segunda-feira, março 22, 2010

GEORGE VIDOR

Fôlego nos portos
O GLOBO - 22/03/10


Ao menos no caso dos portos, o país vai ganhar fôlego para remover seus gargalos dos segmentos de infraestrutura e transportes. O plano nacional de dragagem, em andamento, e o sistema de sinalização para acompanhamento dos navios na entrada e na saída dos terminais ampliará, na prática, em 30% a capacidade dos principais portos brasileiros.

A primeira fase da dragagem já foi concluída em alguns portos e agora começou no Rio (que passará a ter um calado de 15 metros, em vez dos dez atuais; o canal de acesso a Santos, em seus 15 quilômetros, passará também de 12 para 15 metros de profundidade). As empresas que executam esse serviço têm um ano para fazer o trabalho, e se comprometem com a manutenção por mais seis anos.

Os trabalhos estão andando rápido porque a crise financeira mundial fez com que muitas dragas ficassem ociosas ao redor do planeta (os projetos de ilhas artificiais no Golfo Pérsico, por exemplo, pararam completamente). Então ficou mais fácil contratá-las, e a preços menos salgados.

A dragagem possibilitará a atracação, nos portos brasileiros, de navios com maior capacidade de transporte de carga. E a sinalização aumentará a velocidade de movimentação dessas navios nos canais de acesso aos terminais.

Desatado esse nó no curto prazo, o país ficará à espera da concretização dos investimentos previstos na expansão dos atuais terminais. Os principais investimentos ocorrerão em Santos, Itaguaí, Rio, Itaquí (Maranhão), Vila do Conde e Santarém (Pará).

O ministro Pedro Brito, dos Portos, está agora preocupado é com os acessos rodoviários e ferroviários aos portos, que quase sempre dependem de obras estaduais e municipais.

Existe no momento um déficit de três mil motoristas de ônibus no Rio, segundo o presidente executivo da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira. Com os investimentos industriais e de infraestrutura em curso no Rio de Janeiro, empreiteiras têm arregimentado esses motoristas para dirigirem grandes caminhões e tratores. Para substituílos a Fetranspor está montando com o Senat mais quatro centros de treinamento profissional. São necessários, no mínimo, 60 dias para formar um motorista de ônibus, e isso no caso de pessoas que já tenham experiência em dirigir veículos leves.

Os ônibus no Rio transportam, em média, 64 milhões de passageiros por mês. Já chegaram a ter uma clientela de 109 milhões de passageiros/mês, número que foi se reduzindo até cair para 61 milhões.

Com a utilização do bilhete único intermunicipal na região metropolitana (que se estende a municípios como Maricá e Mangaratiba) e a simplificação da variedade de tarifas de 74 para 12, Lélis acredita que haverá recuperação de passageiros, mas dificilmente o número recorde será alcançado. O mais provável é que esse meio de transporte público não passe de 80 milhões/mês.

Uma sofisticação no sistema de bilhetagem dos ônibus tem ajudado na recuperação de passageiros.

Uma companhia, a Riocard, desenvolveu programas de computador e opera o sistema que possibilitou a criação do bilhete único intermunicipal.

Com isso, as despesas com vale transporte diminuirão expressivamente para as empresas no Rio, diz Lélis, aumentando a empregabilidade na região metropolitana, pois o fato de alguém morar longe, ou precisar pegar mais de um meio de transporte, não será mais empecilho para a contratação.

Ficaram prontos os estudos quer permitirão à usina de Jirau, no Rio Madeira, aumentar para 50 o número de turbinas bulbo.

Originalmente eram 46 máquinas, e mais duas já tinham sido autorizadas.

Agora poderão ser mais duas. Assim como a hidrelétrica de Santo Antonio, também no Rio Madeira, a jusante, Jirau praticamente não terá reservatório: as turbinas serão movimentadas pela vazão normal do rio, que é grande, mesmo fora do período da cheia.

Não há argumento que justifique cortar de uma penada só quase 15% da receita do governo de um estado, como acontecerá com o Rio de Janeiro no caso de prevalecer a emenda Ibsen Pinheiro, que redefine a distribuição dos royalties do petróleo. Ainda mais com os problemas que o Rio ainda enfrenta: mais de um milhão de pessoas vivem em favelas só na capital (20% da população do município); no entorno, há cinco milhões de pessoas, a maioria com renda baixa e carente de serviços básicos; no Noroeste Fluminense, há municípios com renda por habitante inferior à do Nordeste. Na redistribuição, alguns municípios iriam receber apenas R$ 1 mil mensais de royalties.

A natureza foi pródiga com o Brasil e especialmente com o Rio, mas o estado não tem como tirar grandes riquezas do seu solo, a não ser no fundo do mar, e só muito recentemente é que a contribuição direta do petróleo para os cofres estaduais governo vêm se transformando em investimentos públicos (por causa do longo período de esvaziamento econômico, o RJ, na prática, mal conseguia fechar suas contas; era como se vivesse pendurado no cheque especial, sempre devendo). Sem os royalties o estado de fato andaria para trás, pois perderia essa capacidade de investimento que ressurgiu não faz muito tempo.

Nesse quadro, imaginem como se sente um morador de Macaé ao saber que centenas de milhares de barris de óleo e milhões de metros cúbicos de gás natural que transitam por seu município não recolhem impostos para o estado. E que os royalties, que compensam essa perda, correm o risco de também não ficar por lá.

ROGER AGNELLI


Uma nova lógica

O Globo - 22/03/2010
Uma nova lógica de investimento social privado está nascendo. Uma lógica em que o papel da empresa sai da aplicação de recursos em projetos sociais e segue para a integração com poder público e sociedade civil organizada em favor do desenvolvimento territorial sustentável.

A ideia é que todos trabalhem juntos para estimular vocações locais e solucionar problemas através de ações estruturantes. Essa é a proposta da parceria social públicoprivada que está nascendo na forma de um projeto de lei em Minas Gerais, berço da Vale.

O conceito dessa parceria resulta da experiência da Fundação Vale com governos e organizações sociais em várias cidades, na união de esforços, recursos e conhecimentos com um único propósito.

Ações imediatistas e assistencialistas não têm mais espaço. O investimento social privado deve ser planejado em ações de médio e longo prazo, baseadas em diagnósticos socioeconômicos, integradas a políticas sociais emancipatórias, com metas e indicadores de resultados.

É possível.

A política de investimento social estruturante, que valoriza ativos locais e reduz desigualdades, hoje é uma marca da Vale. Nosso grande desafio é fazer com que as oportunidades trazidas pelos investimentos na mineração beneficiem o território, deixando um legado de sustentabilidade para a comunidade.

Por isso, um objetivo dessa parceria é contribuir para fortalecer a economia local, a partir da dimensão social.

Outro objetivo da parceria é contribuir para uma infraestrutura adequada às cidades que querem o desenvolvimento. Na prática, a Fundação Vale já realiza parcerias para reduzir o déficit de infraestrutura urbana e habitacional, aprimorar processos de gestão pública e promover o desenvolvimento humano e econômico. Em Minas Gerais, por exemplo, temos acordo para fomentar o Turismo Solidário no Vale do Jequitinhonha, contribuímos na elaboração de projetos estruturantes e montaremos três núcleos em diferentes áreas para fortalecer o empreendedorismo e oferecer atividades de arte, cultura e esporte para jovens.

A parceria social público-privada demanda uma nova postura de empresas, governos e sociedade. Exige abertura ao diálogo para a construção de uma visão comum, sobre a qual integremos esforços em favor da geração de oportunidades locais e da melhor aplicação dos investimentos sociais privados e dos recursos gerados por impostos. Como iniciativa privada, a Vale quer colaborar com aporte de conhecimento, tecnologia e capacidade de gestão. A expectativa é de que mais empresas, governos e organizações da sociedade civil se unam no desafio de construir este tipo de parceria pelo Brasil.

Todos temos a ganhar.

NELSON PAES LEME


Nunca antes na história deste país...
O Globo - 22/03/2010
Nossas lideranças políticas, especialmente as da oposição, não estão se dando conta de um fenômeno histórico da mais alta gravidade e relevância para os destinos futuros do país. Ocorre no Brasil um fato absolutamente inusitado: pode ser eleita pela primeira vez presidente da República uma mulher.

Até aí, nada demais. Este é um fato de grande prova de amadurecimento do eleitorado nacional. Mas, mais do que apenas essa nova e inusitada opção eleitoral, estas eleições podem significar uma radical mudança na origem do poder governante. Oriunda da burocracia partidária, sem jamais ter exercido qualquer mandato eletivo quer no Executivo, quer no Legislativo, a candidata do governo, se eleita, representará não o ápice da construção de uma carreira forjada no voto popular, como é o historicamente natural, mas a vitória e o encastelamento no poder central, da própria burocracia partidária do PT.

Mais do que isso, pela própria composição dos quadros dirigentes, já esboçada na campanha, e pelo fato de seu grande coordenador e mentor ser extinoutro burocrata partidário, o professor Marco Aurélio Garcia, também sem nunca ter tido um voto sequer para qualquer cargo eletivo, a partir de 2011 o Brasil poderá estar sendo governado, tanto em sua política interna como em sua política externa, pela burocracia petista, subjugando as lideranças com voto. Um terceiro fato não menos inusitado, nessa mesma linha de inovações, virá a se somar a esses outros dois primeiros: o fato de a grande liderança carismática com votos, oriunda dessa construção eleitoral de carreira, nos últimos trinta anos, o presidente Lula, retirar-se do poder, deixando essa burocracia no comando da nação pelos quatro anos seguintes à sua saída. O que poderá acontecer dessa nova ordem? Pela atual composição de forças que vêm regendo obrigatoriamente as bases de aliança visando à governabilidade desde o fim do autoritarismo e a reconquista da democracia representativa no Brasil, e pela inexistência de uma verdadeira reforma política desde a edição da Constituição de 1988, deverão ser convocados a governar, mais uma vez, o fisiologismo e o clientelismo do PMDB. Sarney governou com o Centrão e com o remanescente da Aliança Democrática projetada por Tancredo entre o chamado PMDB histórico e a dissidência da antiga Arena, representada pelas forças ditas progressistas egressas da base de apoio parlamentar da ditadura militar desgastada. Collor, com seu discurso de renovação redentorista e pseudopurificador de direita, eleito por uma legenda de aluguel, foi obrigado a se render ao remanescente do Centrão fisiológico para governar enquanto durou. Itamar, embora originado no PMDB histórico, teve de se render ao mesmo modelo para concluir a transição. Fernando Henrique foi eleito e governou, já na consolidação democrática, com a reedição dessa aliança entre progressismo e fisiologismo, entre o PSDB e o PFL.

O fenômeno atual é completamente diferente. Significará uma nova e inusitada composição de forças políticas a governar o Brasil, cujos resultados também não sabemos no que irá dar: a aliança entre a burocracia corporativista do PT sindicalista e o fisiologismo clientelista do PMDB, loteando e ocupando o aparelho do Estado.

Essa forma de composição de forças é também inédita no mundo. Na extin ta União Soviética, o fenômeno se deu apenas pela ocupação do aparelho do Estado pela burocracia partidária, por exemplo, em regime fechado e autoritário.

Em inúmeros outros países subdesenvolvidos, a ocupação do aparelho do Estado pelo fisiologismo clientelista também é operada isoladamente.

Juntos, nunca se viu.

O curioso disso tudo é que a cidadania, perplexa e desinformada pela mídia, dessa nova e histórica composição de forças, vai para estas eleições imbuída do espírito de continuidade de políticas de Estado que vêm sendo bem-sucedidas e vitoriosas para o país desde os últimos vinte anos, sem sequer suspeitar que uma radical mudança de rumos se avizinha. As propostas de governo expressas pelo documento editado da burocracia do PT que poderá nos governar a partir de 2011 são, no mínimo, um salto no escuro.

Nunca antes experimentado quer na história deste país, quer alhures 
NELSON PAES LEME é cientista político

NAS ENTRELINHAS

Enquanto é tempo
Alon Feuerwerker

CORREIO BRAZILIENSE - 22/03/10

No cenário pacífico, democrático e plural, a liderança do Brasil é indisputável. No outro, não é. A Alemanha conseguiu em meio século de paz o que não obtivera em um século de grandes guerras: mandar na Europa. E Berlim não tem a bomba

As guerras são sempre produto de ações incrementais, um processo “químico”. Todos os reagentes são necessários. Se faltar unzinho que seja, não tem reação. É como acidente de avião. Um monte de coisa tem que dar errado junto. E de modo aparentemente imperceptível, antes do desastre.

Isso entretanto não elimina a necessidade de tentar identificar retrospectivamente, em cada processo, os primeiros passos. Quando no futuro a América Latina estiver em plena corrida nuclear será interessante analisar como ela começou.

Uns responsabilizarão a Venezuela, por recorrer à bomba como suposto meio de defesa contra os Estados Unidos. Outros culparão os Estados Unidos, pelas ameaças à soberania da Venezuela.

Outros olharão para o que fez o Brasil. Nós tínhamos duas opções: intervir decisivamente para demover nossos vizinhos ou pegar uma carona na instabilidade, para reavivar as brasas das nossas próprias ambições.

O Brasil está vocacionado para liderar a América do Sul, pelo peso geopolítico. Mas essa liderança não será exercida sem levar em conta a existência dos Estados Unidos, pelo peso geopolítico deles. Como conduzir a contradição?

O lógico seria cuidar preliminarmente da nossa soberania. É nosso principal ativo. Sem ela, o projeto de liderança vira fumaça. Todos os discursos incendiários de Sadam Hussein, bem como os vídeos e fotos dele empunhando armas, ou saudado pelas multidões, dormem num arquivo empoeirado e esquecido. Pois o Iraque deixou, na prática, de existir como nação independente.

Sadam está para o Iraque como Solano López esteve para o Paraguai. Se o objetivo era passar à História como heroi derrotado, mártir do império, tudo bem. Se era construir um grande país, deu errado.

Como defender melhor a soberania? Como calibrar as doses de confronto e cooperação com os Estados Unidos para o resultado final ser um Brasil mais forte? E não mais subordinado, ou isolado (no fim dá na mesma)? A nuclearização da América do Sul vai nos conduzir à hegemonia ou dará a Washington a legitimidade e o argumento necessários para construir um cordão sanitário?

Difícil acreditar que o Brasil vá deixar a Venezuela ter a bomba antes. E como reagirá a Colômbia a uma eventual bomba brasileira ou venezuelana? Neste caso ela vai ver a novidade como risco decisivo a sua soberania, dado o potencial desequilíbrio interno de forças em favor da guerrilha.

E a Argentina, com quem construímos lá atrás uma paz baseada precisamente na renúncia mútua a armas nucleares? Aceitará deixar o destino dela nas nossas mãos, sob o nome de fantasia de “Conselho de Defesa Sul-Americano”? Ou vai chamar gente de fora para a festa?

Os defensores do Brasil nuclearizado têm um argumento, recorrente. Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e o Iraque, mas não invadiram a Coreia do Norte.

É um lado da verdade. O outro? A bomba protege o establishment político norte-coreano, mas a República Democrática e Popular da Coreia é um país completamente isolado, desprovido de relações estáveis com os vizinhos e cada vez mais dependente do poderio chinês para contrabalançar as pressões de Washington.

As vantagens de uma América do Sul desnuclearizada são evidentes. Diminuem os motivos para a ingerência extracontinental. Fica mais tranquilo e natural construir um mercado comum. Continua aberto o caminho para a ampla cooperação coletiva. Elimina-se uma barreira à política comum de Defesa, o meio mais eficaz de garantir a soberania regional.

No cenário pacífico, democrático e plural, a liderança do Brasil é indisputável. No outro, não é. A Alemanha conseguiu em meio século de paz o que não obtivera em um século de grandes guerras: mandar na Europa. E Berlim não tem a bomba.

Os defensores do artefato brasileiro gostam de falar por códigos. Escondem-se atrás de comportamentos enigmáticos e sofismas. São os especialistas do “deixa comigo que eu sei o que estou fazendo”, ou do “vocês não têm moral para nos criticar”.

Seria bom se viessem a público defender suas posições abertamente.

Para que o país possa se defender delas a tempo

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Controle em empresas no Brasil está menos concentrado

Folha de S. Paulo - 22/03/2010
 
Cresce na Bovespa o número de empresas com controle difuso ou pulverizado.
As companhias de controle difuso são aquelas em que o controlador tem entre 33% e 50% das ações ordinárias (ONs), com direito a voto.
O controle é considerado pulverizado quando o maior acionista tem menos de 33% das ONs. E é consolidado, quando quem controla a empresa detém mais de 50%. "Não "enxergamos" quando há um acordo de acionistas definido", diz André Lion, da BRZ. As controladoras da Vivo, por exemplo, têm cada uma 38% das ONs. De 382 empresas de capital aberto, 224 ainda têm o controle muito concentrado. Mas já são 52 as que têm comando pulverizado. O mercado aquecido permite aumento de companhias com capital disperso.
FIM DE ESTÍMULO TRAZ RECESSÃO DE VOLTA?
Carlos Eduardo Gonçalves tornou-se associado senior da LCA Consultores. Em seu primeiro trabalho para a nova casa, o economista e professor da FEA-USP trata de incentivos governamentais. "Com a crise, criou-se a ideia de que, se retirar estímulo de países que estão saindo da recessão, eles afundam de novo", diz. Para Gonçalves, em casos como o dos Piigs, as políticas fiscais contracionistas podem impulsionar o crescimento da economia, mesmo no curto prazo. "É falacioso afirmar que cortar gastos públicos é receita certa para derrapada da atividade econômica." Em países endividados e com falta de credibilidade, como a Grécia, ajustes fiscais reduziriam incertezas e juros, impulsionando o investimento privado e o crescimento, diz. "Se há um momento em que o consenso é possível, viabilizando reformas impopulares, é justamente no meio de uma crise econômica."
REGIONAL 
O livro "Mercosul e a Integração Regional" (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Fundação Memorial da América Latina), do embaixador Rubens Barbosa, tem lançamento marcado para o dia 25, na livraria Cultura do Conjunto Nacional, em SP. A obra reúne ensaios publicados pelo autor sobre o processo de negociação do Mercosul e cobre, nos últimos seis anos, os dilemas que se passaram nas reuniões presidenciais.
AINDA NA PIRÂMIDE 
Ainda há brasileiros que esperam indenizações no caso Madoff. A recente decisão da Justiça de Nova York beneficiou investidores na Madoff Securities, mas a maioria dos brasileiros aplicou em fundos que entraram no esquema de pirâmide, responsável por perdas de US$ 65 bilhões.
Os bancos Santander e Safra fizeram acordos com boa parte dos investidores no exterior -foi lá que brasileiros aplicaram, segundo advogados. Com o dinheiro recebido e empréstimos que as instituições ofereceram, muitos clientes investiram em Bolsa, que estava em baixa, e recuperaram perdas.
Investidores em outros bancos ainda questionam a responsabilidade dos fundos. "Quem comercializava esses produtos cobrava taxa para administrar os ativos. Tem responsabilidade de custódia e de fiscalização até o fim da linha", diz o advogado Pierre Moreau, que defende brasileiros nesse caso.
O RETORNO 
O fluxo de investidores estrangeiros para a Bolsa, que caiu muito no começo deste ano, volta a subir. No primeiro bimestre, a saída de estrangeiros na Bovespa foi de aproximadamente U$ 1.8 bilhão. O difícil início de ano foi marcado por problemas em Dubai e na Europa. Até o dia 10, porém, US$ 1 bilhão já voltou aos emergentes. No ano, o fluxo de fundos a esses mercados é de cerca de U$ 5.6 bilhões. "A boa notícia é que esse fluxo só tende a aumentar. Uma boa parte desses investidores começou a investir no Brasil recentemente e sinaliza interesse de longo prazo com o país", diz Marcelo Kayath, que divide com José Olympio Pereira a direção do banco de investimentos do Credit Suisse. Os setores mais atrativos são infraestrutura, energia e consumo, afirma Kayath.

com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA


Uma ideia sem sentido
O Estado de S. Paulo - 22/03/2010
Governo quer criar uma seguradora estatal, o que vai frontalmente contra tudo o que acontece no setor de [br]seguros no Brasil
Parece que o governo está disposto a criar uma nova seguradora. A razão para isso seriam as grandes obras que começam a ser tocadas nos mais diversos campos da infraestrutura nacional.

Geração de energia, transporte, Copa do Mundo e Olimpíada seriam bons motivos para justificar a criação de uma nova estatal, que não tem a menor razão técnica para ser criada e vai frontalmente contra o que acontece com o setor de seguros no Brasil.

O argumento de que a crise de 2008 mostrou a fragilidade do sistema internacional de seguros e resseguros é a mola mestra da ideia. Mas não se sustenta nem mesmo quando usam o argumento da necessidade de aporte de dinheiro do governo norte-americano para salvar a AIG, então a maior seguradora do mundo, que recebeu cerca de US$ 180 bilhões para não quebrar.

Imaginar que o Tesouro brasileiro teria recursos para fazer frente aos valores envolvidos no caso de um grande sinistro é desconsiderar o tamanho do Brasil ou, pior ainda, comprometer ingenuamente a pouca poupança nacional de forma temerária e desnecessária.

Criar uma seguradora, garantindo sua operação através da transferência dos riscos para o Tesouro, em vez de se valer do mercado internacional de resseguros, é ir contra o princípio básico em que se assenta a atividade. Ou seja, se é para o governo brasileiro ficar com o risco, é mais barato transferir as responsabilidades diretamente para ele.

Seguro é pulverização de risco. É a divisão dos prejuízos suportados por um segurado por todos os integrantes do mútuo. A criação de uma seguradora estatal, com lastro apenas no Tesouro, e não na capacidade da atividade seguradora internacional, é comprometer a capacidade de investimento do país.

Para dar suporte ao negócio, o Tesouro teria que separar em conta específica o total das reservas necessárias para fazer frente aos sinistros. Quem trabalha no mundo real sabe que, toda vez que um banco dá uma fiança, ele reduz a linha de crédito do tomador na mesma proporção da fiança dada. Seria isto que ocorreria, só que em escala nacional.

Por outro lado, as principais seguradoras e resseguradoras internacionais estão instaladas ou operam no Brasil. Para que inventar a roda, se tem gente andando de ônibus espacial? É completamente sem sentido desprezar a experiência dessas empresas que, faz tempo, possuem tecnologia de sobra para fazer frente aos riscos que podem afetar as obras brasileiras.

O melhor exemplo de que a solução mais eficiente é a contratação de seguros através do mercado vem da atividade que é a bola da vez: a exploração do petróleo no pré-sal. Um dos maiores sinistros da história do seguro no Brasil foi o afundamento da plataforma P-36, da Petrobrás. A indenização foi de US$ 500 milhões. E foi paga rapidamente, sem maiores problemas, pelas seguradoras e resseguradoras que faziam parte do pool.

Com este pagamento a Petrobrás, e se ela não tivesse o seguro, o governo, deixaram de desembolsar US$ 500 milhões, podendo usá-los para outros investimentos produtivos, em vez de alocá-los para recompor o que já existia, mas foi destruído pelo sinistro.

Onerar o Tesouro baseado na falácia de que o mercado internacional de seguros e resseguros não tem capacidade ou solidez para assumir os riscos das novas obras brasileiras não tem cabimento. O mundo está permanentemente em obras e as seguradoras se saem muito bem, protegendo-as com sua capacidade e tecnologia.
É ADVOGADO, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA, PROFESSOR DA FIA-FEA/USP E DO PEC DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS E COMENTARISTA DA RÁDIO

RODRIGO BOTERO MONTOYA


Governo brasileiro afronta a Colômbia
O GLOBO -  22/03/2010



Um incidente na vaga que compartilham Colômbia e Brasil na Diretoria do Fundo Monetário Internacional ameaça deteriorar as relações bilaterais, por causa da aparente aceitação do comportamento abusivo do seu diretor-executivo no FMI, Paulo Nogueira, que têm expressado as autoridades brasileiras.

No dia 18 de fevereiro, María Inés Agudelo, a diretora-suplente pela Colômbia, recebeu um telefonema de Nogueira, que de forma intempestiva e grosseira lhe ordenou abandonar seu escritório em um prazo de 24 horas. Para acrescentar o insulto à injúria, Nogueira resolveu notificar o gerente do Banco de la República, governador pela Colômbia no Fundo, da destituição de Agudelo, solicitando-lhe o envio de currículos de possíveis candidatos a substituíla, para que ele selecionasse o representante do governo colombiano perante o Fundo em Washington.

María Inés Agudelo, ex-vice-minis tra da Fazenda da Colômbia, não era uma empregada de Nogueira. Sua destituição constitui uma irregularidade que não corresponde ao espírito do acordo constitutivo da vaga no FMI, nem ao acordado entre os governos da Colômbia e do Brasil. Segundo esse entendimento, as autoridades colombianas selecionam o diretor-suplente no FMI conforme seu melhor critério. Quando se discutem na Diretoria assuntos relacionados com o interesse colombiano, quem intervém é o diretor-substituto, não o diretorexecutivo brasileiro.

Esse entendimento não se pode violar abruptamente, por um ato tosco, sem que se rompa a tradicional harmonia, baseada no respeito mútuo, que tem caracterizado há tempos as relações entre a Colômbia e o Brasil. Também fazem parte da mesma diretoria a República Dominicana, o Equador, a Guiana, o Haiti, o Panamá, o Suriname e Trinidad e Tobago. O acordo que a constituiu estabelece que, durante o período 2004 a 2016, o cargo de diretor executivo corresponde ao Brasil, e o de diretor-suplente à Colômbia. Os demais países nomeiam assessores que devem preencher determinados requisitos profissionais. Caso contrário, o diretorex ecutivo pode solicitar ao governador do respectivo país no Fundo que designe um substituto.

Tal como interpretam o acordo as autoridades econômicas colombianas, o status do diretor-suplente é diferente daquele dos assessores. Sua nomeação e remoção são atos soberanos do governo colombiano, e não são da alçada do diretor-executivo brasileiro.

No entanto, o documento que rege o manejo dessa diretoria não tem força contratual. Não existe um recurso legal válido para corrigir uma arbitrariedade como a que acaba de ocorrer.

Por definição, os acordos de cavalheiros funcionam quando aqueles que os executam se comportam como tal.

Alexandre Kafka, Murilo Portugal e Eduardo Loyo, os representantes anteriores do Brasil no FMI, manejaram de forma impecável as relações com Colômbia. Mas cavalheirismo não é o traço característico de Paulo Nogueitra ra, que conquistou a animosidade dos seus colegas na Diretoria do Fundo.

As autoridades colombianas têm reagido com firmeza e discrição. O Banco Central e o Ministério da Fazenda, assim como o Ministério de Relações Exteriores e a Presidência do Brasil, têm sido notificados sobre a inconformidade colombiana com o comportamento do seu representante no FMI.

As autoridades econômicas colombianas informaram ao diretor-gerente do Fundo que Nogueira não está autorizado a intervir em nenhum assunto relacionado com a Colômbia. Nesses casos, viajaria a Washington um funcionário do Banco de la República para defender o interesse colombiano.

O governo brasileiro deve entender que o abuso de Nogueira significa um custo político considerável. Sua solidariedade com um comportamento inaceitável é incompatível com o objetivo de manter relações cordiais com a Colômbia.
RODRIGO BOTERO MONTOYA é exministro da Fazenda da Colômbia.

MÔNICA BERGAMO

Só Sandy 

Folha de S.Paulo - 22/03/2010

A cantora Sandy, clicada para o encarte de seu primeiro disco solo, que sai em maio e terá participação da inglesa Nerina Pallot; ela desistiu de assinar como "Sandy Leah" e vai usar só o primeiro nome no trabalho

O gigante se move
A construtora Camargo Corrêa anunciará em breve uma ampla reestruturação. Braço mais tradicional do grupo e responsável, no ano passado, por 30% de seu faturamento líquido, de R$ 16 bilhões, ela será dividida em quatro empresas autônomas que terão comando, planejamento e até nomes próprios.

QUADRADO
Uma das novas empreiteiras atenderá, na construção, ao setor de óleo e gás, com clientes como Petrobras. As outras três serão voltadas aos seguintes setores: energia (com a construção de hidrelétricas e térmicas para clientes potenciais como Suez e Votorantim), mineração (em que os clientes serão empresas privadas como Vale e CSN) e infraestrutura, em que terá como cliente os governos federal, estaduais e municipais.

FONTE
Dos R$ 5 bilhões que a construtora faturou em 2009 com negócios em todas essas áreas, R$ 1 bilhão veio de governos. O restante foi arrecadado com clientes privados.

SÓ NOSSO
Em tempo: o controle das novas empresas continuará 100% nas mãos do grupo.

SOM E IMAGEM
A Gegê Produções, que administra a obra de Gilberto Gil, está contratando o Instituto Tom Jobim para digitalizar todo o acervo do cantor, que será disponibilizado ao público. Fotos com imagens do início da carreira até os dias atuais, entrevistas, filmes, relíquias e partituras do baiano serão guardadas em salas com revestimento acústico e climatização para evitar o mofo, na sede da produtora, no Rio. O Tom Jobim já fez trabalho parecido com a obra de Caymmi.

IDADE DA RAZÃO
De Antonio Candido, um dos principais nomes da crítica literária, sobre a polêmica distribuição dos royalties do petróleo entre Estados e a União: "Aos 92 anos, as minhas preocupações são: se vai ter bolo de fubá no café da manhã, se o suco de laranja tem gelo ou não (eu não posso com gelo) e o que vai ter para jantar. Só isso".

BIS
Depois do sucesso de "Som & Fúria", no ano passado, a produtora O2, de Fernando Meirelles, está em fase de pré-produção de sua segunda minissérie. Com roteiro de Henrique Goldman e nome provisório de "Brazucas", a obra vai falar da vida de brasileiros no exterior.

NA TRILHA
Meirelles também conversa com o PV (Partido Verde) sobre uma participação mais efetiva na produção dos programas eleitorais de Marina Silva, pré-candidata à sucessão de Lula.

DIRETOR PROBLEMA
E o novo documentário de Michael Moore, "Capitalismo: Uma História de Amor", passará pela primeira vez no Brasil no festival É Tudo Verdade, que começa no dia 8 de abril em São Paulo.

No filme, o diretor americano, que fez "Tiros em Columbine", mostra pessoas afetadas pela crise econômica mundial que começou em 2008.

ANO DE COPA
O DVD do filme "Pelé Eterno", do diretor Aníbal Massaini, vai ganhar versão em inglês e alemão neste semestre. E no fim do ano deve pular de 120 para 240 minutos, com cenas que foram cortadas e novas entrevistas de Pelé.

CAIPIRINHA
O Ministério do Turismo fechou parceria com a Tui, uma das maiores operadoras de viagens da Europa. O objetivo é trazer ao Brasil principalmente turistas alemães, de alto poder aquisitivo: 44 milhões deles viajam para fora de seu país por ano; 4 milhões fazem viagens longas -mas, no ano passado, só 254 mil pessoas viajaram da Alemanha para o Brasil. O ministério acredita que esse número possa chegar a 300 mil em 2010 e dobrar até a Copa de 2014. Em abril, a equipe da pasta tem reunião com a empresa na Europa e, em maio, o grupo vem conhecer o país.

POLÊMICA NA BALADA

"Boa parte dos ricos é desinteressante"
Aberto há três semanas, em SP, o Lions Club distribui carteirinhas de sócios a mil selecionados pelo critério da "meritocracia" e é todo decorado com animais empalhados. Facundo Guerra, um dos sócios, divulgou "nota de esclarecimento" na internet para explicar tudo isso -e também o preço salgado dos drinques. Ele falou à coluna.


FOLHA - Como funciona a meritocracia do clube?
FACUNDO GUERRA - Cada um dos donos já tinha outro clube antes. Quando a gente fala que o critério é meritocrático, é porque escolhemos pessoas que nos ajudaram nos projetos anteriores, trabalham com noite ou são amigos de infância.

FOLHA - O critério acaba sendo amigos e amigos de amigos?
GUERRA - Entra o critério amigo, claro, que é quem ajudou.

FOLHA - Alguém reclamou?
GUERRA - Óbvio. Tem gente muito legal, importantíssima pra noite de São Paulo, que ficou de fora porque não é do meu círculo de relações. Muita gente quis comprar a carteirinha, mas ela não vai ser vendida. Senão, a gente só teria gente rica e desinteressante no clube. Não que toda pessoa rica seja desinteressante, mas boa parte delas é. A gente não queria fazer um filho pobre do Club A.

FOLHA - No site do clube, vocês "desaconselham o uso de bermudas e chinelos, a não ser que você seja o Marc Jacobs". Quem define se o cliente é ou não "o Marc Jacobs"?
GUERRA - É a hostess. A Melissa Depeyre faz a porta da Fashion Week. Ela tem esse olho, entendeu? Ela sabe que, se um cara tá de bombeta [boné], regata e bermuda, "num" dá, né?

FOLHA - E se o Marc Jacobs vier?
GUERRA - Tapete vermelho, né?

FOLHA - Muita gente reclamou dos animais empalhados?
GUERRA - Recebi vários e-mails que diziam: "Como tiveram coragem de matar os bichinhos, com a Terra acabando?". Antigamente, até podia ser mórbido. Hoje, os bichos [empalhados] têm que ter atestado do Ibama para serem importados da África. Essas pessoas não entenderam nada.

FOLHA - E o que você responde?
GUERRA - Se o clube não falou com ela do ponto de vista estético, paciência. Não vá.

FOLHA - As pessoas também reclamam que os drinques são caros?
GUERRA - A cerveja custa R$ 8, a Skol long neck. Na Lôca [clube underground], custa R$ 7 e é lata. A gente tem mil VIPs, então os drinques têm que ser mais caros. Senão a gente não tem um negócio, tem uma ONG.

CURTO-CIRCUITO

O VIOLINISTA NATAN SCHWARTZMAN lança o livro "Uma Vida de Arcadas e Dedilhados" hoje, a partir das 19h, no espaço de artes da Livraria Cultura do Conjunto Nacional.
O EX-PRESIDENTE Fernando Henrique Cardoso e Celso Lafer recebem os novos conselheiros da revista "Política Externa", da editora Paz e Terra, hoje, em almoço no Clube São Paulo.
O FUNDO BRASIL DE DIREITOS HUMANOS promove jantar musical hoje, às 20h30, no restaurante Rosmarino, com a cantora Luciana Alves e o violonista Emiliano Castro.
O CHEF NICOLAS BARBÉ, ex-Plaza Athénée e atualmente no bistrô Cinco, assina o menu do evento de lançamento de nova linha da Natura hoje, no espaço La Luna, em São Paulo.

ALCIONE ARAÚJO


A banalidade do mal
ESTADO DE MINAS 22/03/10

Foram dias de espanto, medo e raiva. Perdeu-se a calma, o sono e o apetite. Telefones zuniam na noite atrás de economistas, advogados, juízes

Era sexta-feira, que a tradição ocidental associa a martírio, e, se for dia 13, a mau agouro. Era dia 16, e ficou como de funesta memória. Na véspera, o país assistiu a posse do presidente que prometeu modernizá-lo e livrá-lo de corruptos e marajás. Mas, antes que o 16 findasse, uma bomba abalou a nação. Em cadeia nacional de rádio e TV, a Ministra da Economia Zélia Cardoso de Melo, o Secretário de Política Econômica Antonio Kandir e o Presidente do Banco Central Ibrahim Eris anunciaram novas regras financeiras do país: os três economistas do apocalipse confiscaram depósitos bancários acima de 50 mil cruzados, de pessoa física e jurídica, em conta-corrente, poupança e qualquer aplicação. Nenhum governante do mundo ousaria tanto. Na Alemanha, Argentina, Itália ou França seria guerra civil. Aqui, não havendo direito do cidadão, o Estado faz o que quer.

Foram dias de espanto, medo e raiva. Perdeu-se a calma, o sono e o apetite. Telefones zuniam na noite atrás de economistas, advogados, juízes. Tontos com a arbitrária violação do que se tinha por intocável, ninguém sabia se defender. A esperança e a doença entupiam igrejas e consultórios. Só uma pessoa falava da caixa de Pandora, a Ministra Zélia Cardoso de Melo, onipresente na TV com gélida máscara mortuária, explicava, num impávido tom professoral, que o confisco era necessário. Sem dinheiro, as pessoas não poderiam consumir e a inflação seria debelada. Nada disso tinha consistência – a poupança entrou na lista de confisco pouco antes do anúncio –, mais tarde, no Plano Real, viu-se que era indispensável criar uma moeda transitória, a URV. Os três economistas do apocalipse jogaram o país numa aventura irresponsável. Nenhum protesto público.

Nunca houve impacto igual na classe média. Guerra do Paraguai, Canudos, FEB na Itália, derrota na Copa de 50, suicídio de Vargas, golpe de 64, cassação de JK, Diretas Já e morte de Tancredo tiveram reações públicas, ruidosas, sentidas. A catarse coletiva alivia a dor. Mas o confiscado se sente atingido pessoalmente, é tomado da ira santa de lesado na vida privada. É o ressentimento surdo do cidadão traído, desrespeitado, punido sem culpa, sem lei que o proteja. Depois do Estado repressor militar, o Estado que cobra os maiores impostos do mundo em troca de pífios serviços públicos, e ainda lhe toma as economias de uma vida.

O confisco teve efeito devastador. Na segunda-feira, vi cenas duras nos bancos. A mulher arrancava os cabelos gritando pelo dinheiro da venda do único imóvel, sem ter onde morar. Outra, em prantos, exigia o dinheiro da cirurgia do marido. E xingavam, chutavam mesas, quebravam vidros, agrediam os gerentes. Surtos de hipertensão, falta de ar, desmaios, infartos.

O desespero cresceu e se alastrou, o drama virou tragédia: pessoas perdiam a vida, arruinados suicidavam-se. E pensar que o plano foi discutido e aprovado pelo Congresso Nacional! – muitos daqueles parlamentares seguem sendo eleitos e aprovando pacotes. O plano naufragou. Liberaram bloqueios, relaxaram controles, em dezembro a inflação bateu 20%. Empresas faliram, a economia se desorganizou. O país ficou à deriva.

Esta semana fez 20 anos daquela sexta-feira fatídica. O plano ainda é uma ferida aberta nos tribunais: 900 mil ações individuais e mil coletivas. Se vencerem, serão R$ 50,5 bilhões de indenizações – os bancos dizem que o sistema financeiro quebra. O Supremo Tribunal Federal decidirá quem pagará os restos da aventura.

Ninguém foi responsabilizado. Os três economistas do apocalipse são vitoriosos: Antonio Kandir dirige empresas; Ibrahim Eris opera investimentos, Zélia Cardoso de Melo é consultora financeira em Nova York, Fernando Collor é senador. Nunca foram tão felizes. Mais uma vez, a impunidade confirma a banalidade do mal.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO


Máquina de corrupção

O Estado de S.Paulo - 22/03/10

O jornalismo de qualidade é sempre o melhor aliado da cidadania. Foi o que se viu na série de reportagens do jornal Gazeta do Povo e da Rede Paranaense de Comunicação (RPC-TV) veiculadas na semana passada. Os repórteres Katia Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik devassaram uma poderosa máquina de corrupção que, há anos, domina a Poder Legislativo do Paraná.

A Assembleia Legislativa do Paraná esconde 56,7% de seus atos em diários avulsos, inacessíveis ao público, muitos sem numeração e publicados em datas aleatórias, desconectadas com a época dos fatos publicados. A prática encobre uma impressionante máfia administrativa. Os repórteres tiveram acesso a mais de 700 diários editados entre 1998 e 2009 e durante dois anos cruzaram o conteúdo das publicações. Esse formidável investimento em jornalismo investigativo revela situações como a da agricultora Jermine Leal e sua filha Vanilda Leal, moradoras em casas pobres, de chão batido, na área rural de Cerro Azul, a 100 km de Curitiba. Sobrevivem graças ao Bolsa-Família. Mas na documentação da Assembleia Legislativa do Paraná aparecem como beneficiárias de R$ 1,6 milhão ao longo de cinco anos, dinheiro que nunca viram. A Assembleia Legislativa diz que Vanilda trabalha no gabinete do deputado Jocelito Canto. O exemplo, caro leitor, é só a ponta de um iceberg de podridão, corrupção e cinismo.

O acesso aos diários oficiais - tanto os numerados quanto alguns avulsos - permitiu lançar um pouco de luz nos bastidores de uma Casa que administrou um orçamento de R$ 319 milhões em 2009. E também situações inusitadas, como a publicação em diário oficial de atos prevendo contratações que só ocorreriam dez meses depois. Apoiados numa curiosa máquina do tempo, os dirigentes da Casa fazem contratações e demissões retroativas em meses e até em anos e outras antecipadas, como se o responsável pela publicação pudesse adivinhar quando um empregado seria contratado ou demitido.

Um exemplo é a contratação da servidora Elizandra Polak Luvizotto, publicada no diário n.º 24, de 26 de março de 2008. Poderia ser somente mais um ato corriqueiro da mesa executiva nomeando um servidor para o setor de Coordenadoria de Cerimonial e Relações. No entanto, a data da nomeação, em que ela efetivamente teria começado a trabalhar, consta como 6 de junho de 2001. Ou seja, uma contratação retroativa em quase seis anos. Em todo esse período, a servidora não teve sua nomeação formalizada. O caso tem ainda outra agravante: em nenhum dos diários oficiais numerados consta a demissão de Elizandra. O nome dela, contudo, não aparece na lista de servidores divulgada no ano passado. Se ela ainda recebe da Assembleia, seu nome foi escondido. E se já foi demitida, o ato continua secreto.

Outro exemplo é a contratação de Maria da Glória Teixeira Pires para o gabinete da administração da Casa. Ela teria começado a trabalhar em 1.º de abril de 2004, mas a publicação de sua nomeação só ocorre quase quatro anos depois, no diário n.º 10, de 27 de fevereiro de 2008. Se retroagir no tempo parece absurdo, os diários oficiais também registram "contratações futuras" - verdadeiras adivinhações promovidas pela administração da Assembleia. É o caso de Sandra Beatriz Formighieri Niederauer, cuja contratação para o gabinete do deputado Caíto Quintana foi publicada em diário oficial no dia 14 de fevereiro de 2006. O ato, porém, foi assinado pelo então presidente Hermas Brandão apenas em dezembro de 2006 - somente 11 meses depois do diário. Impressionante!

O escândalo, mais um capítulo da infindável novela da corrupção que castiga o Brasil, pode provocar pessimismo e desalento. Iludem-se, no entanto, os que imaginam que tudo ficará como está. O Brasil, dolorosa e lentamente, está passando por uma profunda mudança cultural. O que a opinião pública teme, com razão, é que, mais uma vez tentem aplacar a indignação da sociedade com o ofertório de um bode expiatório. Tratarão de encontrar um funcionário para ser responsabilizado. E é aí que nós, jornalistas, e você, caro leitor, podemos desempenhar um papel decisivo. É importante que o Ministério Público, no cumprimento de seus deveres constitucionais, se sinta respaldado pela sociedade. É fundamental que políticos e governantes saibam que a imprensa será a memória da cidadania. Mas, sobretudo, é essencial que o Judiciário, serenamente e sem engajamentos espúrios, esteja à altura da indignação.

Em nome do amplo direito de defesa, importante e necessário, não se pode brincar com o sentimento de justiça dos brasileiros. A democracia e uma imprensa livre são o melhor antídoto contra o veneno da corrupção. Como já escrevi neste espaço opinativo, os caminhos democráticos lembram as trilhas de montanha. O excursionista está sempre subindo, até quando parece que está descendo. A democracia é um lento aprendizado. O eleitor, inicialmente ingênuo e manipulável, vai ganhando discernimento. Não há marketing que sustente indefinidamente uma mentira.

A informação é a base da sociedade democrática. Precisamos, sem dúvida, melhorar os controles éticos da notícia, combater as injustas manifestações de prejulgamento, as tentativas de transformar a mídia em palanque político ou passarela para desfile de egos e vaidades. Mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de criticar os injustos ataques à liberdade de imprensa e de expressão. Os que querem controlar a imprensa, com argumentos recorrentes como as chuvas de verão, querem apenas um salvo-conduto para a prática do banditismo.

DOUTOR EM COMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE DE NAVARRA, PROFESSOR DE ÉTICA, É DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO (WWW.MASTEREMJORNALISMO.ORG.BR) E DA DI FRANCO - CONSULTORIA EM ESTRATÉGIA DE MÍDIA 

RUY CASTRO

Vocação e talento

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/03/10

RIO DE JANEIRO - Inspirados pelos exemplos que vêm de cima, nossos gatunos estão elevando o nível da rapinagem. Ninguém mais se passa por roubar galinhas, bater carteiras ou arrombar fusquinhas. Os alvos da cobiça sofisticam-se.
No começo da semana, por exemplo, um homem adentrou uma loja de produtos eróticos em São José dos Campos (SP), rendeu as funcionárias com uma pistola de brinquedo e levou o dinheiro do caixa, além de um estoque de consolos, óleos de vários teores e sabores e anéis de borracha equipados com bilu-bilu. O futuro lhe prometia longas noites de loucuras. Mas não houve tempo -soou um alarme e ele foi preso ao deixar a loja.
No mesmo dia, em Três Corações (MG), um homem entrou pela janela da casa do pai de Milton Nascimento e roubou um disco de ouro do cantor que, da rua, ele vira pendurado numa parede (o disco, não o cantor). Mas, também nesse caso, o crime não compensou. Um vizinho percebeu o movimento, chamou a polícia e esta abotoou o elemento quando ele saiu.
Poucos dias antes, perto da meia-noite, um homem parou com seu carro num sinal na avenida Indianópolis, zona sul de São Paulo, e foi abordado por dois travestis armados de canivete. Eles lhe tomaram o dinheiro e perguntaram o que continha o belo estojo no banco ao seu lado. Ao serem informados de que era um violino, não hesitaram: exigiram também o instrumento. O homem ofereceu-lhes o carro -muito mais valioso- em troca do violino, mas os travestis não aceitaram. Deve ter falado mais alto a inclinação musical de um deles.
Bem, este foi um assalto bem sucedido. Os outros dois se frustraram, por incompetência dos ladrões. O que prova que, como em tudo no meio artístico, intelectual ou político, não basta ter a vocação para ser um escroque. É preciso talento também.

ANCELMO GÓIS

Aguenta o rojão 

O Globo - 22/03/2010

Uma brasa, mora? Roberto Carlos vai voltar ao cinema em 2011.

Será dirigido por Monique Gardenberg, a mesma de “Ó pai, ó”, num filme de aventura, que será ambientado em um navio. Roberto Carlos já participou de dez filmes, inclusive duas chanchadas de Watson Macedo, “Aguenta o rojão” e “Alegria de viver”, em 1958.

Roberto Farias o dirigiu em três grandes sucessos: “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, “Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa” e “Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora”.

Perguntar não ofende
Por que o trem-bala vai ter estações em Guarulhos e Viracopos, aeroportos paulistas, mas no carioca Galeão/Tom Jobim “não é rentável”?

Outra
Até quando o PT vai apanhar calado do aliado Ciro Gomes? Pelas entrevistas de Ciro, o PSDB não vai precisar se esforçar para atacar Lula e Dilma.

País dos barnabés
Veja como o brasileiro tem fixação em emprego público.

Acredite: 142.572 pessoas se inscreveram para o concurso de técnico da área 1 (administrativa) do Banco Central, com só 75 vagas em todo o país. Ou seja, são 1.900 candidatos por vaga.

O petróleo é nosso
Luciano Huck, paulista radicado no Rio, convoca seus quase 1,8 milhão de seguidores no twitter para a campanha contra a tunga dos royalties do Rio.

Tunga dos royalties
O compositor Mariozinho Lago, filho do grande Mário Lago, fez o soneto “Se é para dividir” para Ibsen Pinheiro. Trecho: “Vamos dividir o gado/Mineral, vinho e pescado/Quero borracha e caju/Do Ibsen quero...

distância.”

ESTA CENA é de sexta passada, por volta de 11h, mas recorrente. As pessoas quase debruçadas sobre a caçamba do caminhão de lixo que acabava de deixar o supermercado Prix, no Grajaú, catam, acredite, alimentos jogados fora. Repare que carregam até sacolas, como quem vai às compras. Não é justo ...

Passa bem
Marieta Severo, nossa grande atriz, foi operada quarta-feira no Hospital Samaritano, no Rio.

Teve diverticulite.

Da terra do bacalhau
Chegaram ao Campo de Peregrino, a 85km da costa do Rio, duas plataformas fixas da norueguesa Statoil para operar na Bacia de Campos.

As duas vêm se juntar à plataforma flutuante FPSO Peregrino, também da gringa. A expectativa é chegar a 100 mil barris/dia já em 2011.

Gays na TV
Pesquisa do Instituto Milennium mostra que 63% dos brasileiros veem como “reflexo da democracia” a presença de gays assumidos na TV.

Quanto mais escolaridade, maior a aceitação. Entre os brasileiros de nível superior, 74% acham legal. Surpreendeu a opinião no Sudeste, mais conservadora: só 57% concordam com a exibição de gays na TV.

Retratos da vida
Um casal queria adotar uma criança branca de até três anos.

Com a ajuda da juíza Inês Joaquina Sant’ana Santos Coutinho, foi visitar os abrigos de menores. No final, o casal adotou sete irmãos negros de diferentes idades. Segundo a magistrada, a maioria das crianças aptas à adoção é parda ou negra e possui irmãos

As compras
O ministro Guido Mantega batia perna tranquilamente no sábado à tarde na Rua Anibal de Mendonça, no Rio.

De volta
Johnny Rivers, o rei das baladas “mela cueca” que faziam a alegria dos hi-fi nos anos 60 e 70, se apresenta no Canecão no dia 30 de abril com sucessos como “Do You Wanna Dance”.

Johnny, que tem mais de 25 milhões de discos vendidos, foi o primeiro artista internacional a se apresentar na casa em 1967.

Nigeriano é Fla
Veja como vai longe o fascínio pela marca Flamengo.

Uma mala dos empresários Carlos Araújo e Kleber Leite Filho foi arrombada na Nigéria, onde tocam um projeto de futebol.

Mas o ladrão só levou... dez camisas do Fla. Ignorou até algumas da seleção.

Saliência no carro
A boate 2A2, do Rio, vai pôr no meio da pista de dança, a partir do sábado que vem, dia 27, um velho Itamaraty 1969 vermelho conversível, todo reformado, onde será permitido aos casais... fazer saliência!

LUA BLANCO, a neta fofa de Billy Blanco que está no elenco de “O despertar da primavera” e na próxima temporada da minissérie de Renato Aragão, “As aventuras do Didi”, faz pose no Projac

NÍVEA STELMAN, muito mais magra (repara só), em Búzios, sábado, na festa de dois anos da boate Pachá, organizada por Mário Bulhões Pedreira

FERNANDA SOUZA, a atriz, dá uma de professora de surfe para Fiorella Matheis, na Praia da Macumba. O encontro das duas será exibido hoje no “Vídeo show”

KÁTIA ABREU


Verdade ambientalista versus fundamentalismo

 O Estado de S.Paulo - 22/03/10

O que parecia impossível, acontece: estamos às vésperas de começar a conhecer, com precisão científica, o que o Brasil pode e não pode fazer com suas terras, seus rios, lagos, montanhas e florestas. E mantendo o equilíbrio da natureza, preservando as manifestações de vida, animal e vegetal, e, a um só tempo, liderando a produção mundial de alimentos. Todo esse conhecimento será alcançado por cientistas e pesquisadores brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e das instituições parceiras, que começaram o trabalho e têm desde já os recursos necessários assegurados.

Ufa! Finalmente, a questão ambiental neste país se desloca da defesa fanática de dogmas para o conhecimento científico sistemático.

Quem está em campo sabe (e como sabemos e sofremos!) que o jogo do ambientalismo e da ecologia no Brasil é um vale-tudo. Não tem regras. Uns poucos se autodenominam "defensores da natureza", conseguem franquias de ONGs internacionais ou criam as suas próprias, arrecadam muito dinheiro para definir o bem e o mal e lançar suas sentenças arbitrárias. Isso pode, isso não pode, decidem. Espalham avaliações, frequentemente difamatórias, contra quem escolhem para bode expiatório. O que decidem passa em julgado, sem apelação.

Já a sociedade, perplexa e generosa, preocupada com a qualidade de vida, as mudanças climáticas e a própria sobrevivência do planeta, submete-se a toda sorte de exageros, superstições e invencionices, até mesmo porque as opiniões arbitrárias vêm sempre mescladas com as melhores e mais comoventes prescrições. As próprias leis ambientais brasileiras, mesmo as consensuais, revelam generosidade e ignorância, pois, em sua maioria, não têm nenhuma base científica e experimental.

Por outro lado, ONGs exploram a insegurança, a debilidade institucional e a antropofagia política de uma nação que tardiamente, mas efetivamente, está driblando as suas contradições e avançando no bom caminho da ordem democrática. Os paradigmas que nos querem impor refletem o remorso, a hipocrisia e, principalmente, o poder econômico dos povos até agora ditos desenvolvidos e que através de milênios de História desconstruíram suas paisagens e não têm mais condições de recompô-las. Desta vez, porém, sofrerão um contra-ataque que não esperavam, num país tropical e exótico, como nos olham.

Estou escrevendo sobre o Projeto Biomas, a ser conduzido pela Embrapa, envolvendo 240 pesquisadores de várias instituições e uma história de sucessos - descobertas, invenções, experimentações - que tornaram o Brasil o terceiro maior exportador mundial de alimentos (na verdade, o segundo, pois a União Europeia, hoje em segundo lugar, não é um país, mas a soma de 27 países). O Projeto Biomas é a oportunidade de ouro para a agropecuária brasileira, escorada no conhecimento científico, mostrar seus compromissos éticos e produzir sem medo.

Escolhidos por algumas ONGs, na impostura ecologista que encenam impunemente, para o papel de "Judas em Sábado de Aleluia", os produtores rurais apostam na verdade. Por intermédio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estão contribuindo com R$ 20 milhões para que a Embrapa, com independência e autoridade acadêmica, desenvolva o Projeto Biomas.

Fui tão longe e esqueci o que devia ter sido o começo da conversa: biomas. O que são biomas? Uma palavra nova, criada há pouco mais de 50 anos - formada por "bio", vida, e "oma", conjunto -, designa áreas que apresentam uniformidade de paisagens, clima, solo, subsolo e predomínio de espécies vegetais e animais. No Brasil temos seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. O Projeto Biomas pretende reunir, em seis vitrines tecnológicas de 5 milhões de metros quadrados cada (uma em cada bioma), conhecimentos e experiências para consolidar uma espécie de "bula", apresentação minuciosa das paisagens e dos solos de cada bioma nos 851 milhões de hectares do Brasil, acompanhada de "indicações" e "modo de usar", apresentando a forma de uso da terra compatível com o potencial ambiental.

O Projeto Biomas tornará disponíveis informações tecnológicas para todos, democrática e gratuitamente, em especial para os pequenos e médios agricultores, que não podem pagar por elas. E contarão, também, com 350 instrutores treinados pelo sistema CNA/Senar (o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para orientá-los - são os transferidores de tecnologia. Será a primeira iniciativa que inclui os agropecuaristas como protagonistas de uma importante ação ambiental.

O Projeto Biomas agrega, não alimenta conflito. Vai substituir as "opiniões", "intuições" e a absurda orientação ideológica que transforma dogmas em legislação sobre quantos metros a mais ou a menos de margens de rios e topos de morros devem ser preservados. Agora, prevalecerá a orientação científica, pesquisada e experimentada. É a nossa opção pela ciência e uma declaração da nossa confiança na Embrapa e nos pesquisadores do Brasil.

Os produtores sabem que não há produção sem água ou em solos degradados. Sabem que nada cresce sem o equilíbrio da biodiversidade, tão importante para o controle de pragas e doenças.

Ou, como ouvi outro dia de um velho pesquisador, adaptando inconscientemente um jargão do seu passado socialista à regra de ouro que resultará do Projeto Biomas: "A cada bioma, segundo as exigências de preservação da sua natureza; a cada agropecuarista, nos limites estabelecidos para uso econômico das suas propriedades." A utopia fundamentalista não se cumpriu, mas a verdade ambientalista no Brasil será realidade.


SENADORA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CNA

PAINEL DA FOLHA

"Banca de portos"
RENATA LO PRETE

folha de são paulo - 22/03/10

Grandes empreiteiras fecharam um acordo para repartir entre si as principais obras portuárias do país, segundo relatório que a PF mantém sob sigilo. Os policiais chegaram a essa conclusão depois de encontrar um documento, datado de julho de 2002, na sede de uma construtora investigada por burlar processos de licitação. O papel descreve a formação do cartel, apelidado de "Banca de Portos", e a divisão prévia de projetos portuários espalhados pelo país: Camargo Corrêa e Carioca ficariam com o Atracadouro de Alcântara (MA), a derrocagem do Tietê e o porto de São Sebastião (SP), enquanto Odebrecht e OAS cuidariam da ampliação do porto de Paranaguá (PR).


Porto seguro 1. Inquéritos da PF sobre desvio de dinheiro público e superfaturamento de contratos já haviam constatado a formação desses "consórcios paralelos" em obras de rodovias e do metrô em cinco capitais. Contatadas, as construtoras não quiseram se manifestar.

Porto seguro 2. A série de reportagens na Folha sobre os "consórcios paralelos" não sensibilizou a Justiça. O inquérito da Operação Castelo de Areia, que trata de empreiteiras e de sua relação com políticos, prossegue trancado por ordem do 
STJ.

Outro lado. Sobre a "Banca de Portos", a Odebrecht afirma que a licitação da qual participou em parceria com a OAS foi impugnada e que não tem obras em Paranaguá.

Mais verde. Em conversa com ambientalistas, a ministra Dilma Rousseff tem criticado a proposta de Marina Silva de substituir a frota de táxis por carros elétricos. Conforme a fonte de energia usada para carregar as baterias, diz a ministra, a ideia pode ser ainda mais poluente.

Última hora. A ala do PMDB contrária ao acordo de Orestes Quércia com os tucanos revive a ideia de lançar Francisco Rossi ao governo do Estado de São Paulo.

Optei. Para tristeza de Paulo Skaf (PSB), que esperava o apoio do PR, o presidente da Câmara paulistana, Antonio Carlos Rodrigues, tem dito que o partido deve fechar com Aloizio Mercadante (PT).

Confiança.
O governador Paulo Hartung (PMDB-ES) diz que está certa a escolha do vice, Ricardo Ferraço (PMDB), para disputar sua sucessão. "Prova do preparo de Ferraço é que ele já me substituiu mais de dez vezes no cargo."

O meu é melhor. Do neopeemedebista Mangabeira Unger, encarregado de elaborar o programa de governo do partido, sobre documento de igual propósito já divulgado pelo PT: "Não passa de um conjunto de platitudes".

À direita. Também redigem o programa do PMDB o presidente do BC, Henrique Meirelles, e Delfim Netto. A ideia é obter um texto mais "maduro" que o dos petistas.

Zigue-zague. No Planalto e no PT, pegou mal a atuação do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), na votação sobre a divisão dos royalties do pré-sal. Alves votou a favor da "emenda Ibsen", contra seu próprio relatório.

Espelho. Novo presidente da CCJ da Câmara, Eliseu Padilha (PMDB-RS) quer retomar a ideia de dar à comissão o poder de sua similar no Senado. Na Câmara, a tramitação de emenda à Constituição exige que se forme uma comissão especial. No Senado, isso é da competência da CCJ.

Em obras. Vem aí licitação para reformar o plenário do Senado. As obras terão início no recesso de fim de ano.

Carequinha. O deputado Flávio Dino (PC do B-MA) propôs incluir, no projeto que exige "ficha limpa" de candidatos, a inelegibilidade de financiadores de campanhas ilegais. O texto já foi apelidado de "emenda Marcos Valério".

Tiroteio
"Como ressuscitar o mensalão se ele não morreu? Está mais vivo do que nunca no comando do PT." Do tucano EDUARDO GRAEFF, secretário-geral da Presidência no governo FHC, em resposta a Dilma Rousseff, que acusou a oposição de querer ressuscitar o escândalo de 2005 com propósito eleitoral.

Contraponto

Alta fidelidade


O senador Romero Jucá (PMDB-RR), que vira e mexe se estranha com Renan Calheiros (PMDB-AL) e recentemente foi acusado pelo colega de bancada de tê-lo excluído de uma reunião da cúpula peemedebista com Lula, caminhava em direção ao plenário, na quarta-feira, quando recebeu uma ligação de Eduardo Campos (PSB-PE).
O governador começou a conversa informando que naquele momento estava no gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Jucá não perdeu a piada:
-Com o Sarney? Então estou com ciúmes. Porque, você sabe, a moda agora no PMDB é sentir ciúmes...

ALDO PEREIRA


Cadê a omelete?

Folha de São Paulo - 22/03/10


O dito "não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos" agrada a comunistas como pictórica metáfora de "os fins justificam os meios"


FOI O que retrucou George Orwell (Eric Arthur Blair, 1903-1950) ao comunista que lhe recitou "Não se pode fazer omelete sem quebrar os ovos". Não foi Lênin (Vladimir Iliich Ulianov, 1870-1924) que em suposta citação teria dado fama a esse aforismo: o provérbio não é russo nem aparece em documentos leninistas. Mas agrada a comunistas como pictórica metáfora de "os fins justificam os meios".
Muitos ditadores comunistas o têm citado quando pretextam ameaças externas e conspirações "reacionárias" para asfixiar liberdades e mascarar a inépcia de seus burocratas e teóricos na condução da economia.
Já o quadro de Cuba é um tanto esfumado e matizado. Muita gente sincera aplaudiu a revolução heroica liderada por Fidel Castro Ruz (1926-) e Ernesto Guevara de la Serna (1928-1967), o Che. Até o fim de 1958, Cuba era uma autocracia cruel e corrupta liderada pelo general Fulgencio Batista y Zaldívar (1901-1973), ex-ditador (1934-1940) e ex-presidente (1940-1944; 1952-1959). O número de torturados, massacrados ou executados por Batista pode ter passado de 20 mil.
Até o governo americano, que apoiara Batista, acenou alguma conciliação. Fidel visitou os Estados Unidos, discursou no Congresso e passou horas com o então vice-presidente Richard Milhous Nixon (1913-1994), a quem assegurou não ser militante nem simpatizante do comunismo.
Como para provar, nomeara presidente o ex-juiz liberal Manuel Urrutia Lleó (1901-1981).
Mas Fidel pareceu converter-se logo ao fervoroso credo comunista de Che, de quem tantos veteranos admiravam a audácia, a bravura e o rigor disciplinar. Durante a campanha revolucionária, Che executara pessoalmente companheiros que julgasse vacilantes ou suspeitos. Cita um deles no diário que escreveu em Sierra Maestra, certo Eutimio Guerra, a quem matou com uma bala calibre 32 cravada "no lado direito de seu cérebro". Também nessa época executou pessoalmente Aristidio de tal, guerrilheiro desiludido que sonhava ser outra vez lavrador.
Temeria Fidel a convicção intransigente de Che? A revolução russa de 1917 fizera primeiro-ministro Aleksandr Feodorovich Kerenski (1881-1970), líder dos mencheviques, ala parlamentarista do Partido Social Democrático. Mas subsequente movimento armado promovido por Lênin, líder dos bolcheviques (radicais do PSD), forçou Kerenski a fugir para a França. Teria visto Fidel em Che o que Lênin fora para Kerenski?
Conjecturas.
Mas fato é que a linha "menchevista" proclamada por Fidel cedeu rapidamente à linha "bolchevista" de Che.
Em protesto, Urrutia e seu primeiro-ministro renunciaram. Assumiram, respectivamente, Osvaldo Dorticós Torrado (1919-1983) e o próprio Fidel. Expurgo e intimidação silenciaram revolucionários recalcitrantes, como Huber Matos Benítez (1918-), que cumpriria 20 anos de prisão.
Bem antes, já nos primeiros meses do governo revolucionário, estalavam ovos na infame fortaleza La Cabaña, comandada por Che. Ali, um "tribunal" de guerrilheiros condenaria a fuzilamento no "paredón" centenas de prisioneiros ligados ao regime deposto. Che presidia uma "junta de apelação" que invariavelmente confirmava todas as sentenças no mesmo dia.
Na conversão de Fidel ao comunismo decerto deve ter pesado o antagonismo dos Estados Unidos. O presidente John Fitzgerald Kennedy (1917-1963) autorizou apoio material à malograda tentativa de invasão de Cuba por contrarrevolucionários cubanos em abril de 1961, além de malsucedidas tentativas de assassinar Fidel. (Ironicamente, este continua mais ou menos vivo, 47 anos depois de uma bala assassina ter explodido o crânio de Kennedy.) Aliar-se à União Soviética pode haver parecido a Fidel lógica opção salvadora da revolução.
Mas cadê a omelete? No caso cubano, o fracasso econômico advindo do inepto monopólio estatal da produção é debitado ao boicote americano (apesar de este ter sido compensado durante anos por subsídios soviéticos e, a partir da década de 1990, por ajuda e investimentos europeus, sobretudo espanhóis). Ilustram a repressão fuzilamentos nunca protestados por Lula, que na visita do mês passado a Cuba repreendeu o dissidente Orlando Tamayo Zapata por este haver morrido em greve de fome na prisão.
Já o povo não passa fome. Nos agravamentos episódicos da penúria crônica, cartões de racionamento garantem a cada um o direito de comprar, todo mês, provisões que incluem três quilos de arroz, 700 gramas de feijão e, se quiser omelete, quatro ovos.
ALDO PEREIRA, 77, é ex-editorialista e colaborador especial da Folha

NATHAN BLANCHE


A volta do entulho cambial


O Estado de S.Paulo - 22/03/10

A defesa de mudanças na política cambial dentro e fora do contexto político eleitoral equivale a uma aposta contra tudo o que deu certo. Pior, representa voltar ao passado, na medida em que se nega o êxito do processo liberalizante dos controles cambiais e do regime de câmbio flutuante.

O êxito do regime de câmbio flutuante fica evidente na análise da evolução dos fundamentos econômicos do Brasil. Na comparação entre 1999 e 2009, o saldo comercial passou de -US$ 1,3 bilhão para +US$ 25,3 bilhões; o saldo em conta corrente, de -4,8% do PIB para -1,6% do PIB; as reservas internacionais subiram de US$ 36 bilhões para US$ 239 bilhões; sem falar na significativa redução da inflação e do prêmio de risco país.

Muitos têm defendido que a taxa de câmbio de equilíbrio deveria ser "controlada" em níveis mais depreciados, o que aumentaria a competitividade dos exportadores e, sobretudo, da indústria. Cita-se o exemplo da China, onde o crescimento acelerado, sem inflação, é acompanhado de moeda desvalorizada. Tecnicamente, a comparação com o Brasil é inválida. A poupança doméstica chinesa é de 45% do PIB, enquanto no Brasil é de 15,2% do PIB (o setor privado contribui com 18,5% e o público, com -3,3%). Consequentemente, o consumo doméstico chinês é de 36% do PIB, enquanto aqui é de 60%. A taxa de investimento na China é de 43% do PIB e, aqui, de 16,7%, dos quais a contribuição do governo é de 1,3% e do setor externo, de 1,5%.

Na verdade, o exemplo chinês que devemos seguir é o do elevado nível de poupança, que permite aumentar investimentos e, assim, o potencial de crescimento. Sem isso, precisaremos cada vez mais de poupança externa para crescer, e medidas de controle de capitais só limitariam a expansão.

Outra falácia é dizer que o Brasil sofre da doença holandesa e, consequentemente, concluir que a desindustrialização nos leva ao atraso tecnológico. É importante destacar que a pauta exportadora brasileira é mais diversificada que a de países como Austrália, Nova Zelândia, Chile e Canadá, cujo peso de commodities nas exportações também é importante e não são considerados países atrasados.

Os setores de agronegócios, mineração e siderurgia participam com cerca de 53% na pauta de exportação (2008). Mas sua contribuição no saldo da balança comercial é de 290%. Qualquer barreira nas exportações desses setores afetaria muito os saldos em conta corrente. Para gerar superávits e competir no mercado externo, superando as mazelas e o custo Brasil, tais setores fazem uso de alta tecnologia e não menos que os setores industrial e de serviços. Assim, a qualificação de que a "tecnologia boa é a que vem para a indústria" é, no mínimo, enviesada.

Voltando ao câmbio de equilíbrio, uma comparação feita pela Tendências entre uma cesta de moedas de países que têm similaridades com o Brasil (grande participação de commodities na pauta de exportação e a corrente de comércio) - Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Chile, Noruega e África do Sul - e o real mostra que este está alinhado à realidade de um país exportador de commodities. Há uma boa aderência entre o real e essa cesta em todo período, com pequenos descolamentos conjunturais, como na eleição presidencial em 2002. Com base em que fundamentos, então, se declara que a atual taxa de câmbio está apreciada e que a taxa de equilíbrio seria mais depreciada? Parece que essa avaliação se deve mais ao saudosismo de uma política cambial ultrapassada.

O mundo mudou e principalmente a economia brasileira. Tentar encobrir e buscar, por meio de mecanismos de desvalorização cambial, soluções para superar ineficiências e problemas mais estruturais da economia será um novo mergulho no passado, com consequências negativas para o País e para o crescimento econômico. "Nunca antes na história" as condições da economia doméstica e internacional foram tão favoráveis para nos impulsionar para o estágio de país desenvolvido. Para aproveitar a oportunidade, no entanto, temos de dar continuidade às reformas estruturais iniciadas nos últimos anos da década de 80 e que estagnaram ao final do primeiro mandato de Lula, em vez de sinalizar que voltaremos ao passado, especialmente em questões-chave de política econômica, como o câmbio flutuante e a abertura econômica, que é menor comparada aos demais emergentes.

São fartas as propostas para desvalorizar o real, desde a adoção de controles de capitais até taxação das exportações de commodities. O resultado imediato disso seria a alta do câmbio, gerando pressão inflacionária, que demandaria aperto monetário, impactando o crescimento.

SÓCIO-DIRETOR DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA INTEGRADA

CLÁUDIO HUMBERTO


"Vivo ou morto, jamais me candidatarei a qualquer cargo"

Senador Pedro Simon (PMDB-RS), ao anunciar que, decepcionado, desiste da política

ONGs do MST já embolsaram R$ 122 mi

Supera os R$ 122,3 milhões o total recebido do Governo Lula, entre 2003 e 2009, por ONGs investigadas na CPMI do MST pelo repasse de dinheiro público para o Movimento dos Sem-terra. Só a ONG paulista Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais (Fepaf) levou quase R$ 76 milhões. A Inocar e a Concrab receberam juntas R$ 17,6 milhões desde 2006. Todas essas ONGs são ligadas ao MST e ao PT.


Suspeito

A ONG Anca, que embolsou R$ 22 milhões desde 2003, teve os bens bloqueados pela Justiça em 2009, após não contabilizar seus gastos.


Curioso

Intriga a oposição: a ONG Inocar nada recebeu do Governo até 2006, e a Concrab passou a receber 35% a menos a partir de 2006.


Quebra de sigilo

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) deverá pedir a quebra de sigilo bancário das ONGs usadas ara drenar dinheiro público para o MST.


Cofres abertos

Segundo a Comissão Pastoral da Terra, nos últimos oito anos, mais da 50% dos 2.450 conflitos envolvendo o MST ocorrem no início do ano.


DF

O corregedor-geral do Governo do DF, Haendel Fonseca, vai contar nesta segunda ao governador interino, Wilson Lima, para que ele tome uma decisão, o que apurou sobre a denúncia de ameaças até de morte do secretário de Transportes, Gualter Tavares Neto, contra pessoas que o acusam de beneficiar empresas amigas em contratos milionários. Além de exoneração, ele está sujeito a processo judicial.


Outra demissão

Suspeito de ser destinatário de propina apreendida com um portador, no DF, o secretário de Justiça, Flávio Lemos, deve ser demitido hoje.

Joie de vivre

A Dassault, fabricante do avião-caça Rafale que ninguém quer, só o Brasil, está rindo à toa: vai tirar o pé do prejuízo de 15,5% em 2009.


Casório à força

Moral da história da compra dos caças: rapazes das Forças Armadas, vocês podem escolher qualquer um, desde que seja o Rafale.


Chapa proposta

José Alencar quer a interferência do presidente Lula para convencer o ministro Hélio Costa (Comunicações), do PMDB, a aceitar ser seu vice, e o ministro Patrus Ananias (Fome Zero) a disputar o Senado.


Céu

Patrus Ananias saiu traumatizado do mandato no Congresso, quando até desenvolveu alcoolismo. Mas o Senado "é o céu", como o definiu o falecido ex-ministro Darcy Ribeiro, e como Patrus é muito católico...


Sem problemas

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que seu cliente Paulo Octavio, ex-vice-governador do DF, nem sequer é citado no inquérito da Operação Tellus. Portanto, não é um dos investigados.


Panetone

Em três anos, o perigoso terrorista Cesare Battisti recebeu na cadeia visitas de diplomatas italianos. Em dezembro, no Natal, levaram-lhe panetone. E o Governo Lula ainda fala mal do governo da Itália...

Censura

A Revista da Infraero publicou reportagem sobre "o antro" de marginais, travestis e prostitutas ao lado da sede da estatal, no Setor Comercial Sul, em Brasília. Como o texto era realista demais, a empresa mandou arrancar as páginas da reportagem antes que a revista circulasse.


PODER SEM PUDOR

Bom político não berra
Calor infernal, na campanha para prefeito de Caçapava (RS), em 1992, Galeno Teixeira entrou na primeira bodega do povoado de Capão das Galinhas. Morto de sede, apontou as garrafas de cerveja numa prateleira e as pediu, mas, para não melindrar o dono do lugar ("bolicheiro"), esquivou-se de reclamar que estavam quentes. Após a última garrafa, Galeno gritou para sua turma: "A cerveja acabou, vamos embora". O bolicheiro observou:
- Bueno, tchê, se o doutor quiser, ainda pode beber as geladas...
E abriu um congelador, exibindo cervejas estupidamente geladas