segunda-feira, fevereiro 15, 2010

A VAGABUNDA E O ABILOLADO


Uma Doença Estranha

Marisa perguntou a Luiz Inácio:

- Môôôôr, o que é leptospirose?
E Luiz Inácio respondeu na bucha:

- Copanhêra, é uma doença que ataca os usuário de lépitópi.
É transmitida pela urina do mauze.

JOSEPH E. STIGLITZ

Liderança com algemas

O GLOBO - 15/02/2010



A derrota na eleição para o Senado em Massachusetts privou os democratas dos 60 votos necessários para passar a reforma da saúde e outros projetos, e mudou a política americana — pelo menos no momento. Mas o que aquele voto diz sobre os eleitores e a economia? Não anuncia uma virada para a direita, conforme alguns cultos sugerem. A mensagem é a mesma enviada pelos eleitores ao presidente Bill Clinton há 17 anos. “É a economia, estúpido!” e “Empregos, empregos, empregos”. No outro lado dos EUA, eleitores no Oregon aprovaram aumento de impostos num referendo.

A economia americana está uma bagunça — mesmo com o crescimento sendo retomado e os banqueiros de novo recebendo elevados bônus. Mais de um em cada seis americanos que gostariam de ter um emprego em tempo integral não o conseguem; e 40% dos desempregados estão sem trabalho por mais de seis meses.

Como a Europa aprendeu há muito tempo, as dificuldades crescem com o tamanho do desemprego, já que o conhecimento profissional e as perspectivas se deterioram e as poupanças evaporam. Os de 2,5 milhões a 3,5 milhões de arrestos de imóveis previstos este ano superarão o número de 2009, e o ano começa com o que deverá ser a primeira de muitas grandes falências no mercado imobiliário comercial. O Escritório Orçamentário do Congresso prevê que o desemprego não deve retornar a níveis mais normais antes de meados da década, enquanto os EUA experimentam sua própria versão da “doença japonesa”.

Conforme escrevi em meu novo livro “Freefall” (“Queda livre”), o presidente Barack Obama jogou alto no início de seu governo. Mas, em vez da grande mudança que tinha prometido em campanha, ele manteve muitos dos mesmos funcionários e a mesma estratégia de gotejamento para enfrentar a crise financeira. Dar dinheiro suficiente aos bancos era, segundo sua equipe, a melhor forma de ajudar trabalhadores e proprietários de imóveis.

Quando os EUA reformaram seus programas de bem-estar social para os pobres, no governo Clinton, condições foram impostas aos recipientes: eles tinham que procurar emprego ou se engajar em programas de treinamento.

Mas quando os bancos receberam seus “benefícios”, nenhuma condição foi imposta.

Tivesse funcionado a tentativa de Obama de sair da crise, algumas grandes batalhas filosóficas teriam sido evitadas. Mas não funcionou e há muito tempo a antipatia popular em relação aos bancos não era tão grande.

Obama queria construir pontes entre os americanos, divididos por George W.

Bush. Mas agora as divisões são ainda maiores. Suas tentativas de agradar a todos, tão evidentes nas últimas semanas, não deverão agradar a ninguém.

Os falcões do déficit — especialmente banqueiros que se mantiveram discretos enquanto o governo salvava suas instituições, mas que agora voltaram com uma vingança — usam preocupações sobre o déficit para justificar cortes nos gastos. Mas sua visão sobre como a economia deve ser administrada não é melhor do que sua visão de como seus bancos devem ser dirigidos.

Cortar gastos agora enfraquecerá a economia. Enquanto os gastos forem para investimentos com um retorno modesto de 6%, a dívida a longo prazo será reduzida, mesmo se o déficit a curto prazo crescer, devido às receitas fiscais mais elevadas geradas pela produção maior no curto prazo e pelo crescimento mais rápido no longo prazo.

Entre a necessidade de estimular a economia e, ao mesmo tempo, agradar aos falcões do déficit, Obama propôs reduções que, ao mesmo tempo em que alienaram democratas liberais, foram pequenas demais para satisfazer os falcões. Outras medidas para ajudar a classe média podem mostrar onde está o coração do presidente, mas são pequenas demais para fazer diferença significativa.

Algumas coisas podem fazer diferença: um segundo estímulo, que detenha a maré de arrestos de imóveis e trate dos cerca de 25% das hipotecas que valem mais que o imóvel, e a reforma do sistema financeiro para pôr rédeas nos bancos.

Houve um momento, há um ano, em que Obama, com seu enorme capital político, poderia ter sido capaz de cumprir sua ambiciosa agenda e, em cima disso, prosseguir para lidar com os outros problemas do país. Mas a raiva em relação ao programa de salvamento, a confusão entre o bailout (que não foi capaz de restabelecer o crédito, como deveria) e o estímulo (que fez o que se esperava dele, mas em escala insuficiente), e o desapontamento com o número crescente de empregos perdidos reduziram enormemente sua margem de manobra.

De fato, existe até ceticismo sobre se Obama será capaz de levar à frente seus bem-vindos esforços para restringir os bancos grandes demais para falir e sua aptidão para assumir riscos. Sem isso, a economia enfrentará outra crise em futuro não tão distante.

A maioria dos americanos, entretanto, está focada nos problemas de hoje, não nos de amanhã. O crescimento nos próximos dois anos deverá ser tão anêmico que dificilmente será capaz de criar empregos suficientes para os que ingressarem no mercado de trabalho, quanto mais para fazer descer o desemprego a um nível aceitável.

Mercados sem algemas podem ter causado essa calamidade, e os mercados, por si mesmos, não nos tirarão dela, pelo menos em pouco tempo. A ação do governo é necessária e isto vai exigir liderança política efetiva e poderosa.

JOSEPH E. STIGLITZ é economista.© Project Syndicate

GEORGE VIDOR

Saldos positivos

O GLOBO - 15 /02/10

Em ano eleitoral qualquer análise ou avaliação do desempenho de governantes presentes e passados tende a ser vista como parcial, pois as paixões políticas se exacerbam por todos os lados. Mas, se nos distanciamos um pouco dessas paixões (cujo sentido literal é sofrimento), reconheceremos que os saldos dos governos Fernando Henrique e Lula foram bons para o país.

Ambos surpreenderam positivamente. Quando estava no Senado, e mesmo depois como chanceler, Fernando Henrique não via com bons olhos o processo de privatização que já estava em curso. Ao assumir o Ministério da Fazenda constatou, na prática, o impasse que o país se encontrava em decorrência da falência do estado. Com a batata quente na mão, seu primeiro desafio foi montar uma equipe, e na época não foi fácil convencer os formuladores do embrionário Plano Real a se engajarem no governo, pois nenhum deles acreditava na disposição política da cúpula governamental para consertar essa situação. Se dependesse deles o real talvez não fosse lançado tão rapidamente, mas o senso de oportunidade do presidente Itamar Franco e de seu ministro da Fazenda detectou que o momento era aquele. As condições poderiam não ser satisfatórias, mas eram suficientes.

Ao menos do ponto de vista político (ressaca do impeachment de Collor, etc.).

O Plano Real livrou o país do que parecia ser uma maldição interminável e as reformas que se seguiram pavimentaram o caminho de uma recuperação, ainda que lenta e gradual, para usar uma expressão comum do noticiário de então.

Embora Fernando Henrique seja rotulado de neoliberal por seus adversários, por causa das reformas e da privatização de empresas consideradas emblemáticas no processo de desenvolvimento econômico do país, na sua administração os impostos aumentaram barbaramente e a carga tributária alcançou um patamar recorde, em torno do qual tem se mantido. Obviamente as despesas acompanharam essa expansão da carga, especialmente os gastos de custeio, pois os investimentos públicos não evoluíram tanto no período.

Fernando Henrique manteve o Estado como principal agente econômico, mas mudou o eixo dinâmico da atividade produtiva para melhor.

Sem a estabilidade monetária, as reformas (o saneamento do sistema financeiro deve ser creditado nessa conta) e a carga recorde ainda estaríamos às voltas com a falência financeira do Estado, e o governo Lula também não teria o que realizar.

O senso de oportunidade do presidente Lula foi igualmente forte, e surpreendeu a todos com a nomeação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central, na ocasião conhecido apenas como ex-banqueiro internacional e deputado federal eleito, por Goiás, na chapa do PSDB, partido rival do PT. Nessa mesma linha, Antonio Palocci, médico e político do interior de São Paulo, que se tornara homem de confiança de Lula durante a campanha eleitoral, comandava o Ministério da Fazenda com uma equipe formada por técnicos, sem coloração partidária, aos quais sequer conhecia pessoalmente.

A carga tributária que fora expandida por Fernando Henrique serviu para que o novo governo assumisse compromissos de superávits primários capazes de estancar a preocupante expansão da dívida pública. A economia se tornou mais confiável, as contas externas se equilibraram (o país subiu na classificação das agências avaliadoras de risco e obteve o conceito de grau de investido) e tudo isso deixou o governo Lula em uma situação fiscal bem mais confortável em seu segundo mandato, o que lhe possibilitou deslanchar ou aprofundar vários programas importantes na área social (eletrificação rural ou de pequenos núcleos urbanos afastados dos grandes centros, por exemplo).

Recentemente, já na fase final do seu segundo mandato, Lula acertou na mosca com o programa habitacional - o que, sem a queda nas taxas básicas de juros, talvez não fosse viável, devido aos subsídios embutidos nos financiamentos para famílias de baixa renda.

Em resumo, são muitos os méritos de ambos os governos (FH e Lula) e, apesar de ser quase inevitável na disputa eleitoral, a discussão sobre "quem fez mais" acabará empobrecendo o debate político durante a próxima campanha.

A questão da energia exemplifica bem isso. O r a c i o n a m e n t o d e 2001/2002 é sempre apontado como consequência "da política neoliberal de Fernando Henrique". Mas, no fundo, todos sabem que não seria possível evitálo nas condições que o país se encontrava. As inic i a t i v a s t o m a d a s n ã o iriam maturar a ponto de compensar cinco anos de poucas chuvas e o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas. Naquela situação só mesmo medidas emergenciais poderiam funcionar.

A experiência, sem dúvida, serviu para valorizar o planejamento energético, restabelecido meritoriamente pelo atual governo.

No entanto, o governo Lula ainda esbarra em muitos obstáculos para a construção de hidrelétricas. O leilão da usina de Belo Monte só sairá no último ano do mandato do presidente! Fernando Henrique e Lula são políticos com personalidades fortes, e com essa referência, os eleitores certamente prestarão atenção às qualidades pessoais e fragilidades dos candidatos que concorrerão em outubro à presidência. Mas seria muito bom para o país se esse debate envolvesse igualmente a visão de cada postulante a presidente sobre o quê fazer, e como fazer, com as limitações financeiras existentes, para ajudar o Brasil a continuar melhorando.

ANCELMO GÓIS

Sobrou para Dilma

O GLOBO - 15/02/10


O Quanta Ladeira, bloco fundado por artistas como Lenine e Lula Queiroga, que agita Pernambuco com suas paródias, não poupou Dilma e Serra.

A ministra ganhou uma versão de "Odara", de Caetano.

Trecho: "Deixa eu votar/Lula disse que Dilma é o cara\/(...) Deixa eu votar/Mas eu não voto nessa "otara"/Que parece Pedro de Lara\/Essa Dilma ninguém azara/Nem doidão, nem de cara."

Sobrou para Serra...

Já Serra ganhou versão de "Terra", também de Caetano.

Trecho: "Mas que candidato feio/Mas parece uma caveira/ Um vampiro de cinema/Essa cara de zumbi/(...) Vindo de outro planeta."

Acabou em samba

Um folião apareceu no Cordão da Bola Preta, sábado, no Rio, fantasiado de Manoel Zelaya.

O presidente deposto de Honduras foi "hóspede" da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.

Calma, gente... Sexta, voo 3936 da TAM (São Paulo-Rio), uma criança de 1 ano, que chorava, irritou a atriz Maria Claudia. A cada berro do bebê, a artista dava outro.

No fim da viagem, o pai das crianças se debruçou sobre Maria Cláudia e desabafou: "Na próxima, melhor você não pegar a ponte aérea. Use sua vassoura!"

Carnaval de Dunga

Dunga, que curte o carnaval carioca, viaja dia 21 para a África do Sul.

Participará de apresentação, da Fifa, que mostrará como as coisas vão funcionar na Copa.

À la Zózimo

E José Roberto Arruda, hein? Como diria o saudoso comediante Mussum, o sambista e integrante do grupo "Os Trapalhões", o governador Arruda está passando o carnaval em... "canis".

Devagar, devagarinho...

Martinho da Vila recebeu dias atrás um... cartão de Natal.

Era da deputada Vanessa Grazziotin, do PC do B Amazonas.

Ai, que calor

Nesse calorão, pelo menos uma empresa do Rio já adotou o uso de bermudas diariamente, a TeleListas.

João para sempre

João Bosco, o grande artista, vai gravar seu "Depoimento para a Posteridade", o projeto do Museu da Imagem e do Som, comandado por Rosa Araújo, dia 24 agora.

Deve ser terrível

Um brasileiro que está no Canadá participando dos Jogos de Inverno de Vancouver reparou.

O Canadá Line, espécie de metrô de superfície criado especialmente para os Jogos de Inverno (liga o aeroporto ao centro de Vancouver), anda tão lotado quanto o metrô do Rio.

Só falta o calor (a temperatura lá está na faixa dos 8 graus).

A luta continua

Eduardo Paes não está gostando de o empresário Carlos Carvalho festejar a vitória, num processo ainda não concluído, contra a Prefeitura do Rio: - Vamos lutar nos tribunais.

É dinheiro do contribuinte.

O empresário diz que, caso vença, vai doar a indenização, de uns R$ 500 milhões, em obras para o Rio.

Hospital da Mulher

Sérgio Cabral vai inaugurar no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti.

Um anexo chamado Casa da Mãe será uma espécie de hotel para acompanhar o filho doente e de alto risco.

Invasão de gambás

Um trecho da Vila da Penha, terra de Romário, no subúrbio do Rio, conhecido como Mão Santa, sofre uma invasão de... gambás!

A morte de farda

Os números são do tenentecoronel Milton Corrêa da Costa, da reserva da PM do Rio, pesquisador de violência urbana.

Nos últimos dez anos, cerca de 1.500 policiais foram mortos na guerra do Rio, numa média superior a 140 por ano.

Cena carioca

Quarta, na portaria de um prédio na Avenida Lúcio Costa, na Barra, estavam expostas para a visitação pública as roupas de um marido expulso de casa.

Entre os apetrechos jogados fora, uma cueca de espuma com uma... tromba de elefante para guardar o dito cujo.

Há testemunhas.

O carnaval do xixi

Faz sentido

Do Twitter do publicitário Renato Portugal: "Se beber, não mije."

Xixi na lata

Sexta, por volta de 21h30m, no engarrafamento do bloco Sapucapeto, na Av. Ataulfo de Paiva, no Leblon, um folião a bordo de um ônibus 569 (Largo do Machado-Leblon) pôs a cabeça para fora da janela e pediu uma lata vazia a um ambulante.

"Preciso dar uma mijada", explicou. Conseguida a latinha, o rapazinho pôs o mestre-sala para fora e...

chuááá... fez xixi dentro. Os demais passageiros saíram de perto.

Precioso líquido

Independentemente da ideia de Eduardo Paes de espalhar mictórios em logradouros públicos, está para ser votado na Câmara de Vereadores do Rio projeto de Aspásia Camargo para criar banheiros públicos em todos os bairros da cidade.

Pelas contas da vereadora, seriam "menos 68 mil litros de xixi nas ruas da cidade" em um ano.

A conta é baseada em... não sei.

Pega ladrão!

Acredite. Ladrões levaram uma carreira de banheiros químicos que serviria para aliviar o xixi dos foliões no bloco Céu na Terra, em Santa Teresa, sábado de manhã.

Choque na bexiga

O xerife do Choque de Ordem, Rodrigo Bethlem, vai continuar a pegar pesado com os mijões depois do carnaval.

- Vamos mapear alguns locais que servem de mictório para apertar o cerco - diz Bethlem.

Choque no bilau

O choque de ordem do prefeito Eduardo Paes proporcionou uma cena inédita neste carnaval.

Havia filas enormes nos banheiros dos homens no desfile do Bola Preta, sábado.

No mais

Como diria Lula, nunca antes na história deste país se viu fila em banheiro de homem no carnaval.

Eu apoio.

ZONA FRANCA

Dia 26, Chorando Baixinho faz apresentação no Colégio São Francisco de Assis, em Caxias.

, Luiz Carlos Pugialli apresenta programa de turismo religioso sobre Portugal e Itália na TV Alerj.

O casal Garcia assina o bolo de 20 anos do Camarote da Brahma.

A Brasil veículo espalhou quinze painéis móveis em vários pontos do Rio durante o carnaval. Eles mostram onde estão os mais de 600 desfiles de blocos que passarão pela cidade.

O Projeto Cat\/Petrobras 2010 oferece oficinas de arte e internet grátis para comunidades carentes do Recreio.

REPARA SÓ no vestido frenteuacute;nica que o estilista Walério Araújo (foto) preparou para Paris Hilton usar no camarote.

Ele customizou uma camiseta da grife italiana Dolce & Gabanna, estampada com a logo da cervejaria, e, de quebra, aplicou 1.440 cristais Swarovski

TRÊS FERAS da música brasileira na abertura oficial do carnaval de Recife: Lenine, Zeca Pagodinho e Luiz Melodia

SABE QUEM está fantasiado de árabe ao lado de Sérgio Cabral? Paulinho da Viola, que acompanhou de perto o desempenho de sua filha, a atriz Beatriz Faria, no bloco Sassaricando, ontem

CLÁUDIO HUMBERTO

"Foi um dia histórico... o Brasil falou chega de impunidade"
Senador Pedro Simon (PMDB-RS), sobre a prisão do governador Arruda, no DF

Punições de Arruda serão agravadas, avisa STJ

Por ser funcionário público, o governador José Roberto Arruda, que está preso na Polícia Federal, em Brasília, deverá ter sua punição agravada por haver "instigado, organizado e dirigido" a participação dos demais envolvidos no "DEMsalão", segundo advertiu o ministro-relator do caso no Superior Tribunal de Justiça, Fernando Gonçalves. Ou seja, se Arruda for condenado, as penas aumentam de um sexto a um terço.

Cana dura

Pelos crimes que o levaram à prisão, Arruda está sujeito a três anos de reclusão por falsidade ideológica e quatro por coação de testemunha.

Penas maiores

Por serem servidores, Haroaldo de Carvalho, Rodrigo Arantes, Antônio Bento e Weligton Moraes, também poderão ter as penas aumentadas.

Caixa de Pandora

Para o ministro-relator, Domingos Lamoglia, do Tribunal de Contas do DF, teve papel "marcante e consistente" no desvio de verbas públicas.

Mudança

Mudou o tom do Movimento Fora Arruda. Agora, os manifestantes de partidos de oposição pedem: "Fica, Arruda". Na Polícia Federal.

Concessão

Apesar dos apagões diários em Brasília, a situação poderia estar muito pior. Nos oito anos do ex-governador Joaquim Roriz, a estatal de energia CEB foi multada pelo menos três vezes pela Aneel, por falta de investimentos. A concessão só não foi cassada porque José Roberto Arruda, oriundo da CEB, prometeu investir na empresa. E cumpriu: R$ 150 milhões por ano na CEB. Mesmo assim, não resolveu o problema.

Jobim fica

O ministro Nelson Jobim (Defesa) decidiu ficar no governo até o final do mandato do presidente Lula. Não disputará qualquer cargo eletivo.

Denucci também

O PTB pressionou muito, mas Guido Mantega (Fazenda) decidiu manter no cargo o presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci.

De Brasília para o mundo

A prisão do governador Arruda foi destaque nos principais jornais e sites de notícias da Europa, América Latina e EUA.

Suborno

Foi no valor de R$ 2 milhões a primeira oferta para Edson Sombra mudar seu depoimento à PF, favorecendo Arruda. Mas, segundo despacho do ministro Fernando Gonçalves, do STJ, o ex-secretário de Comunicação Weligton Moraes aumentou a oferta para R$ 3 milhões.

Tá feia a coisa

Não chamem para o mesmo voo de aviões-caça o ministro Nelson Jobim (Defesa) e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito. Será um passeio indigesto.

Longe do Rio

Em Paris, aonde vai com frequência, até se entende. Mas em São Paulo, onde se hospeda no carésimo Hotel Emiliano, o governador Sérgio Cabral não usa carro blindado com seu motorista particular.

Fala com ele

Prêmio Nobel da Paz, a iraniana Shirin Ebadi disse à agência Efe que a visita de Lula ao Irã em maio faria sentido se, além de fazer negócios, ele falasse com a oposição. "Seria violar os direitos humanos".

O bom guerrilheiro

O novo presidente do Uruguai, o ex-guerrilheiro José "Pepe" Mujica, que nem gravata usa, vai doar a entidades sociais 87% do salário, de cerca de R$ 25 mil, espanta-se o Le Monde. Esses franceses...

PODER SEM PUDOR

Papo de pescador
Certa vez, no aeroporto de Curitiba, um grupo de deputados do PP, sem cargos no Governo federal, bolava como tirar proveito do escândalo Waldomiro Diniz. O mais experiente no balcão de negócios políticos ensinou:
- Temos que assinar o requerimento da CPI, sim! É como pescar dourado: se o peixe fica quietinho, a gente espera. Quando começa a se debater, a gente dá um puxão para o outro lado.

JOSÉ GOLDEMBERG

A sociedade de consumo e políticas públicas

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/02/10


Existem no mundo hoje cerca de 700 milhões de automóveis, um para cada dez habitantes. Nos Estados Unidos já existem quase tantos automóveis quanto pessoas (incluindo as crianças). No Brasil são quase sete pessoas para cada automóvel, mas em 2014 deveremos ter quatro pessoas por automóvel - em outras palavras, cada família deverá ter um automóvel. A China e a Índia são menos motorizadas, mas, mesmo assim, prevê-se que dentro de 20 anos haverá 2 bilhões de automóveis circulando no mundo.

A posse de um automóvel reflete as aspirações de boa parte da população mundial, para a qual eles representam a liberdade de ir e vir. Sucede que um mundo totalmente motorizado terá de enfrentar problemas muito maiores do que os que enfrentamos hoje: congestão urbana, poluição, acidentes, expansão da rede de estradas e o fato de que os combustíveis que usamos hoje não deverão durar mais de 40 anos - antes disso, seu custo aumentará substancialmente.

Apesar disso, muitos governos encorajam a motorização, entre os quais o do Brasil, que até reduziu os impostos sobre automóveis para encorajar as vendas, sem exigir das montadoras nenhuma contrapartida, como a de melhorar os padrões de desempenho desses veículos. Nos Estados Unidos essa exigência foi feita como precondição para o governo salvar a indústria automobilística da bancarrota.

A China está revelando preocupações com a tendência à motorização do país, que ainda é pequena (29 pessoas por automóvel), e está iniciando a instalação de uma rede de ferrovias com trens rápidos - do tipo TGV francês (train à grande vitesse ou, em português, trem de alta velocidade) - que vai cobrir todo o território chinês (9.596.960 km2), que é maior que o do Brasil (8.514.876,599 km2). A China, por meio de uma decisão política, tenta seguir o modelo europeu de ênfase ao tráfego ferroviário.

São muitos os exemplos que se poderiam citar dos problemas que uma sociedade orientada para o consumo vai criar para a grande maioria da população mundial, no futuro.

Poder-se-ia argumentar que os Estados Unidos conseguiram se tornar o paraíso do consumismo que são hoje e que a tendência é imitá-lo. Acontece que a população dos Estados Unidos é de apenas 4% da população mundial e se consome lá um quarto de toda a energia produzida no mundo. Em outras palavras, não existem no mundo recursos de energia e minerais suficientes para que uma população mundial 25 vezes maior que a dos Estados Unidos adote seus padrões de consumo.

Por outro lado, não existe a menor dúvida de que o restante do mundo não aceitará viver com menos conforto que os americanos e que uma sociedade de consumo de algum tipo acabará por se impor.

Assim sendo, o que fazer?

Negar o progresso econômico é impossível, mas o fato é que políticas públicas podem orientar esse progresso e existem novas tecnologias - que não existiam há 50 anos - que permitem fazê-lo. Ninguém, em sã consciência, vai negar o direito de as pessoas terem acesso a uma iluminação decente à noite, mesmo que morem numa favela. Hoje, no entanto, existem lâmpadas que iluminam tão bem (ou melhor!) e usam dez vezes menos eletricidade, além de durarem mais tempo do que as antigas. Esse é só um exemplo de tecnologias mais eficientes, das quais existem muitas.

Nos países em desenvolvimento, cuja população está crescendo - e a infraestrutura ainda é incipiente -, a estratégia é crescer adotando essas tecnologias mais eficientes desde o início.

Outra estratégia é a de evitar uma dependência completa do uso de combustíveis fósseis, introduzindo energias renováveis em grande escala, como a dos ventos e a solar. Em alguns casos, as próprias forças do mercado farão isso, porque algumas delas já são competitivas, mas, em outros, políticas públicas são necessárias para fazê-lo.

O sucesso do Programa do Álcool no Brasil se deve a isso. A decisão do governo, décadas atrás, foi a de substituir gasolina por álcool de cana-de-açúcar. A mistura adotada começou com alguns por cento e aumentou para 25%. Muitos outros países estão fazendo isso com misturas menores, mas ainda assim significantes.

É por essa razão que a decisão recente do governo de reduzir a mistura para 20%, por causa da falta de álcool, passa uma mensagem errada. O motivo para essa redução foi mesmo a falta de álcool, que provocou o aumento do seu preço e fez as vantagens econômicas de usá-lo desaparecerem. A medida é temporária e a mistura deve voltar aos 25% no início da próxima safra, mas teria sido melhor reduzir as exportações de açúcar para aumentar a produção de álcool do que reduzir a porcentagem na gasolina.

Políticas públicas não são necessariamente estabelecidas somente por governos. Estratégias adotadas por grandes bancos ou por grandes empresas tornam-se às vezes verdadeiras políticas públicas. Exemplo claro disso foi a criação da "bolha imobiliária" nos Estados Unidos, que levou à crise financeira global de 2008. Grandes bancos facilitaram de tal forma empréstimos imobiliários, exigindo poucas garantias em seus financiamentos, que milhões de pessoas contraíram empréstimos que não podiam pagar. Outro exemplo foi a "bolha de informática" dez anos atrás, quando um entusiasmo irracional por investimentos de risco nessa área levou o setor a uma grave crise. Em todos esses casos, o aumento do controle governamental foi necessário para evitar males maiores.

O que é fundamental são políticas públicas que orientem as forças de mercado, e não simplesmente se curvem a interesses econômicos imediatistas.

José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo

GUSTAVO LOYOLA

Conta movimento, versão 2010

O ESTADO DE SÃO PAULO - 15/02/10


A ideia de animais vindos do passado atemorizando os viventes é tema recorrente na ficção. Michael Crichton, por exemplo, explora o assunto no romance Jurassic Park, cuja versão cinematográfica alcançou grande sucesso. Felizmente, para a tranquilidade geral, experimentos como o da clonagem de dinossauros não chegaram ainda ao mundo real e, nesse particular, podemos todos seguir dormindo tranquilos.

No campo das políticas públicas, contudo, as coisas se passam de modo diferente e criaturas jurássicas recém-clonadas podem fazer mal, muito mal. Não raro, os viventes são surpreendidos e atemorizados por criaturas do passado que se julgavam extintas e apenas de interesse histórico. Esse é tipicamente o caso do ensaio de ressurreição, pelo governo Lula, de um animal institucional que tem o DNA da extinta conta movimento, para permitir a realização de gigantescos aportes de recursos a bancos oficiais.

Trata-se das operações de emissão de dívida pública mobiliária para capitalizar ou realizar empréstimos a bancos públicos oficiais, notadamente o BNDES. O que ocorre nessas operações é a expansão do endividamento bruto do Tesouro e a criação simultânea de um direito contra o BNDES ou outro banco oficial federal, sob forma de capital ou de crédito. Embora sob a ótica da dívida líquida do setor público tal operação pareça inofensiva, suas implicações fiscais e monetárias são bem menos benignas, haja vista a expansão do endividamento bruto do governo.

Nos tempos jurássicos das finanças públicas, a conta movimento era o mecanismo pelo qual o Banco Central (BC) supria o Banco do Brasil (BB) de recursos que eram utilizados na expansão dos ativos consolidados do sistema bancário (em particular do próprio BB). Essa conta permitia a liberação de empréstimos e financiamentos, no interesse de programas de governo, sem que estes constassem do orçamento fiscal.

A conta movimento teve seu auge nos anos 1970, pois era peça-chave da estratégia desenvolvimentista dos governos de então, que exigia a utilização do Banco Central como banco de fomento, num processo continuado de expansão monetária ou de elevação da dívida mobiliária.

A extinção da conta movimento só veio no final dos anos 1980, com a reforma das finanças públicas, quando também houve a incorporação do orçamento monetário ao Orçamento-Geral da União, a perda das funções de fomento pelo Banco Central e a criação da Secretaria do Tesouro Nacional.

De todo modo, a bagunça monetária e fiscal viabilizada pela conta movimento foi um dos responsáveis diretos pela instalação do processo inflacionário crônico no País, que somente foi revertido no Plano Real. Assim, o fim da conta movimento representou um grande avanço para assegurar a estabilidade e o crescimento econômico sustentado no País.

A tendência recente à banalização das emissões de dívida mobiliária para sustentar o crescimento dos ativos dos bancos públicos implica pôr em marcha um mecanismo que tem semelhança genética com a conta movimento, pelas suas implicações no mercado monetário, não obstante tais operações integrarem o orçamento fiscal. Em 2009, por exemplo, houve emissão de dívida pública federal no montante de R$ 105 bilhões, sem contrapartida financeira, sendo os papéis correspondentes entregues ao BNDES para venda em mercado, à medida que o banco tenha necessidade de caixa. A questão é que a venda desses títulos provoca, "ceteris paribus", um desequilíbrio no mercado monetário, o que implica a necessidade de o Banco Central monetizar tais papéis, gerando expansão da liquidez. Dependendo do montante e da frequência desse tipo de operação, o BC pode se tornar tão passivo no processo quanto o era nos tempos da conta movimento.

Por óbvio, o problema não está na realização de operações isoladas de capitalização dos bancos oficiais federais com recursos advindos da emissão de dívida pública, no bojo de um processo normal de expansão dessas instituições e no contexto de uma política fiscal responsável. Igualmente não haveria inconveniente, sob esse aspecto, se o crescimento desses bancos estiver baseado em captações no mercado. Grave erro seria o governo embarcar numa política de desmedida expansão das operações oficiais de crédito via emissão de dívida pública, replicando a perversa estratégia dos anos 1970 e 1980. No momento, esse risco existe, dado o forte discurso ideológico de alguns integrantes do governo a respeito do papel do Estado e de suas instituições financeiras no desenvolvimento econômico.

Em conclusão, a réplica nos dias atuais do modelo "desenvolvimentista" baseado no crescimento das operações oficiais de crédito, tendo como agentes os bancos federais, representaria um grande retrocesso institucional que poderia colocar em sério risco as conquistas econômicas dos últimos anos.

Por tudo isso, seria recomendável que o governo Lula (e seu sucessor, obviamente) abandonasse definitivamente a ideia de trazer à vida dinossauros extintos. Deixemos isso para os ficcionistas. É muito mais seguro.

Gustavo Loyola, sócio-diretor da Tendências Consultoria, foi presidente do BC

BRASIL S/A

Chineses no topo

CORREIO BRAZILIENSE - 15/02/10


Nos campos político e institucional, a China não tem nada a ensinar. A lista de malfeitos, passados e atuais, é grande

Ninguém aguenta mais ouvir falar na China. Como as celebridades de ocasião, o país passa por uma superexposição. Deveria se retirar do palco por um tempo, senão acaba reduzido a uma espécie de Geisy Arruda recauchutada. Mas o assunto é obrigatório. A revista Foreign Policy abriu um debate sobre o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) chinês em 30 anos e seu peso no mundo. A polêmica começou com um artigo do acadêmico Robert Fogel, que dividiu o Prêmio Nobel de 1993 com Douglass North por tentar explicar a evolução econômica e institucional por meio de métodos matemáticos. Fogel fez os cálculos e concluiu que, em 2040, a China vai gerar riquezas no estrondoso valor de US$ 123 trilhões.

Isso representaria três vezes mais do que o produto mundial em 2000 e levaria o país a ser responsável por 40% da economia global, já bem longe dos Estados Unidos, que minguariam para 14% e da União Europeia, com 5%. O cidadão chinês teria uma renda per capita de US$ 85 mil, mais do dobro da europeia, mas ainda abaixo da norte-americana. “É assim que o futuro será em uma geração. Isso vai acontecer mais cedo do que imaginamos”, garantiu. Neste ano, o PIB chinês pode chegar a US$ 5,5 trilhões, empurrando o Japão para o terceiro lugar no ranking. Segundo Fogel, os analistas não entendem direito o que ocorre no país. Ele cita cinco fatores que o levarão a esse salto.

1º. O enorme investimento feito em educação e capacitação profissional vai adicionar 6 pontos percentuais na taxa de crescimento anual do país, que deve fechar este ano em 9,5%. 2º. Os analistas costumam olhar só para as fábricas e o mercado financeiro, mas o setor rural, onde ainda moram 700 milhões de pessoas, é responsável por um terço da expansão atual e continuará ganhando produtividade. 3º. As estatísticas do governo subestimam o tamanho da economia, pois não capta direito o faturamento de pequenas e médias empresas, especialmente no setor de serviços. 4º. Embora a maioria pense que a política econômica é dirigida com mãos de aço pelo governo central, há um razoável nível de debate na sociedade e a maior parte das reformas é gerida localmente. 5º. A tendência consumista chinesa, reprimida por décadas, vai explodir.

O mundo está pronto?
A resposta veio nas páginas da própria FP e ficou a cargo de Nicholas Consonery, especialista em China da consultoria Eurasia Group. Segundo ele, Fogel convenientemente diminuiu a importância de sérios problemas que ameaçam o desenvolvimento chinês, confiando demais na habilidade do governo de superar os enormes desafios políticos, econômicos e ambientais. Além disso, baseia as projeções no crescimento recorde atual, que pode não se repetir. Consonery apresenta alguns argumentos. A crise global estancou o processo de liberalização na China e fortaleceu o papel do Estado no mercado, o que tende a tornar a gestão econômica mais ineficiente e prejudicar o crescimento. Como o governo está concedendo mais incentivos à exportação, as empresas vão produzir em excesso, aumentando a dependência das vendas para os Estados Unidos, Europa e Japão, com todos os riscos que isso traz.

Sem uma genuína reforma política e econômica que estimule a expressão individual e a criatividade, a inovação tecnológica ficaria prejudicada, com os talentos saindo dos bancos escolares para empresas estatais ou a burocracia. Até 2025, um quarto da população terá mais de 60 anos de idade, o que trará enormes dificuldades para o já problemático sistema previdenciário. “Mas a razão mais importante pela qual não veremos 1,4 bilhão de chineses ganhando uma renda média de US$ 85 mil por ano é que o planeta simplesmente não pode sustentar uma expansão tão rápida”, diz. Hoje, só 4% dos chineses têm automóveis, número que poderia ser multiplicado por 20, com todas as consequências ambientais. O país deve enfrentar um deficit de 25% no fornecimento de água em 2030 — Pequim já sofre com a escassez. “O mundo está pronto para a China que Fogel descreve? A China está?”, perguntou Consonery.

Economia não é tudo
Num artigo publicado na revista The New York Review of Books, o historiador britânico Tony Judt afirma que, nos últimos 30 anos, as pessoas se acostumaram a pensar de forma apenas econômica ao avaliar políticas públicas. Em vez de se perguntarem se a medida proposta é boa ou má, querem saber se ela é eficiente e aumenta o PIB. Essa constatação cabe perfeitamente no caso da China. Em todo lugar só se quer saber do seu desempenho econômico. Pouco importa saber hoje se eles produzirão US$ 123 trilhões em 2040. Se ocorrer mesmo, e daí? Economia não é tudo. Civilização implica liberdades civis, tolerância, respeito à diferença, igualdade de condições, acesso à cultura e a um banheiro limpo.

Nos campos político e institucional, a China não tem nada a ensinar. A lista de malfeitos, passados e atuais, é grande. Desrespeita direitos humanos, do consumidor e o meio ambiente, proíbe a plena liberdade de expressão, a Justiça não se rege pelo devido processo legal e o regime político desconhece os princípios básicos da democracia. Tiraniza seu próprio povo. No artigo, Fogel afirma que uma economia dominada pela China pode soar estranho, mas representaria apenas uma volta ao passado, pois o país foi o mais rico em 18 dos últimos 20 séculos. Fiquem eles com o poder econômico. Nós nos contentamos com os valores ocidentais.

Ricardo Allan é repórter de economia

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Clima de desconfiança

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/02/10


Sucessão de erros abala credibilidade de órgão global para estudo da mudança climática, que precisa ser reformulado

DIFICILMENTE o IPCC -Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, órgão criado pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial- sairá incólume da crise de credibilidade que o acossa. Uma sucessão de erros e desvios de conduta de membros do painel vieram à tona. Para um colegiado de base científica, configura-se uma hemorragia de prestígio que poderá levá-lo à morte.
Entre as gafes mais espetaculares do IPCC figura o pedido de desculpas, no mês passado, pela inclusão, no relatório de 2007, da previsão de que as geleiras desapareceriam do Himalaia "muito provavelmente" no ano de 2035.
Rajendra Pachauri, presidente do órgão, reconheceu que "os padrões claros e bem estabelecidos de evidências apontam que procedimentos do IPCC não foram aplicados apropriadamente".
Pouco antes, em Copenhague, gerava polêmica a revelação de uma série de e-mails capturados por "hackers" dos computadores da Universidade de East Anglia. As mensagens trocadas entre climatólogos britânicos e norte-americanos sugeriam o uso deliberado de artifícios para reforçar a tese do aquecimento global.
Agora, por todo lado surgem propostas de reformulação do IPCC. E não são só os "céticos" do aquecimento global: na última edição do influente periódico "Nature", por exemplo, 4 de 5 colaboradores do painel manifestaram-se a favor de mudanças.
De fato parece esgotado o modelo surgido há duas décadas. Centenas de pesquisadores participam da produção dos relatórios de avaliação do IPCC, sumários da melhor ciência sobre o clima publicados com intervalos de cerca de seis anos. Os autores são selecionados entre nomes indicados por governos.
Com o passar dos anos, produziu-se uma tendência para a uniformidade de pensamento, indesejável num órgão encarregado de fornecer informação científica relevante -mas não prescritiva- para a tomada de decisão. Para alguns críticos também é perceptível um substrato anticapitalista em certas postulações anunciadas pelo painel como verdades científicas.
Mesmo que acusações de manipulação e relações problemáticas entre ciência e política não sejam suficientes para conspurcar a maior parte das constatações e previsões dos relatórios, não há dúvida de que uma atmosfera de desconfiança envolverá o que se publicar doravante.
Há várias ideias sobre como restaurar a credibilidade. A medida mais urgente seria desvincular o IPCC, ou o órgão que o venha substituir, da influência direta da ONU e dos governos.
Não é uma tarefa simples. Cogita-se uma agência com mais autonomia, que teria a incumbência de produzir relatórios mais específicos e frequentes, talvez bienais, sob um regime transparente de revisão por especialistas externos.
É um bom ponto de partida para discutir uma nova e necessária fase de avaliação dos efeitos da atividade humana sobre o clima.