento da hipertensão arterial.
Essa droga, apesar de limitadamente efetiva, induzia à depressão e ao suicídio em um número significativo de pacientes.
O desenvolvimento de um produto farmacêutico pode levar até 15 anos. Isso significa que produtos hoje revolucionários foram concebidos no final da década de 90.
A indústria multinacional procura desenvolver estudos clínicos com seus produtos em diversos países para cobrir o máximo possível da amostragem étnica. Nesse sentido, é preciso que se diga que 80% das pesquisas clínicas são feitas nos EUA, na Europa e no Japão.
Devemos lembrar que o Brasil é um das dez maiores economias do planeta e um dos dez maiores mercados farmacêuticos. No entanto, recebemos menos de 1% de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento. Por que isso ocorre?
No Brasil, sofremos com a burocracia, a ideologia e o descaso para com os doentes que poderiam ser incluídos nas pesquisas clínicas.
Qual portador de câncer com pouca perspectiva de cura não se candidataria a participar de uma pesquisa clínica que lhe dê uma esperança?
Esse direito individual deve ser respeitado, e não ser submetido à tutela do Estado.
Qual a vantagem desses estudos para a nossa população? Dar chance para um novo tratamento, melhorar o conhecimento científico, capacitar melhor os centros de pesquisa e atrair investimentos que podem se reverter em benefícios comunitários.
Nos EUA, Alemanha e Inglaterra, um pedido para levar uma nova molécula da fase de pesquisa para a fase 1 (primeiro uso no ser humano) leva quatro semanas. No Brasil, este tempo varia de seis a 12 meses. E não porque sejamos mais éticos ou rigorosos. Somos, na verdade, mais burocráticos e enviesados ideologicamente.
Se quisermos um país soberano em toda a sua plenitude, devemos incentivar a pesquisa e desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, iniciando-se na saúde.


JOÃO MASSUD FILHO, 61, médico, é professor do curso de especialização em medicina farmacêutica da Universidade Federal de São Paulo.