sexta-feira, junho 18, 2010

CELSO MING

Fazendão Brasil 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 18/06/2010

Em pronunciamento no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o ministro Guido Mantega lembrou ontem os críticos que exportar produtos primários é coisa boa e não o contrário.

Por uma incorporação deformada das análises da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), elaboradas nos anos 50, tomou corpo entre economistas brasileiros a ideia de que a exportação só é boa quando tiver o máximo de valor agregado. Ou seja, só é boa quando o produto incorporar alto grau de transformação. Para estes, em vez de minério de ferro, o País deveria exportar máquinas e veículos; no lugar de café em grão, produtos bem mais elaborados. Por trás desse ponto de vista está a avaliação de que, enquanto for exportador de produtos básicos, um país permanecerá subdesenvolvido porque produto primário emprega pouca mão de obra e incorpora escassa tecnologia. "Enquanto continuar assim, o Brasil não passará de um fazendão", dizia na década de 80 a professora Maria da Conceição Tavares.

Recentemente, a esses males inerentes à condição de grande exportador de produtos primários, alguns economistas acrescentaram outro: o da doença holandesa. Trata-se da forte valorização da moeda nacional (baixa do dólar no câmbio interno) provocada por altas receitas com exportação de produtos primários, cuja principal consequência é a queda da competitividade do produto industrializado. Para o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, por exemplo, como resultado desse mal está em curso uma rápida desindustrialização no Brasil.

Há equívocos nesses pontos de vista. O primeiro deles é o de que exportar produto primário é coisa de país pobre e atrasado. Não é verdade. Os Estados Unidos, país mais rico e mais desenvolvido do mundo, são os campeões das exportações de produtos agrícolas.

O segundo equívoco está em achar que produto primário não incorpora tecnologia. Hoje há tanta tecnologia aplicada numa tonelada de soja ou de suco de laranja quanto numa tonelada de aço.

O terceiro equívoco é acreditar que há mais mercado lá fora para produto transformado do que para produto básico. Também não é verdade. Se em vez de exportar minério de ferro o Brasil transformasse tudo em aço, não teria para quem vender. E o que mais poderia fazer com o açúcar em vez de exportar? Produzir doces e Coca-Cola? O Brasil é um dos maiores exportadores de frango do mundo. E o que é carne de frango senão soja e milho (proteína vegetal) transformados (em proteína animal)?

O quarto equívoco está em pretender que acrescentar valor a um produto ajuda a criar emprego. Derivados de petróleo, por exemplo, incorporam pouca mão de obra à cadeia produtiva. E muitas vezes é mau negócio porque esbarra em enorme ociosidade internacional nas refinarias ou na indústria petroquímica.

Engenhocas eletrônicas, automóveis e geladeiras não estão entre os produtos que despertarão interesse estratégico no futuro. Entre estes estarão alimentos, energia (petróleo) e metais. E, nos países avançados, a indústria de transformação deixou de ser o polo dinâmico da economia. É o setor de serviços.

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