quinta-feira, dezembro 02, 2010

ALBERTO TAMER

Desindustrialização virou palavrão
 Alberto Tamer
O Estado de S. Paulo - 02/12/2010

Um palavrão ronda Brasília. Desindustrialização. Há ou não há, no Brasil? Eis a questão. Os empresários afirmam que sim; em alguns setores mais do que outros, mas é indiscutível o processo em marcha de substituição de produtos brasileiros por importados. A penetração destes, no mercado interno, era de 22,7% no ultimo trimestre. O ministro Miguel Jorge nega. É absurdo dizer que há desindustrialização num país que importa US$ 125 bilhões em máquinas e equipamentos e a indústria produz a pleno vapor, afirma ele. Outros vão mais longe, é um despropósito. Mas a Associação da Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) refuta. "Estamos em um claro processo de desindustrialização diz seu presidente, Luiz Aubert Neto. O faturamento no setor aumentou 11% entre janeiro e outubro, mas está abaixo aos 15% verificados em 2008, mesmo na crise.
A coluna abriu espaço para o debate. Sim ou não?
Depende. Na verdade, tudo depende do conceito de "desindustrialização" - uma palavra feia, admitimos. O que significa? Não é, como se diz, uma "destruição" da indústria brasileira, é a sua participação menor no PIB. Em 2004, era de 30,1%. No ano passado, 25,4%. Como afirma um estudo interno do Ministério do Desenvolvimento, a desindustrialização não se caracteriza pela queda na produção física da indústria, que pode estar até aumentando. "A característica fundamental é a perda relativa de dinamismo da indústria em geração de renda e emprego." É a substituição crescente de produtos que antes eram fabricados no Brasil por similares importados, principalmente da China.
De acordo com levantamento feito pela Fiesp entre os empresários paulistas, a participação dos produtos industriais importados passou de 18,1% no terceiro trimestre de 2009 para 22,7% o terceiro deste ano! Praticamente em todos os setores, com destaque especial para máquinas, equipamentos, metais e eletrônicos. De acordo com a pesquisa, divulgada pelo diretor de Pesquisa Econômica da Fiesp, (que não integra aquele grupo de "chorões" do juro e do câmbio da entidade, liderado por Roberto Giannetti da Fonseca), o processo é mais profundo e sério. Não é só o consumidor privado que está trocando produtos brasileiros por importados.
São as indústrias também, que importam insumos e partes a preços mais baixos para se defenderem da competição chinesa e fabricarem no Brasil. Os números impressionam: 55% das fabricas já se abastecem fora, 60% buscam insumos, matérias primas, no exterior, dos quais 20% de máquinas e 23% de produtos acabados. A pesquisa mostra também que 53% dos equipamentos e máquinas vendidos no mercado interno são importados.
Mas é que. Sei. É que a produção industrial está no seu limite, 82% da capacidade instalada, não está acompanhando a demanda. A questão não é só essa. É que o aumento da produção nacional - vejam bem o "aumento" está sendo feito em grande parte por meio de "produtos importados". Ou seja, o que aparece como produção nacional, não é bem isso...
Os números do IBGE mostram que temos aí um quadro nítido, claríssimo de substituição de bens produzidos no Brasil por importados, caminho aberto para a desindustrialização...
Está crescendo! Será? Mas a produção industrial está crescendo, ela é vigorosa, afirmam os que negam a existência do processo de desindustrialização!
Será? Vamos perguntar ao IBGE? Vejam a resposta dos números oficiais: com exceção do mês de julho, quando registrou um ligeiro aumento de 0,5%, a indústria vem apresentando resultados negativos.
A produção manufatureira recuou nos últimos seis meses. Nada menos que 0,9% em abril, 0,2% em maio, 1,2% em junho, 0,2% em agosto e setembro! São taxas calculadas sempre em relação ao mês anterior e com ajuste sazonal. Nada melhor para a realidade. Querem mais um numero final e irrefutavel? De abril a setembro deste ano a queda acumulada foi de 2,1%!
E isso, atentem, com a economia crescendo a 7,5% ao ano(!!!)
"O fato é que, ao contrário de outros setores, a indústria não vem participando dos benefícios gerados por esse momento extremamente positivo do País", afirma à coluna Rogerio César de Souza, economista-chefe do Instituto para o Desenvolvimento Industrial (Ied). "É nítida a escada declinante, o declínio do crescimento do setor, trimestre após trimestre, até atingir um valor negativo no período julho-setembro."
Sim ou não? O debate continua e a coluna continua aberta para ele. Apenas uma sugestão, que tal trocar esse palavrão que é feio e assusta por outro mais aceitável em Brasília, como "desestruturação" ? Assim, fica mais fácil analisar os números do IBGE. Que, a propósito, é do governo...

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