domingo, maio 02, 2010

ELIO GASPARI

Dilma está sob o efeito da Lei de Murphy
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/05/10
 
A nação petista está diante de uma manifestação virulenta de uma versão 2.0 da Lei de Murphy: “Quando uma coisa pode dar errado ela dá errado. Quando uma coisa pode dar ce Em poucas semanas, tudo o que podia dar errado para Dilma Rousseff errado deu. Uma visita ao túmulo de Tancredo Neves acabou em encrenca. (Quem se lembra de outra pessoa criticada por visitar cemitério?) Arriscou fazer uma omelete diante da apresentadora Luciana Gimenez e contentou-se com ovos mexidos. A mocinha da Passeata dos Cem Mil não era ela, mas Norma Bengell. Ciro Gomes, que em 2005 foi um dos administradores da crise do mensalão, saiu da campanha presidencial atirando em Dilma e massageando José Serra, o “mais preparado, mais legítimo, mais capaz”. Ciro conhece sua ex-colega de Ministério: “Durante meses, amanheci todos os dias às 7 da manhã no Planalto. Eu, Dilma Rousseff e Marcio Thomaz Bastos. A gente passava a manhã inteira debatendo a crise, procurando saídas para o problema. Depois, despachávamos com Lula”, contou ele à repórter Daniel Pinheiro. 

José Serra entrou em campo livre das chuvas paulistas, com um PSDB unido, beijou Aécio Neves, subiu nas pesquisas e, muito provavelmente, está numa linha ascendente. Serra propôs a criação de um ministério da Segurança e viu-se aplaudido. Se outro candidato fizesse o mesmo, seria acusado de oferecer o mais surrado e inútil dos emplastros burocráticos. (Como o PT criou o Ministério da Pesca, é melhor que evite o tema.)

Os efeitos da Lei de Murphy 2.0 são sempre transitórios. Ora as coisas começam a dar certo, ora dão errado para o adversário, mas para que isso aconteça é preciso que o candidato faça alguma coisa. Até hoje Dilma Rousseff apresentou-se como a candidata de Lula e perguntou a um grupo de entrevistadores da revista “Época”: “Vocês acham que eu tenho cara de poste?” Como não há postes com cara de Dilma, a frase é boa, mas não quer dizer nada. Faltam seis meses para a eleição, e ela ainda não mostrou um rosto. Ganha uma viagem de ida a Cuba quem puder escrever 20 linhas sobre o tema “O que ela traz de novo?” 

A ideia de que seja possível avançar na campanha sem responder a essa pergunta é suicida. Supor que o problema possa ser resolvido em conversas com Lula, a quem chamou de “Grande Mestre”, presume que Nosso Guia tem os poderes de Yoda, o sábio de “Guerra nas Estrelas”. Uma conversa de Dilma com Lula só será decisiva a partir das angústias e dificuldades que ela tiver contado ao padrinho. 

Se o PT e Dilma Rousseff acreditam que vencerão pela força de uma gravidade eleitoral de Lula, o mês de maio começa com uma advertência: há muita roda e pouca baiana. 

O @pocalipse cibernético, na versão beta 
Richard Clarke, o ex-czar antiterrorista do governo americano botou na rua, nos Estados Unidos, um livro aterrorizador. Chama-se “Ciber Guerra – A Próxima Ameaça à Segurança Nacional e o que fazer diante dela”. Clarke tem autoridade para falar de perigos. Trabalhou na Casa Branca de Bill Clinton e George Bush, e nenhum dos dois prestava muita atenção quando ele falava numa tal de Al-Qaeda. No dia 11 de setembro de 2001, com as torres em chamas, avisou: “Eles gostam de ações simultâneas. Isso pode ser o início.” 
O cenário de “Ciber Guerra” é aterrorizante. Clarke sustenta que a China tem centenas de PhDs trabalhando em planos de ataques cibernéticos e a Rússia já agrediu, com sucesso, as redes de computadores da Estônia e da Geórgia. Some-se a essas agressões a invasão americana dos computadores iranianos, anarquizando arquivos do seu programa nuclear, da qual ele não fala. 

Clarke montou um cenário de guerra cibernética durante o qual, em uma hora, entram em colapso redes de distribuição de energia, tráfego financeiro e controle de transportes, mais um pedaço do sistema de defesa e das comunicações do governo americano. O resultado disso será um imenso apagão, choques de trens e aviões, engarrafamentos de trânsito, explosões em refinarias e oleodutos. Três dias depois, o abastecimento entra em colapso e começam os saques. Radicalizando: um ataque cibernético a centrais de reparos on-line de copiadoras poderia emitir comandos que provocassem o superaquecimento das máquinas e incêndios. Segundo Clarke, nada disso aconteceu até hoje pelo mesmo motivo que nenhum dos nove países do clube atômico jamais usaram as suas bombas: ausência de um objetivo imediato e medo da reação da vítima. 

“Cyber War” defende um aperto nos controles do governo sobre a rede e, por conta disso, Clarke é acusado de fazer terrorismo. Ele sustenta seu @pocalipse com argumentos técnicos, mas, num ponto, circula informações corrompidas. Exemplificando o principal episódio de colapso de uma rede de distribuição de energia por meio da ação de hackers, citou o caso que, segundo ele, foi comprovado pela CIA, de um apagão ocorrido em 2003 no Brasil. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico, não houve apagão no Brasil em 2003.

PM tóxica 
Se o tucanato tiver juízo, mantém a PM longe do campus da USP, cujos funcionários resolveram entrar em greve. 
Há dois anos, durante o governo de José Serra, ex-presidente da UNE, a tropa de choque da PM desocupou o diretório da Faculdade de Direito, que havia sido invadido por um condomínio que incluía movimentos estranhos à escola, como o MST. 
Uma pancadaria semelhante à de junho do ano passado é tudo de que a militância sindical precisa. Na ocasião, havia pelo menos um sargento da PM armado de metralhadora. 

Dantas prevaleceu 
Desde 2004 o banqueiro Daniel Dantas come o pão que Asmodeu amassou, acusado de ter contratado a empresa de segurança Kroll para espionar autoridades brasileiras. O comissário Luiz Gushiken chegou a dizer que as xeretagens eram “ilegais e sórdidas” e assegurou que “a Justiça vai dar um tratamento adequado a essa questão”. 
Na semana passada, a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região arquivou o processo movido pelo Ministério Público contra Dantas e outros 14 acusados, entre eles uma servidora da PF.
Em casos desse tipo, os cidadãos veem-se acusados ao som de uma orquestra sinfônica e, quando os processos são arquivados pelo Judiciário, ouve-se apenas o choro de um cavaquinho. 

Suposição 
O refresco dado por Ciro Gomes às qualidades de José Serra pode ter uma explicação cearense. Ele põe açúcar na sua aliança com o tucano Tasso Jereissati na campanha estadual. 

PAC-3 
Nos próximos quatro domingos o signatário se dedicará ao preparo e à realização das obras do PAC-3. Ou seja, fará nada. 

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