Não seja competitivo Celso Ming Há uma boa probabilidade de que a reunião de cúpula de chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20), marcada para quinta e sexta-feira, em Seul, Coreia do Sul, não desemboque em lugar nenhum. Em todo o caso, o governo dos Estados Unidos está conseguindo dois sucessos. O primeiro deles consiste em desviar a enxurrada de queixas pela sua política de desvalorização do dólar executada por meio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). E o segundo por levar todos os demais a discutir a única proposta que está sobre a mesa, a do secretário do Tesouro americano, Tim Geithner. As reclamações são de que o despejo de dólares por meio das operações de afrouxamento quantitativo do Fed estão inundando os mercados, valorizando as moedas dos demais países e, assim, tirando competitividade do produto da vizinhança. A proposta de Geithner leva em conta que, nas suas relações com o resto do mundo, as economias se dividem entre deficitárias (e o campeão do déficit são os Estados Unidos) e superavitárias (entre as quais estão China, Alemanha e Japão). A ideia é a de que os países deficitários reduzam seu rombo com o exterior a alguma coisa em torno dos 4% do PIB e os superavitários se contentem em faturar menos. Do ponto de vista matemático, está tudo certo quando se procura o equilíbrio: é fazer com que os dois pratos da balança pesem a mesma coisa. Mas a proposta Geithner produz dois efeitos colaterais. O primeiro é tirar as discussões da órbita do câmbio, onde estavam até recentemente, pelo menos em relação com a China, porque não dá para arrancar manobras cambiais da Alemanha, que não tem moeda própria. O segundo é exigir dos parceiros comerciais que abram mão de vantagens comparativas, princípio consagrado em teoria econômica. "O crescimento das exportações alemãs não está baseado em trapaças no câmbio, mas na crescente competitividade de suas empresas", lembrou ontem à revista Der Spiegel o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. Essa forte competitividade da Alemanha de fato não tem truques. Foi obtida com arrocho de salários e aposentadorias e contenção das despesas públicas. Leva uma alta dose de sacrifício e de disciplina. Assim, impor à Alemanha um corte do faturamento com exportações é o mesmo que exigir da loja que mais atrai a clientela que aumente seus custos e seus preços para que o concorrente do outro lado da rua possa voltar a vender. O problema é que até agora não apareceu proposta melhor. Ainda ontem, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, fez um apelo para que as autoridades do mundo criem nova moeda internacional de reserva que ocupe o lugar do dólar. Mas isso é o mesmo que propor que chova ou faça sol. Coisas assim não acontecem só porque alguém quer que aconteçam. O que os chefes de Estado reunidos no G-20 têm de examinar agora é se entram num acordo com o governo americano e deixam que as empresas de lá voltem a exportar e a empregar pessoal ou se preferem que tudo fique como está. Nesse caso, o Fed continuará olimpicamente no uso de suas prerrogativas. Seguirá inundando os mercados com dólares despejados pelas suas impressoras. E assim empurrará para o resto do mundo a conta do seu ajuste. Subindo, subindo... As cotações do ouro ultrapassaram ontem, pela primeira vez, os US$ 1,4 mil por onça-troy. No acumulado do ano, já subiu 28,3%. Apenas nestes seis dias úteis do mês, avançaram 3,5%. Essa forte alta tem a ver com dois fatores: desvalorização do dólar e redução da confiança dos mercados em uma solução para a crise. Volta do padrão ouro Também ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, fez a surpreendente proposta de que o sistema monetário internacional volte a adotar o padrão ouro. |
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