sexta-feira, junho 11, 2010

CELSO MING

Agora vai 
Celso Ming
 O Estado de S.Paulo - 11/06/2010

Ficaram para trás algumas incertezas. Afinal, a votação do Senado abriu o caminho para que a megacapitalização da Petrobrás saia até o final de julho. Mas as incertezas remanescentes são enormes.

Começa agora a maratona do diretor financeiro, Almir Barbassa, e de toda a diretoria da empresa, de convencer os investidores a não perderem a oportunidade de ganhar com o pré-sal.

Esta se destina a ser uma das maiores operações de capitalização da história. Se tudo der certo, deverá ser de alguma coisa em torno dos US$ 60 bilhões (cerca de R$ 110 bilhões), convocada num momento que está longe do ideal do mercado financeiro. Sem forte participação do investidor internacional, a operação não terá sucesso, e esse investidor está com a cabeça contaminada pela crise que o vai empurrando para a defesa de patrimônio e não para posições de risco. Esse será o primeiro problema que a diretoria da Petrobrás terá de enfrentar. O segundo é a má vontade com aplicações em empresas de petróleo que se seguiu ao desastre do Golfo do México. Os acionistas da British Petroleum, a detentora do poço que vazou, serão castigados com perdas colossais e o investidor vai se perguntar se a Petrobrás não está também sujeita a catástrofes assim.

E há um terceiro problema. Este provavelmente será um aumento de capital da ordem de 30% a 40% sobre o atual destinado a dar cobertura a investimentos, cujo prazo de maturação se estenderá por entre três e sete anos. Por alguns anos, a Petrobrás não terá condições de apresentar resultados para remunerar o capital novo nas proporções com que remunera hoje.

Em todo o caso, algumas das circunstâncias em que está sendo feita essa subscrição são especialmente promissoras do ponto de vista do acionista. Começa pela cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo por meio da qual o Tesouro fará a subscrição de sua participação no novo capital. Não é qualquer empresa de petróleo que recebe de mão beijada nada menos que 5 bilhões de barris (35% das atuais reservas da Petrobrás) sem risco de reservatório. Isso significa que, se a jazida alocada à empresa se esgotar antes de completados os 5 bilhões, outros suprimentos serão providenciados. Afora isso, a economia brasileira passa por excelente momento. Nenhum grande investidor quer ficar de fora dessa oportunidade.

A maior incógnita é o valor pelo qual vai ser passado o barril para a Petrobrás. E é esse valor que vai definir o poder de fogo do Tesouro, não só para subscrição de sua parte no capital atual, mas também para a subscrição das sobras. A US$ 5 por barril, o cacife do Tesouro seria de US$ 25 bilhões; a US$ 8, de US$ 40 bilhões.

Como a parte da União virá em espécie e não em dinheiro vivo (e a Petrobrás precisa de muitos recursos), quanto mais baixo o valor do barril, maior será a participação dos demais acionistas, que subscreverão em dinheiro.

Essa operação terá dois impactos sobre o mercado financeiro. Para subscrever a sua parte, os investidores terão de se desfazer de posições em títulos, em caderneta de poupança ou em ações. Isso obrigará os administradores de fundos e de carteiras a desovar ativos. É uma grande operação de venda cujo impacto é difícil medir.

O outro será no câmbio. Muito provavelmente, num intervalo de semanas, virá do exterior cerca de US$ 20 bilhões. O Banco Central terá de preparar uma operação de compra desses dólares para evitar uma drástica valorização do real.
Confira
Justificativa 
Depois de ter decidido manter os juros básicos em 1% ao ano, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, reconheceu em Frankfurt que o mercado monetário na área do euro não está funcionando como deveria. Por isso, o BCE está disposto, disse Trichet, a continuar comprando títulos de países do bloco.
Lava e enxuga 
Muito criticada, a decisão de adquirir esses títulos foi anunciada em maio. Em três semanas, o BCE recomprou cerca de ? 40 bilhões em títulos que vinham sendo rejeitados no mercado. Presume-se que tenham sido dívidas da Grécia, de Portugal e da Espanha. Para evitar que essa injeção de dinheiro produzisse inflação, o BCE retirou volume equivalente de recursos por meio de recebimento de depósitos por sete dias.
E fica assim 
Não há indicação de quando o BCE vai começar a puxar novamente pelos juros. A política monetária na área do euro vai continuar frouxa.

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