sexta-feira, maio 28, 2010

ANTERO GRECO

Velhinhos da pesada

Antero Greco
O Estado de S. Paulo - 28/05/2010
 
 Daqui a pouco só falaremos de Copa e você vai se empanturrar de tanto Brasil-sil-sil!!! e seus guerreiros. Enquanto tambores e cuícas esquentam na África do Sul, permito-me algumas observações sobre dois veteranos que ainda dão muito o que falar. São goleiros, por sinal campeões do mundo ? e assim ficamos no clima festeiro de logo mais. Se pensou em Marcos e Rogério Ceni, acertou.

Admiro o futebol da dupla, que já vislumbra a esquina dos 40 anos e segue firme como referência em seus clubes. Os reflexos não são impecáveis como tempos atrás, nem eles estão no auge, como na campanha inesquecível do penta, em 2002 na Ásia. As falhas ocorrem com mais frequência; no entanto, têm tanto crédito no Palmeiras e no São Paulo que os deslizes lhes são permitidos. Por mais que isso contrarie cornetas.

Ambos sobretudo são ótimos nos pênaltis. Dia desses, Marcos pegou três enfileirados, apesar de seu time ter sido desclassificado na Copa do Brasil. Com mão avariada e tudo, relembrou o "santo" que azedou a vida de Marcelinho Carioca na semifinal da Libertadores de 2000. Anteontem, na derrota para o São Paulo, apareceu na área do rival, aos 46 minutos, e tascou a careca na bola, que raspou a trave. É palmeirense de coração, merece estátua nos jardins da Turiaçu.

Mais herói do que Marcos, pelo menos na quarta-feira, foi o Rogério Ceni. Voou feito gato na bola chutada por Ewerthon, no pênalti aos 43 minutos do segundo tempo, e garantiu a vitória por 1 a 0. Quer dizer, junto com Fernandão, que em duas semanas de casa virou talismã tricolor. Parece o Fedato da Academia palmeirense dos anos 70 o ou brioso Tupãzinho do Corinthians na década de 90. O grandalhão entrou no time sem nenhuma cerimônia, passou a cavar espaços, faz gols, ajuda no meio-campo e na defesa. Agora complicou de vez a vida de Washington no Morumbi.

Mas falava do Rogério, antes de abrir parênteses para Fernandão. A calma no pênalti, a concentração, a segurança no salto só se veem nos profissionais que dominam aquele retângulo especial dos campos de futebol. Parecia um rapazola, embora esteja mais próximo de tirar o uniforme e vestir a casaca. Porque esse, não tenho dúvida, vai seguir a trilha da cartolagem. Tem toda pinta. Uma espécie de Platini destas bandas.

Doni e Gomes são ótimos sujeitos. Mas eu deixava um deles em casa e levava na bagagem da seleção um velhinho da pesada. Nem que fosse para dar mais respaldo para Julio Cesar e seu eventual substituto. Marcos e Rogério são como os sábios que confortam e de quem se esperam grandes lições. Seriam a reserva moral no grupo de Dunga.

Meninos amuados. Neymar e André apareceram com trancinhas, que Ganso sensatamente considerou horríveis, fizeram gols e comemoram com moderação, na vitória sobre o Guarani, anteontem. Até aí, tudo bem. Estavam, talvez, sem graça, por causa da punição pela balada da semana passada.

Após o jogo, dedicaram a vitória a Madson, comparsa na escapadela e afastado do elenco. Na lata, pediram a reintegração do colega. Bacana o gesto de solidariedade, saudável a liberdade de expressão. No entanto, ficou no ar a sensação de que há ruído na relação dos jovens atletas com a cúpula do time. Hora de uma boa conversa, para o clima não desandar, pois perdem o Santos e o futebol. Registre-se: o time passou sufoco na Vila.

Etiqueta e delicadeza. Constrangedoras as fotos que retratam o encontro de Lula com Dunga, antes do embarque da seleção para a África. O treinador estava pouco à vontade e, ao cumprimentar o presidente ? "male-má", como se dizia no Bom Retiro ? nem tirou a mão do bolso. Dunga pode não simpatizar com Lula, muito menos ser seu eleitor, o que lhe é direito sacrossanto. Mas, como alguém que preza hierarquia e autoridade, deveria saber que a reverência não é para o homem e sim para o cargo, para a instituição que Lula simboliza. Uma canelada, a ser compensada na volta, se estiver com a taça. Tomara.

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