Percepções
Merval Pereira
A expectativa de poder que o presidente Lula exala, mesmo no fim de seu segundo mandato, é a responsável pela percepção majoritária de que, ao fim e ao cabo, sua candidata Dilma Rousseff vencerá a disputa com Serra pela sucessão presidencial.
Essa percepção, ressaltese, está baseada na capacidade de influência do presidente, mas, sobretudo, no jogo bruto que ele vem usando, não respeitando limites na faina para eleger sua escolhida.
A sensação generalizada é de que não há como resistir à combinação da popularidade presidencial com sua falta de escrúpulos na manipulação do poder político.
Apesar de, até o momento, as pesquisas eleitorais mostrarem uma disputa mais acirrada do que se poderia esperar diante dessa mistura explosiva que desequilibra a disputa, a opinião predominante entre os especialistas é a de que a vitória de Dilma é inevitável, justamente por causa de Lula.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, especialista em destrinchar o comportamento do brasileiro comum através de pesquisas, autor de livros que desvendam “A cabeça do brasileiro” e “A cabeça do eleitor”, está convencido de que a eleição caminha “para uma derrota acachapante do Serra, com vitória da Dilma no primeiro turno”.
Ele revela que tem feito pesquisas mostrando uma cartelinha com o retrato do Lula dizendo que ele apoia a Dilma, e outra com o Serra e o Aécio, para representar a força máxima do PSDB. A pesquisa projeta uma vantagem de Dilma entre 15 a 20 pontos já no primeiro turno.
Segundo ele, até a última semana de agosto, primeira de setembro, esse cenário já se refletirá nas pesquisas como consequência da presença de Lula na propaganda televisiva.
“As pessoas estão experimentando uma grande satisfação com a conjuntura, e querem a continuidade do Lula”, diz ele, que usa sua teoria de “árvore de decisão” para apostar que o eleitor priorizará a continuidade do governo Lula a eventuais questões políticas ou partidárias.
Francisco Guimarães, do Instituto GPP, fez uma média das pesquisas mais recentes, principalmente Ibope e Datafolha, e diz que “a impressão que temos é de que a Dilma saiu na frente na campanha, cresceu muito até o início de junho e hoje temos um quadro mais estável. Independentemente do apoio de Lula”.
As médias mostram um resultado próximo do empate técnico, mas com tendência favorável a Dilma.
A média de votos válidos com os três institutos, incluindo o Vox Populi, mostra Serra em movimento cadente, saindo de 51% em janeiro para 42% em julho, enquanto Dilma vai de 39% a 46% no mesmo período.
A mesma média, só com Ibope e Datafolha, mostra Serra indo de 47% para 43% e Dilma, de 39% para 45%.
Por regiões do país, a média das pesquisas Datafolha e Ibope também mostra Dilma em ascensão, mesmo onde perde, e Serra caindo, mesmo onde ganha.
No Nordeste: Serra em abril com 40% e em julho ficou com 33%; Dilma foi de 48% para 55%.
No Norte-Centro-Oeste: Serra foi de 43% a 39% e Dilma, de 39% a 48%. No Sul, Serra vai de 58% a 52% e Dilma, de 30% a 38%.
No Sudeste: Serra cai de 54% para 45% e Dilma vai de 32% para 41%.
No Sudeste, a vantagem de Serra nessa estatística está influenciada pela última pesquisa do Datafolha, que ainda o dá na frente.
O Ibope mais recente já registrou um empate técnico, com Dilma em vantagem.
Mas há mais coisas em jogo do que a simples estatística, que, na definição do escritor italiano Pitigrilli, é a ciência que diz que, “se eu comi um frango e tu não comeste nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um”.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, por exemplo, coloca um pouco de política em sua análise dos números e acha que a situação hoje, embora indique favoritismo de Dilma, não está definida.
Ele dá importância aos debates entre os candidatos, por exemplo, o que Alberto Carlos Almeida minimiza.
E acha que, com Dilma escondendo o PT e exibindo Lula, a única saída dos tucanos é destacar os perigos de um governo do PT sem Lula. O que Alberto Carlos Almeida considera uma tática equivocada.
Para Montenegro, no Nordeste a candidata oficial está consolidada, e no Sul o candidato oposicionista está consolidado. A decisão seria no Sudeste, com três problemas para Serra.
No Rio a diferença a favor da Dilma aumentou. Na opinião de Montenegro, nem Serra nem Dilma empolgam o eleitorado, “e se o PSDB fosse esperto jogaria suas fichas no Rio na Marina, para dividir os votos e reduzir a diferença”.
Em São Paulo, o governo do Serra, embora tenha sido muito bom, não tem marca, segundo Montenegro, o que faz com que o ex-governador tenha começado com 25 pontos de frente e hoje esteja com apenas 11.
Mas o grande problema do PSDB é Minas, onde Serra começou ganhando por 15 pontos, e hoje está perdendo por dez pontos.
“Acho que o Aécio (ex-governador Aécio Neves, candidato ao Senado), quando entrar na televisão, vai levantar o Anastasia (governador Antonio Anastasia, candidato à sucessão de Aécio) e embolar a eleição com o Hélio Costa (PMDB)”. Mas a pergunta é: isso ajudará o Serra? Montenegro chama a atenção para detalhes importantes da eleição: é a primeira vez em que o eleitor vai poder votar em trânsito para presidente, e isso pode ajudar um pouco a candidatura de Dilma, na visão de Montenegro, porque há uma migração muito grande do Nordeste para o Sudeste, principalmente para São Paulo, e muita gente não transferiu o título de eleitor.
A questão é saber se esse eleitor teve o cuidado de se registrar para votar em trânsito.
Outra novidade, porém, pode atrapalhar muito Dilma, na opinião de Montenegro: pela primeira vez o TSE está exigindo que se apresentem dois documentos na hora da votação — o título de eleitor e uma identidade.
“As pessoas mais pobres tendem a ter apenas um documento, porque documento é uma coisa cara”, comenta Montenegro, para quem no Nordeste isso pode ter efeito.
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