Comédia de erros Merval Pereira O Globo - 01/07/2010 A sucessão de trapalhadas que levou à escolha equivocada do deputado federal do DEM Indio da Costa como companheiro de chapa do tucano José Serra só demonstra como o PSDB não está preparado para uma disputa que poderia ser difícil para o governo — mesmo com toda a máquina voltada para a tarefa de eleger Dilma Rousseff, geralmente de maneira ilegal —, mas está sendo facilitada pelos erros do adversário. A escolha do vice de Dilma recaiu sobre o presidente do PMDB, Michel Temer, o que garantiu a unidade do partido e preciosos minutos de televisão. Os defeitos e as eventuais virtudes do deputado não fazem a menor diferença neste jogo em que o pragmatismo político prevalece para somar alguma coisa à candidatura principal. Indio da Costa, em seu primeiro mandato federal, supostamente foi escolhido por ser jovem e ter sido o relator do projeto Ficha Limpa, o que lhe daria uma boa imagem junto ao eleitorado. Uma jogada marqueteira simplória, pois sua história política não tem a menor consistência para alçálo ao segundo posto mais importante na hierarquia política do país. Nem ele parece preparado para assumir a Presidência da República em caso de necessidade, que é, afinal, para o que servem os vice-presidentes no Brasil. Fora disso, precisam “não trazer a porrinhação”, na definição do próprio Serra. Não tem a menor importância o fato de ele ter sido genro do banqueiro Cacciola, como berram os militantes petistas na internet. E nem mesmo as acusações contra ele levantadas pela CPI da Merenda Escolar, na Câmara de Vereadores do Rio, são conclusivas a ponto de alguém poder afirmar que ele não tem a ficha tão limpa assim como querem alardear os tucanos e democratas. Só mesmo militantes energúmenos utilizam tais argumentos. Mesmo que as coincidências entre os preços oferecidos pela fornecedora vencedora nas licitações, quando Indio da Costa era secretário de Administração da prefeitura do Rio, sejam bastante estranhas. Sem ter, teoricamente, informações sobre os outros preços, a fornecedora sempre apresentou descontos quando tinha concorrentes, mantendo o preço cheio naquelas licitações em que ninguém disputava o fornecimento. Foi como acertar na MegaSena, comenta a vereadora do PSDB do Rio Andrea Gouvêa Vieira, relatora da CPI. Os resultados da CPI estão no Ministério Público. O mais grave na escolha deste deputado federal de primeiro mandato é que ele não agrega um voto sequer à candidatura de Serra no Rio de Janeiro. Como parte do grupo político do ex-prefeito Cesar Maia, ele foi “prefeitinho” de Jacarepaguá, assessor do gabinete do prefeito antes de ser secretário de Administração. Eleito vereador três vezes, em 2006 chegou à Câmara. Qualquer influência eleitoral que tenha está contabilizada no apoio que o DEM dá no Rio à candidatura Serra, em troca de o ex-prefeito Cesar Maia ser o candidato ao Senado da coligação. A presença de Maia na chapa, aliás, já provocou uma crise com o Partido Verde, e, agora, o reforço de seu grupo na coligação está provocando reações na bancada do PSDB, onde se acusa o presidente do DEM, Rodrigo Maia, de ter trabalhado por essa solução para se livrar de um concorrente na disputa por vagas para deputado federal do Rio. Concorrente, aliás, com quem não se dá bem politicamente, justamente pela disputa de espaço político. Da mesma maneira que aconteceu com o hoje prefeito do Rio, Eduardo Paes, que fazia parte do mesmo grupo político de Cesar Maia nos primórdios do primeiro governo na prefeitura do Rio. Paes começou como “prefeitinho” de Jacarepaguá e terminou secretário no mesmo grupo de Índio da Costa. Ontem, ao saber da escolha, Paes, que ainda mantém relações cordiais com José Serra desde que foi secretáriogeral do PSDB, mostrou-se espantado. Foi visto às gargalhadas no Palácio da Cidade. Como contraponto, talvez Serra tenha acertado com um público que não está muito ligado na política tradicional, a quem o jovem Indio da Costa se ligou durante a campanha da Ficha Limpa através dos novos meios de comunicação, como a internet, o Twitter, o Facebook. Há quem tenha gostado, porque a escolha surpreendeu; porque ele tem uma “cara” de político diferente de todas as que estão aí; porque tem por trás milhões de assinaturas favoráveis a uma volta a valores éticos; porque é a cara do Rio e acena com uma “terceira via”. Foi o rolo compressor do governo, que atuou a todo vapor na madrugada para evitar que o senador Osmar Dias, do PDT, fechasse um acordo no Paraná com a oposição, que, paradoxalmente, salvou a aliança PSDB/DEM e evitou que José Serra ficasse sem 3 minutos e tanto de tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão — o que praticamente inviabilizaria sua candidatura à Presidência. O apetite do presidente Lula é tamanho que nem mesmo o pequeno (em termos de tempo de propaganda) PSC escapou. Tendo feito um acordo, meses atrás, para apoiar a candidatura do tucano Serra, o presidente do Partido Social Cristão (PSC), pastor Everaldo, foi cooptado pelo governo sabe-se lá com que argumentos, além do puro imediatismo esperto diante dos números das últimas pesquisas que apontam a candidata oficial Dilma Rousseff à frente. Tanto esforço de última hora para ganhar apenas 18 segundos de televisão demonstra bem como o governo pretende reduzir ao máximo a chance de a oposição ter condições de disputar a sucessão de Lula. E conta com os erros do adversário, assim como, hoje, a sorte da candidatura de Serra depende muito mais dos erros da candidata oficial e seus “aloprados”. |
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