quarta-feira, setembro 08, 2010

CELSO MING

As importações disparam
Celso Ming

O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/09/10


Há meses as importações crescem a mais de 40% ao ano, mas só agora vêm as reações, algumas delas indevidas porque não têm proporção com as causas.
O presidente da Fiesp e da CSN, Benjamin Steinbruch, por exemplo, alega que a disparada está provocando desindustrialização e pede defesas radicais: "Temos de fechar o Brasil."

Outros empresários entendem que o problema é principalmente a agressividade comercial chinesa, que empurra produtos a preços de dumping (abaixo do preço de custo para quebrar o concorrente). E reivindicam medidas protecionistas especificamente "contra esse jogo desleal da China".

Certos analistas de comércio exterior veem tudo como consequência da crise internacional, que, para eles, provocou queda do consumo nos países ricos, cujas empresas se empenham agora em empurrar encalhes para os emergentes, que afinal mostram invejável crescimento do PIB, como o Brasil. Eles argumentam: "Somos pelo livre comércio, mas a gente não pode ser trouxa e permitir o jogo deles à custa do desemprego do nosso trabalhador."

Afora isso, existem aqueles para os quais o problema de fundo está concentrado no câmbio excessivamente baixo e querem a desvalorização do real em relação ao dólar, embora nem sempre saibam o que fazer para que isso aconteça.

O salto de vara das importações tem, sim, alguma coisa a ver com os ataques comerciais dos chineses, com a própria crise e com o câmbio adverso. Mas esses não são o fator preponderante.

Se a forçada de mão da China e dos demais países ricos fosse a causa principal, outros países emergentes, como a Austrália, a Índia e o México, também estariam sendo engolfados por essa guerra comercial. E, no entanto, isso não está acontecendo nas mesmas proporções, embora por lá também as importações estejam crescendo com força. E aferrar-se à desindustrialização parece soar desafinado no momento em que falta mão de obra, as linhas de montagem da indústria batem recordes, a produção cresce a 14% ao ano, os investimentos avançam mais de 26% ao ano, como mostraram as Contas Nacionais.

O câmbio também não ajuda. Mas, se fosse o fator preponderante, estaria derrubando as exportações. E, no entanto, nos oito primeiros meses de 2010, as exportações totais do Brasil cresceram 28% e as do segmento dos industrializados, os mais sensíveis ao câmbio, avançaram 24%, números impressionantes para um ano de crise global.

O principal fator causador da disparada das importações é o aumento das despesas correntes do governo (de 17%), que criam poder aquisitivo e consumo. As exportações deste ano poderiam ser ainda maiores se o consumo interno não estivesse reduzindo a produção exportável. Enfim, as causas do esticão das importações e as do alentado aumento do rombo externo (déficit em conta corrente) são as mesmas.

Isso posto, não faz lá muito sentido partir para retaliações protecionistas, como elevação generalizada das tarifas alfandegárias ou medidas retranqueiras contra certos países, como a China e um punhado selecionado de nações ricas. A questão cambial, por sua vez, tem de ser enfrentada com inteligência. O Banco Central não para de empilhar reservas, que hoje estão a US$ 262 bilhões, e quanto mais resplandecentes estiverem mais capitais atrairão.

Não cabe restringir o afluxo de recursos estrangeiros, justamente no momento em que o País mais precisa de investimentos e de reforço de capital, como as necessidades da Petrobrás estão ilustrando. Enquanto se manteve protegido, até 1990, o comércio exterior brasileiro permaneceu acanhado e sem futuro. Hoje apresenta um fluxo comercial de US$ 400 bilhões por ano e o resultado disso é um setor produtivo bem mais dinâmico.

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