terça-feira, novembro 16, 2010

CELSO MING

Ataque à periferia do euro

Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 16/11/2010 
O mercado financeiro está metendo Irlanda e Grécia no mesmo saco, o da periferia da União Europeia, e passou a recusar em conjunto os títulos de dívida desses países como se fossem membros do mesmo bloco.
Ontem, o governo da Irlanda continuava rejeitando categoricamente qualquer ajuda oferecida pela União Europeia. Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores de Portugal, Luís Amado, avisava que seu país poderia vir a ser obrigado a abandonar o euro, de maneira a voltar a ter moeda própria que pudesse ser desvalorizada e, assim, evitar o enorme sacrifício pedido para colocar as finanças públicas em ordem.
Mas, afinal, é bom ou ruim ter moeda própria? Enquanto tudo foi muito bem na Europa, a moeda comum, o euro, foi festejado como a grande conquista da modernidade. A união monetária conta hoje com 16 países e tem uma fila de 8 à espera da entrada no clube.
Mas, à medida que a crise avançou sobre a economia mundial e enfraqueceu ainda mais o subgrupo de países da área do euro, que já vinha apresentando baixa competitividade, mais e mais se pergunta se valeu mesmo a pena abrir mão da soberania monetária para se submeter à camisa de força comandada pelo Banco Central Europeu (BCE).
Quando quebrou o Northern Rock, o primeiro banco inglês a sofrer corrida bancária, em fevereiro de 2008, os ingleses, em coro, repetiram que abençoada fora a hora em que decidiram pular fora do euro e continuar contando com a libra esterlina, que sempre se pode desvalorizar para assegurar competitividade ao produto do país. Quer isso dizer que, em época de crise, a moeda comum é um estorvo?
Alguns economistas tendem a dizer que sim, embora eles próprios admitam que enfrentar uma rejeição de sua dívida não podendo contar com o guarda-chuva monetário comum complicaria muito mais a situação. Se Grécia, Portugal, Irlanda ou Espanha voltassem a emitir moeda e a desvalorizassem em relação ao euro, a dívida que hoje já é insuportável em euros ficaria ainda mais sem a tutela do BCE e dos países sócios mais fortes.
A questão de fundo não é administrar (ou não) uma moeda, mas a qualidade das finanças públicas nacionais. Dívidas grandes demais num quadro de crescimento do rombo orçamentário, como é o caso de Grécia, Irlanda e Portugal, acabam mesmo se expondo à crise de confiança e à rejeição desses títulos.
Países que têm moeda própria, como o Brasil, muito frequentemente usam o truque de desvalorizar o câmbio com o objetivo de compensar o elevado custo de produção, como impostos e juros altos demais ou uma infraestrutura precária e pouco funcional. Com uma moeda mais fraca, os preços em dólares das mercadorias de exportação ficam mais baixos e as importações, mais caras. Sem moeda, não é possível recorrer à desvalorização do câmbio e, assim, reduzir indiretamente salários, aposentadorias e demais preços relativos para compensar a alta dos custos de produção, mesmo com o risco de abrir caminho para a inflação.
Não há solução definitiva para Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha sem a volta ao equilíbrio das contas públicas, independentemente da moeda com que contem.

CONFIRA
O futuro do petróleo
Matéria do Le Monde Diplomatique (capa de domingo) aponta os seguintes elementos sobre o futuro do petróleo, com base no relatório "World Energy Outlook 2010".
Chegou ao limite
A produção global de petróleo por fontes convencionais atingiu seu pico de 70 milhões de barris diários em 2006. De lá para cá, vem oscilando em torno dos 68 milhões a 69 milhões de barris diários. A diferença para o nível de consumo (hoje de 87 milhões de barris diários) terá de ser suprida por óleo e gás, produzidos por fontes não convencionais (xistos e areias betuminosos). É um petróleo de custo muito mais alto e mais sujeito a restrições ambientais.
Ficará mais caro
O consumo global de petróleo deve atingir os 99 bilhões de barris diários até 2035. A essa altura, os preços do barril (159 litros), hoje por volta dos US$ 85, deverão ter saltado para acima dos US$ 200. Mas, já em 2015, deverão ter avançado para a altura dos US$ 100.

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