A grande ausência Celso Ming A política econômica foi o maior cabo eleitoral do governo nestas eleições e, no entanto, foi a principal ausência dos debates entre os candidatos. Também em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi eleito porque sua candidatura estava identificada com o sucesso de um fenômeno econômico de alta relevância, o Plano Real. Mas, na época, pelo menos houve enfrentamento. O PT, por exemplo, caiu na esparrela de proclamar nos palanques que o Plano Real era uma enganação ou, na expressão do então assessor de Assuntos Internacionais do PT, Marco Aurélio Garcia, não passava de um "Rolex fabricado no Paraguai, com corda pra só um dia". A população votou a favor do Plano e o resultado foi FHC oito anos na Presidência. Agora, no entanto, não houve nenhum debate econômico. Até mesmo o candidato da oposição José Serra, que desde 1995 vem pregando que a atual política econômica está errada, preferiu não cutucar a colmeia que produziu tanto mel para a candidata da situação. A rigor, não houve debate nenhum, nem sobre economia nem sobre temas relevantes para a sociedade como educação, saúde e segurança. Desde o tempo das eleições diretas não se via tanta falta de substância e discussões tão chochas. Nenhum candidato foi duramente questionado sobre as questões econômicas que estão todos os dias nos jornais: os juros na Lua, o câmbio derretendo, o insuportável custo Brasil, o rombo das contas externas e da Previdência Social... Ninguém explicou como o País vai arrumar tantos recursos para os programas de investimento que já estão em curso: para o pós-sal, pré-sal, PAC, trem-bala, obras da Copa e da Olimpíada... Na sexta-feira, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, avisou que, em 2011, o investimento não será superior a 21% do PIB. Ou seja, é insuficiente para garantir o crescimento econômico e, portanto, do emprego, de 5% ao ano. Nenhum dos candidatos chegou a dar uma pista sequer sobre como equacionar a dramática insuficiência de poupança do Brasil e como evitar que o atual surto de avanço do PIB morra logo aí, como voo de galinha. A percepção de que os bons resultados na economia foram decisivos tanto para a escalada do presidente Lula nas pesquisas de avaliação de governo como para a disparada da candidata Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de voto tem pelo menos um lado bom: mostrou para os políticos que em matéria de macroeconomia não se pode inventar. Em 2002, quando se preparava para a campanha eleitoral, o PT bem que tentou romper com tudo o que vinha sendo construído. Foram alguns dos seus maiorais, já no governo a partir de 2003, que tentaram impor a reação à tal "herança maldita". Mas foi a continuação das linhas mestras da política econômica adotada no período de oito anos imediatamente anterior e também a brilhante decisão do presidente Lula de cumprir os compromissos da Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, que produziram os frutos econômicos e eleitorais que estão sendo colhidos agora. É improvável que algum aventureiro pretenda mexer nessa equação de sucesso eleitoral. Mas isso não basta. O que passou, passou, como diz a velha canção. Agora, é preciso garantir o futuro. Mesmo sem debates, o eleitor está votando automaticamente "na política econômica que está aí". Mas não tem como escolher seus candidatos, porque não sabe o que eles pensam. Grandes saltos Não dá para dizer que as exportações estejam fazendo feio. Numa época de crise global, nos nove primeiros meses de 2010, cresceram nada menos que 28,9% sobre igual período do ano passado. É a despesa pública O problema é que as importações estão avançando mais ainda: 45,1%, no período. É um desempenho que só em parte tem a ver com o dólar barato. Tem mais a ver com a disparada do consumo interno, que por sua vez é consequência do avanço das despesas públicas e do crédito. |
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