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Um amigo da coluna fez a ronda nos bares de Belo Horizonte na véspera do feriado de meio de semana e contabilizou um total de oito moças que chegaram à sua mesa reclamando da barba de Aécio Neves. "Arranha muuuiiito, sô!" Ninguém na cidade leva a sério essa mania que toda mineira bonita tem de sugerir uma coisa de pele com o ex-governador, mas há tempos o neto preferido de dona Risoleta não despertava tanto a imaginação das louras da Savassi - ô, raça! Duas delas quase saíram no braço - precisou nosso amigo apartar os silicones -, numa acalorada discussão de ordem ortográfica: o Aécio teria barba cerrada ou serrada. "É serrada, sua tonta, com "s" de Serra, entendeu?" Ninguém entendeu direito por que diabos o tucano resolveu mudar o visual. De homenagem a Tiradentes a demonstração de que, neste particular, é mais bem dotado que o Lula, fala-se qualquer coisa depois do terceiro chope no barzinho da esquina. Mas, para quem vive reclamando a falta de caras novas na política, convenhamos, a barba espessa do Aecinho não deixa de ser uma mudança até certo ponto surpreendente. E não foi a única da semana: o gel de cabelo de Rogério Rosso, novo governador do DF, também chamou atenção pelo exagero! Repara só! Personagens afins A ausência de Edson Lobão foi bastante sentida ontem durante a Parada da Disney, em Brasília. O pateta, em especial, ficou chateadíssimo com o forfait do ex-ministro. Mãe é mãe! Gretchen proibiu, pelo menos por ora, o assunto em casa! Cá entre nós, imagina que a filha da cantora Cher reapareceu de terno e gravata com a namorada nas revistas de celebridades, estreando sexo novo em público após cirurgia que a completou. Melhor deixar passar o Dia das Mães para conversar a respeito em família. Graças a Deus Era mesmo só saudades do Evaristo Costa! Ele regressou de férias na TV Globo e Sandra Annenberg voltou a sorrir na bancada do Jornal Hoje! Calma! Faltam só 50 dias para a Copa! Passa rápido! Só tem tantã De José Serra, ao saber que Dilma Rousseff disse em entrevista na Bahia que está ensaiando o rebolation: ""E ela ainda diz que o biruta de aeroporto sou eu!"" Sonho impossível Ciro Gomes deve renunciar a qualquer momento ao direito de disputar a Presidência. Melhor assim! O Brasil não está mesmo preparado para uma primeira-dama como Patrícia Pillar. Caos marítimo O fim do mundo abriu uma nova frente de trabalho, dessa vez na costa Pacífico da América do Sul. Cientistas chilenos descobriram um tapete de micróbios do tamanho da Grécia. SOS Planalto Brasília sairia do papel se fosse licitada em 2010? Duvido que uma liminar não suspendesse as obras a pedido dos índios e dos ambientalistas. Ou não! |
quinta-feira, abril 22, 2010
TUTTY VASQUES
EUGÊNIO BUCCI
O passado como cárcere
Eugênio Bucci |
O Estado de S. Paulo - 22/04/2010 |
Sim, o passado pode aprisionar a nossa imaginação. O passado nos pode raptar, sejamos nós de esquerda ou de direita, tanto faz. Isso posto, começo por um caso de direita: o general Leônidas Pires Gonçalves. Acabo de ver na internet, no site da Globo News, a entrevista que ele concedeu ao jornalista Geneton Moraes Neto, a pretexto dos 25 anos do fim do regime militar. A conversa, originalmente exibida no programa Globo News Dossiê, é um documento de imenso valor. Não fossem os 25 anos que nos separam da ditadura, seria também um documento de meter medo, mas não é: o que fala, na voz do militar de 88 anos, assertivo e convicto, é apenas o passado. Para o general, as inúmeras, incontáveis provas dos crimes cometidos sob o manto protetor da ditadura não contam. A verdade que ele enuncia é a verdade intocada das primeiras promessas dos golpistas de 1964, como se a história posterior não as tivesse desmentido inteira e minuciosamente. Chefe do Estado-Maior do Primeiro Exército entre 1974 e 1977, no Rio de Janeiro, ao qual se subordinava o DOI-Codi, organismo diretamente encarregado da repressão política, Leônidas, que também foi ministro do Exército no governo Sarney, admite a muito contragosto a prática da tortura pelos militares. Para ele a tortura não passou de um fenômeno "pontual", muito amplificado, ele concede, pelos que hoje querem receber a "bolsa-ditadura". Atento, Geneton pergunta sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, da TV Cultura, nas dependências do Exército em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975. O general não vacila: "Eu não tenho a menor dúvida de que Herzog é um suicida." E minimiza o episódio, dizendo que Herzog não era um "subversivo bem preparado". Em seguida, ele se refere ao jornalista assassinado como "o menino lá, o Herzog". É desrespeitoso. Em outra passagem espantosa, o ex-ministro afirma que subornou um dirigente comunista preso para obter uma informação decisiva no desmantelamento do PC do B. Teria sido assim, com dinheiro, não com tortura, que os militares descobriram o local de uma reunião da cúpula do partido, então na clandestinidade. De posse do endereço, agentes da repressão em São Paulo, no dia 16 de dezembro de 1976, surpreenderam os integrantes do Comitê Central, no bairro da Lapa, e ali mesmo já mataram três deles: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Baptista Franco Drummond. "Guerra é guerra", repete o entrevistado. "Na guerra não há nada bonito, a não ser a vitória." E a vitória, na visão dele, foi dos militares. Ele garante que não houve prisões indevidas. Quem ia para a cadeia alguma coisa tinha feito. No seu entendimento, os 20 anos de ditadura salvaram o Brasil do regime comunista ? a mesmíssima crença que os apoiadores do regime professavam nos anos 60 e 70. A normalidade que temos hoje seria, ele acredita, uma conquista da ditadura. Ver a entrevista é como visitar uma reserva ambiental do imaginário brasileiro. O entrevistado é um representante raro de um conjunto de ideias em extinção. A nossa história, ainda bem, vai superando aquelas convicções pétreas, e elas já não nos ameaçam como antes. Só o que temos ali é uma amostra intacta do passado, muito bem conservada por sinal, cuja grande utilidade é não nos deixar esquecer. Leônidas Pires Gonçalves cumpre, desse modo, um papel ecológico. Por meio dele comprovamos que, à direita, existem os que se dedicam de alma aos dogmas pretéritos. E o que dizer da esquerda? Bem, olhemos para o outro lado. A esquerda também padece desse, digamos, acometimento de espírito. Se a direita busca no passado o argumento da disciplina para daí destilar sua utopia autoritária, a esquerda evoca sua utopia de fraternidade para justificar a disciplina revolucionária. Por um lado ou por outro, estamos no mesmo parque temático. Se o velho general não se desapega da mística da guerra aos subversivos, são muitos, mas muitos mesmo, os "quadros" de esquerda que se dobram a um regime de exceção, desde que ele prometa ser um atalho rumo ao paraíso socialista. Na ilha de Cuba esse atalho já dura mais de 50 anos. Mesmo assim, boa parte da esquerda brasileira segue aplaudindo os irmãos Castro. Há presos políticos em Cuba? Silêncio para eles. Os presos morrem em greve de fome? Escárnio para eles. A blogueira de oposição Yoani Sánchez não obtém passaporte para viajar e dar palestras no exterior? Alguma coisa ela há de ter feito (como diria Leônidas). A propósito, circulam na internet acusações "de esquerda" contra Yoani Sánchez. Dizem que ela recebe ajuda da extrema direita americana e que ela mentiu recentemente quando alegou ter sido espancada por agentes do governo. Por isso, acham justo que ela não possa viajar, pois não passa de uma "agente contrarrevolucionária". Ocorre que, mesmo que estejam certos, isto é, mesmo que Yoani conte com apoios da direita e tenha mentido sobre um soco que lhe deram, ela continua sendo uma pessoa humana. Ora, o direito fundamental de ir e vir não cabe apenas aos que não são apoiados pela direita e que não exageram nada em seus relatos ? é um direito universal. Ao ser confinada em seu país, Yoani Sánchez é penalizada sem ter sido julgada, o que constitui uma violência. Defender esse estado de coisas é defender a revogação dos direitos humanos. É bom lembrar: não fosse a luta dos defensores dos direitos humanos, a tortura no Brasil teria ido ainda mais longe. E em Cuba? Uma utopia que cobra seu preço em liberdade não é sequer um sonho, é apenas uma prisão, seja de esquerda ou de direita, dá no mesmo. Prender-se às certezas idas sem se abrir às dúvidas e à vida do presente não é coerência ? é apenas uma forma invertida, bruta e sombria de esquecimento. JORNALISTA, É PROFESSOR DA ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES-USP |
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Brasília, um equívoco caro
CARLOS ALBERTO SARDENBERG |
O Globo - 22/04/2010 |
Esclarecimento: morei duas vezes em Brasília, gostei, meus filhos apreciaram, formamos amizades para sempre. Nada pessoal, portanto, mas Brasília é um equívoco. Nenhuma das razões que justificaram sua construção era sustentável. Segurança, por exemplo. Na região central do país, a capital estaria mais protegida de ataques militares estrangeiros. Hoje, obviamente, com os mísseis e aviões, não faz o menor sentido. Na época, isso era previsível. Mesmo que não fosse, o principal “inimigo potencial” do Brasil, na concepção militar, era a Argentina — e nesse caso a localização de Brasília não fazia muita diferença. Além disso, tirante a imaginação dos militares brasileiros e argentinos, convenhamos que a possibilidade de guerra era remota. A capital levaria desenvolvimento para a região central do país. Falso. Como uma cidade pequena e sem indústrias, como era previsto, poderia impulsionar o crescimento de uma área tão ampla e tão desabitada? A rica situação atual do CentroOeste deve-se à expansão da fronteira agrícola e às novas tecnologias do agronegócio, que tornaram produtivas principalmente as terras do cerrado. Isso teria acontecido sem Brasília, consequência normal do esgotamento da agricultura no Sul e no Sudeste. Dizia-se ainda que a concentração da administração pública em um único local, mais ou menos isolado e protegido das pressões populares, daria mais tranquilidade e eficiência ao governo. Falso de novo. A única eficácia que resultou disso foi uma cultura de defesa e promoção dos funcionários públicos, incluindo a prática da isonomia, pela qual benefícios e vantagens vão sendo transmitidos em cadeia pelas diversas repartições. Um novo governo consegue nomear a sua turma para os cargos de confiança. Mas é quase impossível demitir o pessoal da administração anterior. Em jogo de auxílio mútuo, as pessoas vão sendo acomodadas pelos inúmeros cargos à disposição — e esse é um efeito direto da concentração dos órgãos e proximidade entre os colegas. Ficar — essa é a arte de cada troca de governo em Brasília. A situação já estava assim delineada quando a Constituição de 88 completou o equívoco. Concedeu autonomia política ao Distrito Federal e uma generosa e paternal dependência econômica. A União ficou responsável pelas despesas de segurança, educação e saúde, sendo que as transferências para o DF são automáticas. A receita tributária federal cresceu muito da Constituição para cá, de modo que o governo de Brasília recebe um dinheirão de graça. Por que os funcionários do DF ganham bem e seus policiais são os mais bem pagos do país? Ora, porque seus governantes simplesmente podem topar os aumentos e mandar a conta para a União. Fazem a distribuição dos benefícios com o dinheiro dos contribuintes do país inteiro e arrecadam votos. Em 1957, o então presidente da Academia Brasileira de Letras, Austregésilo de Athayde, antecipou o problema básico de uma capital isolada: “Sem vigilância ou apenas vigiados de longe, governantes e legisladores irão pensar de preferência em si mesmos, nos seus bons negócios, em tirar rapidamente o máximo de vantagens do seu exílio no deserto.” A ida para o deserto já trazia vantagens. Funcionários só aceitavam a transferência para a nova capital com vantagens salariais e de carreira. Resultado: hoje, a cidade, sem outra força econômica além dos contracheques distribuídos pelo governo, tem a maior renda per capita do país. Sem que isso tenha qualquer relação com a eficiência do governo. Dizem que só a construção da capital já representou um forte impulso ao crescimento econômico. É verdade que a construção civil puxa a expansão. Mas o efeito seria o mesmo se o dinheiro público fosse aplicado em ferrovias e portos, por exemplo. Além disso, a pressa de JK levou a desperdícios e preços elevados. Tudo considerado, Brasília foi um programa de governo, destinado a eleger JK cinco anos depois da inauguração, e que deixou um imenso ônus para o país. Foi tão insensato quanto seria hoje levar a capital para o Norte, para proteger e desenvolver a Amazônia. Sem contar o maior pecado: ter iniciado o processo de destruição do Rio de Janeiro. CARLOS ALBERTO SARDENBERG é jornalista. |
PARA LER ATÉ O TALO
METENDO O DEDO
NOVAMENTE OUTRA VEZ
POSTAGEM
DE
NOVAMENTE OUTRA VEZ
POSTAGEM
DE
EXKLARECIMENTO
Para ler todas as colunas do dia é preciso que no final da página principal vocês cliquem em POSTAGENS MAIS ANTIGAS.
A bosta desse BLOGGER limitou o número de postagem por página, por isso para ler o início do dia - que começa invariavelmente com as manchetes dos jornais - tem que ficar nesse lenga lenga.
Dentro de mais alguns dias vai acabar essa putaria, vem aí um novo blog em um servidor menos filho da puta.
Este aviso foi provocado por conta de alguns leitores que não estavam encontrando algumas colunas na primeira página..
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
Comércio deve crescer até 11% no Dia das Mães Maria Cristina Frias Folha de S.Paulo - 22/04/2010 "Além do aumento do volume, o faturamento também deve crescer neste ano", diz Roque Pellizzaro Júnior, presidente da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas). A entidade prevê alta de 8% no volume de vendas e de 4% no tíquete médio. Em 2009, apesar do aumento do volume comercializado, o faturamento recuou, devido à procura por bens mais baratos. Na época, o consumidor estava cauteloso com os desdobramentos da crise financeira. A boa expectativa para este ano está baseada na melhora do volume de crédito e do nível de emprego, além das taxas de juros mais baixas. A Associação Comercial de São Paulo prevê crescimento de 9% a 11% nas vendas neste ano. "O importante é que a alta dos juros não venha antes do Dia das Mães. Precisamos de oferta de crédito e dinheiro a custo razoável", diz Alencar Burti, presidente da ACSP. A Fecomercio SP estima expansão de até 10% nas vendas. Para o economista Fábio Pina, o fator mais importante para o bom desempenho é o aumento da confiança do consumidor. A Alshop (associação de lojistas de shopping) prevê aumento de 7% nas vendas. "O cenário econômico agora está melhor. E traz ânimo para o consumidor", diz Luís Ildefonso da Silva, diretor da Alshop. A grande demanda será por artigos de vestuário e calçados. Mas o maior crescimento, de 15%, deve ocorrer no setor de perfumaria e cosméticos, segundo a Alshop. Em Alerta A International SOS, prestadora de serviços de assistência médica e de segurança, chega ao Brasil. Presente em mais de 70 países, a empresa inaugurou escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. "A estabilidade econômica e os novos investimentos de empresas de capital internacional no país estimularam a nossa entrada mais efetiva no país", segundo Yves Degen, executivo responsável pela operação no Brasil. A International SOS também está de olho nas companhias brasileiras que começam a se globalizar. Sua carteira de clientes tem hoje mais de 8.300 empresas. "O objetivo é garantir a saúde e o bem-estar físico de funcionários, a continuidade dos projetos das empresas, prevenir riscos, gerar informações, além de fazer planos de contingência", afirma Degen. No ano passado, a International SOS realizou 17 mil ações de retirada de pessoas, por questões políticas ou meteorológicas, em todo o mundo. O faturamento da empresa foi de US$ 1 bilhão em 2009. Leitura A biografia não autorizada "Fascinante Império de Steve Jobs" (editora Universo dos Livros), de autoria do jornalista Michael Moritz, chega ao Brasil. O livro, publicado nos EUA no final do ano passado, traz relato sobre as realizações de Jobs e seu retorno à Apple. O jornalista americano narra a trajetória desde a infância de Jobs e Stephen Wozniak, como saíram do colégio e fundaram a empresa. Mais Recurso A ALL vai ampliar de R$ 700 milhões para R$ 1 bilhão seu plano de investimento para 2010. Cerca de R$ 700 milhões serão destinados ao crescimento orgânico e R$ 300 milhões irão para o projeto Rondonópolis, de extensão da malha ferroviária em 260 km em Mato Grosso, ligando Alto Araguaia a Rondonópolis. Em 2009, o projeto recebeu R$ 115 milhões. Crédito Adalberto Savioli, presidente da Acrefi, Hugo Gonçalves (Losango), Paulo Caffarelli (Abecs), Ricardo Nunes (Ricardo Eletro) e outros participam de evento sobre crédito, cobrança e meios de pagamento, em SP, nos dias 28 e 29. Um dos temas abordados será "Crédito para quem não precisa e os novos protagonistas para a demanda de crédito". "Moedas-Commodities' Moedas de produtores de commodities seriam as grandes perdedoras se a China valorizasse o yuan. Os dólares australiano e neozelandês seriam os que mais sofreriam, no caso de uma pequena apreciação da moeda chinesa. A opinião é do Barclays Capital, que, em relatório, afirma que a China estaria hoje muito melhor se cedesse de alguma forma, em vez de manter a moeda atrelada ao dólar. "Com a aceleração da inflação na China, a valorização da moeda é do interesse do país a fim de controlar as pressões inflacionárias." Para a instituição, o maior vencedor em uma situação de alta do yuan seria a moeda japonesa. O iene e o dólar australiano, o maior beneficiário do câmbio fixo da China, são particularmente sensíveis à aversão ao risco de investidores e ao preço de commodities. Web brasileira cai em ranking de velocidade A velocidade da internet brasileira cresceu nos últimos três meses do ano passado em relação ao trimestre imediatamente anterior, mas, ainda assim, recuou em ranking das redes mais rápidas do mundo. A internet brasileira caiu da 35ª para a 37ª posição, apesar de a velocidade média do serviço ter crescido 21% nesse período, segundo levantamento da empresa norte-americana Akamai. Para ter uma ideia, a internet no país, que teve velocidade média de 1.312 Kbps (kilobits por segundo) entre outubro e dezembro do ano passado, é 89% mais lenta que a sul-coreana, que mais uma vez liderou o ranking. Outro dado da internet no Brasil é que 17% das conexões têm velocidade inferior a 256 Kbps (que é o parâmetro mínimo estabelecido pelas Nações Unidas para uma web ser considerada de banda larga). Apenas cinco países - em uma lista de 45- tiveram resultado pior que o brasileiro. Na parte de cima da tabela, ou seja, que leva em conta a web com mais de 5.000 Kbps, o Brasil aparece em 34º (entre 42 nações), com 2,2% das conexões. |
BRASIL S/A
Juros para crescer
Antonio Machado
CORREIO BRAZILIENSE - 22/04/10
Para Meirelles, a inflação é que põe em risco o investimento na economia, não a Selic corretiva
A política monetária é a engrenagem relevante em qualquer sistema econômico. Mas há uma sutileza. Onde ela é a atração principal, o enredo da economia é ruim. Sua grande arte é nunca entrar em cena.
No Brasil, ela está em cartaz há muito tempo, significando que o desempenho dos outros astros do espetáculo da economia, a política fiscal em especial, é ruim, e precisa de quem lhe assopre o texto para não errar. Uma supre a gague da outra. Mas ambas são ruins.
Em linguagem técnica, foi isso o que disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao depor no Senado. “Muitas vezes, é importante que se suba a taxa de juro para manter a inflação na meta e, em consequência, garantir a trajetória de longo prazo de queda dos juros” disse ele, praticamente antecipando a decisão do próximo Comitê de Política Monetária (Copom): o aumento da Selic.
Os críticos da ortodoxia apuparam a mensagem. No Brasil, juro em progressão rima com recessão. Ou rimava. A economia mudou. Já não se fala em fuga de capitais, decorrente de colapsos cambiais, que forçavam o Banco Central a induzir uma recessão, estrangulando o consumo para gerar dólares, e pagar juros de agiota para atrair o dinheiro mercenário internacional para fechar as contas do país.
Hoje, a calibragem dos juros pelo BC não tem mais o propósito de cavar uma recessão antes que a insolvência externa a precipite na marra. Mas muita gente ainda reage por reflexo imaginando tal cenário, frequente até o governo FHC, ao ouvir falar em arrocho.
A dependência externa foi superada, e menos pelo volume recorde de divisas acumuladas pelo BC. No melhor cenário, elas servem para dar conforto ao investidor externo. Se precisar sair de um momento para outro, como ocorreu depois da quebra do Lehman Brothers, o BC terá caixa para recambiar reais pelos dólares trazidos de fora.
Outra dependência, no entanto, permanece intacta: a capacidade de produção nacional insuficiente para atender o consumo tendendo a um cenário de pleno emprego e ainda deixar um excedente exportável em volume equivalente a um deficit modesto nas contas externas, da ordem de 1% a 1,5% do PIB. Ou, idealmente, superavit.
Ainda não se chegou a tal resultado, mas os principais índices da economia, como sismógrafos avançados, sinalizam que está a caminho um quadro de demanda febril. Tal certeza só existe, por ora, nas projeções dos bancos e consultorias pesquisadas pelo BC.
O mercado pede o protagonismo da Selic, e isso já no Copom do dia 28. Com base na inflação corrente, medida pelo IPCA e os IGP, o BC poderia esperar, repetindo o último Copom. Ficou improvável.
O risco da inação
Entre pagar para ver ou agir, Meirelles sugere que o risco do BC é o da inação. E isso pelo motivo que os críticos do ativismo da política monetária consideram ameaçado, dependendo da intensidade e duração do choque da Selic: o atual ciclo de investimentos, que vem forte, mas está no nascedouro. Para ele, a inflação é que põe em risco o crescimento tocado por investimentos, não os juros.
“Não é verdade que o aumento da Selic reduz o investimento”, ele argumentou em sua exposição no Senado. A estabilidade econômica e o controle da inflação, segundo ele, é que expandem o investimento.
Efeito apaziguador
Meirelles cita duas relações de longo prazo para corroborar a sua percepção sobre o efeito apaziguador da Selic para os ciclos. Uma é a relação entre o investimento direto estrangeiro — capital que as multinacionais trazem para suas filiais — e o passivo externo do país. Passou de 33%, em 2001, para 38%. O capital externo aplicado em ações cresceu muito mais, indo de 9,9% para 32,6%.
Ele atribui esses resultados ao aumento da confiança externa nos fundamentos da economia. Por analogia, também seria o que motiva o empresário nacional a correr risco e investir em mais capacidade.
Jogo de adivinhação
Apesar do efeito deletério dos juros altos, é fato que a falta de parâmetros confiáveis dificulta projetar a demanda futura e a taxa interna de retorno dos projetos de expansão. Fazer orçamentos vira jogo de adivinhação, e, na dúvida, ninguém investe. Os industriais que praguejam contra os juros altos são os primeiros a suspender o investimento se pressentirem incertezas, e o fazem não pelos juros — mas pelo medo maior da perda do capital corroído pela inflação.
Ainda que a argumentação do BC seja pertinente, no entanto, juros nominais de política monetária acima de 8% ao ano indicam males da economia gritando por tratamento. Mas aí não cabe ao BC resolver.
Trindade impossível
Frente a dois dos maiores problemas da economia brasileira, o BC é só caixa de repercussão. O mais persistente é a linguagem de surdo entre as políticas monetária e fiscal. O diálogo é tenso, em geral de afronta entre elas. O governo, do qual o BC é parte, gasta sem sintonia com o gasto privado (famílias e investimentos) e depois clama ao BC que ponha ordem. Como a despesa pública é irredutível na prática, só resta “punir” o gasto que o governo alega reverenciar.
Em regime de economia aberta, enfim, é difícil manter a autonomia monetária, a liberdade de movimento dos capitais e a taxa cambial sem volatilidade — uma “trindade impossível”, segundo os economistas. E com o lado fiscal desalinhado aí é que se torna inexequível.
PAULO RENATO SOUZA
Salários na educação paulista
PAULO RENATO SOUZA
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/04/10
É preciso considerar a bonificação por resultados e a política de valorização pelo mérito na remuneração dos professores de São Paulo
MATÉRIA publicada nesta Folha no dia 1º deste mês compara as remunerações iniciais dos professores nos Estados brasileiros. A manchete dizia que São Paulo caiu quatro posições nesse ranking, estando agora na 13ª posição.
A propósito, é oportuno lembrar que a remuneração inicial de um professor com nível superior para 40 horas semanais em São Paulo é de R$ 1.835, o que é 80% superior ao piso nacional de salários, fixado pelo governo do presidente Lula.
Algum observador mais superficial poderia estranhar que o Estado mais rico da federação não tenha um salário inicial maior do que Estados supostamente mais pobres. Os salários do setor público são dependentes das disponibilidades orçamentárias, e suas responsabilidades de prestação de serviços se relacionam ao tamanho de sua população.
Assim, o importante não é a relação dos salários com a arrecadação total dos Estados, mas com a arrecadação por habitante. Pode ser surpreendente para o leitor saber que São Paulo é o Estado com o quarto menor valor de arrecadação per capita do país, incluindo impostos e transferências.
Dessa forma, o Estado de Roraima, apontado como o de maior salário inicial para professores, é também o de maior arrecadação por habitante entre todos os Estados, quase seis vezes superior à de São Paulo.
Isso porque São Paulo contribui com mais de 40% das receitas federais, mas as transferências federais que recebe via Fundo de Participação dos Estados são insignificantes, ao contrário do que acontece nos Estados do Norte.
Além disso, no caso dos ex-territórios, o volume relativo dos aposentados é pequeno, pois os encargos antigos ficaram por conta da União. Essa análise mostra a superficialidade de quem ignora tal realidade e o engano que pode produzir na opinião pública.
Qualquer comparação entre unidades da federação que considere apenas as remunerações iniciais deixa de lado componentes que respondem a políticas de valorização do magistério baseadas no mérito e na qualidade do ensino, como ocorre em São Paulo.
Assim, na remuneração dos professores paulistas, é preciso considerar a bonificação por resultados e a política de valorização pelo mérito. Trata-se de muito dinheiro que vai para o bolso dos professores e é ignorado nas análises sindicais simplistas.
O Estado pagou como bônus neste ano um total de R$ 591 milhões para 177 mil professores, segundo a evolução do Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo) de cada escola, que leva em conta a avaliação dos alunos e o fluxo escolar.
O valor significa 11% da folha anual de salários pagos a 80% do pessoal ativo do quadro do magistério. O bônus beneficia a todos os integrantes da equipe escolar, incluindo os professores em início de carreira -o que invalida as comparações de remunerações iniciais que não levem em conta esse componente.
Em paralelo, a política de valorização pelo mérito acaba de proporcionar um aumento de 25% a mais de 44 mil integrantes do quadro do magistério. Esse avanço na carreira depende da assiduidade, do tempo de permanência na mesma escola e da nota obtida em exame de promoção.
A cada ano -e todos os anos-, 20% do magistério será promovido. Como captar esse enorme benefício na carreira e nos salários comparando apenas as remunerações iniciais? A matéria relaciona apenas superficialmente os dados salariais com as responsabilidades do Estado na cobertura de suas redes de ensino público, ao destacar que São Paulo tem o segundo maior salário entre os que possuem redes com mais alunos.
Isso é muito pouco para caracterizar as responsabilidades de São Paulo na educação pública, muito superiores às dos demais.
No ensino fundamental, o Estado tem a mais alta proporção de matrícula pública, com 53% do total, muito distante dos Estados do Nordeste -alguns dos quais têm salários mais altos que São Paulo-, onde quase 80% das matrículas são em escolas municipais. No ensino médio, nossa taxa líquida de matrículas já beira os 70%, mais de dez pontos acima do segundo colocado.
Consciente de seu papel de liderança na política educacional do país, o Estado de São Paulo vem desenvolvendo clara política de respeito e valorização de seu magistério, com ações direcionadas ao apoio ao trabalho em sala de aula, em estímulo a seu aperfeiçoamento e à retribuição justa pelo seu esforço e dedicação aos seus alunos.
PAULO RENATO SOUZA , 64, economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP), é secretário da Educação do Estado de São Paulo. Foi ministro da Educação (governo FHC), reitor da Unicamp (1986 a 1990) e secretário da Educação do Estado de São Paulo (governo Montoro).
EDITORIAL - O GLOBO
Sinais contraditórios
EDITORIAL
O GLOBO - 22/04/10
Atrajetória política de Luiz Inácio Lula da Silva, culminando com a eleição e reeleição à Presidência do Brasil, mereceu amplo reconhecimento e admiração internacionais. Sua disposição para cobrar de outros líderes soluções para problemas espinhosos, como a pobreza, mas de maneira afável, chegou a levar o presidente americano Barack Obama a chamá-lo de “o cara” numa reunião internacional.
É fora de dúvida que o Brasil, por força da manutenção pelo governo Lula da política econômica do governo anterior, mais no primeiro mandato do que no segundo, atravessou satisfatoriamente a crise mundial, fazendo crescer a importância relativa do país. Ele se fortaleceu no grupo dos Bric, com Rússia, Índia e China, os mais bem-sucedidos países emergentes.
Mas começou a aparecer um ponto falho nesse panorama — o caráter errático da política externa brasileira. Um dos primeiros episódios foi a maneira branda com que o governo Lula tratou da expropriação, pela Bolívia, das instalações de exploração e produção de gás da Petrobras nesse país. A explicação estava no companheirismo ideológico com o recémeleito Evo Morales, que falou mais alto que os interesses nacionais.
O mesmo argumento vale para o apoio do governo Lula à cada vez menos disfarçada ditadura de Hugo Chávez, na Venezuela, onde, segundo Lula, “há democracia demais” e, segundo seu assessor especial para política externa, Marco Aurélio Garcia, “há liberdade de imprensa”.
Repercutiu muito mal, em todo o mundo, o fato de Lula ter dado apoio incondicional à ditadura castrista, em Cuba, no episódio da morte por greve de fome do dissidente Orlando Zapata. O presidente brasileiro chegou a culpar a vítima.
A crise de Honduras deixara clara a prática, pela diplomacia brasileira, de dois pesos e duas medidas. No caso hondurenho, o Brasil se bateu pelo estrito cumprimento de preceitos democráticos que haviam se tornado inúteis, em contraste com o apoio a ditaduras como a cubana. É que em Honduras o interesse de Chávez coincidia, circunstancialmente, com a manutenção de certas regras democráticas.
E Chávez é compañero.
A companhia dos irmãos Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e outros do mesmo time explica a opção brasileira por uma política externa de cunho terceiro-mundista, que recende a antiamericanismo esquerdista pueril e conflita com o novo papel do país, com uma economia dinâmica e avanços palpáveis na área social, em função do próprio governo lulista. O “Itamaraty do B”, que comanda essa vertente da diplomacia, garante seu caráter esquizofrênico.
Com isso, o Brasil tornou-se um dos pouquíssimos aliados da ditadura militar-clerical do Irã na questão da aplicação de novas sanções da ONU ao país por conta de seu programa nuclear.
O Brasil prefere dar a Teerã o benefício da dúvida, quando todas as indicações são de que o regime dos aiatolás desenvolve armas atômicas.
Para o jornal britânico “Financial Times”, “gafes recentes mudaram a imagem açucarada do Brasil e do seu presidente também. A política arcoiacute;ris do Brasil pode estar atingindo seu limite e poderia pôr em risco a vaga permanente no Conselho de Segurança que o país cobiça”. Lula rebateu que o Brasil deixou de lado o “complexo de vira-lata” e que essa postura “gera ciúmes de inimigos”. Mas, nitidamente, as contradições da política externa brasileira representam um grande risco para a tradição de eficiência, profissionalismo e confiabilidade de nossa diplomacia.
“Itamaraty do B” comanda viés esquerdista que põe credibilidade do país em risco
É fora de dúvida que o Brasil, por força da manutenção pelo governo Lula da política econômica do governo anterior, mais no primeiro mandato do que no segundo, atravessou satisfatoriamente a crise mundial, fazendo crescer a importância relativa do país. Ele se fortaleceu no grupo dos Bric, com Rússia, Índia e China, os mais bem-sucedidos países emergentes.
Mas começou a aparecer um ponto falho nesse panorama — o caráter errático da política externa brasileira. Um dos primeiros episódios foi a maneira branda com que o governo Lula tratou da expropriação, pela Bolívia, das instalações de exploração e produção de gás da Petrobras nesse país. A explicação estava no companheirismo ideológico com o recémeleito Evo Morales, que falou mais alto que os interesses nacionais.
O mesmo argumento vale para o apoio do governo Lula à cada vez menos disfarçada ditadura de Hugo Chávez, na Venezuela, onde, segundo Lula, “há democracia demais” e, segundo seu assessor especial para política externa, Marco Aurélio Garcia, “há liberdade de imprensa”.
Repercutiu muito mal, em todo o mundo, o fato de Lula ter dado apoio incondicional à ditadura castrista, em Cuba, no episódio da morte por greve de fome do dissidente Orlando Zapata. O presidente brasileiro chegou a culpar a vítima.
A crise de Honduras deixara clara a prática, pela diplomacia brasileira, de dois pesos e duas medidas. No caso hondurenho, o Brasil se bateu pelo estrito cumprimento de preceitos democráticos que haviam se tornado inúteis, em contraste com o apoio a ditaduras como a cubana. É que em Honduras o interesse de Chávez coincidia, circunstancialmente, com a manutenção de certas regras democráticas.
E Chávez é compañero.
A companhia dos irmãos Castro, Hugo Chávez, Evo Morales e outros do mesmo time explica a opção brasileira por uma política externa de cunho terceiro-mundista, que recende a antiamericanismo esquerdista pueril e conflita com o novo papel do país, com uma economia dinâmica e avanços palpáveis na área social, em função do próprio governo lulista. O “Itamaraty do B”, que comanda essa vertente da diplomacia, garante seu caráter esquizofrênico.
Com isso, o Brasil tornou-se um dos pouquíssimos aliados da ditadura militar-clerical do Irã na questão da aplicação de novas sanções da ONU ao país por conta de seu programa nuclear.
O Brasil prefere dar a Teerã o benefício da dúvida, quando todas as indicações são de que o regime dos aiatolás desenvolve armas atômicas.
Para o jornal britânico “Financial Times”, “gafes recentes mudaram a imagem açucarada do Brasil e do seu presidente também. A política arcoiacute;ris do Brasil pode estar atingindo seu limite e poderia pôr em risco a vaga permanente no Conselho de Segurança que o país cobiça”. Lula rebateu que o Brasil deixou de lado o “complexo de vira-lata” e que essa postura “gera ciúmes de inimigos”. Mas, nitidamente, as contradições da política externa brasileira representam um grande risco para a tradição de eficiência, profissionalismo e confiabilidade de nossa diplomacia.
“Itamaraty do B” comanda viés esquerdista que põe credibilidade do país em risco
EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO
A diplomacia do gol contra
EDITORIAL O Estado de S. Paulo - 22/04/2010 |
O presidente Lula fez anteontem o seu último discurso, como chefe de Estado, numa festa de formatura de novos diplomatas brasileiros. Não se sabe o que dizia o texto que lhe prepararam para a ocasião, afinal preterido por um improviso de meia hora, embora decerto contivesse uma exuberante louvação do que seriam os feitos da diplomacia lulista. No entanto, mesmo levando em conta os padrões de decoro político do atual governo, é improvável que a versão escrita abrigasse a pequenez para a qual o presidente apelou no seu solo, ao comparar a sua política externa com a dos anos Fernando Henrique, uma época em que os brasileiros teriam sido induzidos a ter "complexo de vira-latas", na antiga expressão do cronista Nelson Rodrigues. A mesquinharia consistiu em mencionar ? a pretexto de expor a alegada subserviência do País ? um episódio de 2002, quando o então chanceler Celso Lafer, em missão oficial aos Estados Unidos, tirou os sapatos ao passar pelos controles de segurança dos aeroportos do país, como era exigido. Sem citá-lo pelo nome, nem o do presidente a quem sucedeu, Lula repetiu a sua tirada de setembro de 2003, segundo a qual, "quando inventaram a história de tirar o sapato, disse para o Celso (Amorim): "ministro meu que tirar o sapato deixará de ser ministro"". Há formas e formas de um governo se dar ao respeito. Fernando Henrique, por exemplo, não condecorou a mulher, a antropóloga Ruth Cardoso, nem a do vice Marco Maciel, nem ainda a do ministro Celso Lafer. Anteontem, as senhoras Marisa Letícia, Mariza Alencar e Ana Maria Amorim, casadas, respectivamente, com Luiz Inácio Lula da Silva, José de Alencar e Celso Amorim, foram agraciadas, entre outras pessoas, com a Ordem de Rio Branco. "Não se pode imaginar a atuação do presidente Lula sem o apoio de sua mulher", justificou o titular do Itamaraty, invocando o encanecido ditado de que por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher. É dele, por sinal, o termo "nosso guia" aplicado a Lula. O improviso presidencial teve também uma metáfora sem pé nem cabeça. Para ilustrar o quanto o Brasil ficou importante, a ponto de gerar "ciúmes" (sic) e "inimigos", Lula imaginou a seguinte cena: "A gente vai chegando num baile que tinha 3 caras bonitos, 50 mulheres. Depois, chegam mais 50 caras bonitos e as mulheres vão variando. O dado concreto é que o Brasil não é mais coadjuvante." Imagine-se o que devem ter pensado os novos egressos do rigoroso Instituto Rio Branco que o ouviam. No exterior, o que começa a desconcertar é a conduta do Brasil, como apontou ontem no Financial Times de Londres o comentarista John-Paul Rathbone. Lula de fato se comporta como se o País já fosse um dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a meta das metas da sua política externa. Na realidade, a linha seguida pela diplomacia brasileira ? "narcisista e ingênua", observa Rathbone, citando os críticos do Itamaraty ? joga contra a pretensão do presidente. Ou, nas palavras do inglês, "a política brasileira do arco-íris pode estar chegando ao seu limite". Paradoxalmente, se é verdade, como tudo indica, que a comunidade internacional concedeu ao Brasil o atestado de maioridade de que Lula se vangloria, é também verdade que isso engendra expectativas de desempenho que o Itamaraty hoje em dia só faz frustrar. Quanto mais o Ocidente presta atenção no que Brasília diz e faz na cena global, tanto maior a repercussão do que Rathbone chama, eufemisticamente, as "gafes" de Lula. Não foi o líder de um paiseco, ou de um "coadjuvante", como ele disse que o Brasil deixou de ser, que condenou o encarcerado ativista cubano de direitos humanos Orlando Zapata por ter feito a greve de fome que o matou depois de 86 dias. Pior ainda: para os centros mundiais de decisão, uma coisa é o autocrata venezuelano Hugo Chávez se abraçar ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad, outra, incomparavelmente mais grave, é o democrata brasileiro advogar para ele na crise gerada por sua recusa a submeter o seu programa nuclear à inspeção da ONU, a que o Irã está obrigado. A diplomacia lulista tem menos nexo ainda do que as metáforas do presidente. |
CELSO MING
O vizinho roubado
Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 22/04/2010
Reduzir o vizinho a mendigo (beggar-thy-neighbour). Essa expressão vem da Grande Depressão e vem sendo usada para designar ataque predatório às exportações de país vizinho por meio da manipulação do câmbio. Um dos economistas que a empregaram nos anos 30 foi o inglês Dennis Robertson.
Em 2001, o então ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, acusou o Brasil de "robar al vecino", quando a liberação do câmbio produziu a desvalorização do real enquanto a Argentina mantinha o peso atrelado ao dólar, à paridade de um peso por um dólar, dentro do sistema conhecido como currency board.
Agora que a economia está globalizada e todos os países podem se considerar vizinhos uns dos outros, a expressão voltou a ser empregada para acusar a China de roubar riquezas dos demais países, sejam eles próximos ou distantes.
Os sindicatos americanos estão em campanha aberta contra "o ladrão de empregos", ou seja, contra a China. Na semana passada, a revista americana Foreign Policy publicou artigo intitulado China, the job killer (China, a matadora de empregos), assinado por Fred Bergsten, diretor do Peterson Institute for International Economics, que também aponta o dedo acusador na mesma direção.
A questão em si é polêmica porque nenhum tratado internacional de comércio prevê que a prática de um câmbio desvalorizado deva ser considerada jogo sujo. É verdade que a lei americana dos anos 30 (Smoot-Hawley Tariff Act) autoriza retaliações contra o país que seja considerado sistemático manipulador das cotações das moedas e é assim que políticos e sindicatos americanos pretendem que o câmbio da China seja considerado.
Afora isso, qualquer designação desse tipo será sempre política, pois não se conhece método capaz de traçar a linha divisória a partir da qual a cotação de moeda estrangeira deixa de ser justa e passe a ser considerada resultado de manipulação.
O presidente Hu Jintao acaba de admitir que a China pode adotar um processo de flexibilização gradual do câmbio. Em princípio, essa informação deverá provocar certo alívio nos Estados Unidos e, além disso, desarmar políticos e sindicalistas que preparavam o contra-ataque.
No entanto, ao contrário da crença manifestada por grande número de analistas, a pretendida liberação do câmbio na China não necessariamente provocaria a valorização do yuan. O fator de fundo não é o controle do câmbio por Pequim; é o índice de poupança que hoje na China atinge 51% da renda, um fato por si só impressionante. Quer dizer, apesar de ganhar mal, o chinês médio poupa 51% do seu salário. Em parte isso é possível porque casa, comida, saúde e educação contam com subsídio oficial. Seja como for, o Estado coleta essa poupança e dá a ela a destinação prevista na sua política. Parte substancial é aplicada em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e forma as tais reservas que hoje são de US$ 2,5 trilhões.
Se o câmbio for liberado na China, parece provável que o cidadão comum também seja autorizado a aplicar em moeda estrangeira (no caso dólares), ou diretamente, ou por meio de mecanismos que os bancos colocarão ao alcance do público. Se isso acontecer, a demanda por dólares continuará forte, podendo, com isso, provocar um efeito procura que, por sua vez, se encarregará de manter desvalorizado o yuan. Em todo o caso, nessas condições, vai ser difícil continuar acusando a China de roubar o resto do mundo.
Confira
Princípio da precaução
O diário parisiense Le Monde publicou ontem editorial advertindo as autoridades para o excesso de zelo na aplicação do princípio da precaução. Desta vez, o gancho foi a decisão de fechar os céus da Europa para os voos de avião depois da erupção do Eyjafjallajoekull. Foi enorme o prejuízo causado para as empresas aéreas, para o setor de turismo e para tanta gente que perdeu reuniões de trabalho. Essa suspensão dos voos não foi exagerada?
Revisão geral
Algumas aplicações do princípio da precaução podem ter sido equivocadas, como parecem ter sido as providências contra a gripe aviária e alguns produtos transgênicos. Em outros casos, os poderes públicos deixaram passar do ponto apenas para preservar os lucros das empresas. A doença da vaca louca, as contaminações por chumbo e amianto, o desastre de Chernobyl estão entre esses casos. É preciso preservar o interesse público, mas também não se pode pretender viver sob risco zero. Eis aí um equilíbrio difícil.
MÔNICA BERGAMO
O Gisele Bündchen dos cães
Mônica Bergamo
Folha de S.Paulo - 22/04/2010
Hunter, sete anos, é um dos únicos exemplares da raça podengo no Brasil; escolhido pelo "booker de cães" Sérgio Vilasanti, ele será a estrela dos desfiles do Pet Fashion Week, no sábado, no hotel Sheraton; seu valor está estimado em R$ 3.500
Markun fora
Reviravolta na TV Cultura: o jornalista Paulo Markun, até então apoiado pelo ex-governador José Serra para permanecer no comando da Fundação Padre Anchieta, que controla a emissora, não será reconduzido ao cargo. Numa conversa com Luiz Antonio Marrey, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, anteontem, ele foi avisado de que o governo estava retirando o apoio à sua reeleição.
Sayad na Lista
A surpresa pode ser ainda maior: o nome do governo que está no topo da lista para substituir Markun na presidência da fundação e na direção da emissora é o de João Sayad, atual secretário da Cultura de São Paulo. Sem disfarçar seu enfado no comando da pasta, Sayad assumiria a TV em junho, logo depois da eleição. Ele não foi encontrado ontem pela coluna para comentar.
Conselho em Transe
Era grande ontem a excitação entre conselheiros da Fundação Padre Anchieta, que vão eleger o comando da TV em maio. Foram fartos nos últimos dias os recados do governo de São Paulo, que tem forte influência sobre o colegiado, de que um "fato novo", e misterioso, mudaria os rumos da sucessão na emissora.
Turnê
A banda americana Green Day assinou contrato nesta semana para sua vinda ao Brasil.
Os músicos se apresentarão em outubro, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Lulinha É Pai
O presidente Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia, vão ser avós mais uma vez.
O bebê é de seu filho Fábio Luís, o Lulinha. O casal já tem quatro netos.
My Name Is Orlando
O ministro Orlando Silva, do Esporte, está fazendo curso de inglês para se preparar para a Copa 2014.
Ele se matriculou há alguns dias na escola Wizard.
Eu Apoio
Paulo Maluf (PP-SP) garante que tanto ele quanto os deputados do PP de SP, "por fidelidade partidária", apoiariam a candidatura de José Serra (PSDB-SP) caso seu correligionário, Francisco Dornelles (PP-RJ), seja vice do tucano. Sobre o fato de o PP ocupar o Ministério das Cidades e apoiar o governo Lula, ele diz: "O PP não está com o governo. Nós estamos com o Brasil. Com o Brasil!".
Ideal
Maluf diz que "o vice ideal para o Serra é o Dornelles. Ele é mineiro, primo do Aécio Neves, atrairia os votos de Minas. Senador do Rio, daria um palanque lá para o Serra. E também o tempo nacional do PP na TV". Parte do comando da candidatura de Serra concorda. E diz que a possibilidade de Dornelles ser vice "tem crescido". Já o senador não confirma. "Nem desminto. Não comento."
Outros Cinquenta
Apanhados pela crise política, 2.000 artistas de Brasília recorreram ao Ministério da Cultura para conseguir patrocínio para as performances que planejaram para as comemorações do cinquentenário da capital. O MinC investiu R$ 1,5 milhão no evento "Brasília -Outros Cinquenta", que terá performances de teatro, artes plásticas e música durante um mês na cidade.
Crediário
Em falta no mercado de joias desde 2004, quando um tsunami inundou as principais minas de safira, no Sri Lanka, peças com a pedra preciosa entraram na mira das brasileiras. "No último fim de semana, ficou pronto um par de brincos de safira. Liguei para a minha principal cliente e ela comprou na hora. Pagou US$ 150 mil (R$ 263 mil) em sociedade com a irmã", diz Alexandre Furmanovich, diretor da joalheria Silvia Furmanovich. O valor será pago em "12 vezes sem juros".
Investimento
O Itaú comprou três novas obras para o seu acervo de arte contemporânea: uma tela de Luiz Zerbini, outra de Leonilson e uma instalação de Marepe, batizada "Embutidinho".
Avaliadas em R$ 260 mil, elas serão expostas a partir de sábado na mostra "Recortes de uma Coleção", na Ricardo Camargo Galeria, no Jardim Paulistano.
Barba de Molho
O diretor italiano Eugenio Barba, fundador do grupo teatral dinamarquês Odin Teatret, dará palestra na SP Escola de Teatro no próximo dia 6. Antes, falará em Porto Alegre e no Rio de Janeiro.
Curto-circuito
EDU LOBO faz show de lançamento do CD "Tantas Marés" amanhã, às 21h, no Sesc Pinheiros. Classificação: dez anos.
O LIVRO "Leda Catunda 1983-2008" será lançado hoje, a partir das 19h, na Livraria Martins Fontes da avenida Paulista.
OS CANTORES Jair Rodrigues, Luciana Mello e Jair Oliveira apresentam o show "O Samba me Cantou" amanhã, às 22h, no HSBC Brasil. Classificação etária: 14 anos.
A 5ª MOSTRA ANUAL DE FOTOJORNALISMO da ARFOC-SP será aberta amanhã, a partir das 19h, no Conjunto Nacional.
O CURADOR Expedito Araújo seleciona grupos teatrais para apresentarem peças no projeto "Seis na Sé", em maio.
MÍRIAM LEITÃO
Decisão britânica
Míriam Leitão
O GLOBO - 22/04/10
Trezentas línguas são faladas em Londres; existem 40 comunidades de imigrantes de mais de 10 mil pessoas; quando a Polônia entrou na União Europeia e seus cidadãos receberam o direito de circular entre os países, um milhão e meio de poloneses migraram para a Grã-Bretanha. Por isso, claro, o limite à imigração é um dos temas da campanha eleitoral britânica.
O tamanho do Estado é outro tema, mas não se discute matéria vencida, como reestatização. Esse assunto ficou resolvido nos anos 1980. Agora, o que se discute é quanto poder pode ser dado a mais aos cidadãos, limitandose o poder do Estado.
Os conservadores têm mais propostas nesta área, mas vão da possibilidade de revogar o mandato de um parlamentar, se um percentual de eleitores do distrito quiser, até o aumento do poder dos pais em mudar as diretrizes escolares baixadas pelo governo. Outro tema que esquenta o debate é a acusação de que os trabalhistas aumentaram o número de funcionários públicos e pressionaram o déficit público.
O problema é que, segundo o “Financial Times”, as promessas de campanha de todos os candidatos, se fossem cumpridas, custariam 30 bilhões de libras.
Nas pesquisas de intenção de voto, o Partido Conservador, de David Cameron — nada a ver com o cineasta de “Avatar” e inimigo de Belo Monte —, estava na frente até uma semana atrás. O debate na televisão entre os líderes dos três partidos mudou o quadro. A última pesquisa feita antes do primeiro debate dava 37% para os conservadores, 31% para os trabalhistas.
Já estava configurado, portanto, um cenário que não é comum na bipartidária Inglaterra. Normalmente, um dos dois partidos, Trabalhista ou Conservador, consegue maioria e forma o gabinete.
Agora, nenhum dos dois históricos adversários deve conseguir a maioria.
A possibilidade de um governo de coalizão aumentou muito nos últimos dias. O líder dos democratas liberais, Nick Clegg, foi considerado o vencedor do primeiro debate televisivo. Algumas pesquisas feitas nos últimos dias mostraram o crescimento do terceiro partido, o que aumenta a chance de que eles sejam o pêndulo para formar a maioria do próximo governo. Os lib dems (ou democratas liberais) passaram a ser o principal alvo de crítica dos tories (ou conservadores) porque eles estão mudando o quadro eleitoral.
Quando estive em Londres no ano passado, conversei com integrantes do gabinete do primeiro-ministro Gordon Brown. Um dos assessores de Brown me incluiu na lista de pessoas às quais ele mandava um boletim, escrito na primeira pessoa, com suas avaliações da questão climática. No dia em que as eleições foram convocadas, ele mandou uma mensagem ao grupo avisando: “O primeiro-ministro convocou eleições e, a partir desse momento, eu me desligo do governo e passo a me incorporar à campanha”.
Ele é um dos poucos assessores que Brown nomeou.
A maioria faz parte da máquina e, portanto, servirá a qualquer governo. “Temos apenas que mudar um pouco o que falamos, mas o trabalho é o mesmo”, me disse, na semana passada, um desses funcionários de carreira de Estado.
Pelo sistema inglês, a partir do momento em que as eleições são convocadas, o governo e os parlamentares têm que manter um perfil mais discreto. Fazem campanha, mas tentam ao máximo separar suas funções de representantes das de candidatos.
Normalmente, o primeiro-ministro limita suas atividades públicas como chefe de governo.
Para a reunião sobre desarmamento nuclear, por exemplo, a Inglaterra enviou o ministro das Relações Exteriores, David Miliband. A campanha normalmente é curta, de 40 dias.
Brown teria que convocar eleições até junho porque nenhuma legislatura pode durar mais de cinco anos, mas ele tentou adiar ao máximo, esperando que seu grande inimigo ficasse menor: a crise econômica. É ela, claro, o ponto central do descontentamento dos britânicos com os trabalhistas.
A Inglaterra, que afundou em 2009, cresceu mais que a Europa no primeiro trimestre do ano. Mesmo assim, o desemprego e o descontentamento continuam altos.
Na imigração, a proposta dos tories é limitar os que venham de qualquer país fora da União Europeia com o estabelecimento de cotas.
Pelo tratado da UE, a circulação de cidadãos da região é mais flexível, e por isso houve a onda polonesa logo após a aceitação da Polônia no grupo. Eles foram, se espalharam por toda a Inglaterra, na maioria com intenção de trabalhar, fazer um pé-de-meia e voltar. Ocuparam os postos de trabalho mais difíceis, formaram uma rede de fornecedores de pequenos serviços. Com a crise, metade já voltou à Polônia.
Esse é o argumento de Gordon Brown: já há uma diminuição da imigração.
Os conservadores nunca foram muito favoráveis à aproximação com os outros países. No Parlamento Europeu, por exemplo, os ingleses saíram do bloco dos outros partidos conservadores.
Preferem atuar de forma mais apartada, para irritação dos integrantes do partido de Nicolas Sarkozy.
A Inglaterra é da UE, mas preservando seu sistema monetário, e por isso, agora, pode ver com uma certa distância a preocupação alemã com a crise grega.
Na questão climática, eu ouvi, quando fui lá, que nada muda radicalmente se os tories vencerem. Eles, que inicialmente negavam as mudanças climáticas e não demonstravam nenhuma preocupação com a questão ambiental, tiveram que mudar seu discurso diante da mudança das convicções ambientais do eleitorado britânico.
Eles inclusive votaram a favor da Lei de Energia e Mudanças Climáticas, que prevê teto de emissão para as empresas, controle de emissões dos próprios órgãos do governo, e metas para um país como um todo.