segunda-feira, dezembro 13, 2010

PAULO MOREIRA LEITE


Clima de tensão
 Paulo Moreira Leite


Revista Época 

com Leonel Rocha, Murilo Ramos e Isabel Clemente, em Brasília, e Keila Cândido


Notícias sobre Política, Economia, Negócios e Cultura


A preocupação com a postura que Luiz Inácio Lula da Silva assumirá quando voltar a São Bernardo do Campo preocupa seriamente a equipe de Dilma Rousseff. Na campanha, criador e criatura tiveram momentos duríssimos quando José Serra chegou ao segundo turno, mas nada comparável ao que se vê na montagem do ministério Dilma. Lula tentou, por exemplo, manter Celso Amorim no Itamaraty, depois na Justiça, insistência que levou Dilma a fazer uma condenação pública à diplomacia brasileira em relação ao Irã. Lula foi bem-sucedido no esforço para manter Nelson Jobim na Defesa, mas gerou uma reação ácida no PT, para quem o ministro chega a ser desrespeitoso nas críticas que faz ao partido. Foi por isso que Dilma reabriu as discussões sobre a compra de caças para a FAB, desautorizando uma decisão que Jobim anunciara mais de uma vez. Protegido por Lula, o ministro da Educação, Fernando Haddad, pôde conservar o posto porque não se enxerga um concorrente à altura dele na base do governo. O centro do mal-estar, contudo, envolve o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Auxiliares de Dilma consideram que Lula deveria evitar críticas a um ministro que só permaneceu no cargo porque o presidente pediu por ele. Ao falar em cortes nos gastos públicos, inclusive em obras do PAC, Mantega cometeu tropeços frequentes em sua área de comunicação, mas foi um porta-voz leal às ideias da presidente eleita. Dilma está convencida de que precisará controlar bem os gastos para conseguir manter a economia em crescimento durante seu mandato. Desde a semana passada, a equipe de Dilma quer saber se Lula ajudará nesse esforço – ou se jogará pedras.
A psicologia das más companhias
Quem conhece Dilma diz que ela parece baixar a guarda com aqueles que conquistam sua confiança
Estudiosos da vida pública brasileira estão intrigados com um fato espantoso. Antes mesmo de tomar posse no Planalto, a presidente eleita, Dilma Rousseff, passou perto de dois escândalos de bom tamanho, com Erenice Guerra, amiga e sucessora na Casa Civil, e com o senador Gim Argello, companhia frequente de caminhadas em Brasília. A explicação dos mais próximos, até aqui, reside na psicologia. Eles dizem que, em função de um temperamento introvertido e de um comportamento recluso, Dilma é bastante seletiva para escolher amigos e gosta de manter certa distância em relação às pessoas. Em compensação, costuma baixar a guarda depois que elas conquistam sua confiança. Isso faria dela uma pessoa vulnerável às ações de oportunistas em busca de atalhos para os cofres do governo. A explicação pode fazer sentido numa sessão de terapia, mas, no mundo áspero da política, parece claro que Dilma precisa aumentar a vigilância sobre aqueles que se comportam como seus amigos.
Disputa de R$ 3,1 bilhões
A disputa está tão apertada que os três petistas que querem concorrer à presidência da Câmara dos Deputados – Cândido Vaccarezza, Arlindo Chinaglia e Marco Maia – pretendem chamar a bancada para resolver a diferença. Ficará na briga quem tiver mais votos. Na etapa seguinte, o vitorioso percorre o plenário em busca de apoio das outras legendas. Nessa fase, o baixo clero pode ter um peso decisivo e negociar votos em troca da liberação de R$ 3,1 bilhões em emendas do Orçamento.
Pedidos irresistíveis
Ao passar o chapéu para fechar o caixa de campanha depois que a vitória já fora anunciada, a tesouraria de Dilma Rousseff criou uma técnica imbatível de arrecadação, já que ninguém recusa favor a presidente eleito. Tucano de longa tradição, um dos maiores empresários do país assinou cheque de R$ 1 milhão.
Jobim não queria falar mal, mas...
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, tinha preparado um discurso com elogios moderados ao presidente Garrastazu Médici, patrono na formatura dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras. Omitindo-se sobre o papel de Médici na Presidência, o ministro falaria de sua formação como militar. As palavras do general Edson Pujol, comandante da escola, que saudou Médici como “presidente do milagre econômico”, levaram Jobim a abandonar o texto original e lembrar, de improviso, que o “poder militar” está subordinado à “autoridade civil democrática instituída no país”. Presente ao evento, Roberto, filho do general-presidente, abandonou a solenidade antes do final.
Texto ou imagem
Até aliados do senador eleito Aécio Neves consideram que seu ativismo dos últimos dias foi um sucesso de coreografia, mas precisa de melhorias no texto.
INSS no sobrenome
A esperteza de candidatos que procuram se ligar às autarquias que prestam serviços públicos, sugerindo que podem pagar votos com favores especiais, foi alvo de nove ações da Advocacia-Geral da União (AGU) na última campanha eleitoral. O truque mais comum era o cidadão usar a sigla INSS como sobrenome. Nem é difícil imaginar o porquê, não é mesmo? A AGU foi bem-sucedida em três ações, mas só um candidato conseguiu se eleger com esse recurso. Foi um certo Ronaldo do INSS, que conseguiu uma cadeira de deputado na Assembleia Legislativa de Alagoas.
Boa atividade
Um levantamento da Controladoria-Geral da União mostra crescimento nas punições a funcionários públicos federais acusados de corrupção. Eram 264 casos em 2003, chegaram a 404 até outubro de 2010, crescimento de 53%.
A luta por dois votos
Convencido de que tem chances de recuperar o mandato de senador pelo Amapá no plenário do Tribunal Superior Eleitoral, João Capiberipe (PSB-AP) inicia nos próximos dias uma rodada de conversas com aliados no governo federal. Ele calcula que tem dois votos certos e que só precisa de mais dois para vencer. A questão é que, do outro lado, está o senador José Sarney, que não para de demonstrar força em Brasília.
Difícil retorno
As chances de José Serra se tornar presidente do PSDB parecem miragem, mas, na semana passada, ele seguia numa campanha telefônica em busca de apoio. “Preciso de um título”, afirmava. E dizia que, após a derrota na campanha presidencial, tornou-se ex-prefeito, ex-deputado, ex-ministro e ex-senador. Os amigos acham que, para recuperar espaço, Serra precisa fazer o que nunca fez na carreira política: reconhecer os próprios erros. Problema: quase nunca Serra e o PSDB estão de acordo sobre quais foram os erros da campanha.
A liturgia da festa
Filha de Erenice Guerra, afastada da Casa Civil por tráfico de influência, a engenheira Clarice Dourado Guerra casa-se neste fim de semana. A cerimônia será um teste. Presenças de menos podem parecer falta de prestígio. Presenças demais podem denunciar falta de compostura.
Segundo escalão
Vetado para o primeiro escalão, o ex-ministro Geddel Lima, candidato do PMDB derrotado na disputa pelo governo da Bahia, concorre a uma vaga em estatal. Seu alvo é a presidência da Embratur, que cuida do turismo.

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