quarta-feira, outubro 06, 2010

RUY CASTRO

Três is com bolinha
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/10/10

Querem obrigar Tiririca, com seu 1,3 milhão de votos, a fazer um teste para provar que não é analfabeto, antes de assumir sua cadeira de deputado federal em Brasília. Por um lado, é justo -por não terem dado esta chance a Cacareco, também eleito por São Paulo em 1958, o imortal rinoceronte não pôde tomar posse na época. Por outro lado, é perigoso: imagine se, por revanche ou gaiatice, alguém resolve submeter gente mais alta da República ao mesmo teste de Tiririca?
De que consistiria o teste? De questões como "Descreva em 15 linhas o pensamento de Schoppenhauer, Kierkegaard e Heidegger", ou algo como "Quem foi Hortelino Trocaletra?". (A resposta ao primeiro item não cabe neste espaço; a resposta à pergunta é: inimigo do coelho Pernalonga.) Mas, supondo que Tiririca conseguisse ler as questões, até que ponto se exige de um deputado esse tipo de conhecimento? E quantos de seus colegas de Câmara se sairiam bem no mesmo teste?
Mais relevante seria fazer Tiririca tomar um ditado simples -por exemplo, um texto extraído do recente livro "As Piadas Fantárdigas do Tiririca", por acaso assinado por ele. A avaliação do ditado ignoraria ortografia, pontuação e acentos, e se concentraria na capacidade de o examinando entender as palavras.
Se bem que, para mim, o melhor seria matricular Tiririca num curso de caligrafia -para aperfeiçoar sua arte de assinar o próprio nome. É o que mais se exigirá dele em sua carreira no gabinete: assinar documentos, alguns envolvendo o destino de bilhões de reais, outros, de grande importância estratégica. Seus pares, claro, irão poupar-lhe o trabalho de ler chatices e lhe dirão o que assinar ou não. Só não poderão -acho eu- assinar por ele.
Se eu fosse Tiririca, só me assinaria como "Tiririca". Afinal, são três is nos quais botar aquela bolinha em cima.

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