quarta-feira, agosto 11, 2010

ZUENIR VENTURA

O charme da irreverência
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 11/08/10


Não é engraçado que a grande novidade do debate da Band na semana passada tenha sido o candidato mais velho? Plínio de Arruda Sampaio, de 80 anos, que O GLOBO chamou de Plínio, o moço, em oposição a Plínio, o velho, da antiga história romana, encarnou o atributo juvenil da irreverência espirituosa que em momento algum ele confundiu com inconveniência ou agressividade. Acabou sendo a surpresa, a nota dissonante que se esperava que Marina fosse, em vez de ser um acorde ligeiramente distinto dos outros dois, que se exibiram com suas performances previamente ensaiadas e orquestradas.

A candidata verde representou sob vários aspectos o PT original, autêntico, mas que não existe mais, substituído que foi por um genérico fake.

Bem-humorado, trazendo para o debate um pouco do humor que a Justiça Eleitoral proibiu na campanha, Plínio se divertiu e divertiu a gente. O tom de suas críticas aos concorrentes foi sempre amistoso, mal disfarçando um certo paternalismo, mesmo quando disparava algumas franquezas contra o que chamou de bom-mocismo dos adversários. Com a quebra da linguagem formal por meio de um discurso mais coloquial, menos empostado, o candidato do PSOL foi um enorme sucesso junto aos jovens: 15 mil menções em 12 horas no Twitter.

Pelo conteúdo nem tanto, porque sua proposta de socialismo é mais radical e utópica, mas, pelo estilo, ele lembrou o Brizola de volta do exílio, elegendo-se governador do Rio em 1982 e candidatandose à Presidência em 89. O caudilho foi então um hit, com seu forte sotaque gaúcho, seu gestual teatral, seu timing próprio e sua capacidade de botar nos adversários apelidos caricaturais: Gato Angorá em Moreira Franco, Sapo Barbudo em Lula. Até nisso, Plínio foi parecido, chamando Marina de Poliana Ecocapitalista.

É difícil prever se a adesão virtual se traduzirá em votos ou se no mínimo alavancará a candidatura de Plínio. Tenho dúvidas de que uma ferramenta que no Brasil não teve força para baixar a audiência de Galvão Bueno, apesar do empenho, consiga eleger um presidente da República.

Mesmo que nada disso aconteça, a performance de Plínio serviu pelo menos para desestabilizar a desgastada retórica vigente nesta campanha. A irreverência bemsucedida provou que os códigos dos marqueteiros não podem virar ditadura.

O que o deputado Aldo Rabelo tem a dizer aos fluminenses e cariocas diante das fundamentadas denúncias de que o novo Código Florestal proposto por ele vai reduzir em quase 90% a área de preservação da Mata Atlântica no Estado do Rio?

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