"Entreatos"
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/10
Revendo agora, fiquei chocada e pensei que, se fosse vivo, Maquiavel seria considerado um ingênuo
OUTRO DIA revi, no Canal Brasil, o excelente documentário de João Moreira Salles "Entreatos", feito durante a campanha presidencial de 2002.
A equipe seguiu de perto o então candidato Lula, e é incrível como o tempo transforma tudo: o candidato mudou, meu senso crítico mudou, seus companheiros hoje são outros.
Foi curioso ver, no documentário, grupos de pessoas comuns que, nos intervalos dos debates, opinavam, dizendo quais os pontos altos e baixos do candidato; essas informações eram passadas por celular aos assessores diretos de Lula, que as repassavam ao candidato.
"Ele não deve dizer "precisamos fazer", deve dizer "vamos fazer", era um tipo de instrução enviada, e por aí vai. Na época fiquei abismada com o que me pareceu o auge -no bom sentido- da competência profissional. Revendo agora, fiquei chocada e pensei que, se fosse vivo, Maquiavel seria considerado um ingênuo.
Os coadjuvantes, que não eram conhecidos na época, hoje são famosos, e lá estão. Faltaram alguns, mas os que participaram são facilmente reconhecíveis do tempo do mensalão, quando a TV transmitia ao vivo a CPI. Lá estavam: o tesoureiro do PT, Silvinho Pereira, o publicitário responsável pela campanha, Duda Mendonça, preso algum tempo depois numa rinha de galos, Lulinha, filho do candidato e hoje empresário muito bem sucedido, o ex-ministro Antonio Palocci, que teve que se demitir por ter mandado abrir a conta bancária do caseiro Francenildo, o mais poderoso de todos, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, denunciado como chefe do mensalão e da quadrilha, que precisou deixar o cargo e teve seus direitos cassados até 2015, e outros menos votados.
O PT ficou sem candidato e sobrou para a ex-pedetista Dilma Rousseff, que aliás virou petista em 2001.
O documentário, nove anos depois, parece o filme de uma gangue tramando um golpe; aguardamos ansiosos o "Entreatos 2", contando os lances inesquecíveis dos últimos sete anos (talvez dirigido por Coppola), e esperando que não seja preciso haver o "Entreatos 3".
PS. - Se existe algum país com a obrigação de ajudar a Grécia, é a Inglaterra. O novo primeiro-ministro poderia fazer bonito e dar um empurrão para que sejam devolvidos os mármores saqueados do Partenon pelo então embaixador britânico Lord Elgin.
"Os mármores de Elgin", como são chamados, estão expostos na sala mais visitada do museu Britânico, em Londres, e são mais do que a metade das preciosidades encontradas no templo grego.
Em 2009, quando o museu da Acrópole foi inaugurado, em Atenas, todo o mundo diplomático esteve presente, com exceção do embaixador inglês, e funcionários da embaixada. Nos anos 80, a atriz grega Melina Mercouri, na época ministra da Cultura, fez uma campanha pelo mundo implorando à Inglaterra que devolvesse as estátuas pilhadas para a ocasião dos Jogos Olímpicos de 2004, mas em vão.
O museu Britânico não admite, sequer, essa possibilidade; fala, no máximo, de um empréstimo. A Inglaterra não perde a mania de levar "lembrancinhas" dos países pelos quais passa.
A equipe seguiu de perto o então candidato Lula, e é incrível como o tempo transforma tudo: o candidato mudou, meu senso crítico mudou, seus companheiros hoje são outros.
Foi curioso ver, no documentário, grupos de pessoas comuns que, nos intervalos dos debates, opinavam, dizendo quais os pontos altos e baixos do candidato; essas informações eram passadas por celular aos assessores diretos de Lula, que as repassavam ao candidato.
"Ele não deve dizer "precisamos fazer", deve dizer "vamos fazer", era um tipo de instrução enviada, e por aí vai. Na época fiquei abismada com o que me pareceu o auge -no bom sentido- da competência profissional. Revendo agora, fiquei chocada e pensei que, se fosse vivo, Maquiavel seria considerado um ingênuo.
Os coadjuvantes, que não eram conhecidos na época, hoje são famosos, e lá estão. Faltaram alguns, mas os que participaram são facilmente reconhecíveis do tempo do mensalão, quando a TV transmitia ao vivo a CPI. Lá estavam: o tesoureiro do PT, Silvinho Pereira, o publicitário responsável pela campanha, Duda Mendonça, preso algum tempo depois numa rinha de galos, Lulinha, filho do candidato e hoje empresário muito bem sucedido, o ex-ministro Antonio Palocci, que teve que se demitir por ter mandado abrir a conta bancária do caseiro Francenildo, o mais poderoso de todos, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, denunciado como chefe do mensalão e da quadrilha, que precisou deixar o cargo e teve seus direitos cassados até 2015, e outros menos votados.
O PT ficou sem candidato e sobrou para a ex-pedetista Dilma Rousseff, que aliás virou petista em 2001.
O documentário, nove anos depois, parece o filme de uma gangue tramando um golpe; aguardamos ansiosos o "Entreatos 2", contando os lances inesquecíveis dos últimos sete anos (talvez dirigido por Coppola), e esperando que não seja preciso haver o "Entreatos 3".
PS. - Se existe algum país com a obrigação de ajudar a Grécia, é a Inglaterra. O novo primeiro-ministro poderia fazer bonito e dar um empurrão para que sejam devolvidos os mármores saqueados do Partenon pelo então embaixador britânico Lord Elgin.
"Os mármores de Elgin", como são chamados, estão expostos na sala mais visitada do museu Britânico, em Londres, e são mais do que a metade das preciosidades encontradas no templo grego.
Em 2009, quando o museu da Acrópole foi inaugurado, em Atenas, todo o mundo diplomático esteve presente, com exceção do embaixador inglês, e funcionários da embaixada. Nos anos 80, a atriz grega Melina Mercouri, na época ministra da Cultura, fez uma campanha pelo mundo implorando à Inglaterra que devolvesse as estátuas pilhadas para a ocasião dos Jogos Olímpicos de 2004, mas em vão.
O museu Britânico não admite, sequer, essa possibilidade; fala, no máximo, de um empréstimo. A Inglaterra não perde a mania de levar "lembrancinhas" dos países pelos quais passa.