sexta-feira, dezembro 17, 2010

LUIZ GARCIA

Uma vaia só
Luiz Garcia


O Globo - 17/12/2010

Senadores e deputados, faltando pouco mais de uma semana para o Natal, trabalharam para fazer melhor a festa de cada um deles. A ideia é equiparar os seus vencimentos, e mais os do presidente da República, aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. No Legislativo, o aumento é de 61,8%. No Executivo, o presidente ganhará mais 134%; os ministros, um pouquinho menos.

Para ocorrer a equiparação, o pessoal do Judiciário ficará sem aumento. Os ministros do Supremo ainda não reclamaram nem concordaram, mas parece que continuarão recebendo R$26.700,00. Não tem jeito: qualquer aumentinho que tenham eliminaria a equiparação. Parece os dois outros poderes se esqueceram de combinar tudo com o terceiro. O que explica, por exemplo, que o Judiciário mandou para o Congresso, há pouco tempo, um projeto aumentando a remuneração dos membros do STF em quase 15%.

A discussão inevitável que vem por aí certamente incluirá uma questão curiosa: o que justifica o teto igual para todos? Por acaso senadores, deputados, presidente da República e ministros do STF têm a mesma carga horária, semanal ou mensal? É certo que representam o último escalão de cada um dos três Poderes, os quais são igualmente importantes, mas isso não implica, necessariamente, um padrão de vencimentos igual para todos. A diversidade de funções e responsabilidades - e até do dia a dia de cada poder - é extraordinária.

Só para citar uma diferença, senadores e deputados só trabalham para o Estado durante as sessões legislativas. É legítimo que tenham tempo para cuidar de seus redutos eleitorais - mas a Viúva não tem nada a ver com isso. Como acha, por exemplo o senador Álvaro Dias, do PSDB: para ele o reajuste só seria correto se fossem extintos o auxílio moradia e a verba indenizatória pagos aos parlamentares.

E algum espírito de porco sempre pode lembrar que o presidente da República mora e come de graça.

No Congresso, houve até uma discussão curiosa. Um deputado do PSOL, Ivan Valente, sugeriu que a equiparação de vencimentos fosse feita aos poucos, para abrandar o impacto na opinião pública. Foi derrotado por um argumento de políticos mais experientes: segundo eles, cada etapa do reajuste enfrentaria uma reação negativa. Era melhor fazer de uma vez só - e levar uma surra só.

Portanto, vocês da arquibancada, preparem-se para dar uma vaia só diante do aumento de 134% para dona Dilma, e de um pouquinho menos para todas as suas ministras e seus ministros.

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