sábado, junho 26, 2010

RUTH DE AQUINO

A virada de Dilma no primeiro tempo
REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Dilma Rousseff cravou uma virada em cima de José Serra que deixou os tucanos cambaleantes em seu próprio campo, o Sudeste. Na primeira fase do jogo eleitoral, a pesquisa do Ibope colocou a petista 5 pontos à frente de seu adversário e comprovou o que o torcedor-eleitor já sabe. Eleição presidencial é como Copa: não há favoritos antes de a bola rolar. Sentar em cima de vantagem prévia e se fechar na retranca são estratégias fadadas ao fracasso.
Mais uma lição da primeira fase para o PSDB de Serra? O jogo individual não ganha eleição. A humildade impele o político a buscar ajuda e confiar nos passes de outros. Com isso, ele amplia alianças e dá sentido de equipe. Ficar pregado na posição de centroavante em São Paulo é uma opção que ignora a realidade do Brasil e sai caro no placar final. Hoje, segundo o Ibope, Serra só ganha de Dilma no Sul e entre os mais ricos. E, claro, entre os companheiros paulistas. Jogando em casa, Serra se acostumou (mal) a ser artilheiro.
Outra lição? Ignorar a tendência da disputa e apostar no segundo tempo, deixando para mostrar jogo nos últimos 15 minutos. Foi o que tirou da Copa a campeã Itália, diante da menosprezada Eslováquia. No gramado eleitoral, de nada adiantaram os alertas de tucanos de outros Estados, ansiosos para que Serra emergisse do túnel quando tinha uma margem confortável sobre a adversária. Qual a alternativa que ele propunha para o país? Ah, sim, “o Brasil pode mais”. A Dilma também acha que o Brasil pode mais. Como eu, você e o Dunga.
O PSDB parece um time perdido diante do rolo compressor dos “190 milhões em ação” – e 80% deles apoiam Lula. É o “pra frente, Brasil”, vitorioso no PIB recorde, nos índices de emprego, na classe média ampliada, no filho matriculado na universidade. Os analistas chamam de “conjuntura”, com o perdão da palavra.
Dossiê, aparelhamento e Bolívia são palavras de ordem 
que não ganham nem eleição para síndico
“O Serra teve um tremendo azar. Em política, existe a conjuntura de mudança e de conservação, a partir dos ensinamentos de Maquiavel. Serra pregou continuidade quando o país queria mudança. E agora ele está na oposição, mas o país quer continuidade”, afirma Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “O principal erro do Serra é a falta de uma proposta para o pós-Lula. O que o Serra tem dito? Fazer as mesmas coisas, manter políticas sociais, Bolsa Família, e avançar mais”, diz Marcus Figueiredo, do centro de pesquisas Iuperj. Num jogo de 90 minutos, que exige fôlego e iniciativa, Serra começou tarde. Ciro poderia embolar, mas foi defenestrado até do banco. Marina não decolou. A eleição polarizada deixou Serra sem vice até os 45 minutos do primeiro tempo. Mesmo alguns potenciais aliados começam a abandoná-lo.
O PSDB perdeu a chance, no ano passado, de realizar prévias. Mesmo que Aécio Neves fosse derrotado, o partido poderia ter discutido um projeto para o Brasil. “O PSDB é um partido de cardeais, e desde 2006 está fraturado em sua cúpula”, disse Fornazieri, que deu curso no ano passado para cerca de 100 tucanos. “O partido não se renovou e deixou pouca possibilidade de articulação. Fez uma oposição apostando no fracasso do governo, em vez de construir uma agenda positiva para o Brasil.”
Acho no mínimo ingênua a explicação de que a Copa teria anulado o “efeito positivo” da exposição de Serra nos programas eleitorais do PSDB na televisão. A Copa atrapalha o Serra mas não a Dilma? Lula embarcou Dilma para a Europa, ela fugiu das sabatinas de jornal, e o comando decidiu que ela só debaterá na TV aberta. Existe algo ilegal nisso? Dilma é tão travada ao colocar uma frase atrás da outra, mesmo saindo de uma reunião inocente com Sarkozy, que dá para entender a estratégia. Uma repaginada visual para cativar as mulheres, e um “cala a boca, Dilma”. Fala Palocci, o volante ideal para a ex-ministra.
Dossiê, aparelhamento e Bolívia são palavras de ordem que não ganham nem eleição para síndico. Agora, Serra aposta no erro da adversária, e não em suas próprias jogadas para reverter o resultado no segundo tempo. Já o Lula acha que não adianta chorar, a nega está lá dentro... 

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