domingo, abril 25, 2010

PAINEL DA FOLHA

Valor de mercado
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/04/10

Dono de pouco mais de um minuto e meio de tempo de televisão cobiçado tanto pelo PSDB quanto pelo PT, o PP consultou seus diretórios a respeito do alinhamento na disputa presidencial. Na aritmética, deu Dilma (21 dos 27 Estados se manifestaram a favor da candidata de Lula). O partido está com os tucanos em praças de peso, como Minas e Rio Grande do Sul.
Mais importante do que essas contas, porém, será o destino do presidente da sigla, Francisco Dornelles, senador pelo Rio de Janeiro. "Se ele virar vice na chapa de Serra, não há palanque regional que impeça a nossa aliança com o PSDB", resume um dirigente.


Cronômetro. Com o atual esboço de alianças, Dilma teria hoje uma vantagem de pouco mais de dois minutos sobre o tempo de TV de Serra. Com o PP, o tucano ficaria perto de equilibrar o jogo.
Deixa solto. Em situação privilegiada, a campanha de Dilma vê menos importância em se aliar formalmente ao PP e mais em evitar que Serra o faça. O objetivo é o mesmo em relação ao PTB.
Na real 1. Consideradas as circunstâncias do PP e da campanha de Serra, a chance de Francisco Dornelles vir a ser vice do tucano está hoje na casa dos 20%. Não é muito, mas, descontada a opção dos sonhos Aécio Neves, nenhum dos nomes até agora cogitados reúne probabilidade maior do que essa. No caso de Itamar Franco (PPS-MG), a possibilidade é quase nula.
Na real 2. Itamar, que respirara aliviado com a retirada de José Alencar (PRB) do mercado eleitoral, voltou a se preocupar com sua candidatura ao Senado. Quem conhece o mapa dos votos em Minas acha que, se o PT lançar Fernando Pimentel, é grande o risco de o ex-presidente perder a cadeira para o ex-prefeito de BH. A outra, se Aécio quiser, é dele e ninguém tasca.
Amistoso. FHC promoverá um encontro entre seu vizinho e "chapa" Ronaldo Fenômeno, estrela do Corinthians, e o palmeirense Serra.
Xis da questão. Quem acompanhou de perto o tormento de Ciro Gomes até o completo naufrágio de sua candidatura presidencial explica: revolta o deputado do PSB a ideia de que ele esteve com Lula na hora mais difícil, enquanto o chamado PMDB da Câmara surfava na crise do mensalão, e que agora esse mesmo PMDB indicará o vice de Dilma e mandará ainda mais do que hoje no eventual governo da petista.
Sem rumo. Amigos acham que Ciro realmente não está bem, apresentando rápidas e frequentes oscilações de humor. Nesse quadro, dizem os mais próximos, ele tanto pode continuar atirando quanto atender a um "apelo emocionado" de Lula e se recolher.
De cima. A esta altura, os aliados de Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, não acreditam mais que a manutenção da candidatura ao Senado do petista José Pimentel, contrária aos interesses eleitorais do governador, seja coisa do PT do Ceará. Estão certos de que Lula patrocina a iniciativa.
Sei lá. E segue o mistério sobre a pauta da reunião Dilma-Marisa Letícia, ocorrida quinta-feira na sede provisória do governo, onde na mesma hora Lula discutia com os caciques do PSB o destino de Ciro. "Elas conversaram sobre o encontro das mulheres do PT", diz um dirigente do partido. Lembrado de que a primeira-dama não foi ao evento, emendou: "Ihhhh..."
Ao volante. A ministra do Supremo Cármem Lúcia, que assumiu a vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral, costuma ir para o trabalho dirigindo o próprio carro, dispensando o veículo oficial.

com SILVIO NAVARRO e ANDREZA MATAIS
Tiroteio 
"Há momentos em que o Serra elogia o governo e outros em que fala claramente como oposição. Em breve ele cairá desse muro." 

Do deputado JOSÉ EDUARDO CARDOZO, secretário-geral do PT, apontando oscilações no discurso do candidato tucano.
Contraponto 
É uma vergonha! Em "Chatô - O Rei do Brasil", Fernando Morais narra episódio ocorrido no início da década de 50, quando o empresário Assis Chateaubriand ocupava cadeira no Senado.
Certo dia, o jornalista Otto Lara Resende encontrou o senador pela Paraíba no corredor e comentou que era vergonhoso ver a imundície dos banheiros da Casa.
Chatô foi conferir a queixa in loco, e Otto maliciosamente lhe sugeriu tratar publicamente do assunto -"sem jamais imaginar que seria levado a sério", escreve Morais.
Qual não foi sua surpresa ao ver Chateaubriand subir à tribuna, tão logo iniciado o expediente, e fazer um discurso inflamado sobre a situação dos banheiros, que terminou por reivindicar "um governo autoritário, que limpe a latrina em que se transformou o Brasil".

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