domingo, outubro 10, 2010

VINICIUS TORRES FREIRE


Deve no cartão, aplica na poupança 
Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10

País gasta muito para manter reservas em moeda forte, mas não tanto como diz crítico mais sensacionalista

A FIM DE fazer poupança em moeda forte, o governo do Brasil gasta muito dinheiro. No jargão, o "custo de carregamento das reservas internacionais" é muito alto. O país precisa manter um fundo em dólares e equivalentes. Dinheiro na caixinha aumenta a confiança de credores externos na capacidade de pagamento do país e, grosso modo, permite ao país se defender de secas de crédito e outros tumultos financeiros internacionais. Além do mais, acumula reservas porque compra o excesso de dólares (e algo mais) que entra no país. O objetivo seria o de evitar excessiva valorização do real (esforço que tem sido infrutífero).
Qual o problema das reservas do Brasil, que ora equivalem a US$ 279 bilhões? "No popular", o Brasil tem dívidas que pagam juros como os do cartão de crédito ou os do cheque especial, mas, no entanto, aplica algum dinheiro na poupança, com seus juros irrisórios. "Na ponta", atualmente, o Tesouro paga 10,75% por ano para tomar o dinheiro emprestado necessário para "comprar" as reservas internacionais, as quais, porém, rendem menos de 1% ao ano (os juros no mundo rico por ora estão no chão). Essa diferença custou algo entre 1% e 1,2% do PIB, no acumulado dos últimos 12 meses.
Não é conveniente nem possível, claro, que o Brasil se desfaça das reservas. Agora Inês é morta ou está linda, posta em repouso no "cofre". Mas discute-se muito se o país precisa de mais reservas.
Uma economista do Bradesco, Andréa Damico, estima, em relatório do banco, que o nível ótimo de reservas seria aquele registrado imediatamente antes da explosão da crise financeira mundial, em setembro de 2008 -US$ 225 bilhões. Com esse dinheiro no caixa, o Brasil conseguiu enfrentar o maior tumulto financeiro em mais de 70 anos.
Damico estima que, ao final de 2010, o custo total de manter as reservas seria de 1,4% do PIB. Parte desse custo, porém, é inevitável: o de manter um nível seguro de poupança em moeda forte, aqueles US$ 225 bilhões. O custo "evitável", o referente ao "excesso" de reservas, seria de 0,27% do PIB. Ainda é brutal, mas um número que deveria atenuar críticas mais sensacionalistas.
Os críticos, porém, têm razão ao dizer que tal custo pode ser reduzido. Caso o governo gaste menos, a taxa de juros doméstica tende a cair. Por um lado, seria reduzido o "prejuízo" devido à diferença entre juros domésticos e externos. Por outro, juros mais baixos tendem a limitar a torrente de dólares que entra no país -seria preciso comprar menos dólares para as reservas.


Mega-Sena: quem quer dinheiro?
O afortunado morador de Fontoura Xavier (RS) que levou os R$ 119 milhões na Mega-Sena de quarta-feira passada colocou o dinheiro na caderneta de poupança.
A ideia não é lá muito afortunada. Se emprestasse o dinheiro ao governo, ganharia muito mais. Trata-se do investimento mais seguro do país e um dos mais rentáveis daqui, do mundo e do aglomerado local de galáxias.
Como não o fez, pelo menos por ora, o sortudo está deixando de ganhar uns R$ 4 milhões por ano, descontada a inflação. Isso é dinheiro até para políticos que passam temporadas no hotel da Polícia Federal.
Nota aleatória-astrológica: Dilma Rousseff (PT) foi a candidata mais votada pelos munícipes de Fontoura Xavier.

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