sábado, maio 29, 2010

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
RUTH DE AQUINO
A beleza ajuda a vencer a eleição?
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Não é de hoje. No século XIX, o escritor irlandês Oscar Wilde dizia que “só os fúteis não julgam pela aparência”. Nos tempos atuais, mais midiáticos do que nunca, a imagem faz um candidato ganhar ou perder votos? Os marqueteiros de Dilma Rousseff acham que sim e estão empenhados na revolução estética da candidata. A equipe de José Serra acha que os trunfos de seu candidato são a confiança e a autenticidade – por isso ele precisaria continuar careca e enrugado. Como pesquisas internacionais enxergam a relação entre voto e beleza?
Num estudo sobre “the political gender gap” – algo como “as distinções de gênero na política” –, Joan Chiao, da Universidade de Illinois, fez uma pesquisa interessante. Ela apresentou fotos de candidatos a eleitores. E tentou diagnosticar quais eram as qualidades – competência, beleza e proximidade – mais valorizadas em políticos de ambos os sexos. Seguem as constatações.
Homens tendem a votar em candidatos homens que lhes parecem, primeiro, competentes. E em candidatas mulheres atraentes, em primei-ro lugar, e competentes, em segundo.
Mulheres tendem a votar em candidatos homens que lhes parecem competentes, em primeiro lugar, e próximos, em segundo. E em candidatas mulheres competentes, em primeiro, e atraentes, em segundo. Então, homem pode ser feio e mulher tem de ser bonita?
“A Dilma tem de se vestir bem e parecer charmosa para seduzir o eleitorado masculino e parecer competente e atraente para as mulheres”, disse o cientista político Antonio Lavareda. Segundo ele, está explicado por que a americana Sarah Palin, apesar de todas as bobagens que diz, desponta como uma força no Partido Republicano. Todos nós lembramos o furor despertado pelas pernas de Sarah, valorizadas por salto alto, associadas à boca e aos olhos expressivos. Mas, quando ela começou a falar... virou personagem de humor.
Portanto, beleza e charme por si só não ganham eleição. Se assim fosse, Margaret Thatcher, Michelle Bachelet e Angela Merkel não esta-riam na galeria das mulheres a comandar países. A mais vaidosa, maquiada e “feminina”, Cristina Kirchner, ali está por causa do marido, e desperta hoje mais ódio que amor dos argentinos.
As pernas de Sarah Palin despertaram furor. 
Mas, ao abrir a boca, virou personagem de humor
No caso de Dilma, seria ingênuo desprezar a transformação radical de seu visual. Tanto a plástica quanto o Botox, e a mudança na roupa, acessórios, cabelo e maquiagem (leia mais), tiveram uma função mais profunda que embelezar seus traços. O objetivo foi suavizar a imagem psicológica de Dilma. O semblante severo e a aparência antiquada reforçavam a fama de gerente durona, rígida, excessivamente técnica e chata – tudo o que o brasileiro comum odeia.
E Serra com isso? Favorito entre as eleitoras mulheres, ele está longe de ser modelo de beleza, embora hoje esteja mais simpático. “Para resumir o que está em jogo em 2010, o sentimento é confiança. De que adiantaria mudar a roupa do Serra, ou injetar Botox? Seria outra pessoa. Algo falso. Melhor ser autêntico do que produzido. Estamos apostando na história dele e numa relação mais afetiva com o eleitor”, disse um representante da equipe do tucano. Ele acredita ser mais fácil dar um embrulho novo em políticos que não tenham ainda uma imagem pública consolidada.
Em outras palavras: como Dilma até há pouco tempo era uma ilustre desconhecida para a massa, sua reinvenção estética pode influenciar, sim, o eleitor. Antes, o povão achava que ela era a mulher do Lula nos comícios. Agora, está até ficando parecida com dona Marisa Letícia, porque alguns esteticistas são os mesmos.
O antropólogo Roberto DaMatta é um dos convictos de que aparência ajuda a vencer eleição. Cita como exemplos o ator Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Collor de Mello, no Brasil. “Em nossa sociedade moderna, que valoriza tanto a imagem e o desempenho na televisão, a beleza, o charme, a elegância e a postura são fundamentais. Entre os jovens, e especialmente em países como o Brasil, a atração física e sexual é o primeiro elo.”
No quesito beleza, seria um desperdício o colírio Aécio Neves ficar de fora. 

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