segunda-feira, outubro 11, 2010

MARCO ANTONIO ROCHA

O Brasil tem de buscar seu lugar ao sol
Marco Antonio Rocha
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/10/10


Mas talvez... talvez, desta vez, pode ser que o novo governo se sinta estimulado a levar o Brasil para um lugar ao sol, que o destaque no mundo. Afinal, aponta-se tanto este país como sendo "quase" uma bola da vez (a China é a bola), que é o caso de pensar que podemos jogar na 1.ª divisão.

Vários governantes brasileiros encenaram alguns passinhos, na esperança de nos colocar no salão de baile dos ricos, dos que decidem. Todos foram barrados na porta. A última tentativa foi de Lula. Animado com sua própria escalada pessoal, de abóbora a Cinderela, e acusando seus antecessores por terem complexo de vira-lata, pôs-se a viajar para todo o lado, externando, em tom professoral, aos chefes de Estados, seus conselhos, suas experiências de negociador como líder sindical no ABC paulista, admoestando uns, recriminando outros, adulando a terceiros. Nada granjeou para o Brasil que o Brasil já não tivesse, mas levantou poeira, atraiu atenção e algum respeito.

Com o passar do tempo a cartolagem mundial viu que ele não era de nada: apenas um ex-operário que chega a presidente da República - palmas pra ele é o que basta! -, e estamos falados; assim como Obama, primeiro negro que chega à Casa Branca. Nos dois casos, nada demais. Como estadistas, aprendizes que bombaram no fundamental. Se Lula viajar, depois de deixar o governo, os dignatários que visitar vão recebê-lo com: "Vige, lá vem o Lula com aquele lero-lero de novo..."

Mas tudo indica que, desta vez, pode haver condições para um governante brasileiro ser ouvido com mais atenção.

É que nos dois últimos governos - de FHC e de Lula - foram criadas duas plataformas de lançamento que talvez o Brasil possa aproveitar para o seu grande salto à frente, sem o risco do fracasso do outro, o Grande Salto à Frente do camarada Mao Zédong, entre 1958 e 1963, cujo resultado mais espantoso foi a morte, pela fome, de milhões de chineses (o número final total jamais foi estabelecido, mas varia entre 42 milhões e 60 milhões).

As duas plataformas foram: no caso de FHC, a arrumação das contas, com o corolário da Lei de Responsabilidade Fiscal, a estabilidade monetária com o controle do monstro que infernizava o Brasil, a inflação, e o regime de metas na administração da economia. No caso de Lula foi a implantação de uma política de rendas, o Bolsa-Família, a criação do Minha Casa, Minha Vida, com o consequente fortalecimento e ampliação do mercado interno, cuja derivada é a recuperação, na cabeça do povo, da fé em dias melhores - fator que os economistas não sabem como medir, mas que sem dúvida exerce grande influência na dinâmica da formação do PIB.

As duas políticas foram, pode-se dizer, parte de um mesmo processo de racionalização da administração pública e de amadurecimento da vida política no Brasil. Não haveria a segunda sem ter havido a primeira, por mais que os militantes do PT pensem e digam o contrário.

Mas, a partir dessas plataformas - cujo pano de fundo é uma administração conservadora da economia, sem lances exóticos de nenhuma espécie - que garantem certa tranquilidade na frente interna, a inserção do Brasil entre os players internacionais exigirá, agora, outras armas, claramente delineadas e objetivamente conduzidas.

Antes de mais nada, uma estratégia de governo bem definida para o assalto ao lugar ao sol. A China sabe aonde quer chegar, já definiu como fazer, fortalece-se internamente para isso e se movimenta no exterior com o objetivo em mente. A Índia também já traçou sua estratégia para onde quer chegar, e como. Dos famosos e sempre citados Brics, ao que parece, Brasil e Rússia dançam ao sabor dos ventos sem saber direito aonde querem chegar. Nenhum dos dois tem plano estratégico delineado sobre o que pretendem no mundo e do mundo. Para isso, não basta ter "desenvolvimento sustentável", como proclamam os políticos brasileiros. Isso é gíria de político amador. Desenvolvimento sustentável para fazer o que com ele? Essa é que é a indagação fundamental, pois o que um país espera do seu desenvolvimento é força política - a finalidade do desenvolvimento é influir na Política Internacional.

Já o setor privado brasileiro - indústrias, comércio, finanças, agronegócio - precisa ser informado da estratégia, participar da sua elaboração, engajar-se nela e mergulhar firme no mundão de Deus. É imprescindível que tenhamos não uma ou duas, mas várias multinacionais brasileiras, aqui sediadas, batendo caixa no mercado mundial e disputando espaço com competidores. É humilhante ver motoristas brasileiros transitando em carros coreanos, quando há 20/30 anos a Coreia exportava gente esfomeada para cá. As empresas brasileiras precisam se qualificar para entrar no baile, com produtos de ponta, design de ponta, tecnologias de ponta.

As universidades brasileiras, públicas e privadas, têm de ir buscar, onde houver, os melhores mestres, os melhores especialistas, os melhores pesquisadores, a peso de ouro se for necessário, com dinheiro a fundo perdido do governo. Essa história de exigir diploma em escola brasileira para dar aula no Brasil é uma das grandes idiotices a serem vencidas. E é preciso criar bolsas generosas para que os estudantes brasileiros mais qualificados estudem e se diplomem nas melhores universidades do mundo.

Sem essas três coisas, pelo menos, não chegaremos aonde já merecíamos estar. E ficamos apenas com esses programas políticos de síndico de condomínio, desfiados ao longo da campanha eleitoral.

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