sexta-feira, novembro 26, 2010

LUIZ GARCIA

A coisa certa
Luiz Garcia
O Globo - 26/11/2010

Uma boa pergunta: como é que um chefão do tráfico, cumprindo pena numa penitenciária supostamente de segurança máxima, consegue comandar seus negócios como se estivesse na rua? A pergunta fica melhor ainda - ou mais preocupante - quando se sabe que foi feita esta semana pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

Ela explica a transferência, quarta-feira, de oito traficantes de penitenciárias de Bangu para a de Catanduva, no Paraná. E também o oferecimento, pelo governo federal, de até 50 vagas nas suas prisões para bandidos cariocas. O que equivale a uma confissão de que a segurança, em Bangu, não é tão máxima quanto se poderia imaginar ou desejar.

O problema não é de hoje. Sempre foi assim, o que sugere não se tratar de um problema de falta de recursos ou incompetência administrativa. É verdade que o sistema penal brasileiro parece confiar demais na sua capacidade de regenerar os bandidos que recebe. Não são poucos aqueles que, por bom comportamento, são premiados com licenças para visitar a família e nunca mais voltam.

Mas esse é outro problema. A questão do momento não é a fuga, mas a comunicação entre os chefes de quadrilhas presos com seus cúmplices do lado de fora. Como não é possível desinventar o telefone celular, nem, pelo visto, impedir que ele seja contrabandeado para as celas, a única saída parece ser mesmo mandar para longe os chefes de quadrilhas. É o que está acontecendo agora: oito hóspedes de Bangu já foram mandados para Catanduvas, no Paraná. E de lá embarcaram para Porto Velho dois nossos conhecidos: Elias Maluco e Marcinho VP.

O que parece faltar é uma política preventiva: bandidão condenado no Rio começar a cumprir pena longe daqui. É assim em outros países. Chefes do tráfico em Nova York são despachados de saída para prisões no interior do estado, como Sing Sing. E não se cogita de instalar complexos penitenciários perto de grandes cidades.

Por aqui, as transferências agora anunciadas não deveriam ser vistas como a reação, adequada, sem dúvida, a uma crise. E, sim, como o início de uma nova política: criminosos profissionais de alta periculosidade devem começar a cumprir suas penas longe de casa, longe de seus cúmplices. Não é boa política esperar por momentos críticos para fazer a coisa certa.

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