Ajuste necessário Miriam Leitão A hora é de arrumar a casa para o novo governo. É nessa tarefa que está concentrado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, um dos coordenadores da transição. O foco é o Orçamento de 2011, que precisa ser ajustado para atender às novas demandas da presidente eleita, Dilma Rousseff, mas a tarefa mais árdua será desmontar armadilhas que inviabilizariam uma gestão mais austera das contas públicas. O primeiro desafio é o reajuste do salário mínimo. A armadilha seria os R$ 600 já em 2011, promessa do candidato da oposição José Serra. O governo tem uma política de recuperação do mínimo até 2023, que está em xeque porque não prevê aumento real em 2011. Há espaço no Orçamento para um reajuste “um pouquinho além da inflação”, segundo Bernardo, mas as centrais pressionam e a oposição não dará trégua na discussão no Congresso. Ele lembra que o crescimento de 2010, na casa dos 7%, seria incorporado ao mínimo já no começo de 2012. A presidente eleita usou os mesmos argumentos na entrevista de ontem, mas o governo já admite mudar a regra para atender às centrais. — Se a discussão ficar muito dura, pode haver a antecipação dessa revisão. Garantimos agora um reajuste real e teremos uma outra política no ano que vem. O que não pode é mudar agora e voltar no ano que vem com a mesma regra — afirma. Outro desafio é a política de pessoal. O governo Lula foi pródigo na concessão de reajustes e na reestruturação das carreiras do funcionalismo, mas na visão de Paulo Bernardo esse processo foi concluído. — Vejo que há uma expectativa de algumas lideranças sindicais de que se repita os reajustes que foram dados nos últimos anos, mas a reestruturação já foi feita. Hoje o mais razoável é manter o poder de compra dos salários com correção pela inflação — afirma. O mesmo raciocínio vale para as demandas do Judiciário. Um dos projetos que tramita no Congresso prevê reajuste de 56% para os servidores da Justiça. — Não tem recursos no Orçamento para essa despesa. Tem que dizer de onde vai sair o dinheiro — afirma, lembrando que este é um problema também para os governadores eleitos. — Vai deflagrar um efeito cascata nos estados. Uma das propostas que ganha força na equipe de transição é criar uma trava para as despesas correntes. O ministro Paulo Bernardo defende a medida, mas alerta que é preciso arrumar a casa primeiro para viabilizar um mecanismo desse tipo: — Uma meta para as despesas correntes será uma boa coisa. Receitas correntes crescendo abaixo do crescimento do PIB abrem espaço para os investimentos. Mas colocar a tranca depois da porta arrombada não resolve. ‘Dream team’ No intervalo de uma daquelas reuniões intermináveis na Casa Civil, já durante a campanha eleitoral, um grupo de colaboradores muito próximos à então candidata do PT, Dilma Rousseff, resolveu escalar o que seria o “time dos sonhos” para tocar o projeto desenvolvimentista comandado por Dilma. Para quem não acredita em coincidências, não é por acaso que muitos desses nomes figuram agora na bolsa de apostas para ocupar cargos no primeiro escalão. No time dos sonhos, o ministro da Fazenda seria Luciano Coutinho; Nelson Barbosa, atual secretário de Política Econômica do ministério, comandaria o Banco Central; Welber Barral, hoje secretário de Comércio Exterior, assumiria o Ministério do Desenvolvimento, e Roberto Azevedo — considerado pelo grupo o melhor negociador do Brasil e hoje na OMC — seria o ministro das Relações Exteriores. Coordenando os trabalhos de governo, na chefia da Casa Civil, o “Dilmo” seria Paulo Bernardo. Dever de casa Embora em posição confortável no ranking de países mais citados como destino de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) até 2012 — ocupa a terceira posição, segundo a Unctad — o Brasil precisa se preparar para uma disputa cada vez mais acirrada por esses recursos, alertam especialistas. — Vemos a necessidade de uma ação mais agressiva para atrair investimento para o Brasil. Reduzir a burocracia e melhorar a infraestrutura são fatores fundamentais. Precisam estar no centro das atenções do novo governo — afirma Luiz Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). Lima lembra que, no atual contexto global, os países emergentes estão recebendo uma fatia maior de investimentos estrangeiros, mas o volume total de capitais diminuiu, afetado pelas incertezas da economia mundial, acirrando a competição com os países avançados. — Países que antes eram investidores no Brasil, fornecedores de capital, como França e Inglaterra, agora estão batendo na nossa porta e concorrendo com a gente na disputa por investimentos — observa. MARÉ VERDE: Chegará a US$ 3 trilhões a base monetária da economia americana após o anúncio do Fed de injeção de mais US$ 600 bilhões em estímulos. Nunca se viu tantos dólares em circulação na economia mundial. Com os juros americanos zerados, é mais combustível para a valorização do real. |
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