sábado, junho 19, 2010

CAIO LUIZ DE CARVALHO

Copa acontecerá sem "elefante branco" 
CAIO LUIZ DE CARVALHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/10

O governador Alberto Goldman deu declaração clara de que a Copa acontecerá em São Paulo e que queremos também a abertura, reiterando, no entanto, que recursos públicos não serão usados em construção de novos estádios na capital. Ele e o prefeito Gilberto Kassab aguardam apenas o final da Copa da África para agendar uma reunião com o Comitê Local da Fifa.
O governador, a exemplo do presidente Lula, também disse que achou estranho o veto ao Morumbi feito pela CBF para a Copa de 2014. Todos nós que apoiamos o Morumbi como estádio oficial da Copa em São Paulo desde o início achamos a decisão não só estranha mas também injusta e prematura.
Esse mesmo projeto, agora rejeitado, já havia sido aprovado pela Fifa para jogos até as oitavas de final. Ainda acredito no Morumbi como uma opção. Em São Paulo, o então governador José Serra, em 2007, junto com o prefeito Gilberto Kassab, decidiu pela indicação do Morumbi dentro de uma visão responsável, mostrando que o verdadeiro legado devem ser investimentos em infraestrutura e mobilidade urbana, gargalos maiores da capital paulista.
Enquanto discutimos estádios, vivemos um caos aeroportuário que dificilmente será equacionado até 2014. Esse sim é um ponto sério de atraso do governo federal, que pode comprometer aquilo que mais é preciso num país dependente do transporte aéreo: o deslocamento.
Governo de São Paulo e prefeitura sabem que um novo estádio público com capacidade para 70 mil pessoas -o exigido para sediar a abertura da Copa- está fadado a ser um caríssimo "elefante branco". Vide o Engenhão. E, sem propostas palanqueiras, tentam o melhor para a cidade e sua população. Ao contrário do que publicou a Folha ontem, minhas críticas e suspeitas de maracutaias sobre interesses em um megaestádio novo não são direcionadas para o ainda projeto de Pirituba, nos planos da prefeitura desde 2006, mas para surpresas de que na "hora H" sobre para o bolso do contribuinte.
Em Pirituba está previsto um necessário novo centro de exposição e eventos para a cidade, que tem nas feiras e congressos uma grande geração de riqueza. Inclui no seu projeto original um megapavilhão de exposições, centro de convenções, auditórios, hotéis, shoppings e também arena para shows e jogos com 40 mil lugares. A Fifa não admite estádios que provisoriamente se transformem em 65 mil.
A construção de um superestádio na cidade, que custaria mais de R$ 1 bilhão, poderia até servir para a abertura da Copa de 2014, mas após o mundial ficaria ocioso. Não temos shows da Madonna toda semana, e a média de público do Campeonato Brasileiro não passa de 22 mil pessoas.
Já se imaginou o que acontecerá no dia seguinte à Copa 2010 com esses estádios suntuosos da África do Sul pagos com dinheiro público? Estudos recentes mostram que os últimos Jogos Olímpicos não deram lucro objetivo. Assim aconteceu com a Olimpíada de Atenas, em 2004, estimada em US$ 1,5 bilhão, mas que custou US$ 15 bilhões e mais US$ 100 milhões por ano para manter equipamentos ociosos. Por isso, é preciso trabalhar modelos mentais que gerem bônus. As maiores oportunidades para ganho não estão em estádios, como mostra a história, mas fora deles.
São Paulo, com sua história e tradição, é maior do que toda essa polêmica de estádios para 2014. O paulista sabe o que quer. A Copa de 2014 será muito bem-vinda à capital econômica do país. Declarações últimas da Fifa não admitem a possibilidade de São Paulo fora. Só temos que encontrar ponto de convergência entre São Paulo e a Copa, sem perder o juízo.
CAIO LUIZ DE CARVALHO é coordenador do Comitê Paulista para a Copa de 2014, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da Universidade Anhembi Morumbi. Foi ministro do Esporte e Turismo e presidente da Embratur (governo Fernando Henrique).

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