quinta-feira, novembro 25, 2010

CELSO MING

Credibilidade se conquista 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 25/11/2010

Com a promoção de Alexandre Tombini, atual diretor de Normas, para a presidência do Banco Central, a presidente eleita, Dilma Rousseff, pretende que os agentes econômicos captem o recado da continuidade.

Mas é pouco para a eficácia do desempenho do cargo. Para que possa transmitir credibilidade, requisito indispensável para ancorar as expectativas dos marcadores de preços, o sério diretor do Banco Central precisa, primeiro, conquistá-la com comando firme e posições próprias sólidas. Não é, de resto, nível de exigência diferente do que foi feito em dezembro de 2002 a Henrique Meirelles quando da sua indicação para a mesma função.

O primeiro teste de Tombini será a maneira como conduzirá a reunião do Copom agendada para os dias 18 e 19 de janeiro, num cenário de provável disparada da inflação. Boa pergunta consiste em saber se até lá o Senado terá concluído as sabatinas dos diretores do Copom.

É possível, também, que este seja o melhor momento para ajustar o regime de metas a um ambiente de inflação mais baixa do que o prevalecente há oito anos. A economia brasileira tolera hoje uma inflação alta demais, de nada menos que 6,5% ao ano (os 4,5% de centro de meta mais o desvio aceitável de dois pontos porcentuais), num ambiente global que está levando grandes bancos centrais a gastar munição contra uma tendência contrária, a de deflação.

Um dos caminhos para uma maior flexibilização talvez seja deixar de trabalhar com uma meta anual rígida e passar a perseguir um objetivo por prazos mais longos, de três ou quatro anos, de uma inflação de 2,5% ou 3,0% ao ano. Nesse caso, não faria sentido manter a larga zona de escape, mesmo que inferior a dois pontos porcentuais ao ano, tanto para cima como para baixo. É assim que trabalha, por exemplo, o Banco da Inglaterra.

É preciso rever também a medida de inflação para efeito de definição do volume de dinheiro que se quer na economia. Todos sabemos que o conceito rígido de custo de vida já não serve mais para ser usado como base da política monetária numa situação que requer sintonia bem mais fina do que a existente há uma década, quando o regime foi implantado no Brasil. Isso exige o aperfeiçoamento do conceito e do cálculo de núcleo de inflação (core inflation), que expurga da conta choques temporários de preços.

Outra mudança que precisa ser estudada com carinho é a da composição mais adequada do Copom. Dele hoje fazem parte diretores do Banco Central, cuja expertise é administrar funcionários, móveis e imóveis (diretor de Administração) ou, então, gerenciar massas falidas (diretor de Liquidações) e não a delicada condução da política de juros, em igualdade de voto com os especialistas na matéria.

Finalmente, há a já discutida necessidade de rever a remuneração da caderneta de poupança e dos subsídios do BNDES, que tiram eficácia à política de juros.

A questão da autonomia é pré-requisito. Não se pode deixar que o instituto emissor de moeda, um dos mais importantes patrimônios de um povo, seja influenciado por políticos cujo interesse, em princípio, é ampliar as despesas públicas para mostrar serviço aos eleitores. No Brasil, a autonomia operacional do Banco Central não é ainda conferida por lei. Nessas condições, compromisso de boca é importante, mas, de longe, insuficiente. Por isso, tem de ser objeto de conquista todos os dias pelos diretores do Banco Central.

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