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Nossas lideranças políticas, especialmente as da oposição, não estão se dando conta de um fenômeno histórico da mais alta gravidade e relevância para os destinos futuros do país. Ocorre no Brasil um fato absolutamente inusitado: pode ser eleita pela primeira vez presidente da República uma mulher. Até aí, nada demais. Este é um fato de grande prova de amadurecimento do eleitorado nacional. Mas, mais do que apenas essa nova e inusitada opção eleitoral, estas eleições podem significar uma radical mudança na origem do poder governante. Oriunda da burocracia partidária, sem jamais ter exercido qualquer mandato eletivo quer no Executivo, quer no Legislativo, a candidata do governo, se eleita, representará não o ápice da construção de uma carreira forjada no voto popular, como é o historicamente natural, mas a vitória e o encastelamento no poder central, da própria burocracia partidária do PT. Mais do que isso, pela própria composição dos quadros dirigentes, já esboçada na campanha, e pelo fato de seu grande coordenador e mentor ser extinoutro burocrata partidário, o professor Marco Aurélio Garcia, também sem nunca ter tido um voto sequer para qualquer cargo eletivo, a partir de 2011 o Brasil poderá estar sendo governado, tanto em sua política interna como em sua política externa, pela burocracia petista, subjugando as lideranças com voto. Um terceiro fato não menos inusitado, nessa mesma linha de inovações, virá a se somar a esses outros dois primeiros: o fato de a grande liderança carismática com votos, oriunda dessa construção eleitoral de carreira, nos últimos trinta anos, o presidente Lula, retirar-se do poder, deixando essa burocracia no comando da nação pelos quatro anos seguintes à sua saída. O que poderá acontecer dessa nova ordem? Pela atual composição de forças que vêm regendo obrigatoriamente as bases de aliança visando à governabilidade desde o fim do autoritarismo e a reconquista da democracia representativa no Brasil, e pela inexistência de uma verdadeira reforma política desde a edição da Constituição de 1988, deverão ser convocados a governar, mais uma vez, o fisiologismo e o clientelismo do PMDB. Sarney governou com o Centrão e com o remanescente da Aliança Democrática projetada por Tancredo entre o chamado PMDB histórico e a dissidência da antiga Arena, representada pelas forças ditas progressistas egressas da base de apoio parlamentar da ditadura militar desgastada. Collor, com seu discurso de renovação redentorista e pseudopurificador de direita, eleito por uma legenda de aluguel, foi obrigado a se render ao remanescente do Centrão fisiológico para governar enquanto durou. Itamar, embora originado no PMDB histórico, teve de se render ao mesmo modelo para concluir a transição. Fernando Henrique foi eleito e governou, já na consolidação democrática, com a reedição dessa aliança entre progressismo e fisiologismo, entre o PSDB e o PFL. O fenômeno atual é completamente diferente. Significará uma nova e inusitada composição de forças políticas a governar o Brasil, cujos resultados também não sabemos no que irá dar: a aliança entre a burocracia corporativista do PT sindicalista e o fisiologismo clientelista do PMDB, loteando e ocupando o aparelho do Estado. Essa forma de composição de forças é também inédita no mundo. Na extin ta União Soviética, o fenômeno se deu apenas pela ocupação do aparelho do Estado pela burocracia partidária, por exemplo, em regime fechado e autoritário. Em inúmeros outros países subdesenvolvidos, a ocupação do aparelho do Estado pelo fisiologismo clientelista também é operada isoladamente. Juntos, nunca se viu. O curioso disso tudo é que a cidadania, perplexa e desinformada pela mídia, dessa nova e histórica composição de forças, vai para estas eleições imbuída do espírito de continuidade de políticas de Estado que vêm sendo bem-sucedidas e vitoriosas para o país desde os últimos vinte anos, sem sequer suspeitar que uma radical mudança de rumos se avizinha. As propostas de governo expressas pelo documento editado da burocracia do PT que poderá nos governar a partir de 2011 são, no mínimo, um salto no escuro. Nunca antes experimentado quer na história deste país, quer alhures NELSON PAES LEME é cientista político |
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