sexta-feira, julho 30, 2010

LUIZ GARCIA

Debates na TV
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 30/07/10
Pois é, o tempo voa e não falta muito para começarem os debates entre candidatos na televisão.

Este artigo é generosamente dedicado aos eleitores de primeira viagem, sem intimidade com essa etapa do nosso processo eleitoral.

Uma informação inicial, indispensável: essa exposição pública de candidatos tem o objetivo de ajudar o eleitor a escolher em quem votar. Ao contrário do que possa parecer, não deve servir de estímulo a reações extremadas, como rasgar o título de eleitor ou jogar a TV pela janela. Jovens cidadãos, contenhamse. Por que? Não sei bem; digamos, para evitar que ela caia na cabeça de outro eleitor, igualmente inocente.

Na primeira rodada de debates, antes do primeiro turno, veremos todos os candidatos inscritos. Costuma ser um bando, e é quase impossível a gente se lembrar depois de quem disse exatamente o quê. Mas é um programa muito animado, para não dizer confuso.

A ponto de ter levado um político experiente como o mineiro Aureliano Chaves, que chegou a vice-presidente da República, a indagar, ao receber a palavra: “Por favor, é para eu perguntar ou responder?” Realmente, com um bando de candidatos em cena na verdade não existe debate, confronto de propostas ou algo parecido.

Esses programas eleitorais antes do primeiro turno de votação aparentemente servem apenas para dar alguns minutos de notoriedade a alguns cidadãos que se candidatam não para ganhar eleições, mas para conquistar algum espaço, pequeno que seja, na atenção dos eleitores. Têm inteiro direito a isso. Quem sabe, um dia um líder político nacional começará assim uma carreira importante. Ainda não esteve nem perto de acontecer, mas o sistema eleitoral não seria democrático se não mantivesse aberta essa porta. Ou essa estreita fresta.

Para decidir a eleição, só podem valer mesmo os debates do segundo turno.

Como aconteceu na eleição ganha por Fernando Collor. Nunca foi provado, mas correu forte a história de que Collor, debatendo com Lula, manteve à sua frente uma pasta polpuda, que conteria provas de um escândalo na vida particular do adversário. O que teria sido suficiente para que Lula, nervoso (e isso, pelo menos, era visível), perdesse o debate.

Quem sabe, agora que eles são aliados, o senador até já contou ao presidente a verdadeira história da tal pasta.

E os dois tenham trocado risadas a respeito.

Políticos são assim mesmo: levam desaforo para casa com absoluta tranquilidade.

Especialmente velhos desaforos, de validade vencida.

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