quinta-feira, dezembro 09, 2010

CELSO MING

E a Petrobrás aguenta? 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 09/12/2010

O presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, está advertindo que é preciso mais cuidado com a louça. Não dá, avisa ele, para satisfazer os políticos que pretendem tocar os projetos do pré-sal em ritmo de marcha batida porque querem se apossar imediatamente dos bônus das licitações e, depois, dos royalties.

Gabrielli argumenta pelo lado dos fornecedores. A indústria nacional não vai dar conta de tanta demanda. "Apenas a Petrobrás e seus fornecedores investirão nos próximos quatro anos algo entre US$ 624 bilhões e US$ 824 bilhões", disse ao jornal Valor. O que ele prefere não explicitar é o fato de que a própria estatal não tem condições de avançar a essa velocidade.

Gabrielli desfila uma impressionante lista de necessidades. "Cada sistema de produção produz entre 100 mil e 180 mil barris por dia. Se vamos produzir 4,5 milhões de barris por dia em 2020, precisamos ter 40, 41 sistemas que custam, cada um, algo em torno de US$ 3 bilhões. Para funcionar, cada um precisa, em média, de cinco barcos de apoio. Estamos falando, portanto, de 200 barcos"... e vai por aí.

Depois de um demorado processo de capitalização, a Petrobrás só conseguiu um reforço de caixa de US$ 27 bilhões. O resto veio na forma de reservas de petróleo ainda lá embaixo, a 6 mil metros de lâmina d"água. Como previsto, o melhor resultado foi o aumento da capacidade de endividamento. Muito provavelmente, em dois anos, a Petrobrás terá de fazer mais um aumento de capital e não sabemos se o Tesouro terá condições de subscrever a sua parte em dinheiro vivo.

A nova lei do pré-sal prevê que a Petrobrás participará obrigatoriamente de todos os consórcios contratados para exploração do pré-sal, em regime de partilha, na proporção não inferior a 30%. Só o campo de Libra, que tem cerca de 8 bilhões de barris de petróleo recuperáveis e deve integrar a 1.ª Rodada de Licitações, "poderá suscitar uma quantidade enorme de bônus", afirmou Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Quando do exame do Orçamento da União para 2011, os políticos imaginaram que poderiam prever uma receita adicional, só com licitações, de US$ 20 bilhões. Se for isso, apenas a participação da Petrobrás nessa rodada exigiria cerca de US$ 6 bilhões de desembolso imediato.

Depois de um longo período de ufanismo e de sensação de que o Brasil pode tudo, o que precisa ser mais bem examinado não é só como dar tempo para que a cadeia de fornecedores nacionais se desenvolva, adquira tecnologia e se capacite para produzir equipamentos de alta qualidade, como sugere Gabrielli. É também se a Petrobrás tem condições de participar em pelo menos 30% de cada consórcio produtor do pré-sal.

Nem tudo é apenas uma questão de proporções. Somente no pré-sal há nada menos que 58% da área ainda a ser objeto de concessão. Entre a descoberta de petróleo e o início da produção em escala de um bloco são necessários de seis a oito anos. As reservas de Tupi, por exemplo, foram descobertas em novembro de 2007 e, até agora, não foram sequer definitivamente dimensionadas.

Se for observado o ritmo sugerido por Gabrielli, seriam necessários mais de 50 anos apenas para se iniciar a produção de toda a área do pré-sal. E não se sabe se até lá a era do petróleo já não terá terminado, como praticamente acabou a do carvão sem que tivessem sido explorados nem sequer 30% das reservas mundiais.

CONFIRA

O gráfico mostra como a inflação está crescendo cada vez mais forte.

Ficou para 2011

Em sintonia com a maioria dos analistas de mercado, o Copom manteve os juros básicos em 10,75% ao ano. Mas o comportamento da inflação é preocupante. A alta dos preços não está concentrada em um ou dois setores. Está espalhada por toda a economia. Isso sugere que o atual nível de aperto monetário não é suficiente para manter a inflação na meta. Parece inevitável uma nova rodada de alta dos juros no primeiro trimestre do ano que vem.

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