quinta-feira, outubro 21, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

As marcas da máfia
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 21/10/10


Quatro anos depois das primeiras evidências levantadas pelo Ministério Público do Estado sobre graves irregularidades na Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários de São Paulo (Bancoop), o promotor José Carlos Blat denunciou à Justiça, na terça-feira, o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e cinco outros possíveis envolvidos. Vaccari presidiu a entidade entre 2005 e fevereiro último, depois de participar de sua diretoria desde a sua fundação - por Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT -, em 1996. O promotor pediu abertura de processo criminal contra o petista por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Dos principais escândalos que enlaçam companheiros do presidente Lula, é o segundo a chegar ao Judiciário. O primeiro foi o do mensalão, que tramita a passos lentos no STF. Outros mais recentes ou descobertos há pouco - a quebra do sigilo fiscal de aliados e familiares do tucano José Serra e as traficâncias da família da então ministra Erenice Guerra, a sucessora de Dilma Rousseff na Casa Civil - estão em fase de investigação ou sindicância. Pelo que parece ter sido apurado há suficiente material para levar os casos aos tribunais. O conjunto da obra retrata os padrões de atuação da máfia que se guia pela mentalidade do "é tudo nosso" - ou seja, do PT.

Desses múltiplos delitos, o da Bancoop foi o que fez mais vítimas diretamente - os 3 mil cooperados que caíram no conto da casa própria a preços 40% inferiores aos do mercado e mais 5 mil que não conseguem quitação ou escritura. Eles compraram na planta e foram pagando a prestações imóveis que jamais lhes seriam entregues, ou foram entregues sem condições de serem ocupados ou revendidos. Dos 55 empreendimentos oferecidos pela cooperativa, apenas 14 foram concluídos. Dezoito nem saíram do papel. Mas o dinheiro entrou. Os dirigentes da Bancoop, a começar de Vaccari, são acusados de deixar um rombo de R$ 168 milhões nas contas da entidade. "Uma parte foi para o PT", sustenta Blat.

Assim como o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, chamou a turma do mensalão de "sofisticada organização criminosa", o seu colega paulista concluiu que "a quadrilha que se estabeleceu na direção da Bancoop contava com sofisticada manipulação de dados dos balanços contábeis". Empresas fantasmas, por exemplo, teriam sido criadas para transferir dinheiro da cooperativa - sugado dos incautos mutuários - para bolsos pessoais e campanhas eleitorais petistas. No que deve ser a ponta de um iceberg, Blat identificou um repasse de R$ 200 mil para o PT. Provavelmente não se chegará a saber o total, parte dele provindo de saques em dinheiro na boca do caixa, somando R$ 31 milhões.

O escândalo da Bancoop voltou à tona enquanto surgiam novas informações sobre a tentativa de montagem de um dossiê contra o candidato José Serra - para o que se destinariam, afinal, as cópias das declarações de renda extraídas do Fisco - e o alcance das movimentações do grupo de Erenice Guerra no âmbito do governo. Segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Federal apurou que um jornalista ligado à pré-campanha de Dilma Rousseff, Amaury Ribeiro Júnior, encomendou a um despachante, por R$ 12 mil, a compra de dados sigilosos de parentes de Serra e membros do PSDB. O PT custeava a hospedagem do jornalista em Brasília. Fim da fábula de que ele servia a rivais tucanos de Serra.

Já a sindicância do governo sobre o grupo de Israel Guerra, filho da ex-ministra, parece ter feito algum progresso, embora não fique pronta antes do segundo turno. Verificou-se que a patota de Israel usou também funcionários e equipamentos da Secretaria de Assuntos Estratégicos e do Gabinete de Segurança Institucional, ambos da Presidência da República, em suas operações de lobby. Um novo nome suspeito de envolvimento com o esquema é o do assessor da Casa Civil, Gabriel Laender. Procurador de Justiça no Espírito Santo, advogara para a empresa da qual o marido de Erenice era diretor. No ano passado, passou a trabalhar no governo. Quem o nomeou foi Dilma Rousseff. 

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