quinta-feira, maio 06, 2010

MÔNICA BERGAMO

Garota de cinema 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 06/05/2010

Cristina Lago, 28, cresceu em Rondônia e se mudou para o Rio para estudar teatro e dança. Depois de atuar em algumas peças, fez seu primeiro longa, "Maré", de Lúcia Murat. Agora, ela se prepara para ver seu segundo filme, "Olhos Azuis", de José Joffily, estrear no dia 28. Sua atuação como a prostituta Bia lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Paulínia, em 2009. Cristina também faz uma garota de programa em "Bruna Surfistinha". No longa, ela é Gabi, melhor amiga da protagonista.

Bate na madeira
Em meio à greve dos servidores do Ibama, 24 dos 26 agentes de fiscalização ambiental do Estado de SP ameaçam entregar seus cargos. Acusam setores do órgão de interferir em um processo para favorecer a construtora Queiroz Galvão. A empresa havia sido autuada em 2007 por exportar madeira serrada para uma obra, sem a documentação exigida pelo Ibama. Os fiscais alegam que, se o caso tivesse tido seu trâmite normal, a construtora não teria a certidão negativa que lhe permitiu concorrer no leilão bilionário da usina de Belo Monte, no mês passado.

BATE NA MADEIRA 2
No processo, a Queiroz afirmou que o material apreendido eram rodapés, que dispensavam autorização para serem transportados. A empresa solicitou que o processo fosse analisado pela Coordenação Geral de Recursos Florestais do Ibama, em Brasília, e diz que a protelação do caso ocorreu por causa de pedidos feitos por técnicos do próprio órgão. E que toda a compra da madeira ocorreu de forma regular. O Ibama não se manifestou.

CAMINHO ABERTO
As tensões geradas nos meios militares com a proposta de criação da Comissão Nacional da Verdade (que vai apurar violações de direitos humanos durante o regime militar) estão superadas. O ministro Nelson Jobim, da Defesa, afirmou à coluna ontem que já colocou a sua assinatura no projeto. E diz que o presidente Lula enviará a proposta ao Congresso nos próximos dias. "Não se trata de buscar punições. Nem poderia. É uma questão da memória do país", diz Jobim.

CALENDÁRIO
Já o relatório em que Jobim indicará ao presidente Lula o modelo dos caças que, em sua opinião, devem ser adquiridos pelo governo brasileiro não deve ficar pronto na próxima semana, como o ministro previa. Ele foi chamado por Lula para viajar a Moscou, o que atrapalhou sua programação. Jobim dá todas as pistas de que indicará a compra dos aviões Rafale da França. Mas não confirma publicamente sua preferência. "Eu sou juiz. Só falo nos autos."

AGRICULTURA
A Aeronáutica já fez um relatório dando preferência aos caças Gripen, da Suécia -entre outras coisas, por serem mais baratos que os franceses. Jobim ontem afirmou: "O Brasil não vai comprar nada a preço de banana, porque nós não queremos bananas".

AUSÊNCIA FASHION
Mais uma baixa na SPFW (São Paulo Fashion Week). Além das grifes Huis Clos e Maria Garcia, a Carlota Joakina, segunda marca da estilista Gloria Coelho, não vai participar da próxima edição do evento. O desfile estava na programação oficial, marcado para o dia 14 de junho, mas, segundo a estilista, como houve a antecipação do calendário em uma semana, por causa da Copa, não haveria tempo para realizar a apresentação. O desfile da marca principal de Gloria está mantido.

PLATEIA VIRTUAL
E Reinaldo Lourenço vai diminuir de 400 para 250 o número de convidados de seu desfile na SPFW. "Quem não tem convite pode assistir pela internet, por meio de sites e blogs. A moda precisa de mudanças. É um modelo mais moderno, eficiente e profissional", diz.

ROTEIRO
O estilista italiano Roberto Cavalli quer colocar o Brasil no roteiro de comemorações dos 40 anos de sua marca. Ele negocia vir a São Paulo em novembro para realizar um desfile e um workshop. Gisele Bündchen é a nova garota propaganda da grife.

GIRASSOL DAS OITO
A festa de lançamento de "Passione", próxima novela das oito da Globo, na segunda, em São Paulo, terá 1.800 girassóis na decoração. A flor é típica da região da Toscana, na Itália, onde a trama teve alguns capítulos gravados. Além das flores, a Casa Fasano, local da festa, terá uma exposição de peças de bicicletas e de carros de Stock Car, elementos que integram outros dois núcleos da novela.

CURTO-CIRCUITO
YUAN T. LEE, cientista de Taiwan e Prêmio Nobel de Química em 1986, visita hoje o instituto Butantan.
O FORUM E-commerce Summit 2010 debate o futuro do comércio eletrônico hoje, das 8h30 às 18h, no WTC.
CLÔ OROZCO recebe algumas clientes em sua casa hoje, com almoço preparado por ela para comemorar o Dia das Mães.
A BAILARINA Sônia Galvão apresenta o espetáculo "Arpana" hoje, às 21h, no Teatro de Dança. Classificação: livre.
A BANDA "Trupe Chá de Boldo" lança o CD "Bárbaro" hoje, às 23h, com show no Bleecker Street. Classificação: 18 anos.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasil registra mais de 200 fusões e aquisições no 1º quadrimestre 
Maria Cristina Frias  

Folha de S.Paulo - 06/05/2010



Foram registradas 208 operações de fusões e aquisições no Brasil nos primeiros quatro meses de 2010, segundo levantamento da KPMG.

O número de transações realizadas cresceu muito em relação às 135 do mesmo período de 2009, ano marcado pela crise econômica.

O volume, porém, é menor que os 225 registrados no primeiro quadrimestre de 2008, quando o mercado vinha extremamente aquecido e estimulado pela onda de IPOs (ofertas iniciais de ações) do ano anterior, que deu fôlego às compras e vendas de empresas ocorridas naquela época.

A quantidade de operações fechadas em abril (48) caiu em relação a março (59), sinal de que os próximos meses devem ser menos aquecidos. O primeiro trimestre, que havia registrado recorde histórico de fusões e aquisições desde a década de 1990, foi marcado por negociações que tinham sido represadas em 2009 pela crise.

"O ano de 2010 será bom, mas não se pode esperar que supere 2007, época em que muitas empresas abriram capital e saíram se consolidado no mercado, até porque os IPOs estavam sendo feitos justamente para isso", afirma Luís Motta, sócio da KPMG.

O Brasil também não conta mais com a maciça presença de estrangeiros na liderança das transações. "Grande parte dos negócios são domésticos, de empresas brasileiras comprando estrangeiras ou brasileiras."

O cenário deve voltar a se aquecer a partir do segundo semestre. "As operações represadas aconteceram, agora devem dar uma baixada. Os negócios, que levam cerca de seis meses para serem fechados, devem voltar a aparecer com muita força a partir de julho", diz.
VIAGEM DE NEGÓCIO
A rede hoteleira InterCity iniciou o processo de internacionalização da marca. Já começaram as obras da construção da nova unidade em Montevidéu, no Uruguai, que está programada para ficar pronta em janeiro de 2012. "Será o primeiro hotel de bandeira brasileira no Uruguai", diz Alexandre Gehlen, presidente da rede. A escolha do país vizinho levou em conta o fluxo de turistas de lazer e de negócios. No ano passado, mais de 300 mil brasileiros foram para Montevidéu, segundo Gehlen. "O Mercosul está cada vez mais dando importância para o Brasil, que envia mais pessoas para a região que os mercados norte-americano e europeu", afirma o executivo. Hoje, o mercado de hotelaria de negócio vive um bom momento para investimentos. "A pior fase da hotelaria foram os anos 2003, 2004 e 2005, em que havia superoferta e baixo retorno de investimento." Em 2008 e 2009, o mercado de turismo de negócio começou a recuperar-se, atrelado ao crescimento do PIB, segundo Gehlen. "Se o PIB cresce, nós pegamos carona." A rede InterCity está presente em sete Estados brasileiros, com 16 hotéis.
TERRITÓRIO A EXPLORAR
Atualmente, quase não se usa cartão de débito nas compras feitas no comércio virtual brasileiro, segundo estudo realizado pela consultoria Bain & Co., que será divulgado hoje no fórum E-commerce Summit 2010. Mas as emissoras do dinheiro de plástico estão incrementando as suas estratégias para mudar tal realidade. "É conveniente para o consumidor e interessante para o lojista também, pois um grande número de clientes imprime o boleto para pagar a compra mas acaba desistindo antes", afirma Percival Jatobá, diretor-executivo de negócios da Visa.
CAPIXABAS 1
As exportações do Espírito Santo cresceram 10,4% em janeiro, alcançando US$ 666,7 milhões. Esse valor foi maior do que a média de exportações ao longo do período 2002-2010, segundo o Instituto Jones dos Santos Neves, ligado ao governo estadual. Em comparação com janeiro de 2009, as quantidades exportadas subiram 158,6%, enquanto os preços recuaram 42,4%. O setor metalúrgico teve alta de 70% ante dezembro.
CAPIXABAS 2
No ranking de parceiros comerciais, a China recuou. Em janeiro, ocupou a quinta colocação dentre os destinos das exportações do Espírito Santo, atrás do Japão e da Arábia Saudita. A Coreia do Sul registrou a maior absorção de produtos exportados pelo Estado, seguida pelos EUA. Quanto às importações, houve queda de 7,43% em janeiro, em relação a dezembro, e de 27,96%, quando comparado a janeiro do ano passado.
PESQUISA 1
Grandes empresas do setor de petróleo e gás, como Baker Hughes, FMC Technologies e Schlumberger, confirmaram a instalação de centros de pesquisa no país, segundo Carlos Tadeu Fraga, do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras. Fraga apresentou as oportunidades para a realização de pesquisas no Brasil, ontem, em evento organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Texas, na Offshore Technology Conference 2010.
PESQUISA 2
A uma plateia de empresários locais, em Houston (Texas), Carlos Tadeu Fraga, do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras, afirmou ontem, na Offshore Technology Conference, que "a intenção é fazer parcerias intelectuais e não apenas comercias". De acordo com Fraga, "realizar testes no Brasil é mais econômico, traz respostas mais rápidas e envolve os estudantes de nossas universidades".
GOVERNANÇA
Nos quatro principais segmentos da Bovespa, as empresas classificadas no Nível 1 e no Nível 2 tiveram aumento na instalação de Conselhos Fiscais em 2010 enquanto os segmentos do Novo Mercado e do Tradicional reduziram a instalação, segundo levantamento da Jorge Lepeltier Consultores Associados, da área de governança corporativa. Em 2009, havia 111 empresas com Conselho Fiscal instalado -em 2010, 96 empresas.
ALUGUEL
As operações imobiliárias chamadas de "sale e leaseback" -em que o proprietário vende seu imóvel e se torna inquilino do mesmo local-, que foram profundamente afetadas na crise, devem retornar aos patamares anteriores no segundo semestre, de acordo com a consultoria Binswanger Brazil. A expectativa é que as taxas dessas operações para o mercado industrial voltem a atingir 11,5% a 13%, contra os 15% a 16% na pior fase da crise.

MERVAL PEREIRA

Custos eleitorais 
Merval Pereira 

O Globo - 06/05/2010

Não é possível definir com exatidão o que aconteceu na noite de terça-feira na Câmara dos Deputados, em Brasília. O governo perdeu o controle de sua base aliada, ou não se empenhou para impedir que fossem aprovados os dois projetos que programam um rombo nas já deficitárias contas previdenciárias? É um fato sabido e notório que a imensa base que o presidente Lula montou em seu redor é muito mais defensiva do que organizada em torno de um projeto de governo.

Cada um dos vários partidos que a compõem (15? 17?) recebe um naco da máquina pública e fica responsável por defender o governo de ataques da oposição, na retórica ou no voto.

Os compromissos programáticos são fluídos e, em véspera de campanha eleitoral, em que a maioria desses mesmos partidos ainda tenta medir para que lado o vento soprará para assumir uma posição em junho, não há como controlar uma base tão heterogênea e descompromissada.

O fato é que, com o auxílio de deputados oposicionistas que agiram exatamente como o PT agia quando na oposição, o governo ficou com um problema sério de ser enfrentado em períodos eleitorais, ainda mais agora que Lula continua tendo dificuldades para fixar na população a imagem de sua candidata.

Segundo um estudo do economista Fabio Giambiagi, especialista no tema previdenciário, que se prepara para lançar na segunda quinzena deste mês, em coautoria com Paulo Tafner (do Ipea, um novo livro sobre a temática previdenciária, que se chamará “Demografia — A ameaça invisível”, o aumento da despesa primária do governo central, que corresponde especialmente a benefícios do INSS, pagamento de pessoal e transferências a estados e municípios, foi de 7,5% do PIB a par tir de 1991, podendo chegar a responder por 23,6% do PIB neste último ano do governo Lula.

Essa previsão ainda não contém o rombo programado pela aprovação do reajuste de 7,7% para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo e o fim do fator previdenciário no cálculo das aposentadorias.

Nos últimos 15 anos, a variação acumulada real do salário mínimo foi de 109,20%, mas os aposentados que ganham mais de um salário também tiveram ganho real, de 22,05%.

Com esses reajustes acima da inflação, o salário mínimo passou a ser equivalente a 40% do rendimento médio.

O fim do fator previdenciário, se ocorrer, provocará, além do aumento do déficit, uma enxurrada de ações reivindicatórias na Justiça, cujo custo será bilionário.

Para Giambiagi, o que a Câmara aprovou ontem foi “um ato digno das finanças gregas”. Se o fim do valor previdenciário for confirmado pelo Senado, diz ele, no dia em que o Brasil deixar de ser “o queridinho dos mercados, quando os EUA subirem os juros daqui a alguns anos, vamos pagar o custo dessa irresponsabilidade, com juros e correção monetária”.

Ele considera o fim do fator previdenciário mais danoso, por ser perene e permitir que se tente na Justiça invalidar seus efeitos dos últimos dez anos, quando proporcionou uma economia de cerca de R$ 10 bilhões aos cofres públicos, do que o aumento de 7,7% dos aposentados, que é pontual.

Entre as aberrações que estão sendo aprovadas antes que comece a campanha propriamente dita não está, certamente, a alteração de dois dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal propostos pelo senador Tasso Jereissati.

O consultor técnico do Senado, economista José Roberto R. Afonso, um dos “pais” da LRF, participou também dessas alterações, e ninguém melhor do que ele para atestar as vantagens da mudança proposta.

Em uma nota técnica, ele garante que ela “se presta a aperfeiçoar e reforçar a LRF, focada em estimular os investimentos do setor público, seja através de parcerias entre empresas estatais e privadas, seja diretamente pelos governos, no caso dos projetos de investimentos em modernização de gestão”.

José Roberto Afonso lembra que, quando a LRF foi feita, não havia muitas parcerias entre setor público e privado, e a mudança no artigo 40 a aperfeiçoa.

Para dar um exemplo atual, o economista lembra que a redação da lei deixa dúvidas que podem impedir um banco como o BNDES de conceder financiamento a uma empresa que tenha participação de uma estatal, ainda que minoritária (por exemplo, a da concessionária de Belo Monte), recebendo garantias da empresa controladora (por exemplo, a Eletrobrás).

Aliás, foi o próprio presidente do BNDES, Luciano Coutinho, quem pediu apoio do Senado para mudanças na lei que permitissem novos investimentos.

Quanto à alteração no artigo 64 da LRF, José Roberto Afonso lembra que o senador Tasso Jereissati apenas propõe que seja dado aos estados o mesmo tratamento já dispensado pela LRF aos municípios.

“Assim, a proposta amplia a abrangência do apoio federal para iniciativas de modernização da gestão, que não deve se limitar apenas à administração da receita, como também alcançar a racionalização do gasto público, sobretudo nas áreas sociais”.

A mudança não é para financiar qualquer investimento, nada poderá ir para obras, observa Afonso.

Ele ressalta na nota técnica que “não faz sentido que o governo estadual ou municipal que pouco arrecada, ou perde receita, de um lado, ou tenha excesso de gasto com pessoal ou com dívidas, de outro, deixe de receber apoio financeiro para investir em ações que o levariam justamente a melhorar a receita e a controlar gastos, enquanto tal suporte é permitido aos governos já com as finanças equilibradas e sadias.

EUGÊNIO BUCCI

Se a imprensa quiser melhorar
EUGÊNIO BUCCI 
O Estado de S.Paulo - 06/05/10

Na terça-feira passada, fui um dos expositores do seminário 5.ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, na Câmara dos Deputados, em Brasília. Um pouco antes de mim, falou o jornalista Sidnei Basile, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril. Em sua palestra, ele apontou alguns dos vícios mais graves da imprensa brasileira, como o de acusar alguém de crime com base em declarações de fontes que não são identificadas. Segundo Basile, o caminho para superar esses e vários outros problemas não passa por nenhuma lei, nem por atos do Estado. Passa pela autorregulação.

Cito um trecho: "Como satisfazer esse direito (o direito à informação, de que todo cidadão é titular) sem códigos de autorregulação que assegurem o direito de defesa de quem esteja sendo acusado? De que se ouçam as partes? De que se evitem ao máximo as acusações off the records? De que não se confunda o leitor, misturando, em um mesmo texto, opinião com notícia? De que não se obtenham notícias com o jornalista se fazendo passar por outra pessoa? De que não se vaze o conteúdo de fitas de áudio e vídeo sem antes explicar ao público os muitos cuidados que foram tomados para tentar obter as informações de muitas outras maneiras?" (A íntegra está em www.anj.org.br.)

De minha parte, estou de acordo com o diagnóstico. Se a imprensa quer melhorar, quer elevar sua credibilidade e atrair mais público, a autorregulação é seu próximo desafio. A razão é muito simples. A nossa experiência democrática já cuidou de demonstrar exaustivamente que leis não melhoram jornalismo nenhum. Só quem melhora a imprensa é a sociedade (em diálogo com seus jornais), independentemente do Estado.

A velha Lei de Imprensa (Lei Federal n.º 5.250, de 9 de fevereiro de 1967) foi sepultada no ano passado, finalmente. O STF declarou-a inconstitucional. O acórdão da decisão saiu no Diário de Justiça de 6 de novembro. As restrições que existiam na antiga lei não podem mais cercear a manifestação do pensamento ou o direito à informação. Nem elas nem quaisquer outras. É fato que ainda convivemos com sentenças judiciais que condenam jornais à censura prévia, como a que pesa sobre este jornal, impedido de informar seu leitor sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal. Mas, à luz da decisão do Supremo, esses desvios judiciais terão de se adequar ao entendimento do STF. Em suma, a autoridade estatal já não se pode arvorar em fiscal do jornalismo, sob nenhuma alegação. Quem cuida da imprensa são a sociedade e os jornalistas. O Estado não tem mais nada que ver com isso.

Em poucas palavras: melhorar os jornais, as revistas, os sites noticiosos e os noticiários de rádio e televisão é tarefa da sociedade. Não do governo, do Judiciário ou do Legislativo. Aí é que entra a autorregulação, cujo processo é necessariamente longo. Não existe autorregulação feita de rompante. Ela passa por pactos entre o órgão de imprensa, seu público e suas fontes, o que só se desenvolve com o tempo. Esses pactos que se traduzem em códigos de ética. Sim, códigos de ética. Os códigos explicitam valores e padrões de conduta e também deixam claros os direitos da audiência e os direitos das fontes dentro daquela publicação. Por isso podem ser úteis.

É verdade que já há jornais com códigos bastante difundidos, assim como há aqueles que têm sistemas próprios para receber e tratar as queixas da sociedade. Eles saíram na frente. A partir de agora, porém, esses mecanismos terão de se aperfeiçoar rapidamente. Códigos sucintos, simples e claros servirão de orientação para os profissionais e, ao mesmo tempo, de garantia para o leitor e as fontes.

Como e em que prazo os erros detectados serão corrigidos? Por incrível que pareça, isso ainda não é claro em várias publicações brasileiras. E quanto às fontes? Caso um entrevistado sinta que sua declaração foi distorcida, a quem ele poderá recorrer? Um leitor que pretende corrigir uma informação incorreta tem garantias de que sua carta será publicada? E o direito de resposta, como fica? Alguém acusado de uma ação imprópria, sem ter sido ouvido pela reportagem, pode pedir espaço para a sua defesa? Quem é o encarregado de receber e encaminhar sua reclamação? De quem ele terá a resposta? Em quanto tempo?

Fiquemos atentos a essas perguntas. No próximo período, vai crescer a pressão da sociedade para que elas sejam respondidas. Os órgãos de imprensa serão chamados a divulgar suas normas internas. A cada dia mais, o público vai verificar se elas são ou não são para valer.

Há um velho axioma que nos ensina: para resolver os problemas da liberdade de imprensa, só mais liberdade de imprensa. A liberdade de imprensa é também liberdade do público - liberdade para que ele discuta as notícias que recebe, para que ele cobre providências. Pela internet, pelo celular, ele já participa da confecção do noticiário com palavras, sons e imagens. Agora, vai participar também da regulação ética dos veículos. Os veículos que souberem cativar e envolver o cidadão que participa vão se destacar, vão tomar a dianteira. Quem não se mancar vai sangrar em credibilidade até definhar.

A crise da imprensa, da qual tanto se fala, não se reduz a itens como custo do papel, da tinta, da distribuição. Ela é mais profunda que a tal revolução da era digital. Ela é uma crise de envelhecimento de uma fórmula que acreditava que o monólogo seria suficiente para informar (ou doutrinar?) a sociedade. Esse envelhecimento nos levou ao casamento da irrelevância com a irresponsabilidade. Eis o que temos de mudar.

Quando autoridades estatais querem "melhorar" o jornalismo por decreto, temos o liberticídio. Daqui por diante, se jornalistas continuarem a se recusar a avaliar em público o seu próprio ofício, teremos o suicídio.

PAINEL DA FOLHA

Polícia eleitoral
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/10

A PF realiza até sexta, em sua superintendência em Brasília, seminário fechado com delegados de todo o país sobre segurança nas eleições. O evento, que ontem incluiu palestra do presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, é parte da estratégia de dar à corporação papel inédito de monitoramento da campanha.
Em abril, o anúncio de que a Polícia Federal vigiará em tempo real as contas dos candidatos suscitou polêmica jurídica, pois a PF investiga, mas não tem poder de fiscalização. A oposição viu na iniciativa, entre outros riscos, o de constrangimento a quem doar para seus candidatos. Ontem, relatos a respeito do seminário foram motivo de apreensão no Congresso.


Esclarecimento. Em sua palestra, Lewandowski registrou a importância do papel que a PF pode vir a desempenhar no pleito, mas ressaltou que a corporação deverá trabalhar "em estreita sintonia com a Justiça Eleitoral".
Líquido e certo. Na tarde de anteontem, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, localizou no interior de Alagoas seu colega do Senado, Renan Calheiros, para falar do reajuste de 7,7% para aposentados. Ouviu que o partido votará no Senado pela manutenção do percentual, contrariando o governo.
Em tempo. Alves, que liberou a bancada peemedebista na aprovação dos 7,7%, sonha presidir a Câmara a partir de 2011. É o mesmo projeto alimentado pelo líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), grande derrotado na votação de anteontem.
Fome zero. De Lula, ao final da reunião bilateral anteontem em Montevidéu: "Dito isto, agora eu quero experimentar uma boa carne que o presidente Mujica vai oferecer a um presidente faminto como eu". Ele havia chegado à capital uruguaia vindo diretamente da reunião extraordinária do conselho da Unasul em Buenos Aires.
Tarde no salão. Um curioso reparou que Dilma Rousseff (PT) apareceu com um penteado diferente e uma nova cor de cabelo no jantar a dois com Michel Temer (PMDB), a quem convidou para ser vice em sua chapa.
Ansiosa. Na conversa, Dilma pediu que o PMDB antecipe o anúncio da escolha de Temer. O partido vem sinalizando o contrário, inclinado a esperar pela definição das alianças nos Estados. Mas, para atender à candidata, a Executiva Nacional peemedebista, que se reunirá no próximo dia 18, estuda dar (mais) algum "sinal", ainda que não definitivo, da indicação de Temer.
Magoei. Ainda no jantar, Dilma aproveitou para deixar claro seu descontentamento com a recepção oferecida pelo peemedebista Cezar Schirmer, prefeito da gaúcha Santa Maria, a José Serra na terça.
Aprovei. Já o tucano não poderia estar mais satisfeito com a visita a Santa Maria: disse a auxiliares que a recepção nas ruas foi a mais calorosa desde que deixou o governo e iniciou o roteiro de viagens.
A cizânia. No núcleo da campanha de Dilma, há quem aposte que o pré-candidato gaúcho Beto Albuquerque (PSB), próximo de figuras do PP local, possa contribuir para abortar as negociações do partido com o PSDB.
Fórceps. Muito a contragosto, o presidente do PT de Minas, Reginaldo Lopes, finalmente endossou a tese do palanque único, mas sem deixar claro que encabeçado por Hélio Costa (PMDB). A capitulação ocorreu ontem, em reunião que teve a participação de Costa e do pré-candidato petista Fernando Pimentel.
Filosófico. De um dirigente do PSB, em encontro no qual o partido, depois de descartar a candidatura de Ciro Gomes, cobrou de Dilma participação no núcleo da campanha: "Tem aliado que entrega a mercadoria. E tem outros que só aparecem para buscá-la".

com SILVIO NAVARRO e GABRIELA GUERREIRO
Tiroteio 
O mensalão do PT é virótico, assume várias formas mutantes. Essa é mais uma delas. 

Do deputado (DEM-SC), sobre a revelação de que a UTC Engenharia, que fechou contratos com a Petrobras, doou R$ 150 mil mensais ao PT-SP. O partido de Bornhausen esteve recentemente no centro do escândalo do mensalão do Distrito Federal.
Contraponto 
Sem legendas Sentado ontem entre Hélio Costa (PMDB) e Fernando Pimentel (PT) em mais uma reunião para tentar resolver o impasse do palanque lulista em Minas, o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), percebeu a certa altura que os dois pré-candidatos cochichavam, sem no entanto entender o que diziam.
Logo em seguida, Costa e Pimentel se deram as mãos, posando para os fotógrafos. Intrigado, Alves achou que era hora de pedir socorro aos presidentes do PMDB, Michel Temer, e do PT, José Eduardo Dutra:
-Me ajudem com a tradução. Esse mineirês que aqueles dois estão falando o nordestino aqui não entende!

JOSÉ SIMÃO

Copa África! Desliga o corno da corneta!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/05/10


A Dilma quer o Temer como vice. Terrorismo! Ele parece mordomo de filme de terror! Filme B!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
E olha a faixa na minha rua: "Fazemos bandeira de qualquer time. Por pior que ele seja". Rarará! E o nome dessa funerária em Campos Gerais, Minas: Vai com Deus e as Pulgas!
E o vazamento de óleo no Golfo do México? O Blogdobonitao diz que o James Cameron vai fazer um novo filme: "AVAZAR"! Rarará! E sabe por que ninguém se entende lá na Grécia? Porque eles falam grego! E sabe por que a Grécia quebrou? De tanto que eles quebram prato!
E a Dilma quer o Temer como vice.
Isso é que é terrorismo! O Temer parece mordomo de filme de terror!
Filme B! Mordomo de peça da Agatha Christie!
E socuerro! Salve-se quem puder!
Todos para o abrigo! Olha os novos candidatos pra 2010: Mulher Melão, Tati Quebra-Barraco, Romário e Bambam! Como diz o "Pânico", o Bambam tem maternal incompleto.
A Turma do Maternal Incompleto!
A Mulher Melão quer proteger os idosos. Eu acho que ela vai matar os idosos. Mata o Véio! Slogan da Mulher Melão: "MATA O VÉIO!". Um amigo meu não que votar na Mulher Melão, ele quer BOTAR na Mulher Melão! E ela é a musa dos taxistas.
Vai instituir a BUNDEIRADA! De noite vai ter bundeirada 2!
E o Romário? Ops, o VÔMARIO, o atacante da melhor idade! A Mulher Melão vai proteger os idosos e, o Romário, as cachorras. Salvem as Cachorras! E vai lutar pela abolição da pensão alimentícia. Tá certo. Porque todo casamento é assim: começa no motel e termina em pensão!
Copa África Urgente! Só será permitido vender bebidas alcoólicas nos estádios entre três e cinco horas antes das partidas. Ou seja, quando começar a partida, vai estar todo mundo de ressaca. Já imaginou a torcida de ressaca? "Parem de gritar." "Quem foi o corno que inventou a corneta?" "Desliga o corno da corneta." Torcida Engov! A gente só não engove o Dunga! Rarará. É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Duartina, SP, tem uma loja chamada WALL MATTO! Ueba! Mais direto, impossível!
Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Unção": companheiro que erra na concordância. Ou seja, todos. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis.
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÍRIAM LEITÃO

O especulador 
Miriam Leitão 

O Globo - 06/05/2010

Durante mais de dois anos o governo soltou balões de ensaio, fez declarações, desmentidos, informações contraditórias sobre Telebrás, apesar de ser uma empresa com ações em bolsa. O resultado foi o que se viu: as especulações produziram uma violenta volatilidade, uma alta espetacular das ações. Altas e quedas produziram ganhos aos mais espertos.

A notícia que saiu aos pedaços foi confirmada: a Telebrás será a gestora do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A forma correta de fazer isso era o governo decidir primeiro e anunciar depois. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deveria ter visto isso.

Manipular o mercado dessa forma é crime.

O governo Lula nada fez em matéria de telecomunicação.

Tudo o que aconteceu foi decorrente da privatização.

A telefonia estatal tinha 20 milhões de clientes dos serviços de telecomunicações. Agora, 12 anos depois, são 235 milhões. O número é maior do que a população porque alguns são consumidores de diversos produtos.

As empresas, como disseram ontem em nota, investiram R$ 180 bilhões nestes 12 anos. Nada disso seria possível se o setor permanecesse estatal.

O governo Lula não conseguiu sequer usar o fundo criado na venda das empresas, o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, que tem hoje R$ 10 bilhões depositado lá pelas empresas do setor. Esse fundo era exatamente para ampliar serviços como a banda larga.

Depois de sete anos sem fazer coisa alguma, o governo Lula, a sete meses do seu fim, lança um plano para investir R$ 13 bilhões em cinco anos e reintroduzir o Estado no setor. E o faz com óbvias fanfarras eleitoreiras.

Não há dúvida que o serviço de banda larga tem que ser ampliado, mas para isso o governo tem recursos dos fundos setoriais (Fust e Funtel) e muito a fazer. Há oito anos, a Anatel não oferece uma licença de TV a cabo. A última oferta de novas frequências (espectro radioelétrico) para utilização de serviços sem fio foi feita no final de 2008. Os serviços de telecomunicações pagam mais impostos que perfumes, bebidas e armas. Só para usar um exemplo: no modem de internet móvel há 75% de impostos.

O ex-ministro das comunicações Juarez Quadros não tem dúvidas que é preciso ampliar os serviços de banda larga no Brasil, mas acha que o governo reativar uma empresa em processo de liquidação é o caminho errado.

— Uma estatal depende de procedimentos burocráticos, como restabelecimento de um quadro de pessoal, aprovação da proposta do Executivo pelo Legislativo.

Tem amarras para investir — diz ele.

A Telebrás quando funcionava era uma holding de prestadores de serviço, ela em si não prestava serviço ao público. A própria lei que criou a estatal tem que ser mudada. Isso sem falar na Lei Geral de Telecomunicações, que definiu os participantes do mercado.

O economista William Alves, da XP Investimentos, explica que a Telebrás era uma massa falida, com patrimônio líquido negativo de R$ 400 milhões. Ou seja, possuía dívidas maiores do que o valor da própria empresa.

Se ela fosse vendida, ainda assim não haveria dinheiro para pagar tudo. Os prejuízos trimestrais eram constantes, com pagamentos de passivos trabalhistas, pensões e aposentadorias.

Como mostra o gráfico abaixo, até o final de 2007 as ações da Telebrás negociadas em bolsas não tinham valorização, ficavam encostadas com preço baixo. Mas após as primeiras declarações do então ministro Helio Costa e do presidente Lula, de que queria usar a empresa no PNBL, teve início a especulação: — Quem comprou esse papel não foi o investidor, mas o especulador. Esse é um papel totalmente especulativo porque não é possível projetar nada sobre a empresa, até porque ela não oferece mais nenhum tipo de serviço, é apenas uma massa falida.

Não gera receita, apenas despesa. Tudo essa alta aconteceu em função das declarações do governo — explicou William.

Somente este ano, as ações subiram mais de 160%. Ontem, após o anúncio oficial do Plano, as ações chegaram a subir mais de 40%, e o pregão teve que ser interrompido por conta da forte volatilidade.

Se quisesse ampliar e aumentar o acesso, o governo poderia retirar barreiras, regular, ampliar licenças e frequências, fazer desonerações para os serviços que considera prioritário ou faixas de renda, e usar os fundos para subsidiar a baixa renda. Poderia ter atuado na oferta e na demanda ao longo dos últimos sete anos, mas escolheu o caminho de injetar gás numa estatal falida e quebrando todas as regras de respeito ao mercado de capitais.

BRASIL S/A

Terra de ninguém
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 06/05/10

Deputados ignoram a lei ao favorecer aposentadorias sem dizer como pagar o gasto e desafiam Lula


No ano de eleições gerais, na semana do décimo aniversário da Lei de Responsabilidade Fiscal e no dia em que o presidente Lula saíra de Brasília para mais uma das frequentes e ociosas cúpulas com os vizinhos da América do Sul, sabendo que deixava questões muito mal-encaminhadas na política, os deputados puseram para quebrar.

Com apoio de todos os partidos governistas — ostensivo, no PMDB, dissimulado, no PT —, alinhados aos da oposição, a Câmara aprovou projetos que fazem a alegria instantânea dos segurados do INSS e, a médio prazo, fraturam a delicada situação da Previdência, ameaçam as próprias aposentadorias e comprometem a estabilidade fiscal.

Os brasileiros passaram 10 longos anos para alcançar a relativa responsabilidade fiscal — a fundação sobre a qual se ergue o ainda incipiente e em construção processo de crescimento sustentado. Os deputados precisaram de 2 horas para começar a rachá-la.

O governo propusera reajustar os benefícios acima de um salário mínimo em 6,14%, retroativos a 1º de janeiro e equivalentes à soma da inflação pelo INPC de 2009, com 50% do aumento do PIB de 2008.

Já era uma liberalidade. Pela regra vigente, a variação integral do PIB de dois anos atrás, acrescida à inflação, é obrigatória só para as aposentadorias e pensões de até 1 mínimo. A Câmara fez mais.

Esticou o aumento real para 7,7%, que corresponde à variação de 80% da expansão do PIB de 2008, na medida provisória com a qual Lula propunha a correção. Ele guardara para o ano das eleições o agrado aos aposentados. Até então, se ativera à letra da lei.

Confiante em sua popularidade para abafar qualquer autonomia da amplamente majoritária coalizão que formou na Câmara e no Senado, Lula esperava, com sua proposta, dois resultados. O primeiro, o mérito das medidas em favor dos aposentados — fruto de iniciativas do senador Paulo Paim (PT-RS) sem o aval do governo, mas com o apoio da oposição. E segundo, limitar o prejuízo para as contas nacionais.

Perdeu duplamente: a movimentação do líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, do PT, explicitou a contrariedade de Lula. Vaccarezza ainda tentou baixar a perda para o Tesouro com a sugestão de um reajuste de 7%. Foi atropelado pelo próprio PT.

A bancada foi liberada a votar como quisesse. Nem do PT Lula teve apoio. Ele armara o circo com a colaboração das centrais sindicais chamadas para sugerir a impressão de consenso pelo aumento menor — e foi surpreendido pela emenda do deputado Paulo Pereira (PDT-SP), presidente da Força Sindical, propondo o reajuste maior, de 7,7%.

Lula piscou. E perdeu
No fim, ao ficar claro que o governo perdera a direção na Câmara, ratificando a percepção de constrangimento de Lula em desarmar as articulações do senador Paim, no Senado, visando relaxar as regras previdenciárias, todas aprovadas sem sequer um protocolar puxão de orelhas, os deputados governistas recrudesceram.

O DEM ainda quis tirar casquinha, propondo um aumento de 8,7% só para fazer bonito diante dos aposentados. Não foi preciso chegar a tanto, já que, com o governo inerte, a coalizão governista avançou e derrubou, também com apoio de grande parte do PSDB, DEM e PPS, o fator previdenciário. Criado em 1999 no governo FHC, é um redutor para penalizar aposentadorias precoces. Foi outro golpe no INSS.

A quanto irá o rombo
Não estão bem avaliadas as perdas que tais decisões implicam para o INSS, e obrigatoriamente financiadas pelo Tesouro, sobretudo se o Senado ratificar o fim do fator previdenciário. Acumuladas, e se a Justiça reconhecer o efeito retroativo para todos os aposentados pela regra derrubada na Câmara, pode chegar a 5% do PIB — quase R$ 175 bilhões, segundo estimativas de técnicos da Câmara.

Com uma fração disso, o governo teria lançado um programa decente de apoio às exportações, não o pacote desidratado anunciado, que inclui a criação do Eximbank ligado ao BNDES menor do que seria, e a regularização só parcial da devolução dos créditos tributários.

Governo deu o exemplo
Outra vez se comprovou que se o país, apesar dos desatinos, ainda vai para frente, só pode ser porque Deus é brasileiro. É assim, se faltar o exemplo das prioridades. Problema não é o que a Câmara e o Senado fizeram pelos aposentados. É fazê-lo à revelia da lei, que manda indicar a fonte orçamentária para novos gastos, ou despesas a cortar, se insuficiente. Lula sinaliza que vai vetar tais ações. Isso depois de relançar a Telebrás ao custo talvez subestimado de R$ 13 bilhões em cinco anos para prover banda larga. Aí é difícil.

Telebrás versus INSS?
A história é exigente: o que não se faz no tempo certo adiante se fará a um custo muito maior. Lula abandonou, depois que se reelegeu, a idéia de reformar a Previdência, certo de que o deficit atuarial poderia esperar, e o de caixa, o crescimento econômico resolveria.

Estava certo em parte: o crescimento tem levado à formalização do emprego e, assim, a mais receita. Ao congestionar as prioridades, dando vazão à fortuna fiscal, porém, alertou os políticos para a suposta fartura e a outros projetos. Agora, está com um pepino na mão: contrariar os aposentados, vetando os benefícios, ou deixar o deficit inchar. E isso quando se dispõe a gastar bilhões de reais para recriar a Telebrás. É o que dá quando se perdem as medidas.

ANCELMO GÓIS

Brasil invade EUA
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 06/05/10

A conta é do embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon.
Este ano cerca de l milhão de turistas brasileiros estão sendo esperados nos parques de Orlando.

E mais...
O consulado americano de São Paulo é, de todos no mundo, o que mais emite vistos de viagem. São, acredite, quase 300 mil por ano.
O Brasil só perde para China, Índia e México, em número de turistas que visitam os EUA.

Pátrio poder
Paula Thomaz e Guilherme de Pádua, condenados pelo assassinato da atriz Daniela Perez, estão disputando na Justiça os direitos sobre o filho do casal, de 17 anos.

Fator Solange
A autora intelectual do Fator Previdência, o programa de desestímulo às aposentadorias precoces revogado ontem pela Câmara, foi Solange Vieira, hoje na presidência da Anac.
Na época (1999), ela era assessora do Ministério da Previdência.

Arruda errado
Veja como é dura a vida de político do bem. Plínio de Arruda Sampaio, boa gente, candidato do PSOL à Presidência, conta que, outro dia, numa pesquisa qualitativa em São Paulo, uma jovem, ao ler o nome dele entre os presidenciáveis, reagiu, depois de pensar: — Ah, agora me lembro! É aquele envolvido em falcatruas?!

Bloch para o Rio
Eduardo Paes tentará comprar para a Prefeitura o arquivo fotográfico da finada Bloch.
O acervo foi arrematado por R$ 300 mil em leilão. Mas como a venda ficou abaixo da metade do lance mínimo (R$ 1,8 milhão), pode ser anulada.

Koni em Portugal
A Koni Store, maior rede de temaquerias do Brasil, abre em julho a primeira loja no exterior.
Será no bairro do Chiado, em Lisboa, Portugal.

Prosa & verso
A Sextante renovou por sete anos o contrato de publicação no Brasil do best-seller “O monge e o executivo”, o romance de auto-ajuda do americano James C. Hunter que já vendeu, só aqui, 2,5 milhões de exemplares, desde 2003.
O livro está há 291 semanas na lista dos mais vendidos.

O pescoço de Serra
De um gaiato safadinho, sobre a resposta de Serra ao “CQC”, de que a parte do corpo feminino que mais aprecia é o pescoço: — Ufa... Ainda bem que o tucano revelou a sua preferência falando em português, e não em francês.
Pescoço, na terra de Sarkozy, se chama... deixa pra lá.

Ficha suja
O MP eleitoral denunciou o deputado estadual Marcos Abrahão por desobediência, injúria, difamação e desacato.
É que, ao receber uma intimação sobre um processo por propaganda irregular, ele teria mandando o juiz “tomar no... ”. Em 2003, Abrahão foi acusado de mandar matar um deputado.

Bolsa cinema
O Rio vai ganhar 51 novas salas para exibição gratuita de filmes nacionais até o fim do ano.
A iniciativa é do Ministério da Cultura e do governo estadual, que vão investir R$ 765 mil na instalação de salas que levarão o cinema nacional às periferias das cidades fluminenses.

Rio selvagem
Acredite. Ontem, apareceu no Posto Municipal de Saúde do Catete, no Rio, um homem mordido em pleno bairro do Flamengo por uma... jararaca.
A lesão foi na coxa, mais ou menos perto do... você sabe.

Fé na festa
O arraial que Gilberto Gil vai montar na Quinta da Boa Vista, no Rio, em junho, para lançar seu novo CD, “Fé na festa”, terá até um portal na internet (circuitosaojoao.com.br).
O site cobrirá a turnê de Gil e dará alertas como “não solte balões!”. Eu apoio.

Troca de figurinhas
A febre do álbum da Copa invade todos os espaços, inclusive o prédio da Petrobras, na Avenida Chile, no Rio.
Outro dia, um chefe da estatal convocou reunião para pedir que os funcionários parassem de trocar figurinhas no expediente.

‘A ficha ainda nem caiu direito’

Dois dedos de prosa com Juliana Paes, musa grávida da coluna:

1) Parabéns! Você tem preferência de sexo? Já chegou a pensar em nome para seu bebê?
— Não tenho preferência e não gostaria de ter que pensar em nomes agora, está tudo muito recente.

2) Qual é a sensação de estar grávida? Você está enjoada? Cansada?
— A sensação é que o corpo está passando por uma turbulência, muitas mudanças rápidas demais... boca seca, enjoos toda manhã. Entretanto, estou tão feliz que isso não importa muito, fica pequeno.

3) Você vai tentar evitar a exposição do seu filho?
— É muito cedo para falar dessas coisas. A “ficha” ainda nem caiu direito...
acho quase impossível “esconder” uma criança e levar uma vida normal e saudável... quero levá-la para passear, tomar sol, tudo no seu devido tempo.
A prioridade é a saúde do bebê, o resto a gente vai administrando da melhor maneira possível.

Ana Cláudia Guimarães

PONTO FINAL

Roberto Carlos, que terá sua trajetória contada em samba pela Beija-Flor no carnaval de 2011, vai ser enredo pela segunda vez. Em 1987, o Rei foi tema da miúda Unidos do Cabuçu, e passou pela Sapucaí no alto de um carro.